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terça-feira, 26 de novembro de 2013

Em dia com o Machado 78 (jlo)

            Hoje, acordei cantando a Canção do exílio, de Gonçalves Dias, escrito em Coimbra, antes do terrível acidente náutico, em sua volta ao Brasil, que o retirou de entre os mortos.
             Acredito que muitos políticos atuais, na Terra de Santa Cruz, almejam ter um destino apoteótico como o do nosso grande poeta. Não o do naufrágio, naturalmente... Enquanto isso não é possível, barganham algumas benesses políticas em troca de favores escusos, quando a mão pesada da justiça se abate sobre eles.
            Tomei meu breakfast, saí à rua e encontrei meu fiel secretário. Então, para não perder o hábito, perguntei-lhe:
            — Que há de novo, Joteli?
        — A prisão dos Zés, os “primeiros presos políticos em pleno estado democrático de direito”, segundo eles se intitulam.
            — E de que os acusam?
            — Intrigas políticas, meu caro Machado, intrigas com cara de revanchismo militar. Naquele tempo, o primeiro Zé foi preso, levou choques, fez diversas plásticas faciais, saiu do Brasil e, saídos de cena os milicos, voltou com tudo na política.
            — Esse cara é Dirceu.
            — Exatamente...
            — E o segundo, Zé, meu caro secretário para assuntos alheios e notórios?
            — Esse tentou umas incursões guerrilheiras, antes da tomada do governo pelos cidadãos fardados, e também vazou, quando viu as coisas pretas, após ser preso e ter ficado chocado. Depois retornou, como o anterior, e foi ser líder político.
            — Esse cara é Genoíno.
            — Sim, senhor, é tão genuíno que pleiteou o privilégio de ficar preso em tratamento na casa da filha. O que vem sendo contestado pelos outros 7.682 presos da Papuda. Alega problemas cardíacos...
            — Informaram-me que o Delúbio está na mesma cela que eles.
          — Pois é, Machado, os três estão juntos: o primeiro foi ministro-chefe da Casa Civil indicado pelo PT; o outro foi presidente do PT; e o terceiro foi tesoureiro desse mesmo partido. Nada mais justo que juntá-los, né?
            — Ah, sei... Prisão de político é outra coisa... Mas o que há de novo, Joteli?
       — O Genoíno conseguiu a autorização para ficar preso na casa da filha, enquanto estiver em tratamento, mas a junta médica designada para avaliar sua saúde atestou que seu caso não é grave.
            — E o que mais há de novo?
            — O outro Zé, o Dirceu, quer cumprir a pena trabalhando num hotel de prédio situado próximo da Esplanada dos Ministérios, do Palácio do Planalto e do Congresso Nacional... Só ainda não sei o que fará com o salário de vinte mil reais...
            — Ah, sei... E o que mais há de novo?
            — O Papa Francisco está propondo uma reforma profunda na Igreja.
            — E ele aceita sugestões, Joteli?
            — É o que dizem...
        — Então sugiro-lhe que a Igreja continue intervindo, perante Deus, em benefício dos pobres e marginalizados, como, por exemplo, desses 7.682 presos da Papuda. Quem sabe se, com as preces do santo Papa, eles não conseguem um emprego nos hotéis da Esplanada?
            — E se eles resolverem fugir e assaltar os cidadãos incautos, Machado?
            — Eles estarão seguros, se trabalharem perto dos políticos. O Dirceu não estará ali também?
            — Sabe que nem tinha pensado nisso?
            — Comamos, então, uma pizza à bolonhesa.

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Em dia com o Machadado 77 (jlo)[1]

            A revista Seleções informa-nos, neste mês, que fez um teste de honestidade, em seis cidades brasileiras, nas quais “perdeu” 72 carteiras, com cem reais e identificação do proprietário em cada carteira. Não vamos mencionar os nomes das cidades, mas constatou-se que, na mais honesta, São Paulo, setenta por cento das pessoas devolveram a bolsa, enquanto na menos honesta, o Rio de Janeiro, esse mesmo percentual a reteve.
            Lembrei-me então do meu conto “A carteira” e resolvi contar-lhe seu desdobramento, amigo leitor. Afinal, tudo muda neste mundo, até a honestidade carioca, que, em outros testes, já foi considerada uma das mais elevadas... Provavelmente, essas últimas carteiras, no meu Rio de Janeiro, estivessem no lugar e hora erradas, não é mesmo?
            A vida, meu bom amigo, é uma só; mas as existências corporais são muitas. Ou você não leu Brás Cubas, que, de nossa dimensão, narrou a saga de sua última jornada terrena?
            Pois bem, para seu melhor entendimento desta versão de “A carteira nº 2”, é preciso que leia em www.dominiopublico.gov.br a versão nº 1. A não ser que, como bom apreciador da literatura, já conheça a história anterior...
             A vida prossegue...
       Continuando aquela existência, diríamos que Honório tornara-se renomado advogado e jamais desconfiara da infidelidade de Amélia, que o traíra durante dez anos, com Gustavo, amigo do casal. Até que a febre amarela os matou, a todos, no bom ano de 1896, com a diferença de três a quatro semanas entre cada óbito.
            Sobrevivera a filha de Amélia, então com quatorze anos, que fora morar com uns parentes, casara-se e dera origem a nova geração da árvore genealógica da família. Ficara, porém, uma dúvida: Maria Clara, a filha, seria mesmo de Honório ou de Gustavo?
            É bem verdade que, cinco anos antes de Clara nascer, D. Amélia não conseguira engravidar, o que somente ocorrera após o estreitamento da amizade que o casal passara a ter com Gustavo, o qual, desde então, costumava ser visto a sós com a esposa de Honório na ausência deste. Em geral, Amélia, que gostava de tocar ao piano músicas alemãs, tocava para o amigo, que embevecido não se cansava de aplaudi-la e elogiá-la.
            Mas o tempo passara e, como dissemos acima, o triângulo amoroso foi ajustar contas na terra dos pés juntos. Para não confundir o leitor, manteremos, em sua “repaginação”, os mesmos nomes de nossos personagens que se encontram em “A carteira” de 15 mar. 1884.
            Eis que, passados quarenta anos, no umbral [região trevosa do plano espiritual], o trio reencarnou no Rio de Janeiro. Amélia retornou ao corpo físico como vizinha dos pais de Honório, o marido traído na existência pregressa. Moravam, agora, na Glória. Gustavo, o amante de outrora, voltara à nova existência perto dali, no Leblon, como neto de Clara e filho de um advogado famoso, que muita influência teria em sua vocação para a advocacia.
            Os três ficaram amigos, na escola de ensino médio, frequentada por eles, de nome Irmandade da Trindade Universal, dirigida por um padre franciscano. Concluídos os estudos secundários, ainda adolescentes, Gustavo começou um namoro firme com Amélia, sob as vistas complacentes de Honório, que mantinha uma relação amorosa secreta com a amiga.
            O tempo passou, e casou-se Gustavo com Amélia; mas agora, o pianista era ele, que também se formara em Direito e passara a advogar sem muito sucesso na profissão; a provedora-mor da casa era a esposa. Foram residir no Leblon, em apartamento doado pelos pais de Gustavo.
            Amélia graduara-se em relações internacionais e fora aprovada no concurso do Instituto Rio Branco. Tornara-se diplomata, ganhava muito bem e trabalhava muito também.
            Teve filhos gêmeos: um loiro e alto, como Gustavo; o outro, moreno e baixo, como Honório. Por essa época, as crianças estavam com quatro anos, e nada lhes faltava em casa.
            Quanto a Honório, tornara-se comerciante em Botafogo, onde também passara a residir. Sua loja ia de vento em popa, desde que Amélia se lhe associara informalmente, haja vista que sua função pública a impedia de assumir qualquer outra atividade remunerada.
            Eis que, um belo dia, de repente, Gustavo olhou para o chão e viu, meio oculta, uma carteira caída à frente do balcão da loja do amigo, quando em visita a este, no final do expediente comercial. Em instantes, abaixou-se, apanhou-a e, sob os olhares de um homenzinho que já fechava a porta da loja, e ninguém mais era do que seu amigo Honório, ouviu este lhe dizer, sorrindo, enquanto Amélia, pálida, aparecia por detrás do balcão:
            — Rapaz, que bom que você achou minha carteira. Amélia estava ajudando-me a procurá-la, pois a féria do dia está toda guardada aí e já estávamos imaginando que algum larápio a roubara.
            Ao que respondeu Gustavo, entregando-lhe a bolsa, orgulhoso da douta e prestimosa esposa:
            — Muito bem, querida, ajudar os amigos é mais do que um favor, é obrigação. Ainda mais quando se é sócio, completou rindo bastante. Mas agora vocês me desculpem, tenho que ir voando à casa de vovó, Maria Clara, tomar um chazinho com ela, pois vamos comemorar minha primeira vitória importante na vara de família.
             — É mesmo, amor? – pergunta-lhe a esposa, já refeita do susto inicial — E qual foi a causa que ganhaste?
            — Coisa simples. Uma separação litigiosa em favor do marido traído; algo que jamais ocorrerá conosco, não é mesmo, amor da minha vida?
            — O amor de vocês é tão lindo – acrescenta Honório —, que nada no mundo vai separá-los.
            — Claro — conclui Amélia — lindo e único! Parabéns, querido, depois, os três comemoramos mais esta sua vitória jurídica, quando você tocará para nós, ao piano, uma sinfonia alemã. Mas agora que está tudo bem, vou para casa descansar um pouco, pois hoje precisei auxiliar o embaixador num processo de concessão de asilo a um político corrupto e adúltero. E isso me deixou exausta e indignada...
            — Quer que a deixe em casa, amor? Estou de carro...
            — Não é preciso, querido, também estou de carro; e vou conferir com Honório a féria do dia. Às 21 horas, estaremos lá.
            Gustavo sai. Honório, de posse da carteira, retirou de seu interior um bilhetinho, que o outro não tivera tempo de “ler, e estendeu-o a D. Amélia, que, ansiosa e trêmula, rasgou-o em trinta mil pedaços: era um bilhetinho de amor”.
            Mais tarde, os três inseparáveis amigos comemoraram, na casa do casal, a causa ganha por Gustavo que, ao piano, tocou a 9ª sinfonia de Beethoven.
            Ao centro, voltado para o teclado, o advogado, feliz, tocava divinamente ladeado por Honório e Amélia que cantavam, com ele, a letra musical em português. De repente, silenciaram, se abraçaram emocionados e choraram copiosamente, após recitarem esta estrofe:

Quem já conseguiu o maior tesouro
De ser o amigo de um amigo,
Quem já conquistou uma mulher amável
Rejubile-se conosco!
Sim, mesmo se alguém conquistar apenas uma alma,
Uma única em todo o mundo.
Mas aquele que falhou nisso
Que fique chorando sozinho!



[1] Esta é uma obra de mimese literária. Qualquer referência a Machado de Assis não passa de ficção, e qualquer semelhança com a psicografia é mera coincidência. Jorge Leite (jlo).

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Em dia com o Machado 76

I
              Admiro muito a dupla de apresentadores do jornal Hoje, da rede Globo de televisão. Antes, porém, de sua entrada no ar, há, no jornal local, o DFTV, um quadro intitulado “Sem noção”.
              Desta vez, porém, com todo o respeito à apresentadora do Hoje, vi e ouvi, perplexo, a reportagem, narrada por ela, e filmada pela Globo, de uma dupla de assaltantes, no Paraná, que abordou um automóvel, no qual se encontrava, no banco traseiro, uma idosa.
              Explico minha perplexidade ao leitor, ao tempo em que lhe narro o fato. A apresentadora estava indignada por que um dos assaltantes tirou a velhinha do carro e jogou-a na rua, com bengala e tudo, antes de fugir com a arma na mão...
              — Que covardia — comentou Sandra – para, em seguida, explicar que o carro fora recuperado depois, e os ladrões continuavam foragidos.
              — E a velhinha? Pergunta-me o amigo que me lê.
              — Coitadinha, teve alguns arranhões, mas está muito bem de saúde e manda um abraço para o leitor.
II
             
              Amigo leitor, você conhece o “Jaque”? Não? Então manda fazer uma reforma, por exemplo, em seu lar e faz um contrato que, à primeira vista, é excelente para ambas as partes.
              Começa a reforma e é um tal de “Jaque” pra cá, “Jaque” pra lá, que torra a paciência de muito pedreiro, eletricista, encanador, etc.
              Você manda consertar a pia, mas “Jaque” a torneira está velha, troca-a por uma nova. A tampa do vaso sanitário precisa ser trocada, mas “Jaque” sua esposa gostou muito de um vaso novo que viu, há dias, na loja, troca também o vaso. As paredes da casa foram pintadas, mas “Jaque” sobrou bastante tinta, pinta também a garagem... E por aí vai o “Jaque”.
              Conclusão: o “Jaque” é uma figura que não deveria existir em matéria de reparos caseiros, mas “Jaque” existe, não custa nada adotar “medidas cautelares”.
              Um empresário esperto acrescentou ao contrato de serviços de reformas imobiliárias a seguinte cláusula: “Fica decidido que, toda vez que o “Jaque” se intrometer no serviço contratado, será cobrado o valor correspondente à nova obra; “Jaque” não é possível prever quantos “Jaques” estão ocultos na reforma a ser executada.
              O “Jaque” mete-se em tudo nesta vida. E “Jaque” sou amigo do torcedor de um time de futebol, vamos ver quantos “Jaques” estão jogando em seu time.  
              Começou o campeonato local, mas, “Jaque” alguns bons jogadores foram vendidos e outros estão machucados, o clube promoveu alguns juvenis e completou o time com eles.
              Terminou o torneio regional, porém, “Jaque” o clube vem atrasando o pagamento mensal dos jogadores, o time se desmotivou e perdeu todos os “clássicos”.
              Teve início o campeonato nacional, todavia, “Jaque” os jogadores campeões do ano passado não ouvem nem falar em pagamento da justa premiação, adeus, motivação.
              “Jaque” contratamos novo técnico, recomendado pelo patrocinador, que é torcedor fanático do nosso clube, vamos mantê-lo até o fim do torneio, mesmo que o time não vença há oito jogos.
              “Jaque” o técnico fez um planejamento para a disputa vitoriosa dos últimos seis jogos, “Jaque” o time concorrente está perdendo, e, “Jaque” estamos no primeiro desses jogos, vamos tentar administrar o resultado do empate e esquecer essa história de “time de guerreiros”.
              “Jaque” um jogador do nosso time cometeu pênalti no fim do jogo, “Jaque” nosso time perdeu novamente, “Jaque” o concorrente venceu e “Jaque” o substituímos na zona de rebaixamento, vamos substituir, também, mais esse técnico.
              “Jaque” o time foi rebaixado, há uma década, e não disputou a “segundona”, se formos rebaixados novamente, vamos fazer bonito, como os demais times grandes, e ser também campeões da série B.

              “Jaque” escrevi tanto “Jaque” até aqui, “Jaque” espero não ser o profeta do decesso tricolor e “Jaque” no meu tempo nem se pensava nesse assunto, não falemos mais de futebol...

sábado, 9 de novembro de 2013

Em dia com o Machado 75 (jlo)

            Havia sessenta anos que eu estivera no Campo São João Batista, no Rio de Janeiro, para ali beijar minha meiga Carola e abraçar os amigos e parentes queridos. Mas se também fosses ao local, amigo leitor, só encontrarias farelos de ossos, pois, no local, apenas trocáramos a veste física pela do espírito, bem mais formosa e higiênica...
            A quilômetros dali, do seu lar, pouco abaixo da bucólica igreja da Penha, um adolescente, dia a dia, ouvia tocar, no rádio, um cantor excepcional. Naquela ocasião, já havia TV em preto e branco, mas esse era um luxo desfrutado por poucas pessoas. Estávamos, portanto, em 1968, e Joteli completara dezesseis verões (homem não faz primavera, e, sim, verão; pois é do verão que surge o varão).
            Aquele, porém, seria um dia especial, pois o grande comunicador Sílvio Santos apresentaria, na TV Record, um programa sobre o artista citado. E Joteli descera o morro para assisti-lo, da janela, de uma das casas de rua abaixo.
            Com a complacência da família burguesa, o filho de proletários viu e ouviu, na TV, o então jovem e já excelente apresentador, por longo tempo, defender o cantor das acusações levianas a este atribuídas. Entre outras coisas, dizia Sílvio que aquele rapaz, presente e calado, estava sendo injustamente acusado de ser perversor da juventude, pois usava colares, roupas coloridas e era cabeludo.
            E ainda mais: acusavam-no de, por suas atitudes antissociais e afeminadas, ser mau exemplo para a família e nefasta liderança para a juventude... Mas, segundo o expositor, isso não era verdade.
            O acusado não passava de um jovem sem jeito para ser líder; triste no olhar, com seu modo tímido e simples, apenas queria cantar suaves músicas românticas e estar na moda. Não estava ali, portanto, para reivindicar nada; desejava apenas cantar e cativar a todos, com sua bela voz.  
            Além disso, sonhava casar-se e constituir uma família exemplar.
            Diziam que plagiava João Gilberto — continuou —, mas quem não imitava o João ou qualquer outro grande cantor? O próprio Paulo Sérgio, que começara a cantar com voz semelhante à do acusado, já assumira um estilo próprio, como ocorrera com o inocente moço.
            O apresentador se retira, ao final de sua eloquente defesa, ante um cabisbaixo e mudo cabeludo, apoiado por todos os presentes — jurados e plateia —, que o inocentaram unanimemente.
            No dia seguinte, a imprensa repercutiria favoravelmente o programa. Pouco tempo depois, o título de rei da música popular brasileira foi dado, definitivamente, a Roberto Carlos.
            É isso mesmo, caro leitor, no Brasil já houve tempo em que usar cabelo comprido era considerado coisa de efeminado. Essa moda, porém, viera da Inglaterra, com os Beatles e hippies. Roberto apenas usava uma estratégia de marketing para ganhar popularidade.
            O tempo e os hippies passaram. Outras modas surgiram, como a do brinco numa das orelhas do jovem, depois nas duas, a tatuagem e outras atitudes como a do ficar.
            Na minha época, quando um homem olhava para outro, insistentemente, na rua, era briga certa. Casal namorando em praça pública, nem pensar. Atualmente, tornou-se comum ver, beijando-se na boca, em qualquer lugar, dois jovens... do mesmo sexo.
            No meu tempo, era excitante ler, nos romances, alusões a certas partes do corpo feminino, como “uns braços”. Hoje, belas moças desfilam de minissaia sem que alguns rapazes lhes deem a mínima...
            A jovem de antigamente corava de vergonha ao lhe ser pedido um beijo. Casamento, só com o consentimento paterno. Com o advento da TV, as novelas atingiam seu clímax quando o casal (homem e mulher), finalmente, se beijava.
            Atualmente, enquanto o drama se desenrola em relação à paternidade de uma criança, por exemplo, os personagens principais e secundários já foram para a cama inúmeras vezes. E, após o relacionamento sexual, é comum iniciar-se um bate-boca com xingamentos e até mesmo agressões.
            Acabou o romantismo. Já não se sabe quem vai se dar bem, no fim da história, se é o vilão ou o “bom moço”, a megera ou a mocinha que a persegue com seu ódio implacável e desejo de vingança.
            Por enquanto, ainda não há novela em que, no final, o “casal” viva feliz para sempre: ela com ela, ele com ele. Por enquanto...
            Num programa televisivo sobre sexo, ontem, a proposta era de um casal ir chupando, cada um, a ponta de um macarrão, até que, ao final, suas bocas se encontrassem, num ardente beijo. De repente, sob olhares curiosos da apresentadora, convidados e plateia, apresentaram-se para a chupeta dois jovens... do sexo masculino.
            Virei de costas e retirei-me.
            Estou agora com o firme propósito de continuar a escrever romances destinados, exclusivamente, à vida no plano espiritual.
            Pelo menos aqui, cada um assume o que é... mas no corpo certo...

sábado, 2 de novembro de 2013

Em dia com o Machado 74 (jlo)

O macaco é quem está certo

            Amigo leitor, estive fazendo uma ligeira pesquisa antes de publicar esta crônica e descobri algo interessante a respeito da inteligência dos animais, insetos inclusive. Por exemplo, a barata ignora que é uma barata, pois é tonta que nem um robozinho programado.
            Há insetos, porém, que parece nem mesmo estarem programados pelo instinto de sobrevivência, por vezes, como é o caso da lagarta. Se você tenta matá-la, nem se mexe do lugar onde está. Experimenta... Só não toque nela, senão pode se queimar.
            Já a barata, não. Tente matá-la, para ver o que acontece. Ela é capaz de voar e pousar no seu nariz.
            Mas ela não sabe que é barata, só cuida de comer o que puder, fazer sexo, excrementos e fugir das chineladas humanas ou dos ataques dos galináceos, que, antes de serem comidos por nós, adoram engolir esses gosmentos insetos...
            Avançando um pouco mais, no quesito inteligência, estão os animais vertebrados e mamíferos em especial. O cavalo acha que é cavalo, o gato sabe que é gato, o papagaio pensa que é... ser humano. O cachorro tem certeza disso.
            Atualmente, sabe-se que os animais sentem, como nós, a raiva, a tristeza, a alegria, o dó...
            Outro dia, um cão conversava com um gato sob uma macieira plantada no pomar de sua casa. Tornaram-se amigos, após longa convivência doméstica, que acabou com a milenar rixa existente entre eles.
            Dizia o descendente lupino ao felino:
            — O gênero humano é uma besta. Há pouco tempo, acreditava ser um tipo à parte, na criação divina. Só agora começou a perceber que nossa diferença é apenas de grau das faculdades mentais e não de tipo.
            Ao que acrescentou o gato:
            — Podemos até usar as próprias máquinas dos humanos para uma comparação entre nós e eles, como, por exemplo, o carrinho de bebê, o velocípede, a bicicleta, o fusquinha, o porche e o carro de fórmula um...
            — Como assim, meu felino amigo?
            — O carro de bebê, o velocípede e a bicicleta somos nós: papagaios, gatos, cachorros... As demais máquinas são eles... No fim, tudo é máquina...
            — Ah, mas aí é que você se engana, gato. Qual humano é mais potente que o falcão, a águia ou mesmo o corvo? Qual deles é mais poderoso que o elefante ou o leão? Que homem possui a liberdade de um simples pardalzinho? Qual deles suplanta, mesmo, em beleza e graça, um mero cuitelinho?
             — É verdade, lupino poeta. E ainda acrescento: qual raça humana é capaz de se camuflar como um camaleão, de sentir o cheiro das substâncias mais sutis, como vocês, os cães, de perceber a presa a quilômetros de distância, como os tubarões, de ver um minúsculo peixe, na superfície de um lago, do alto de dois mil metros, como o albatroz?
            Passava pelo local uma criança de nove anos, poliglota, que falava o animalês, e contestou gato e cão com o seguinte argumento:
            — Ora, meus caros, tudo isso não passa de instinto natural...
            Um chimpanzé, até então escondido entre os galhos da macieira, após expulsar dali uma víbora, mostrou a cara e contestou o guri:
            — Meu garoto, há muito mais coisas entre o céu e a terra do que possa imaginar a vossa vã filosofia... Ensinai-me as coisas práticas que aprendestes, desde o vosso nascimento, e provar-vos-ei que sou capaz de saber tanto quanto vós... Só não me venhais com lero-lero...
            — Você está é com inveja de nós – respondeu-lhe o piá.
            O macaco escondeu seu rosto entre as mãos, mas não se deu por vencido:
            — Sim, pode ser... Mas isso prova apenas que também somos humanos. Nosso grau de consciência permite-nos ter inveja e vergonha quando praticamos algo errado. Além disso, está provado, cientificamente, que é mínima a diferença entre o nosso e o vosso cérebro...
            Foi quando pousou no ombro do menino o seu papagaio, e, já discordando do primata, arremeteu:
            — Pois saiba, ó camarada macaco, que sou capaz de aprender a falar a voz humana, cantar suas músicas e participar de suas conversas, em especial das piadas. Tudo isso, com um cérebro cem vezes menor que o de uma criança.
            — Muito bem, disse-lhe o símio, mas ainda não entendi por que os seres humanos brigam tanto para domesticar-vos, junto com cães e gatos, mas não tentam fazer o mesmo conosco, seus parentes mais próximos.
            — Deixa de ser burro, homem — disse a mulher do macaco, que estivera, até então, escondida atrás da árvore. Então não vês que se formos domesticados pelos homens acabaremos nos tornando seus serviçais?
            — Desta vez estais certa, concordou o marido, se formos amansados, eles nos obrigarão a cuidar de seus filhos, cozinhar para eles e até mesmo educar suas crias. E concluiu filosoficamente:
            —Abaixo a escravidão e viva a liberdade!
            Ouvindo isso, o gato, o cachorro, o papagaio e até uma besta que passava por ali deram um só berro, dando vazão a um sentimento há 13 mil anos reprimido. Foi uma choradeira só...
            Apenas o menino sorriu... e tratou de voar de lá...


            (Sobre a inteligência dos animais, clique em: http://super.abril.com.br/ciencia/estudos-mostram-passa-pela-cabeca-animais-623040.shtml. Acesso em 2 nov. 2013.)            

  O livro   (Irmão Jó)   D esde cedo é importante I ncentivar a leitura A os nossos filhos infantes.   M ais tarde, na juventude, U ma vont...