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terça-feira, 26 de maio de 2015

Em dia com o Machado 159 (jlo)

Estamos no céu,
o universo é curvo,
não se está acima
nem se está abaixo.
Einstein me disse isso
e nisso acredito.
Poesia e véu
não caem do céu.  (jó)

Há entre nós uma nova geração poética, viçosa e galharda, viva e ativa. Ela já se posiciona para mostrar ao mundo uma nova arte: a espírita.
Hippollyte afirmou em vida e foi publicado postumamente que “O Espiritismo abre à arte um campo novo imenso e inexplorado. E quando o artista trabalhar com convicção o mundo espiritual colherá nessa fonte as mais sublimes inspirações” (in: Obras póstumas. Influência perniciosa das ideias materialistas).
Joteli tem publicado, ao longo dos anos, alguns dos seus singelos poemas numa conceituada revista espírita. Num deles, lemos a seguinte estrofe:

Conheça o Espiritismo,
Farol da Humanidade,
Revelação que nos traz
Vida, caminho e verdade.

Mas meu secretário não está só nessa batalha. Influenciamos e somos influenciados em cada existência. As almas amigas e as outras, não necessariamente inimigas, mas educadoras de nossa vaidade e orgulho desmedido procuram-se e perseguem-se espiritualmente sem, nem sempre, se darem conta disso.
O que ocorre é que, em geral, os poetas são humildes, tímidos, retraídos, consequentemente. Entre seus poemas menores, há verdadeiras obras primas. Não mostrando uns, também não mostram outros. E assim a vida passa, sorrateira, como o espírito, que sopra onde quer e não sabemos de onde vem, nem para aonde vai, como dizia o profeta Nazareno.
Desse modo, “de repente, não mais que de repente”, apropriando-nos de um verso de Vinícius de Moraes, Joteli se vê cercado de amigos também poetas, como ocorreu comigo, que, entre muitos outros, conheci Castro Alves, José de Alencar, Gonçalves Dias e Francisca Júlia.
Como crítico literário, publiquei o artigo “A nova geração”, revelando o surgimento de uma nova poesia, na qual “nem tudo é ouro [...], mas o essencial é que um espírito novo parece animar a geração que alvorece”.
E eis que, como a demonstrar a verdade da reencarnação, não somente dos espíritos, mas também das ideias e das artes, novos poemas metafísicos vão sendo readaptados aos tempos sumamente materialistas que vivemos.
Essa é a arte, imortal como as almas, inspirada nos e pelos espíritos, igualmente eternos.
Sem ferir a modéstia desses novos poetas, amigos de Joteli, citaremos alguns, cujas obras, mesmo desconhecidas pelo respeitável público, ainda virão à tona: Átila Pessoa, Carolina, Flamarion e Julião. Se esquecemos alguns, pedimos vênia, pois tão logo nos lembrem serão lembrados...
A esses epígonos atuais, com certeza juntar-se-ão muitos outros. Desse modo, penso propor um concurso de poesias à Federação Espírita Brasileira, para que conheçamos, ao menos em parte, a crescente e promissora antologia de poemas contemporâneos espíritas.
Com certeza, esses e outros vates mostrarão ao mundo a veracidade das palavras de Hippollyte que, se a leitora e o leitor curioso não sabem quem é eu já lhes dirimo a dúvida cruel. É o enviado dos céus para investigar, comprovar e publicar o Espiritismo da França para o Brasil e deste para o mundo: Allan Kardec.

Abraço machadiano.

quarta-feira, 20 de maio de 2015

Em dia com o Machado 158 (jlo)


Nem imaginam vocês onde estamos. Isso mesmo, estamos em terras baianas. O caramujo saiu de sua concha e acompanha seu fiel "escudeiro" nas andanças que ele faz pela rota do descobrimento do Brasil. Desse modo, mudando meus hábitos de cidadão carioca avesso a viagens, vim parar em Porto Seguro, na Bahia.
Foi exatamente aqui que Cabral aportou com suas treze caravelas após se desviar da rota marítima que o levaria às Índias para comercializar finas especiarias. 
Viu a distância um monte e, por estarem na semana da Páscoa, chamou-o de Pascoal. Era o dia 22 de abril de 1500.
Ao chegarem a estas terras de Porto Seguro, avistou dezenas de homens e mulheres nus e pediu ao poliglota Gaspar Gama para conversar com eles e traduzir-lhes a fala. O tradutor aproveitou para pegar umas receitas culinárias com as belas índias, assim chamadas em homenagem à nação parceira comercial dos portugueses. Descobriu-se, então, o gosto refinado dos nativos locais que, além do vatapá, faziam um delicioso caruru.
Uma cozinheira local também colheu na horta um feijão especial, o fradinho, moeu-o, fez uma pasta com ele, pegou uns quiabos e camarões, acrescentou-lhes dendê, pimenta e fez o primeiro acarajé de que se tem notícia no mundo, salvo engano da lenda. 
Como os portugueses eram muito católicos, no dia 26 de abril, Cabral pediu a Frei Henrique de Coimbra que celebrasse a primeira missa, em Santa Cruz Cabrália, de Porto Seguro.
Alguns dias depois, em 1º de maio de 1500, o comandante pediu novamente a Frei Henrique de Coimbra que rezasse nova missa, diante do brasão real que inaugurava sua chegada e a posse da nova terra pelos lusitanos. 
Em seguida, o comandante partiu para as Índias, onde comercializaria cravo, mostarda, pimenta do reino, etc. Não sem antes encaminhar Gaspar Lemos com a carta de Pero Vaz de Caminha a Dom Manuel sobre o achado feliz.
O nome das terras descobertas passou por diversos enganos. Inicialmente, pensou-se estar numa ilha. Daí chamou-a Cabral de Ilha de Vera Cruz. 
Em seguida, percebeu-se que daqui se estenderiam  os espaços por terras imensas. Então o comandante optou por Terra de Santa Cruz, pois afinal de contas ele era um homem muito piedoso. 
Após algumas décadas em que uma graciosa árvore produtora da madeira chamada pau brasil se tornou fonte de ricos comércios entre Portugal e o resto do mundo, chegou-se ao nome atual de Brasil. Afinal, aquele era um "negócio da China" que muitas riquezas proporcionara a Portugal até a devastação dessa árvore na nova colônia.
Com o passar dos séculos, outros produtos agrícolas foram sendo produzidos aqui e comercializados, no mundo, com grandes lucros para a metrópole portuguesa: açúcar, café, petróleo...
- Petróleo? Como assim, Machado? o "ouro negro" só se tornou fonte de grande riqueza, em nosso país, nas últimas décadas do século XX, quando já somos uma nação independente...
- É verdade, amigo, mas foi tanto dinheiro desviado para o exterior, que agora nossa presidenta fez um acordo com a China e esta, só para começar, vai injetar 10 bilhões de dólares em nossa economia. 
Além disso, bancos suíços envergonhados, estão mandando de volta centenas de milhões de dólares desviados de nossa economia e depositados lá. A intenção é repatriar o que nos tem sido roubado e transferir para a Ásia o sangue das nossas entranhas, também chamado pré-sal.
Depois disso, quem sabe o nome Brasil não fique obsoleto e resolvam renomear o país, de uma vez por todas, para... "Porto Seguro"?  
- Acho que não... Já existe o Porto Rico, e seu povo pode se sentir ofendido com a concorrência... Afinal, já basta o fracasso do nome "pátria educadora".
- É verdade, esquecemo-nos de que a Bahia é um dos estados líderes no ranking do analfabetismo brasileiro.


terça-feira, 12 de maio de 2015

Em dia com o Machado 157 (jlo)

Amiga leitora, que lindo dia! Agora emoldurado por enormes construções de pedra e de aço: edifícios, monumentos, pontes em quase todo o orbe terreno.
Mas nem sempre foi assim. Houve época, há bilhões de anos, em que a Terra estava em convulsões diversas. As placas tectônicas formadoras de terremotos se aproximavam, provocando abalos imensos. A incandescência interna provocava tão grande calor que o solo se arrebentava e se elevava, formando os conhecidos vulcões. Os mares e os continentes disputavam espaços, com imensa vantagem para os primeiros, cuja extensão de três quartas partes dominava o planeta azul.
Da imensidão telúrica, a vida orgânica começou a brotar e seres diferenciados foram surgindo, junto às algas marinhas, organismos hermafroditas, outros em transição e espécies diferenciadas de minerais, vegetais e animais, todos formados de um elemento primitivo, o hidrogênio.
Alguns bilhões de anos após, surgiria o ser humano, sob a direção suprema do Cristo, que por sua vez agia e age em nome do Arquiteto maior do universo, a quem chama de Pai. Com o desenvolvimento da inteligência, o homem começa a se questionar: Quem sou eu? O que faço na Terra? Quem me criou? Para que fui criado? Por que sou diferente dos outros animais?
E as respostas vão surgindo, gradativamente, mas sem violência, pois o destino do homem é estagiar na matéria, mas tornar-se luz, vez que o universo é formado de fótons, antes que do elemento material grosseiro, agregado pela ação da Vontade Divina e de seus prepostos iluminados, como o Cristo e seus auxiliares.
Assim, o livre-arbítrio vai se desenvolvendo paulatinamente no animal-homem, até que este se torne espírito iluminado. Enquanto animalizado, as respostas lhe parecem estar na própria natureza e na organização diferenciada da matéria que compõe organismos “vivos e não vivos”, ou seja, biológicos e mineralógicos, que ele confunde com os que têm e os que não têm vida. Isso decorre do seu desconhecimento da evolução que tem início no minério, prossegue no vegetal, continua no animal e, na Terra, se completa no hominal.
Mas a vida não se limita a essa condição. Transcende-a, e isso é o que assusta muitos cientistas e filósofos que ainda não conseguiram perceber o elo entre o espírito e a matéria, que se dá em outra dimensão da vida. Daí suas teorias se limitarem aos cinco sentidos físicos: tato, olfato, visão, audição e paladar.
Desse modo, o homem se vê como um animal pouco diferenciado dos demais, que evoluiu ao longo de milhões de anos, e pensa com isso responder à pergunta sobre quem é. Vê-se sujeito às mesmas necessidades orgânicas dos seres inferiores intelectualmente e julga encontrar nas próprias satisfações dos sentidos físicos a resposta sobre sua finalidade no mundo. Observa os fenômenos naturais e sua evolução material progressiva e imagina-se criado por uma simples disposição molecular da Natureza ocorrida nos bilhões de anos precedentes. Não vislumbra uma finalidade pós-existência física, devido ao seu apego às paixões, até certo ponto necessárias à sua evolução, e acredita-se criado para a satisfação de seus instintos materiais. Estuda as leis mecânicas e a evolução biológica ao longo dos milênios e se julga diferente dos demais animais exclusivamente pela própria evolução natural das espécies.
Como a inteligência precede a moral. Alguns pesquisadores, observando o próprio corpo, assim como os dos demais seres vivos e estudando as leis biológicas e mecânicas criam determinadas hipóteses e teorias para justificar sua existência na Terra e a dos demais seres animados e inanimados. Todas essas teorias são muito respeitáveis, mas são logo superadas por outras ao longo do tempo, pois somente quando o homem perder o receio e o preconceito de abordar o transcendente poderá encontrar as respostas reais para todos os seus questionamentos a respeito do porquê da vida.
Penalizado da situação desse “caniço pensante”, o Cristo nasceu entre nós e disse:
— Vim para lhes mostrar que a vida transcende a temporalidade da existência física e vou provar-lhes que somos imortais. Após realizar verdadeiros prodígios para a sua compreensão limitada das leis naturais, deixarei que matem meu corpo físico e, três dias após isso, reaparecerei para os meus apóstolos e, dias depois, para 500 pessoas na Galileia. Em seguida, tornarei ao mundo espiritual de onde vim e de onde vocês vieram, para aonde vou e para aonde vocês irão. Mas não os deixarei sós, estarei com vocês até o fim dos tempos, pois todos os seres humanos, mesmo os mais ignorantes, são feitos de uma natureza imortal: a do espírito, cuja evolução se deu com a da matéria, pois tudo tem uma finalidade no Universo.
Para o entendimento completo de minhas palavras, pela humanidade, no século XIX, permitirei uma manifestação organizada do mundo espiritual, que revelará à Terra a verdade sobre a imortalidade da alma e sobre a destinação real de todos os seres vivos: a felicidade eterna.
E foi assim que, a 18 de abril de 1857, Allan Kardec publicou as 1019 questões respondidas por espíritos de alta elevação. Entre outros, Sócrates, Platão, São João Evangelista, Santo Agostinho, São Vicente de Paulo, Swedenborg, Franklin, Fénelon, São Paulo, São Luís e o Espírito da Verdade, que, em nome do Cristo, coordenou todo o trabalho de trazer, das regiões sidéreas, não mais uma teoria, mas a verdade a se expandir para todo o sempre e nos consolar das dores ainda existentes no Mundo.

Essas questões estão em O livro dos espíritos, e todas elas foram desenvolvidas em outras quatro obras: O livro dos médiuns, O evangelho segundo o espiritismo, O céu e o inferno e A gênese. Leia-as, estude-as, pratique sua moral, que é a mesma do Cristo, e sua vida mudará para melhor. 

quarta-feira, 6 de maio de 2015

Em dia com o Machado 156 (jlo)

Amiga leitora, você gosta de figura? Depende? Só se for do seu amado? E de figura de linguagem? Seria “tipo assim” uma metáfora? Está esquentando...
A figura de que tratarei hoje é a chamada catacrese. Ela é utilizada o tempo todo por nós sem que o percebamos. Quer exemplo? Lá vai. Quando você diz quebrei a perna, todo o mundo entende que é sobre um membro do corpo que você se refere, não é mesmo?
Aí é que está a grande confusão entre os que entendem algo falado ou escrito no seu sentido denotativo ou conotativo. O primeiro é o sentido próprio da palavra. O segundo é o sentido representado por uma das figuras de linguagem, cujo significado é simbólico. A figura de linguagem mais comum, por seu sentido figurado ou conotativo é a metáfora. No caso da perna quebrada, se você se refere a um dos apêndices que sustenta a mesa de sua casa, você está utilizando uma catacrese porque toma o significado de uma palavra e empresta-o a outra, sem que, em geral, perceba, por se tornar esse hábito algo muito corriqueiro em nossa linguagem.
É comum dizer-se que se está embarcando no ônibus ou no avião, e não no barco. Também muita gente cai nos braços... da poltrona. Outros viram um vaso de cabeça para baixo; e assim por diante vão transferindo o significado de uma palavra para outra, pois quem tem braços somos nós, quem tem cabeça é animal e não vaso. Tudo isso é catacrese.
Hoje, 5 de maio de 2015, ocorreu mais uma catacrese no Brasil, por parte da população que não aguenta mais o PT: o panelaço, do qual tenho a honra de lhe dizer que participei com prazer. Não é sobre uma panela enorme que me refiro, figuradamente, e, sim, sobre as batidas ritmadas que a população antipetista (a maioria), mais uma vez, fez durante um pronunciamento do PT em cadeia nacional (cadeia? Isso também é catacrese).
Na executiva nacional do partido, ocorrida no início de abril passado, com a presença do ex-presidente Lula, foram apresentadas, entre outras, as seguintes sugestões, que comentamos:
1) Uma militância política mais forte.
Militar o quê? Cuidado... alguns brasileiros, quando ouvem a palavra militância pensam num outro tipo de catacrese: a dos militares limitando a militância (mas isso não é catacrese, e sim trocadilho infame).
2) Retorno às origens.
Aqui pode ocorrer o risco de 86% da população aplaudir, imaginando que o retorno às origens é o regresso à cadeia dos corruptos e corruptores (Percebeu, leitora, um “pt” em cada palavra? Mera coincidência).
3) Democratização da mídia.
Ou seja, antes que nos impeçam, dizem os nossos amigos petistas, vamos calar a imprensa e instaurar a ditadura do partido. Dizem que os “companheiros” sofrem do complexo denominado “teoria da conspiração”. Só espero que não pensem num contragolpe e tentem impedir a livre manifestação do pensamento, tão proclamada por eles antes de serem merecidamente perseguidos.
4) Taxar as grandes fortunas.
Ué, e já não taxaram? Vejam os bilhões da Petrobrás. Foram retirados do país para que ninguém mais pudesse usufruir de sua produção, como o fizeram as empresas contratadas pelo PT, segundo acusações que vêm sendo confirmadas, inclusive com a prisão de mais um tesoureiro petista. Virou moda, em Brasília, depor governador, cassar político não petista ou aliado e prender todo tesoureiro do PT.
Pt. maldade...
Sugiro, então, que em vez de catacrese, chamemos o pronunciamento petista de catastrófico e o panelaço de hoje de... catacrise.

sexta-feira, 1 de maio de 2015

Em dia com o Machado 155 (jlo)

E tu, ó caridade, ó virgem do Senhor,
No amoroso seio as crianças tomaste,
E entre beijos — só teus — o pranto lhes secaste
Dando-lhes pão, guarida, amparo, leito e amor.
(Machado de Assis. A caridade. Última estrofe.)

Quem pensa que me aproveitei do Espiritismo para fazer literatura está completamente certo. Aproveitei-me, sim, tanto é verdade que encarreguei este meu secretário de fazer um levantamento de todas as minhas crônicas nas quais a nova Doutrina é citada direta ou indiretamente. Sem contar a presença dos personagens e fatos espíritas em meus duzentos contos e dez romances (incluo aqui Casa velha).

Agora volto do além,
Após ter estado aquém.
No peito trazendo um dó
Em redondilha maior.

É o dó de ter criado fama literária com base no rico veio espírita, que nem sempre vi com bons olhos...
Já em crônica datada de 2 de dezembro de 1894, quando rasguei de minhas retinas o véu de Ísis, comentei: “A consciência é o mais cru dos chicotes” (In: A semana).
Nada mais certo do que nossa constatação sobre a vantagem dos velhos sobre os jovens em relação à maturidade. A experiência permite-nos corrigir aqueles passos dados mais largos do que as calças comportam na juventude.
Daí eu retornar para ratificar o que comprovei na experiência pós-existência física: é verdade, a mente controla a matéria. A de Deus, mentezona, controla, igualmente, a matéria e o espírito; a nossa, mentezinha, controla, em parte mais ou menos ampla, a matéria, até que consigamos espiritualizá-la.
Dito isso, procuraremos demostrar ao curioso leitor, pelo método da linha do tempo, de que modo partimos de uma intransigência radical a uma dúvida, a um respeito e, por fim, a uma completa certeza sobre as verdades pregadas pela crença espírita. O corpus analisado é o das nossas doze crônicas com abordagem do Espiritismo, 2% de todas as 600 crônicas escritas por nós. Vamos à linha do tempo:
16 de junho de 1878, V (Notas semanais): confundo adivinhação e Espiritismo, que demonizo e critico;
05 de outubro de 1885 (Balas de estalo): informo ao leitor sobre conferência assistida na Federação Espírita Brasileira, RJ, que ironizo;
11 de outubro de 1885 (Balas de estalo): minha suposta iniciação na nova “igreja”, impedida pela proibição de fingimento de inspiração “por potências invisíveis” e de “predizer coisas tristes ou alegres”;
19 de julho de 1888 (Bons dias!): fina ironia à constatação, pela própria Federação Espírita Brasileira, de fraudes cometidas pelo médium inglês Dr. Slade, que esteve no Rio de Janeiro;
7 de junho de 1889 (Bons dias!): critico veementemente o “Espiritismo” como coisa de alienados mentais, mentecaptos e de idiotas; chego a forjar “estatísticas” que comprovam ser o Espiritismo coisa de “doido varrido”; mas na verdade, apenas analisei um dos postulados espíritas, que é a mediunidade, sem necessariamente uma coisa ser o mesmo que a outra, pois esse fenômeno não é privilégio dos espíritas; em minha época, era comum a confusão entre cultos afros, curandeirismo, adivinhações, profecias e mediunismo com o Espiritismo;
29 de agosto de 1889 (Bons dias!): comparo curandeirismo com Espiritismo, ao qual ataco injustificadamente e digo que ambos são a mesma coisa, agravada pelo fato de o segundo criar “idiotas e alienados”;
03 de julho de 1892 (A semana): abordo a desencarnação e a reencarnação e cito frase semelhante à do túmulo de Allan Kardec: “Nascer, morrer, tornar a nascer e renascer ainda, progredir sempre”. Cito igreja e sacerdotes espíritas, o que jamais existiu no Brasil. Demonstro, nessa crônica, boa vontade para com os espíritas, mas, em meio a verdades, cometo equívocos como os citados;
2 de setembro de 1894 (A semana): refiro-me ao Espiritismo e sua lei da reencarnação como possibilidades reais: “Ou o Espiritismo é nada, ou Miller foi condutor de bonde em alguma existência anterior [...]”, e já não critico o Espiritismo;
23 de setembro de 1894 (A semana): informo que o Espiritismo “é uma verdade”, e brinco com a fingida suposição minha de que o “espírito de um homem pode reencarnar-se num animal”, contrariamente ao que prega o Espiritismo, o qual só admite a reencarnação do espírito humano em corpo também humano;
27 de outubro de 1895 (A semana): reconheço que “o Espiritismo é uma religião, não sei se falsa ou verdadeira”;
29 de dezembro de 1985 (A semana): confirmo que “o Espiritismo se ocupa de altos problemas” e defendo a liberdade religiosa;
13 de setembro de 1896 (A semana): saio-me com esta afirmação: “Há muito que os espíritas afirmam que os mortos escrevem pelos dedos dos vivos. Tudo é possível neste mundo e neste final de um grande século”. Nessa última crônica, já não confundo pseudos médiuns ou profetas com o Espiritismo, como se vê nesta afirmação: “Quanto à doutrina em si mesma, não diz o telegrama qual seja; limita-se a lembrar outro profeta por nome Antônio Conselheiro”.
Refiro-me ao “profeta baiano Benta Hora”, que foi preso, mas cuja liberdade de se expressar também defendo: “Ora, pergunto eu: a liberdade de protestar não é igual à de escrever, imprimir, orar, gravar?”.
Do respeito à convicção total, bastou o período de algumas horas após minha desencarnação, em 1908, quando observei in loco a vida espiritual e não, como cheguei a supor, já na idade madura, ser o espírita um louco.
Entristecido, por ter agido, durante tantos anos, como um verdadeiro alienado que, do lado de fora, colocara os sãos do lado de dentro do hospício; tratei de soltá-los, como o fez meu personagem d’O Alienista, e meti-me lá, eu mesmo. Ali, chorei como criança...
Foi quando minha doce Carola, cercada de bons espíritos, entrou, aproximou-se de mim e libertou-me do cárcere das trevas em que estava.
Em suas mãos, ela trazia uma faixa com a bela máxima espírita, que não distingue nenhum filho de Deus, seja crente ou ateu, e contradiz minhas antigas acusações de pretender ser o Espiritismo a única religião verdadeira. Ela intitula o capítulo 15 d’O evangelho segundo o espiritismo:
Fora da caridade não há salvação.

  Quando o texto é escorreito (Irmão Jó)   Atento à escrita correta É o olho do revisor, Mas pôr tudo em linha certa É com o diagramador.   ...