Em
dia com o Machado 164 (jlo)
Amiga leitora, inicio
nossa conversa de hoje com o seguinte poema, cujo título proponho-lhe adivinhar,
antes que eu lho revele, no final desta crônica:
Nos
primórdios da criação,
O
homem não é mal nem bom,
Ele
segue seu instinto,
Ora
saciado ou faminto.
Prevalece
a lei da força,
O
leão devora a corça,
O
irmão mata seu irmão
Sem
pudor nem compaixão.
A
inteligência, porém,
Desenvolve
o dom do bem,
E
o que era força bruta
Cede
vez a nova luta.
O
instinto rudimentar
Começa
a ceder lugar...
E
o sentimento gregário
Torna
o homem solidário.
É
nos momentos de imensa dor de uma pessoa, grupo social ou família, que se
comprova a conclusão desse poema. Quando ocorrem as grandes catástrofes na Humanidade:
terremotos, tsunamis, furacões, os povos se unem e uma multidão de pessoas, de
todas as partes da Terra, sai em socorro às vítimas dessas tragédias.
Também
se alguém morre tragicamente deixa muita gente penalizada. Então, de toda a
parte, vem a ajuda e a solidariedade à família do falecido. Se é um artista o “morto”,
os meios de comunicação atraem as atenções até onde seus sinais cheguem...
Essas
reflexões vieram-me à mente, durante a finada semana, quando correu mundo a
notícia do acidente fatal que vitimou o jovem e talentoso cantor Cristiano
Araújo (29 anos) e sua namorada (19 anos). Tão novos e já não mais podendo
desfrutar de sua existência física plena de aventuras e felicidade, o que
motivou, segundo uma emissora de TV, a declaração do pai do cantor sobre sua
dúvida a respeito da existência de Deus.
Por
que será que questionamos a existência de nosso Pai, que é Espírito (João,
4:24), se nós, seus filhos, por consequência, também somos espíritos?
Porque
a matéria obnubila nossa alma e também nos falta conhecimento sobre a real
finalidade da vida.
Por
que a revolta, principalmente, quando nos toma uma grande dor, em especial
aquela causada pela perda trágica de alguém muito amado?
Porque
ainda não entendemos a vida física como breve estágio probatório aqui na Terra.
Por
que, em geral, não fazemos tal questionamento quando tudo corre às mil
maravilhas para nós?
Porque
ainda não compreendemos que as Leis do Pai amantíssimo são justíssimas e que Ele
não quer a perdição de nenhum de seus filhos, mas sim a sua perfeição.
Por
que somente a desgraça que nos atinge parece ser a grande injustiça divina?
Há
cerca de sete bilhões de almas na Terra. E enquanto você me lê, milhares de pessoas
estão deixando sua carne aos vermes, muitas delas, tragicamente. Você só não
deseja que isso aconteça consigo, não é mesmo?
Ah,
se eu pudesse aparecer à sua frente e dizer-lhe que sua existência física nada
é, em comparação com a eternidade que o aguarda. Que cada passagem pelo corpo
somático é um ato no minúsculo palco do teatro chamado Terra...
E
se você descobrir que este mesmo Deus ao qual nega o criou para ser feliz, mas
que somente o será, plenamente, quando, após inumeráveis existências físicas,
alcançar a perfeição?
Pois
saiba que cada um de nós tem um tempo em cada encarnação e todos temos uma
missão. Cristiano cumpriu a sua, assim como sua namorada, cujo nome nem todos
lembram. Como se chamava ela mesmo?
Oremos
por ambos, mas não deixemos de refletir na atualidade de uns versos do poeta
Manuel Bandeira:
Amanhã que é dia dos
mortos,
Vai ao cemitério,
vai,
E procura entre as
sepulturas
A sepultura do meu
pai.
Leva três rosas bem
bonitas,
Ajoelha e reza uma
oração,
Não pelo pai, mas
pelo filho,
O filho tem mais
precisão.
[...]
Ah,
sim, Allana Moraes era o nome da namorada do Cristiano Araújo que “morreu”
junto com ele, e o título do poema que está lá no início desta crônica é
“Solidariedade”.