COMUNICAR É PRECISO VIII (Jorge
Leite)
Publicado em 28 abr. 2014.
Creia em si, mas não duvide sempre dos
outros. (Machado de Assis)
Há poucos dias, li uma mensagem de um militar
revoltado: Por quê ocorreu a revolução militar em 1964?
Em seguida, explicou que a revolução decorreu de um
movimento popular, com o apoio da Igreja, pela democracia e contra os
comunistas. Mas isso não vem ao caso agora, o que se discute é a frase do nobre
cidadão, zeloso na defesa de nossos costumes e moral.
Uso dos porquês:
1.
Por que
separado e sem acento
Em início de perguntas: Por que tanto
ódio aos militares?
Significando causa ou motivo: Ainda não
se sabe por que os políticos da esquerda têm tanto ódio aos militares.
2.
Por quê
separado e com acento
Em final de perguntas: Você tem ódio
dos militares por quê?
3.
Porque
junto e sem acento:
Em resposta a pergunta: Porque os
militares prenderam e torturam os terroristas. (Ah, sim, mas por que será que
terroristas não fizeram o mesmo com cidadãos e militares? – item 1, pergunta
irônica que traz embutida causa, razão ou motivo).
4.
Porquê
junto e com acento:
Quando o
porquê é substantivado por um determinante (artigo, pronome): Não sei o porquê
de tanto ódio. Esse porquê foi a causa da revolução. (Será por que violência
gera violência? Olha o caso 1 de volta, minha gente!)
Entendeu
agora? É simples assim.
Outro equívoco, próprio dos militares, escrever
nomes de meses, abrev. ou não, com inicial maiúscula: O golpe comunista foi
tentado em Nov. de 1935. Correção: “[...] em nov. de 1935”.
Erro cometido por este articulista: “Escolhe,
amigo, a que melhor lhe convier”.
Descobriste onde está o erro?
Imperativo afirmativo de escolher:
Escolhe tu
Escolha você
Escolhamos nós
Escolhei vós
Escolham vocês
Tu e vós, na formação imperativo afirmativo, saem
do presente do indicativo sem o “s” final: escolhe(s); escolhei(s). As demais
pessoas são formadas do presente do subjuntivo: escolha; escolhamos; escolham.
Agora é só montar e aplicar no texto falado ou
escrito.
Mas então onde foi que eu errei?
Ora, se o verbo está na segunda pessoa, o pronome
não pode ser lhe e sim te: “Escolhe, amigo, a que melhor te
convenha”.
Observou a flexão do verbo? Ela deve estar, também,
no presente do subjuntivo: que eu convenha, que tu convenhas, que ela convenha, que nós convenhamos,
que vós convenhais, que elas convenham.
E por que o pronome oblíquo fica antes do verbo?
Porque o pronome que provoca a próclise, ou seja, traz o pronome oblíquo para antes
do verbo.
O português é difícil?
Não creio. Basta atenção na conjugação verbal, na
formação das palavras e frases, na regência verbo-nominal e, principalmente, em
muita leitura, fala e escrita críticas. Mas se errar, tenha a humildade de não
se melindrar, corrigir-se e seguir em frente.
Na próxima comunicação tem mais...
QUESTÕES VERNÁCULAS - Edição 6
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Nos orações
abaixo existem erros que uma maior atenção certamente ajudaria a evitar:
1.
Ela mesmo
arrumou a sala.
2.
Chamei-o, mas o mesmo
não atendeu.
3.
A promoção veio de
encontro aos seus desejos.
4.
Comemos frango ao invés
de peixe.
5.
Eis o texto onde
se encontra a notícia.
6.
Maria já foi comunicada
da decisão.
7.
O pai sequer
foi avisado.
8.
Joana comprou uma
TV a cores.
9.
O fato, embora de grandes proporções, acabou desapercebido.
10. Espere
um pouco, que irei consigo.
A seguir, as
mesmas orações já corrigidas e uma explicação sintética caso a caso:
1.
Ela mesma
arrumou a sala. (O demonstrativo mesmo
em tais casos acompanha o gênero e o número do pronome. Se o pronome fosse
“ele”, diríamos: Ele mesmo arrumou a sala. Se usado o pronome “nós”, diríamos:
Nós mesmos arrumamos a sala.)
2.
Chamei-o, mas ele
não atendeu. (O vocábulo mesmo
não pode ser usado no lugar do nome ou do pronome.)
3.
A promoção veio ao encontro de seus desejos. (A expressão “de encontro” tem
sentido desfavorável ou negativo. Se em vez de promoção estivesse a palavra punição, aí sim a expressão “de
encontro” estaria bem aplicada. Quando o fato é favorável ou de sentido
positivo, a expressão correta é “ao encontro”.)
4.
Comemos frango em
vez de peixe. (Usa-se a expressão “ao invés” quando a ação referida é o
oposto do fato referido inicialmente. Nos casos de mera substituição, o correto
é usar a expressão “em vez”.)
5.
Eis o texto em
que se encontra a notícia. (O vocábulo “onde” estará bem utilizado
quando se referir a um local, a um logradouro, a uma cidade. Exemplo: No bairro
do Aeroporto, onde mora meu amigo, há um centro espírita.)
6.
Maria já foi avisada
da decisão. (A decisão é que foi comunicada a Maria. É erro dizer que Maria
foi comunicada, mas sim avisada da decisão.)
7.
O pai nem
sequer foi avisado. (O vocábulo sequer,
para ter o sentido de negação de que trata a oração, exige sempre o advérbio nem.)
8.
Joana comprou um
televisor em cores. (Televisão é
o nome da emissora; o aparelho chama-se televisor. Em vez de “a cores”, o
correto é a expressão “em cores”. Ninguém diria: transmissão a preto e branco,
mas sim transmissão em preto e branco, transmissão em cores.)
9.
O fato, embora de grandes proporções, acabou despercebido. (Embora admitido em
tais casos por alguns gramáticos, o vocábulo desapercebido deve ser, nesta
hipótese, substituído pelo adjetivo despercebido,
isto é, fato que não se percebeu.)
10. Espere
um pouco, que irei com você. (Utilizado
em Portugal em construções como esta, o vocábulo consigo não é em nosso país admitido em casos assim.)