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segunda-feira, 29 de junho de 2015



Em dia com o Machado 164 (jlo)

Amiga leitora, inicio nossa conversa de hoje com o seguinte poema, cujo título proponho-lhe adivinhar, antes que eu lho revele, no final desta crônica:
Nos primórdios da criação,
O homem não é mal nem bom,
Ele segue seu instinto,
Ora saciado ou faminto.

Prevalece a lei da força,
O leão devora a corça,
O irmão mata seu irmão
Sem pudor nem compaixão.

A inteligência, porém,
Desenvolve o dom do bem,
E o que era força bruta
Cede vez a nova luta.

O instinto rudimentar
Começa a ceder lugar...
E o sentimento gregário
Torna o homem solidário.

É nos momentos de imensa dor de uma pessoa, grupo social ou família, que se comprova a conclusão desse poema. Quando ocorrem as grandes catástrofes na Humanidade: terremotos, tsunamis, furacões, os povos se unem e uma multidão de pessoas, de todas as partes da Terra, sai em socorro às vítimas dessas tragédias.
Também se alguém morre tragicamente deixa muita gente penalizada. Então, de toda a parte, vem a ajuda e a solidariedade à família do falecido. Se é um artista o “morto”, os meios de comunicação atraem as atenções até onde seus sinais cheguem...
Essas reflexões vieram-me à mente, durante a finada semana, quando correu mundo a notícia do acidente fatal que vitimou o jovem e talentoso cantor Cristiano Araújo (29 anos) e sua namorada (19 anos). Tão novos e já não mais podendo desfrutar de sua existência física plena de aventuras e felicidade, o que motivou, segundo uma emissora de TV, a declaração do pai do cantor sobre sua dúvida a respeito da existência de Deus.
Por que será que questionamos a existência de nosso Pai, que é Espírito (João, 4:24), se nós, seus filhos, por consequência, também somos espíritos?
Porque a matéria obnubila nossa alma e também nos falta conhecimento sobre a real finalidade da vida.  
Por que a revolta, principalmente, quando nos toma uma grande dor, em especial aquela causada pela perda trágica de alguém muito amado?
Porque ainda não entendemos a vida física como breve estágio probatório aqui na Terra.
Por que, em geral, não fazemos tal questionamento quando tudo corre às mil maravilhas para nós?
Porque ainda não compreendemos que as Leis do Pai amantíssimo são justíssimas e que Ele não quer a perdição de nenhum de seus filhos, mas sim a sua perfeição.
Por que somente a desgraça que nos atinge parece ser a grande injustiça divina?
Há cerca de sete bilhões de almas na Terra. E enquanto você me lê, milhares de pessoas estão deixando sua carne aos vermes, muitas delas, tragicamente. Você só não deseja que isso aconteça consigo, não é mesmo?
Ah, se eu pudesse aparecer à sua frente e dizer-lhe que sua existência física nada é, em comparação com a eternidade que o aguarda. Que cada passagem pelo corpo somático é um ato no minúsculo palco do teatro chamado Terra...
E se você descobrir que este mesmo Deus ao qual nega o criou para ser feliz, mas que somente o será, plenamente, quando, após inumeráveis existências físicas, alcançar a perfeição?
Pois saiba que cada um de nós tem um tempo em cada encarnação e todos temos uma missão. Cristiano cumpriu a sua, assim como sua namorada, cujo nome nem todos lembram. Como se chamava ela mesmo?
Oremos por ambos, mas não deixemos de refletir na atualidade de uns versos do poeta Manuel Bandeira:
Amanhã que é dia dos mortos,
Vai ao cemitério, vai,
E procura entre as sepulturas
A sepultura do meu pai.

Leva três rosas bem bonitas,
Ajoelha e reza uma oração,
Não pelo pai, mas pelo filho,
O filho tem mais precisão.
[...]

Ah, sim, Allana Moraes era o nome da namorada do Cristiano Araújo que “morreu” junto com ele, e o título do poema que está lá no início desta crônica é “Solidariedade”.





domingo, 21 de junho de 2015


Em dia com o Machado 163 (jlo) 

Sem dúvida, o Espiritismo abre à arte um campo [...] imenso e ainda inexplorado. Quando o artista houver de reproduzir com convicção o mundo espiritual, colherá nessa fonte as mais sublimes inspirações.” Allan Kardec – Obras Póstumas. Rio de Janeiro: FEB, 2009, p. 211.

Joteli lecionou a disciplina língua portuguesa durante 22 anos num excelente Centro Universitário, do qual se afastou para cursar algumas pós-graduações... em literatura, na Universidade de Brasília. Mas nosso amigo não esquece a conversa que teve com uma colega de profissão há cerca de sete anos. Vamos ao diálogo entre ele e ela:
— Meu marido gosta muito de música, mas, como eu não sou sinestésica, proíbo-o de ligar o som em qualquer tipo de canto quando estou por perto.
Ouvindo isso, Joteli, que é apaixonado por música, desde Chitãozinho. e Xororó até Antônio Carlos Jobim, desde Amado Batista até Chopin, desde  música gospel até padre Zezinho, não se conteve e respondeu a uma calada e pensativa mestra:
— Coitado do seu marido...
Depois disso, suas relações de amizade ficaram meio... desafinadas. Não a da professora com o marido, porém dela com Joteli. Mas também, quem manda...?
Desse modo, amiga leitora, hoje tratarei sobre um assunto polêmico para algumas pessoas no movimento espírita brasileiro, a arte espírita. Já ouvi palestrante espírita de nomeada manifestar-se contra alguns tipos de arte no centro espírita, senão todo o tipo de arte no centro espírita. Tentarei demonstrar-lhe que isso é um equívoco de quem não tem a coragem de admitir, como o fez a citada professora, que é assinestésico (minha nova contribuição ao léxico português).
— E o que é a arte espírita? Perguntará o leitor curioso. Então existe uma arte espírita?
— Sim, sim, meu caro leitor, certamente que há, não somente arte espírita, como também arte umbandista, arte gospel, arte budista, arte magrebina (fala, doutora Cláudia), arte cristã, enfim, dizendo-se de um modo mais genérico sobre a arte espiritual.
— Contudo, o nosso propósito agora é falar da arte espírita. Respondendo à sua pergunta, a arte espírita é “uma manifestação cultural dos espíritas que se propõem a aliar os princípios e valores éticos e morais do Espiritismo às manifestações artísticas em geral, por meio da arte-educação, a serviço do bem e do belo¹.”
— Quais são as modalidades de arte que o Espiritismo apresenta?
— Todas: arte digital, cinema, dança, desenho, música, pintura, teatro, televisão, literatura: poesia e prosa etc. etc. etc.
— Todavia, será que isso não deturpará a finalidade evangélica do Espiritismo?
— De modo nenhum. Jesus cantava os hinos judaicos com seus apóstolos, ao se reunirem para a leitura da torá (pentateuco mosaico). Leia isto: “E, tendo cantado o hino, saíram para o Monte das Oliveiras” (Mateus, 26:30).
— E quais são os livros da torá e o que eles contêm, Machado? Diga-nos, você que é um ávido leitor e divulgador das Escrituras Sagradas...
— São eles:  Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio.
Gênesis, trata da criação simbólica, por Deus, do céu, da terra e de tudo o que neles há. Criatividade é o dom supremo do artista. Pintores (Miguel Ângelo), compositores e cantores (Amelinha: Foi Deus que fez você...) e escritores diversos vêm representando artisticamente essa obra divina ao longo dos séculos.
Êxodo aborda a fuga dos hebreus da servidão na terra do faraó egípcio, que foi tragado, junto com seu exército, pelo mar vermelho, quando, arrependido por tê-los deixado ir, saiu ao encalço de Moisés e seu povo, que se escafediam. Taí um excelente roteiro para filmes diversos, todos muito belos, representados na sétima arte, o cinema, além de mote para as diversas representações artísticas.
Levítico é o livro que aborda os rituais, sacrifícios e holocaustos judaicos, sob a direção dos levitas e sacerdotes hebreus considerados representantes de Deus. Quantas obras literárias, quantos filmes, peças teatrais e músicas não tiveram por mote as narrativas de Levítico. O próprio Jesus cita o exemplo de superioridade moral do levita que ora humildemente, dirigindo-se a Deus, sem coragem de levantar a cabeça, em contraste com o fariseu orgulhoso, que, em sua prece, humilha o levita².
Números cita o recenseamento do povo hebraico. Quem não se lembra de minha crônica sobre o senso e o hábito de ler e entender o conteúdo lido pelos cidadãos de nossa pátria amada? As estatísticas e a matemática são não apenas ciências exatas, como também arte do mais alto nível. Malba Tahan que o diga. Ou você nunca leu O homem que calculava, desse bom escritor?
Deuteronômio, último livro do pentateuco mosaico, contém 34 capítulos e os discursos de Moisés, no deserto, dirigidos a seus irmãos hebreus, durante o êxodo do Egito à terra prometida. Em sua nova versão dos Dez Mandamentos (5:1- 22), reforça o amor a Deus como base para uma vida feliz: "Amarás a Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, e com todo o teu entendimento". Foi escrito 1743 anos antes da vinda de Jesus Cristo ao nosso orbe. 
Quantas histórias lindas, as Escrituras Sagradas nos proporcionam, não é mesmo, amigo? São relatos verídicos, ou simbólicos sobre as origens do mundo físico e do mundo espiritual, narrados há quase quatro mil anos, que me inspiraram, como também a Cruz e Sousa, Homero, Michelângelo, Virgínia Wolf, Dante Alighieri, Shakespeare, Victor Hugo, Ermance Dufaux e tantos outros grandes romancistas, poetas e teatrólogos, do passado e do presente que leram, mimetizaram e mimetizam, em suas obras, as narrativas das Sagradas Escrituras.
Agora a FEB expande suas atividades no incentivo à arte espírita. O projeto Luz além da tela foi criado para o estudo e debate de filmes projetados no cinema. Ainda em 2015, teremos os debates de diversos filmes que fizeram sucesso na última década. O primeiro deles é Chico Xavier, o filme, que terá como debatedor o presidente da FEB, Jorge Godinho. Os demais filmes a serem debatidos são os seguintes: Nosso lar, Sexto sentido e Os outros. Dentre os debatedores, teremos a presença de Miriam Dusi, Cirne Araújo, Mayse Braga, Marta Antunes e Divaldo Franco.
Se você leu até aqui, considere-se convidado para os debates acima, previstos para ocorrerem, a partir do segundo semestre, na Av. L2, Quadra 602 Norte, Federação Espírita Brasileira, em Brasília. Assim que sair a programação, você será informado. 
Venha à arte espírita e tudo lhe ficará claro como água cristalina. 
Clique abaixo e emocione-se também com arte musical de Amelinha, que o Espiritismo igualmente endossa:

  







¹ FEDERAÇÃO Espírita Brasileira – FEB - Conselho Federativo Nacional – CFN. Comissão sobre a arte espírita, nov. 2010.
²A bem da verdade, Jesus refere-se aqui à parábola do fariseu e do publicano: Lucas, 18:9- 14.

segunda-feira, 15 de junho de 2015

Em dia com o Machado 162 (jlo)

“Estejamos, assim, procurando incessantemente o bem, ajudando, aprendendo, servindo, desculpando e amando, porque nessa atitude refletiremos os cultivadores da luz, resolvendo, com segurança, o nosso problema de companhia.”[1]

Amigo leitor, você já deve ter lido ou ouvido falar que a criança, em seus primeiros anos de vida exige todos os cuidados de seus responsáveis. Como não sabe falar, quando sente frio, tem fome ou sofre dor chora de partir nossos corações. Todas as atenções, então, são voltadas para ela, que só fica satisfeita quando é atendida em sua necessidade fisiológica.
Mas o tempo passa, o tempo voa, só a poupança de um certo banco já falido é que não está mais numa boa. A criança torna-se pré-adolescente e já não inspira tantos cuidados, embora a educação deva ser permanente. O que acontece, então? O jovenzinho bonitinho, agora, aprende que seu coleguinha também tem seus direitos, tanto quanto ele. A menininha bonitinha da mamãe e do papai percebe que sua coleguinha também é os afetos e as graças de sua família.
— E daí?
— Daí que, desde os primeiros anos, a criança precisa ser educada, com muito amor e permanente atenção, para que não seja influenciada negativamente por terceiros: I-pad, I-fone, tabletes etc. etc. etc.
— E as outras crianças e adultos, Machado, não exercem sua influência também?
— Certamente, mas esses também são influenciados pelos meios eletrônicos citados...
É verdade que, possuindo livre-arbítrio, em essência, somos os principais responsáveis por nossas decisões, escolhas e atos quando já temos discernimento. Em sua sabedoria, Deus ocupou um lugar em nossa alma, não importa se você acredita nesta ou não, que, mais cedo ou mais tarde, nos martela de modo inclemente, como o fez com Caim, conforme lemos no Antigo Testamento: “Caim, Caim que fizeste do teu irmão? ” É a nossa consciência...
Quando, após uma vida profana, sentimos as consequências de nossos atos e podemos manifestar, em prosa ou em versos, o mea culpa, se o não fazemos na vida física, fazemo-lo na vida espiritual como o fez o espírito Luiz Mendes, em soneto psicografado por Chico Xavier[2]:

Lembro-te, Mãe... A noite avança...
E saindo apressado, para a orgia,
Disseste-me, escorada numa tia,
“Fica hoje... Atende-nos... Descansa...”

Voltei para encontrar-te em agonia!...
A Morte angelizou-te a face mansa...
Chorei qual se voltasse a ser criança!...
Eras o meu tesouro e eu não sabia...


De prazer em prazer, matei-te aos poucos...
Veio a Morte e cortou-me os sonhos loucos,
Lamentando-me a vida gasta em vão!...

Estou perdido, entre imensos espaços...
Vem guardar-me, de novo, nos teus braços,
Mãe sempre amada do meu coração!...

— Você não está sendo muito piegas, Machado? Então devemos viver como santos, sem desfrutar das alegrias da vida proporcionadas pelas festas com amigos e os prazeres que o mundo nos proporciona? Quem vê pecado em tudo precisa da orientação de um psicólogo ou do tratamento de um psiquiatra...
— Não, Azambuja, não se trata de ver pecado em tudo. A sabedoria está no equilíbrio. O que se condena aqui são os excessos. É a falta de zelo e de respeito para com as pessoas que nos amam e que dizemos amar. É o abuso das práticas nefandas, que denigrem nosso corpo e nossa alma...
A proposta dos espíritos iluminados, citada no início desta crônica, reflete a sabedoria da lei de Deus, quer acreditemos nele ou não, para a nossa felicidade: a vivência do amor autêntico, que não se confunde com as paixões mundanas fugazes, insaciáveis e amaras!
Foi por isso que o apóstolo Paulo disse, em sua primeira carta aos Coríntios: “Quando eu era criança, falava como criança, sentia como criança, pensava como criança, mas logo que cresci, acabei com as coisas de criança.” (I Coríntios, 13:11).
Quem, já não sendo criança, age sem discernimento demonstra completa ignorância sobre o objetivo e finalidade da vida: aperfeiçoar-se sempre para alcançar a felicidade real, a que decorre da vivência do amor sem máculas.
Para finalizar, deixo à reflexão do leitor estas sábias palavras de Paulo de Tarso: “Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas convêm; todas as coisas me são lícitas; mas eu não me deixarei dominar por nenhuma.” (I Coríntios, 6:12).








[1] XAVIER, Francisco Cândido. Pensamento e vida. Pelo Espírito Emmanuel. 18. ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 2008, p. 40. Cap. Associação.
[2] XAVIER, Francisco Cândido. Verdade e amor. Brasília: FEB; São Paulo: CEU, 2015. Cap. 9. Súplica de filho.

  Dia do Índio?  (Irmão Jó) Quando Cabral chegou neste país, quem dominava a terra eram tupis; Mas não havia autoridade aqui, predominava a ...