Em dia com o
Machado 78 (jlo)
Hoje,
acordei cantando a Canção do exílio, de Gonçalves Dias, escrito em Coimbra,
antes do terrível acidente náutico, em sua volta ao Brasil, que o retirou de
entre os mortos.
Acredito que muitos políticos atuais, na Terra
de Santa Cruz, almejam ter um destino apoteótico como o do nosso grande poeta.
Não o do naufrágio, naturalmente... Enquanto isso não é possível, barganham
algumas benesses políticas em troca de favores escusos, quando a mão pesada da
justiça se abate sobre eles.
Tomei meu breakfast,
saí à rua e encontrei meu fiel secretário. Então, para não perder o hábito,
perguntei-lhe:
— Que há de novo, Joteli?
— A prisão dos Zés, os “primeiros presos políticos em pleno estado democrático de direito”, segundo eles se intitulam.
— A prisão dos Zés, os “primeiros presos políticos em pleno estado democrático de direito”, segundo eles se intitulam.
— E de que os
acusam?
— Intrigas
políticas, meu caro Machado, intrigas com cara de revanchismo militar. Naquele
tempo, o primeiro Zé foi preso, levou choques, fez diversas plásticas faciais, saiu
do Brasil e, saídos de cena os milicos, voltou com tudo na política.
— Esse cara
é Dirceu.
—
Exatamente...
— E o
segundo, Zé, meu caro secretário para assuntos alheios e notórios?
— Esse
tentou umas incursões guerrilheiras, antes da tomada do governo pelos cidadãos
fardados, e também vazou, quando viu as coisas pretas, após ser preso e ter
ficado chocado. Depois retornou, como o anterior, e foi ser líder político.
— Esse cara
é Genoíno.
— Sim,
senhor, é tão genuíno que pleiteou o privilégio de ficar preso em tratamento na
casa da filha. O que vem sendo contestado pelos outros 7.682 presos da Papuda. Alega
problemas cardíacos...
— Informaram-me
que o Delúbio está na mesma cela que eles.
— Pois é, Machado, os três estão juntos: o primeiro foi
ministro-chefe da Casa Civil indicado pelo PT; o outro foi presidente do PT; e
o terceiro foi tesoureiro desse mesmo partido. Nada mais justo que juntá-los,
né?
— Ah,
sei... Prisão de político é outra coisa... Mas o que há de novo, Joteli?
— O Genoíno
conseguiu a autorização para ficar preso na casa da filha, enquanto estiver em
tratamento, mas a junta médica designada para avaliar sua saúde atestou que seu
caso não é grave.
— E o que
mais há de novo?
— O outro
Zé, o Dirceu, quer cumprir a pena trabalhando num hotel de prédio situado
próximo da Esplanada dos Ministérios, do Palácio do Planalto e do Congresso
Nacional... Só ainda não sei o que fará com o salário de vinte mil reais...
— Ah, sei...
E o que mais há de novo?
— O Papa
Francisco está propondo uma reforma profunda na Igreja.
— E ele
aceita sugestões, Joteli?
— É o que
dizem...
— Então sugiro-lhe que a Igreja continue intervindo, perante Deus, em
benefício dos pobres e marginalizados, como, por exemplo, desses 7.682 presos
da Papuda. Quem sabe se, com as preces do santo Papa, eles não conseguem um
emprego nos hotéis da Esplanada?
— E se eles
resolverem fugir e assaltar os cidadãos incautos, Machado?
— Eles
estarão seguros, se trabalharem perto dos políticos. O Dirceu não estará ali também?
— Sabe que
nem tinha pensado nisso?
— Comamos,
então, uma pizza à bolonhesa.