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sábado, 24 de agosto de 2013

Em dia com o Machado 64 (jlo)

            Meu amigo Roge Jeteli foi assistir ao show do Roberto Carlos, nesta sexta-feira, 23 de agosto de 2013, no Centro de Convenções, em Brasília, com sua esposa que, fã do rei, realizava seu sonho de juventude (do marido, rs) no aniversário (dela, rs).
            O repertório, disse-me ele, foi excelente. Entre outros sucessos, RC cantou “O portão”. E, enquanto este cantava, aquele refletia na semelhança entre o seu retorno à antiga residência, 14 anos atrás, e a volta cantada do cantor.
            “Eu cheguei em frente ao portão, / Meu cachorro me sorriu latindo...”, começou Roberto, enquanto Roge lembrava da chegada deste: “Eu também cheguei em frente ao portão, mas não me lembra nenhum cachorro me sorrir latindo”.
            Continuando a música, após informar que colocara as malas no chão e voltara, RC diz que tudo estava igualzinho ao que era dantanho, e acreditava que somente ele mudara em seu retorno ao lar. Retorno que agora era definitivo, reforça na estrofe seguinte, porque ali era o seu lugar.

Tudo estava igual como era antes,
Quase nada se modificou,
Acho que só eu mesmo mudei
E voltei.

            De repente, toda uma história de vida explode na mente de Roge:
            Família paupérrima, pai enfermo durante meses, até vir a falecer, aos 53 anos, deixando mulher e sete filhos menores. Jeteli, o terceiro mais velho, tinha onze anos. Após muitas peripécias malsucedidas para ganhar uns trocados e auxiliar a mãe, junto com outros irmãos maiores, no sustento da prole, Roge incorpora ao Exército e, aos 22 anos, após concluir curso de sargento, é transferido para Salvador.
            Uma senhora, em visita à casa do meu amigo, ao vê-lo fardado, sem noção alguma, vaticina: 
            — Tão novinho e já é sargento? Vai chegar a general...
            Nos  ouvidos de Roge ainda ressoam as palavras maternas, alguns dias após, quando ele, choroso, diz à mãe ter sido transferido para a Bahia, estado distante, completamente desconhecido dele e de sua família:
            — Vai, meu filho, se é para o seu bem, você deve ir...
            Lembra-se não tê-la visto derramar uma só lágrima de despedida, ao ter de viajar às pressas, para Salvador, em alta noite, uma vez que recebera, naquele mesmo dia, um telegrama ameaçador: “Compareça ao 19º BC, no Cabula, Salvador, BA, em 24h, ou você será preso”.
             Se fosse de ônibus, seria preso, pois a viagem não duraria menos de trinta horas. Nosso amigo teve que pegar um voo urgente e chegar a seu novo destino de madrugada. Sua nova residência, por ano e meio, ali, seria o quartel; outros três anos no interior baiano e o resto da vida em Brasília onde, 22 anos após, daria baixa do Exército...
            Roge estudara, formara-se, passara em concurso público e iniciara nova etapa de vida profissional por mais 22 anos, até se aposentar.
            Mas meu amigo sentia que sua mãe, na época, cuidando e sendo cuidada por seus outros seis filhos, desejava-lhe todo o bem do mundo e se fazia forte em sua frente para não deixá-lo ali, naquele humilde lar do Rio de Janeiro, com futuro incerto. Por isso, seguiu seu destino sereno. E nunca olvidou sua mãezinha tão querida...
            Os anos passaram...
            Agora, Roge ouve o trecho da música do Roberto Carlos:

Fui abrindo a porta devagar,
Mas deixei a luz entrar primeiro,
Todo meu passado iluminei
E parei.

            Voltando ao passado...
            De Salvador, Jeteli fora transferido para Barreiras, cidade do interior da Bahia, onde se casara. Um ano depois, mudara-se com a esposa para Brasília, tivera três filhos e agora, embora anualmente, nas férias, fosse visitar a mãe e irmãos no Rio de Janeiro, com a família, o tempo passara e a “velha” fizera oitenta anos.
            — Ao longo de 26 anos, pensava Roge, nesse tempo, estive afastado de meu primeiro lar. Meus dois irmãos mais novos, que são gêmeos, já estão casados; e todos têm sua família, porém, salvo outro irmão, que se mudara com a esposa e filhas para Recife e já retornaram ao Rio, eu sou o único, até o momento, que...
            Voltando ao presente, nova estrofe da música do rei ressoa nos ouvidos de Roge:
                                     
                                   Onde andei, não deu para ficar
                                   Porque aqui, aqui é meu lugar.
                                   Eu voltei pras coisas que eu deixei,
                                   Eu voltei...

— Não, reflete Jeteli, eu não voltei porque lá era meu lugar; eu voltei para fazer companhia à minha querida mãezinha, por ao menos uma semana inteirinha. Para durante ao menos sete dias, deixar o meu lugar em Brasília e ser todinho dela. Dela que não entendeu nada. Nem ela nem ninguém...
Eu não voltei para ficar, mas penso que minha mãe tenha ficado um pouco assustada:
— Afinal, o que esse homem casado quer fazer aqui agora, deixando mulher e filhos em Brasília? Terá brigado com a mulher?
— Não, mamãe, o homem casado, com mulher e três filhos, não brigou com a esposa querida; voltou para curtir um pouco essa mãe que ainda viveria mais nove anos. Seu lugar, porém, nunca deixou de ser, física e espiritualmente, desde que se casou, ao lado de sua mulher e filhos.
Voltando ao presente...
Roge sempre amou e foi fiel à esposa, que agora, ao seu lado, ao completar mais um ano de vida, ouve, com ele, a voz melodiosa do melhor cantor brasileiro de todos os tempos. E essa voz canta como nunca:

Quando vi que dois braços abertos
Me abraçaram como antigamente
Tanto quis dizer e não falei
E chorei...

De volta ao passado, todavia, um pedaço do coração de Jeteli ficara no Rio. E esse pedaço era todo de sua mãe, a quem ele devia o primeiro amor, os primeiros cuidados, as muitas noites sem dormir para lhe oferecer o melhor que lhe pudera dar: a vida, uma educação digna e seu exemplo de dedicação, de desprendimento e de honestidade.
Embora seu lugar não fosse lá, e sim aqui, quem sabe a mãe de Roge Jeteli, agora do Mundo Espiritual, não esteja cantando feliz, junto com o filho, do lado de cá, com muito amor e imensamente feliz por vê-lo junto a uma esposa maravilhosa e tendo como família duas filhas casadas, dois excelentes genros, dois belos e carinhosos netos e um não menos belo e carinhoso filhão.
— Agora, Roge Jeteli, ouça o recado que sua mãe acaba de me pedir que lhe dê:
— Sim filho, você voltou, mas um dia nos reencontraremos na verdadeira pátria e, então, cantaremos, todos juntos, com Roberto e seus milhões de amigos: “Jesus Cristo, Jesus Cristo, Jesus Cristo/ Eu estou aqui...”
— Diga-lhe, então, Machado, que eu gostaria de cantar também com ela e com os nossos amores: papai, irmãos, nossas famílias, genros, noras, tios, tias, netos, etc. etc. etc. Enfim, com sete bilhões e tantos amigos:

Nossa Senhora, me dê a mão,
Cuida do meu coração.
Da minha vida,
Do meu destino,
Do meu caminho...
“Cuida de nós!”

É isso, amigos, a vida é curta. Valorizem cada ser que Deus colocou em sua vida e... Curtam-nos! E que o portão de cada um de vocês seja tão promissor quanto o meu e o do Roberto Carlos.
— Então, parabéns à sua amada, Roge, pela data natalícia deste 23 de agosto. 
Que a vida lhes seja leve e a Terra generosa.
Boa-noite!

sábado, 17 de agosto de 2013

Em dia com o Machado 63 (jlo)

            — Hoje, minha bela leitora, nosso papo é sobre umas gangues e seus comparsas. Não sobre a de Al Capone e Ali Babá; muito menos em relação às do Congresso.
            — Quem seriam esses companheiros? Há de perguntar o leitor a seu lado, admirador de sua estupenda beleza e inteligência primorosa, mui prezada amiga. Seria a gangue dos pichadores de paredes, que emporcalham os edifícios de sua cidade?
            —Não, amigo.
            — Seria o grupo mal intencionado dos vândalos que se aproveitam (Dica: observe o que se.) dos movimentos pacíficos de reivindicação popular para quebrarem e roubarem lojas e bancos?
            — Nunca, meu chapa.
         Seria, então, a troupe do mensalão, que tenta enrolar o STF com petições meramente protelatórias de suas condenações, antes de transitarem estas em julgado?
            — Jamais, véi.
            — Seria...
            — Não, irmãzinha, a nossa primeira gangue é a do QU e seus asseclas, os pronomes oblíquos. Fazem parte dessa gangue estes pronomes: QUE, QUEM, QUAL, QUANDO, QUANTO E PORQUE junto ou separado, com ou sem acento. Com eles, o pronome átono é sempre proclítico (antes do verbo) Mesmo que qualquer deles se faça distanciado, na frase, a atração pronominal é fatal. Quer exemplos? Vou englobá-los numa só frase:
·        A felicidade é conquistada por nós quando conseguimos nos harmonizar mental e fisicamente. É isso que nos proporciona o verdadeiro prazer; pois qual de nós não se preocupa em ser feliz? Quem não se importa com o bem alheio, quanto mais se envolve somente consigo mesmo, mais se angustia, porque o amor é lei da vida, a qual nos entrelaça como membros semelhantes na grande família de Deus. E por mais que se insista na busca dos prazeres efêmeros, aos quais se lhes associa mentalmente, quem quebra essa sintonia, em busca do mais, recebe menos; e se a felicidade é o que mais deseja, menos a obtém.
            Fica aí expresso o ensejo de você, professora de português, trabalhar esse conteúdo com seus alunos.
            Mas não se vá. Há outra gangue presente no texto acima, sem que se observasse. É a dos advérbios de sentido negativo: não, nunca, jamais, sem, etc. Alguns exemplos estão presentes na frase supracitada, mas podem ser enriquecidos com esta:
·        Nunca se deve subestimar ninguém, pois jamais se pode afirmar ter plena ciência sobre o potencial de alguém, seja um pai, uma mãe, um filho ou uma filha; Deus nos fez únicos.
            Por fim, falar-vos-ei do sujeito como um ser atrativo. (Mais adiante, trataremos da mesóclise.)
            Seria esse sujeito um Brad Pitt? Um Neymar? Ou seria aquele político, cujo nome não me atrevo a declinar?
            — E existe político atraente, Machado?
            — Quem o sabe, amigo? Se for eu ou você...
            — Seria uma sujeita, e não um sujeito, por ser aquela linda por natureza e mais interessante do que este?
            — É mesmo, querida, quem sabe não é mulher, o ser atrativo? Lembro-me da resposta de Einstein a uma belíssima miss, que lhe perguntou o que poderia acontecer na união da beleza dela com a inteligência dele:
 — O ancestral poderia nascer tão inteligente quanto ela e tão belo como ele, respondeu-lhe o gênio, que era feio pra burro.
            Mas, continuemos... Atualmente, tenta-se aproximar a escrita o mais possível da naturalidade da fala coloquial, e uma coisa que incomoda os escritores modernos é a artificialidade da mesóclise.
            Sabe aquele pronomezinho que se intromete no meio do verbo? É chamado de mesóclise. Exemplo: Se te casares comigo, dar-te-ei as estrelas do céu!
            Isso incomoda demais! Não a promessa do rapaz, mas a artificialidade do “dar-te-ei”, embora muitos ainda prefiram escrevê-lo em obediência à sua regra: toda vez que o verbo está no futuro, ocorre a mesóclise.
            Em nossos dias, porém (nada melhor do que se viver o agora), os linguistas contemporâneos (ou pós-modernos, como se queira) encontraram uma alternativa para o artificialismo mesoclítico. Basta que se enuncie o sujeito e ele atrairá o pronome. Exemplo: — Eu te darei as estrelas do céu, se te casares comigo.
            — Mas, Machado, ainda prefiro a mesóclise...
            — Então, está formada outra gangue...
            Vou-me... E não: Me vou, embora. Embora o “Não me vou” também seja correto, assim como o “Já me vou”  pra Pasárgada...
            Ops, aqui não é o Manuel Bandeira...
            Vou mesmo é saindo de fininho, antes que o leitor me mande ir para outro lugar, pois essa história (e não estória, mané) pronominal já está me enchendo o saco.

            Au revoir!

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Em dia com o Machado 62 (jlo)

             Amigo, o amor é o sentimento situado acima da paixão, pois não termina na sensação dos sentidos. Somente o ser espiritual conhece o que é amar, e não o “homem de espírito” e muito menos os “tolos”, como disse em meu ensaio intitulado “Queda que as mulheres têm para os tolos”.
            No que tange ao amor, o homem espiritual não se deixa embalar por efêmeras ilusões. Está convicto de que as mulheres são criaturas da mais alta elevação. Desse modo,  respeita e  trata-as com cavalheirismo, e desfruta do esplendor da natureza.



           O ser espiritual não corre atrás  das borboletas, cuida do seu jardim e, desse modo, elas vêm até ele.

            
           
              O ser espiritual, quando amado, desfruta de uma completa felicidade, porque antes de ser amado já amou sem qualquer desejo de retribuição. Ocupa-se do amor a todos os seres e a todas as coisas, pois aprendeu que Deus é Amor e, como vaga-lume a iluminar a escuridão, colabora com o Pai que é pura luz.              
             As trevas refletem a ausência de Deus, mas Este, em sua imensa bondade, envia o ser espiritual para iluminá-las.
            A mulher espiritual, longe de repudiar o homem espiritual, busca-o, enternecidamente, como Clara procurou Assis, por saber que o seu não é um amor efêmero e, sim, uma ternura sem fim, uma incessante busca do Cristo interior, que se plenifica na vida eterna.
         Esse é o homem e a mulher espiritual. Eles também amam apaixonadamente, mas, sobretudo, mantêm entre si uma perfeita lealdade, bem como comunhão de almas e de corpos.
       Entende-se, por este esboço resumido, o quanto diferem os seres espirituais dos “homens de espírito” e dos “tolos”. Os segundos vivem correndo atrás de ilusões efêmeras, de quimeras, da exaustão dos sentidos; os primeiros não esperam ser amados, mas em amar em plenitude.
           Terminemos, portanto, nossos apontamentos, com esta singela quadrinha:
Enquanto presos ao amor carnal,
Estamos sempre insatisfeitos disso,
Mas quando nosso afeto é espiritual
Canta contente junto a Jesus Cristo.

domingo, 4 de agosto de 2013

Em dia com o Machado 61 (jlo)

            Este meu secretário é mesmo metido a besta. Não passa de um “caniço pensante”, como de resto todo o ser humano, mas pensa que é algo mais. Hoje, falar-vos-ei sobre um tema que interessa a toda a humanidade: Espiritismo e saúde mental. Como subsídio tomo a excelente palestra do dr. Sérgio, psiquiatra espírita gaúcho, que veio do Sul especialmente para nos dar seu brilhante recado ali na Federação Espírita Brasileira, nossa antiga casa, desde que a frequentávamos, no Rio de Janeiro, no século XIX.
            Atualmente, escrever carta, como o fazíamos antes, é pura perda de tempo; época virá que não será preciso teclar e nem mesmo falar, para escrever; pensou, registrou; o virtual será tão real quando este será virtual; quem viver verá.
     Antes do meu recado, vou revelar o nome deste secretário, no início do conteúdo de sua correspondência eletrônica, que furtei e publico abaixo:

E-mail recebido de um amigo meu:
           Beltrano ligou-me agora, dando-me um presente: a possibilidade de entrar em contato com um amigo que nos traz boas lembranças da juventude, Roge Jeteli, o espírita de fé inabalável, crença nos espíritos, na sua orientação e proteção. Soube do seu crescimento intelectual (não foi surpresa) e pessoal. Fale-me de você. Esposa, filhos, trabalho e fé. Esteja à vontade. Sou um bom ouvinte, ou melhor, um bom leitor, embora às vezes seja prolixo na fala e na escrita.
            Abraços, amigo,
            Fulano.

E-mail enviado ao meu amigo:
           Meu caro fulano,
           É impressionante como jamais esquecemos os bons amigos, mesmo os ateus, graças a Deus, rs.
          Há ateus, a bem da verdade, que são mais honestos e sinceros do que milhões de crentes, e não me excluo destes últimos.
        Você foi um dos bons amigos inesquecíveis, como o Raulino, o Erasmo, o Maurício, o Gomes, o Luís... e outros bons companheiros de farda, como nosso irmão de fé, beltrano, esse sim, um homem de bem, como vocês.
         Realmente, nunca me esqueci dos seus conselhos, fulano, que, a bem da verdade, na opacidade mental em que eu vivia, achava engraçados. Afinal, dizia de mim para comigo, no Espiritismo encontro resposta para tudo, mesmo... Será uma perda de tempo estudar outra coisa...
            Depois percebi que não era bem assim, pois os próprios espíritos superiores, na questão 898, proposta por Allan Karde, em O Livro dos Espíritos, recomendam-nos estudar sempre, como se pode ler: 

— Sendo a vida corpórea apenas uma estada temporária neste mundo e devendo o futuro constituir objeto de nossa principal preocupação, será útil nos esforcemos por adquirir conhecimentos científicos que só digam respeito às coisas e às necessidades materiais?
— Sem dúvida. Primeiramente, isso vos põe em condições de auxiliar os vossos irmãos; depois, o vosso Espírito subirá mais depressa, se já houver progredido em inteligência [...].
            Não vou transcrever toda a resposta, mas vou enviar uma cópia ao amigo beltrano, para que, já que ele me pôs nessa agradável situação, completar a sábia resposta da obra citada. Até por que, o prolixo aqui sou eu.
            Embora minha insignificância, casei-me em Barreias, BA, para onde havia sido transferido do 19º BC, em seguida, viemos para Brasília, onde estamos até hoje. Sempre estudando e atuando na seara espírita. 
            Estou casado há 34 anos, tenho duas filhas casadas e um filho solteiro. Todos formados na área jurídica e trabalhando no Judiciário. A mais velha já nos deu dois netos: Mateus, 5 anos; e  João,  4 meses. É secretária do ministro cicrano de tal. A outra, já passou em vários concursos de advocacia, mas optou pelo cargo de Técnica Judiciária. Assessora um juiz, mas quer também ser juíza. O caçula, 27 anos, é servidor efetivo da Procuradoria Geral da União. Exerce o cargo de auxiliar administrativo e assessora o ministro tetrano de tal.
            Como lhe disse acima, estamos sempre engajados nas atividades espíritas. Minha mulher, é vice-pres. da Casa X, na área da assistência social e eu sou ou fui monitor, palestrante, coordenador de palestras, revisor, passista, etc., há aproximadamente 33 anos, na mesma instituição, que muito contribuiu com nosso crescimento moral e intelectual.
         Apenas, por incrível que pareça, embora os grandes amigos como vocês, conquistados na convivência da caserna, não me refiro ali aos 22 anos de vida militar, antes de dar baixa do Exército, por ter sido aprovado em concurso público em Brasília. Talvez um dia faça um currículo somente para relatar as incríveis peripécias vivenciadas nos quartéis e falar sobre os bons amigos, como vocês, ali conquistados.
            Quanto ao mais sobre mim, se não lhe for demais, após tanto falatório, acesse meu blog. Lá há um pequeno resumo de minha trajetória profissional.
         O endereço do meu blog é o seguinte: jojorgeleite.blogspot.com.br. Nele tenho postado minhas crônicas semanais, por ora em  número de 60, fruto do grande interesse por Machado de Assis e suas crônicas, adquirido quando concluí, na UnB, o Mestrado em Literatura.
            Será uma satisfação, caríssimo fulano, saber algo mais, também, da saga de sua trajetória vivencial. Um pouco dela já me foi informado pelo amigo beltrano. What is he doing now?
            Um grande abraço do amigo sempre a seu dispor,
            Roge Jeteli.

          — Quanta humildade, secretário, queria ser um pouco como você, mas faltou-me falar de minha vida, quando encarnado na Terra. Vou resumi-la em duas palavras:
        Estudei alguns meses em escola pública, vendi doces em frente à escola pública, frequentei diariamente a biblioteca pública do museu nacional, fui auxiliar de tipografia e nada escrevi sobre mim, não havia computador, na época... Apenas li, observei e anotei o que aprendi sobre literatura em 600 crônicas, 200 contos e 10 romances, se se considerar romance Casa velha, segundo John Gledson, além de algumas peças teatrais e críticas literárias. Ah, sim, fui funcionário do Ministério da Agricultura, li e traduzi algumas obras inglesas e francesas, fundei, com amigos cultos, a Academia Brasileira de Letras e fui seu primeiro presidente... Eis tudo!
            Não sei por que, até hoje, costumam me chamar de O bruxo do Cosme Velho. O fato é que, assim como você vem tentando, já escreveram dezenas de livros e de teses sobre meu trabalho e minha vida. Será porque afirmei que “O trabalho move o mundo”?  Não sei...
            Mas vamos à palestra do psiquiatra gaúcho Sérgio, sobre Espiritismo e saúde Mental.
          Casa cheia, o palestrante, sem citar meu nome, lembrou uma frase atribuída aos espíritas, inclusive por mim, de que “o Espiritismo é uma fábrica de loucos”. Mania, que eu tinha de “catar o mínimo e o escondido” (11 nov. 1897).
            Hoje, diríamos: Croyez-vous dans l’esprits? Nous aussi...
         E o que disse o psiquiatra espírita, que me fizesse sentir vergonha de minha crônica do passado? Observe, leitor amigo, que minhas crônicas foram evoluindo, em relação ao tema; primeiro, critiquei, depois, duvidei, mais adiante, ridicularizei, em seguida, suspendi o julgamento: “não sei se a doutrina é verdadeira ou falsa” e, por fim, afirmei crer na nova doutrina. O difícil é saber quando falava sério sobre quaisquer religiões, inclusive sobre a católica, meu berço...
            Continuemos com a palestra (Ufa! Até que enfim...).
        Contou-nos o dr. Sérgio que, na primeira metade do século XIX (meu século), em um hospital europeu, havia duas alas destinadas ao parto: a primeira com parteiras; a segunda com obstetras. A morte de bebês e mãe, por febre puerperal, na ala dos médicos era duas vezes maior do que a havida na das parteiras e ninguém sabia por quê.
            Então, um renomado médico foi encarregado de pesquisar as causas e propor soluções, pois não era possível que médicos com experiência de anos de estudo e prática da medicina fossem desmoralizados, na prática do parto, por simples leigas.
            Primeiramente, esse pesquisador imaginou que o problema poderia estar nos cuidados da retirada dos bebês, do ventre materno. Recomendou então que se fizesse o procedimento com mais delicadeza, mas o número de mortes continuava duas vezes maior do que o das crianças que nasciam vivas e mães sobreviventes pelas mãos das parteiras. Após outros procedimentos inúteis, trocou de sala: as parteiras passaram a realizar partos nas salas dos obstetras e estes foram para as salas das parteiras, levando consigo a mesma quantidade de mortes.
            Nessa época, era comum que os cirurgiões não esterilizassem seus instrumentos cirúrgicos, pois quanto mais sujos de sangue seus aventais e roupas brancas, mais se elevava, aos olhos de todos, a competência do médico.
            Nosso caro doutor desconfiou de que o problema estava ali, após observar um cirurgião usar na dissecação de um cadáver um instrumento com o qual realizaria o parto de uma mulher, que veio a óbito junto com seu bebê, vítimas da temível febre puerperal. Preparou, então, uma solução antisséptica para a lavagem do instrumental cirúrgico e pediu à direção do hospital que exigisse de seus cirurgiões a troca de roupas e a lavagem, na solução, de todos os instrumentos utilizados após cada procedimento.
          A revolta foi geral, mas com a firme decisão do diretor hospitalar, todos tiveram que acatar os procedimentos exigidos, a partir de então. 
             — Eureka! disse o pesquisador. Desse dia em diante, o número de óbitos de gestantes e bebês passou a ser menor do que o decorrente dos trabalhos das parteiras.
            Apesar de tudo isso, a revolta dos médicos dos hospitais de todo o país foi tão grande que o benfeitor das parturientes e seus bebês foi demitido daquele hospital. Ele, entretanto, ficou um tanto perturbado e passou a ser considerado louco, pois sua obsessão pela higiene se tornou tão grande que até mesmo se visse um casal se beijando, na rua, começava a gritar:
             — Lavem suas bocas, se não vocês vão morrer.
            Um belo dia, para provar sua tese, resolver cortar-se com o mesmo bisturi utilizado na dissecação de um cadáver e, dias após, em consequência disso, morreu.
            Poucos anos depois, Louis Pasteur inventaria o microscópio e descobriria os milhões de bactérias e outros microorganismos nocivos ao corpo humano. Confirmou, assim, a teoria do seu incompreendido colega de profissão. A partir de então, os procedimentos antissépticos salvaram milhões de vidas.
        Essa história foi narrada para nos mostrar como a incredulidade independe dos conhecimentos científicos de uma época. Quantos médicos não foram surpreendidos fumando, mesmo após a ciência ter comprovado os malefícios do fumo à saúde humana? Isso demonstra, simplesmente, que não basta conhecer para se crer.
       Se Pasteur não houvesse inventado o microscópio e nos mostrado a quantidade imensa de microorganismos que não víamos a olho nu, conclui Kardec, continuaríamos ignorando a existência dos micróbios. Assim também, diz ele, ocorre com a obsessão espiritual. Se não fora a revelação dos espíritos à humanidade, por meio dos médiuns, provavelmente ainda ignoraríamos a enorme influência dos entes perturbadores sobre toda a humanidade.
            Esclarece-nos, então, o dr. Sérgio, que há dois tipos de religião: a extrínseca e a intrínseca. Ambas exercem uma influência benéfica sobre o ser humano. A religião extrínseca tem por base procedimentos exteriores, de adoração a Deus: medalhas, velas, vestimentas, repetição mecânica de preces, etc. Se a pessoa crê que, com isso, vai melhorar sua vida, certamente essa melhora virá.
            A outra é a religião intrínseca, baseada na certeza absoluta da imortalidade da alma, na crença em Deus, na prática consciente da oração e na dedicação incansável ao bem.
            — Onde está escrita a lei de Deus? Pergunta Kardec.
            Respondem os diversos religiosos:
            — Na Bíblia.
            — No Alcorão.
           — No Bagavah Gîta...
            E respondem os Espíritos superiores:
            — Na consciência.
            Esse último tipo de crença é a espírita.
            Vários benefícios para a saúde humana são proporcionados pela crença no Espiritismo. Entre eles, citaremos dez:
1º Diminuição dos casos de depressão;
2º Prevenção ao suicídio;
3º Bem-estar mental e físico;
4º Motivação para o aprendizado incessante;
5º Entendimento da finalidade da vida;
6º Convicção sobre a existência de Deus;
7º Certeza sobre a imortalidade da alma;
8º Conhecimento da lei de causa e efeito;
9º Compreensão clara da mensagem de Jesus; e
10º Longevidade da vida física.
            Muito mais falou o psiquiatra espírita, mas se refletirmos apenas nisso, estaremos dando um grande passo para vivermos com muito mais esperança, fé, dedicação ao bem e aos ideais elevados; coisas que o materialismo não proporciona a ninguém.
            Basta que se faça uma pesquisa séria e se verá que a maioria dos materialistas têm vida breve. Salvo aqueles que se dizem ateus, graças a Deus...
         Há também os que se confessam ateus, mas por orgulho e mais por não terem algo melhor para preencherem o vazio de suas existências do que os prazeres efêmeros, muitas vezes amaros, do mundo. A todos, o convite está feito: conheça a Doutrina Espírita! Em vez de loucos, ela faz-nos santos.
           Observe, leitora amiga e amigo leitor, que os dez itens da lista acima são perfeitamente compatíveis não somente com o Espiritismo, mas também com todas as religiões.
            Não é mesmo, Roge Jeteli?
            Boa-noite!

            

  O livro   (Irmão Jó)   D esde cedo é importante I ncentivar a leitura A os nossos filhos infantes.   M ais tarde, na juventude, U ma vont...