Páginas

domingo, 25 de outubro de 2015


Em dia com o Machado 181 (jlo)

Bom dia, leitora!
A você que é professora, faço um desafio: peça a seus alunos, a partir da oitava série, que leiam qualquer romance meu, escrevam pequeno comentário sobre a obra e entreguem-lhe o escrito trinta dias depois...
De dez alunos que receberem a tarefa, sete dirão que não conseguiram ler tudo, pois estavam sem tempo. Nos fins de semana, foram ao clube, ao cinema, ao parque, jogaram videogame com os amigos, etc. Nos dias úteis, participaram de jogos eletrônicos, jogaram bola, assistiram ao programa do Chaves, etc. etc. etc.
E os três restantes, ao serem perguntados se leram o livro, responderão: "Livro? Que livro?"
É duro dizer isso, mas nossos alunos não gostam de ler os clássicos.
Por isso, professora, sugiro-lhe que jamais imponha a seus alunos a leitura da obra a ou da obra b. Comece pelas histórias em quadrinhos. Uma boa sugestão é a leitura da revista Chico Bento. Sem imposição... 
Ou peça-lhes que leiam e comentem um poema, como o abaixo, escrito especialmente para esta ocasião, e consultem o dicionário para leitura e anotação dos significados das palavras por eles desconhecidas.
Só não se esqueça de lhes dizer que a tarefa vale ponto...

A lebre, o tempo e o jovem (jlo)

A lebre corre pela campina,
Para e senta nas patas traseiras.
E, olhando fixamente o horizonte,
Posa indiferente às ribanceiras...

Ela não faz ideia de haver
Mundo mui além do monte vasto,
E no ignorar do seu devir,
Sua imagem molda-se à do pasto...

O interregno do movimento
Na vasta imensidão da campina
Revela-lhe a paz da natureza
Antes do cair da chuva fina.

De repente, ela corre ligeira
Em direção à vasta montanha.
Vai procurar abrigo e família
Nessa paisagem bela e tamanha.

Em permanente e atenta vigília,
A lebre vive o tempo do agora
E sai da toca para pastar
Os brotos do tempo bom lá fora.

Das forças telúricas que estrugem,
Ela não duvida do poder.
Os elementos da natureza
Agitam também todo o seu ser.

Assim deve ser a nossa vida,
Confiantes sempre no Senhor,
Estejamos hoje vigilantes
E o nosso seja o monte do amor.

Que a oração seja o nosso escudo
No abrigo do campo ou da cidade
Que faça ressurgir a esperança
Nesse tempo bom da mocidade.

Na aula seguinte, como sugestão, peça-lhes que leiam o que escreveram e explique-lhes o que é estrofe, verso, rima e metrificação. Em seguida, proponha-lhes produzir um texto inspirado no poema. Enfim, se bem explorado, o texto poético tornar-se-á um agradável mote para diversas tarefas e descoberta de vocações literárias em duas ou três aulas.
Lembra-se do que disse o rei Pelé ao fazer seu milésimo gol no Vice da Gama, meu caro leitor? "Vamos cuidar das nossas crianças!".

Isso foi dito há cerca de 45 anos. Se tivéssemos seguido seu conselho e investido na educação que não as oprimisse, mas que lhes transmitisse valores espirituais junto com os intelectuais, certamente, não haveria, em nossos dias, tantos jovens trocando os estudos pelo tráfico de drogas e vidas úteis pelo vil metal.

domingo, 18 de outubro de 2015

Em dia com o Machado 180 (jlo)

Faleci aos 69 anos, no dia 29 de setembro de 1908. Na época, havia lançado aquele que considerei meu último livro: Memorial de Aires. Em minhas correspondências a Joaquim Nabuco, Mário de Alencar, José Veríssimo e outros amigos, considerei que ali se encerrava minha produção literária, pois entrara na casa dos setenta. Fizera 69 anos no dia 21 de junho e me via muito doente e perto da indesejada da gente.
Pois bem, leitor amigo, dessa época para cá muita coisa mudou em termo de longevidade. Há poucos dias, foi divulgada a história de um jovem que, aos 76 anos, se formou em Teologia e, aos 82, bacharelou-se em Direito. Agora pensa cursar o mestrado em Direito ou prestar o exame de ordem da OAB. Como diria a mineira: Eta homem siligristido!
É o Sr. Lazário, mas quem sabe se seu nome verdadeiro não é Lázaro, o amigo ressuscitado por Jesus Cristo?!
Tenho a impressão de que, atualmente, quanto mais a pessoa troca a materialização do espírito pela espiritualização da matéria, mais ela vive. Falemos apenas de alguns espíritas octogenários. A sequência é por idade ascendente.
Lucy Dias Ramos nasceu em Rio Novo, MG, em 1935. Há décadas, dedica-se à divulgação espírita em Juiz de Fora, MG. Foi presidente da Casa Espírita, por duas vezes e dirigente de outras instituições espíritas nessa cidade. É articulista de diversos periódicos espíritas, entre os quais a Revista Internacional de Espiritismo, o Reformador e a Presença Espírita. Publicou, pela Federação Espírita Brasileira, as obras Gotas de otimismo e paz, Luzes do entardecer, Maior que a vida e Recados de amor. Pela editora SOLIDUM, publicou recentemente Mediunidade e nós, e continua em plena produção. Saúde e vida longa para ela.
Richard Simonetti, que completou 80 anos no dia 10 de outubro de 2015, publicou cerca de 50 livros e é articulador mensal de alguns periódicos espíritas renomados, como Folha Espírita, Reformador e Revista Internacional do Espiritismo. Desenvolve uma atividade socioassistencial extraordinária em São Paulo. Confira aqui: www.richardsimonetti.com.br.
Eurípedes Kühl está com 81, e ainda produz mais do que muito jovem da minha idade ou menos, bem menos... Possui uma trintena de obras publicadas. Atualmente, a Federação Espírita Brasileira lançou a quarta edição de sua obra Espiritismo e genética. Acesse o blog: www.euripedeskuhl.blogspot.com para conhecer melhor esse jovem.
Jair Ribeiro de Oliveira, aos 86 anos, mostra-se lúcido e prepara a publicação de seu quarto livro espírita, em Contagem, MG. Fundou e dirigiu três centros espíritas e é palestrante mui requisitado nas cidades próximas a Belo Horizonte. Possui um acervo de mais de 2.000 obras espíritas em sua biblioteca em Contagem-MG, onde passa o dia pesquisando e produzindo textos valiosos baseados em sua rica experiência de vida.
E, por fim, Divaldo Pereira Franco, o maior expositor espírita deste século, aos 89 anos, nem pensa em parar de falar e de escrever no mais alto nível. Já publicou cerca de trezentas obras espíritas, com mais de 7,5 milhões de livros vendidos. Preside a Mansão do Caminho, obra socioassistencial espírita, em Pau da Lima, Salvador, BA, que proporciona lar e educação a centenas de órfãos há mais de sessenta anos e desenvolve ali relevante trabalho socioassistencial. Eis aqui seu blog: www.divaldofranco embaixadordapaz. blogspot.com.
Ante o exposto, convido o amigo que me lê a refletir nos versos metafraseados do seguinte poema, que dediquei, no passado, a M. Ferreira Guimarães, mas que, agora modificados, dedico a todos esses esperançosos e atuantes espíritos, cuja fé demonstra a certeza de que nada se perde do bem que praticamos:
OS DOIS HORIZONTES
                     Aos jovens octogenários do presente

DOIS HORIZONTES há na Natureza:
Um horizonte é o do soma
Que se veste ao reencarnar;
Outro horizonte é o do espírito
Que sopra em qualquer lugar[1];
Na vida material
Vive a alma esperançosa
De no futuro alcançar
A glória espiritual.

Mergulhado na matéria,
Em doce recomeçar,
A pureza da criança
Pede amor e quer brincar.
Valorizando seu soma,
O ser não sabe o que faz
E tudo que ele toma
Tem as bênçãos maternais.

Porém, já na mocidade,
Eis que já não cabe mais
Querer tudo para si
E nada para os demais.
De posse da consciência
Em relação ao que faz
A alma já tem ciência,
A infância ficou pra trás.

Depois, amadurecido
Pelas vitórias e quedas,
O horizonte do espírito
Desdenha das vãs moedas
Do horizonte do soma,
Pois busca novos valores
E agora já não mais toma,
Por não mais ter dois senhores.

Que esperas, homem? — Prossigo
No céu das aspirações,
O soma tendo vencido
Das infantis ilusões.
Que queres, homem? — Prossigo,
Mesmo em avançada idade,
Testemunhando a verdade
Da certeza do futuro:
DOIS horizontes, mas uma só vida.

Ao leitor curioso que desejar ler o poema que serviu de inspiração a esse, dou-lhe a seguinte referência: ASSIS, Machado. Machado de Assis. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1973. Obra completa, vol. III. Poesias coligidas, p. 201- 202. OS DOUS HORIZONTES. Ou então escreve no Google: OS DOUS HORIZONTES.



[1] João, 3:8.













sábado, 10 de outubro de 2015

Em dia com o Machado 179 (jlo)

Estava, relendo a obra Nos bastidores da obsessão, do bondoso amigo Manoel Philomeno de Miranda, psicografada pelo maior médium brasileiro e tribuno espírita da atualidade, Divaldo Pereira Franco, 89 muito bem vividos na prática do amor e da divulgação espírita-cristã (pleonasmo proposital), e plenamente atuante em conferências por este mundinho afora, quando ouvi uma voz provinda de um estranho aparelho que reproduz a imagem, atos e falas das pessoas:
— Pois é, quando eu namorei com fulano...
Era uma jovem que falava, é bom que se diga, nesse tempo apocalíptico...  Joteli não perdeu tempo. Perguntou a sua sobrinha quem é que a jovem namorava.
— Fulano... Respondeu-lhe ela, estranhando a pergunta.
— Não senhora — esclareceu-lhe meu secretário —, ela disse que namorava com fulano, mas não ele. Namorar pede complemento direto. Namora-se alguém e não com alguém. A não ser que esse alguém esteja na companhia de quem esteja namorando. Ou seja, "segurando vela", como se diz popularmente.
— Ficou claro, agora, amiga leitora? Namora-se fulano ou fulana. Namorar com fulano não é a mesma coisa que namorar fulano, ora, pois...
O verbo expressa movimento, ação e mesmo estado. Pode exigir ou não uma preposição para se ligar com a palavra ou expressão seguinte. No caso de namorar, o verbo dispensa a preposição quando você quer dizer que namora alguém ou algo figuradamente: Estou namorando aquela Ferrari há anos... Namorei minha esposa três meses, antes de nos casarmos...
Há casos, entretanto, nos quais o verbo fica no infinitivo. Um exemplo é quando você diz a alguém que esteja curtindo suas férias em Machu Picchu, no Peru: "Como eu gostaria de estar aí...". Isso mesmo, "estar" e não "está", como algumas pessoas dizem e escrevem.
Outra coisa: peru, angu, tatu, saci, ali, jabuti... Ou seja, palavras oxítonas (última sílaba tônica) terminadas por i e u não são acentuadas, mas como "a exceção confirma a regra" há casos em que isso ocorre...
— Como assim, Bruxo? A regra não se aplica a todas as oxítonas terminadas em "u" e em "i"? Explique-se!
— Não fique bravo, meu caro, a exceção ocorre quando existe hiato no final da palavra, que é aquele fenômeno no qual o "i" e o "u" se separam das vogais que se juntam a eles na soletração. Exemplos: açaí, jaú... Observe que, na silabação, a pronúncia dessas palavras é a- ça-í; ja-ú. Viu? Simples assim.
— O que houve com você, Machado? Agora resolveu ensinar português? Você nunca foi disso...
— Culpa sua, Joteli, que não quer mais falar de política e volta a esse tema tão bem explorado por seu amigo Astolfo, no blog Espiritismo Século XXI. Embora eu acredite mesmo é na leitura crítica e na escrita objetiva e clara, de vez em quando é bom martelar as cabeças desse povo com nossa língua afiada. Um dia, haverão de aprender...
— Você já percebeu, Machado, que poucos sabem usar o verbo haver no sentido de existir, ocorrer? É um tal de "houveram muitas vaias à mandatária da nação", daqui, e de "haviam poucos deputados na Câmara" dali... E não adianta lhes dizer que o correto é "houve muitas vaias" e "havia poucos deputados"... Então, cansei! Quem desejar aprender a escrever que leia, leia, leia...
— E depois escreva, escreva, escreva...
— Ler, reler o texto várias vezes, cortando os excessos, corrigindo os lapsos, buscando sempre a objetividade e a clareza... Deixar cair, sem deixar de ser simples!
— Isso mesmo, Joteli! Somente assim your text will go down well.
— Na arte e na música, porém, Machado, o português é outra coisa. O que importa é comunicar, quer ouvir? Clique aqui: http://letras.mus.br/adoniran-barbosa/43968/.


domingo, 4 de outubro de 2015



Em dia com o Machado 178 (jlo)

Eu passei há pouco em frente ao portão do muro de um prédio em ruínas, que servia de abrigo a condenados, ban(d)idos e excluídos, quando ouvi, saído de dentro, o seguinte diálogo de roedores:
— Ratón, precisamos tomar providências para manter sob nosso poder a população deste paraíso de 8.512.000 m² aproximadamente. Afinal, esta é a nossa República.
— Pois é, Ratuína, enquanto vivermos... Depois, tudo é o nada... Então, vivamos, desfrutemos. Quando os vermes nos consumirem, que venha o dilúvio.
— Ouvi dizer que, com o corte nos programas sociais, o assassinato e o roubo, por aqui, aumentou quinhentos por cento... Ali no cantinho chamado Barreiras, BA, por exemplo, invadem-se casas, assalta-se e mata-se de todo o modo: a pé, de bicicleta...
— Ora, é bobagem sua preocupar-se com isso, Ratuína, afinal somos ou não a pátria educadora? O povo precisa aprender a repartir... E depois, morreu, acabou... Quanto menos ratos em nossa República, melhor para nós... Ao vencedor, as batatas!
— Essa nossa ideia de, paulatinamente, minar as resistências dos idiotas seguidores do crucifixado foi brilhante, não é mesmo, Ratón? Nossos amigos agora são os marginais...
— Ainda somos minoria, mas com o tempo todos embarcarão nessa maravilhosa viagem dos sentidos. Por enquanto, Ratuína, conseguimos virar de ponta cabeça tudo o que o Cristo pregou como certo. Aliás, será que Ele existiu mesmo? Penso que isso é história para boi dormir... No mundo, não há lugar para os fracos!
— Tenho horror às escrituras sagradas, por isso determinei sua proibição nas escolas, nas bibliotecas e em qualquer lugar público. Vai que aparece alguém para esclarecer o verdadeiro sentido das palavras do "cordeiro" e começa a pôr em prática suas utopias...
— Muito bem pensado, amiga.
— A técnica maquiavélica tem sido admiravelmente trabalhada por nossos comparsas, dom Ratón. Tudo pelo poder. Principalmente, mentir, mentir, mentir... É isso que nos mantém fortes, ricos, belos e imbatíveis... Mas para que nos mantenhamos firmes, nesta trincheira, precisamos apertar o cerco... Depois disso, não ficará pedra sobre pedra do que esses tolos insistem em dizer...
Eis que um rato "filósofo", velho conhecido dos dialogadores, entra na conversa. Vejo tudo pela fresta... É dom Ryskws Fhatays, o idealizador da nova ordem das ruínas que, sem rodeios, fala o seguinte:
— Chefa e chefe, minhas ideias foram ou não foram brilhantes? Agora, tudo está sob o nosso controle. Sempre refleti sobre a injustiça de uma minoria apenas ser "esclarecida". Bebi nas fontes de Marx, convoquei renomados psiquiatras, como Charcot, o mestre de Freud, de quem também colhi preciosos ensinamentos. Tudo fiz, enfim, para pôr em prática as teorias atuais, que vêm "orientando" a renovação destas ruínas. A começar pelo desarmamento moral, pois, como disse Stalin: "As ideias são muito mais poderosas do que as armas. Nós não permitimos que nossos inimigos tenham armas, porque deveríamos permitir que tenham ideias?"
Por fim, o rato tesoureiro, que ainda não falara, manifestou-se:
Como também dizia Maquiavel: "O homem esquece mais facilmente a morte do pai do que a perda do patrimônio". Tomemos-lhes tudo, mas façamos a distribuição "equânime" do que não nos servir e durmamos tranquilos. Depois é só controlar... controlar...  
C'est vrai. Confirmou um rato político, até então quieto. Mas e os outros animais que estão no poder nesta República, não terão os mesmos direitos que nós?
— Evidentemente, meu caro, desde que não seja felino, aqui há lugar para todos... Respondeu-lhe Ratuína. Primeiro, a gente cede, depois retoma tudo... Afinal, a vida é curta, curtamo-la!
— Sim, sim. Emendou Ratón com riso sarcástico. Cada um, porém, em seu quadradinho, e nós sob o controle de todos os quadrados... Afinal, alguém precisa controlar, não é mesmo, tesoureiro? Somos os deuses deste ninho de ratos.
C'est vrai. Completou o político. Mais lobos do que ratos. Aprovaremos tudo o que contemple os dois poderes: o de vossas excelências (executório) e o dialético (legislatório). O judiciário é supérfluo e pode ser extinto que não nos fará falta alguma. Tudo pelo poder de dominar, desde que também dominemos...
— Com certeza! Respondeu Ratuína. Há espaço para todos os nossos amigos. Aos inimigos, porém, o rigor da nossa lei.
— Aplausos!
Do lado de fora, após cofiar meus bigodes, miei baixinho para minha escolta armada:
— Sabem de nada, inocentes!
Dei uma ordem, a banda tocou, e todos os gatos, enquanto tomavam o prédio em ruínas, cantaram Travessia, de Milton Nascimento.

  Salve, 18 de abril, Dia Nacional do Espiritismo (Irmão Jó) Foi no dia 18 de abril que Kardec, Na Cidade de Luz, em manhã memorável, Lança ...