Em dia com o Machado 216
—
Sabe, Joteli, quando vivi na Terra, imaginava, na juventude, que o espírito não
tinha forma, só ideias. Um dia, porém, reli a frase bíblica de Paulo de Tarso: “Semeia-se
corpo animal, ressuscita-se corpo espiritual”. Daí por diante, passei a
imaginar que viveríamos, no espaço, em um corpo fluídico mais belo e perfeito
do que o corpo físico.
—
Faltou-te, Mestre, uma leitura mais aprofundada dos livros espíritas de Allan Kardec.
N’O livro dos médiuns, somos
informados de que o tal “corpo espiritual” citado pelo apóstolo Paulo nada mais
é do que o corpo principal de todos nós, ao qual Kardec denominou de
perispírito. É ele que dá forma e molda o nosso corpo físico no mundo.
—
Naturalmente, inepto secretário, você se recorda de como faleceu Brás Cubas,
não é mesmo?
—
Ele estava com a ideia fixa de inventar um remédio que aliviasse a humanidade
da melancolia: o emplasto anti-hipocondríaco, que levaria seu nome. Daí, pegou
uma pneumonia e morreu antes de concluir seu invento.
—
Certo, o emplasto Brás Cubas. Panaceia para a cura de todos os males
hipocondríacos. Entretanto, não te esqueças de que, antes que pela doença,
nosso herói faleceu em virtude de um vento frio causador de uma pneumonia. Isso
fê-lo deduzir ter morrido de uma grande ideia, pois esta foi quem, de fato,
minou suas energias. Isso prova que todos os nossos males têm sua origem na
alma. Só depois passam para o corpo
espiritual de Paulo, ou perispírito
de Kardec.
—
Já em seu romance você demonstrara conhecer essa verdade, não é mesmo, Mestre?
—
Evidentemente, pascácio! Todavia, ao retornar ao espaço metafísico, em que
ainda me encontro, aprofundei meus estudos sobre o porquê das doenças no corpo
físico; e o que descobri revolucionará a ciência terrena.
—
Sempre com a mania de buscar a cura para os males terrenos, como Cubas, não é
mesmo, ó, Machado!
—
Meu caro, o emplasto Brás Cubas objetivava curar a hipocondria humana. Minha
proposta é identificar a origem das doenças, ou seja, ir à sua verdadeira causa,
que é a enfermidade da alma. Depois disso, a cura real estará a um passo...
—
Como assim, Bruxo do Cosme Velho? Você quer dizer que não são as bactérias, os
vírus ou mesmo as causas genéticas os provocadores de nossas doenças ou
deformidades?
—
Exatamente! Tudo isso não passa de efeitos agregados ao perispírito que já
renasce predisposto às suas influências ou é atraído para os genes a que faz
jus.
—
Então...
—
Isso mesmo. Sem abandonar os medicamentos de combate aos efeitos materiais nos
corpos predisponentes, é necessário que os médicos se tornem, antes,
profiláticos da alma.
—
De que modo, ó ilustre guru!
—
Promovendo o equilíbrio da alma, para que esta se liberte dos vibriões
espirituais maléficos impregnados no perispírito de cada ser humano.
—
Como podemos comprovar a verdade de suas informações?
—
Ó, ignaro. Observe que, aí no mundo físico, cada ser reage de modo diferente às
doenças. O que para um é “veneno”, para outro nada significa. De dois irmãos,
nascidos dos mesmos pais, um deles possui muito mais propensão a certas doenças
do que o outro.
Um
é magro e saudável, mesmo se se alimenta pouco; o outro é corpulento, está
sempre bem nutrido e disposto a comer bem, mas fica sempre doentinho. O mais
franzino pode ser calmo, paciente em situações nas quais seu irmão é agitado,
nervoso e vice-versa. Tudo isso, e mais, são reflexos das marcas impregnadas no
perispírito. A inteligência precoce, as tendências diversas da alma, as
deformações do corpo físico, o mongolismo... enfim, tudo o que afeta o corpo
carnal nada mais é do que reflexo do desiquilíbrio desse corpo espiritual, o
perispírito.
—
Como curar-se, cada um de nós, desses males?
—
Pelo tratamento espiritual e por uma educação que prepare o ser humano para a
vida eterna e não apenas para uma efêmera existência. Essa é a verdadeira
terapia. Ela começa pela terapêutica moral e continua pela intelectual de uma
forma segura e sem dramas de consciência.
—
E que igreja você recomenda para iniciar o tratamento moral?
—
Nenhuma.
—
?
—
Não existe instituição puramente religiosa, voltada para a exploração comercial
terrena, que resolva esse problema. Sua iniciativa está na mais importante escola
da alma: a família. Os pais ou responsáveis devem promover, no lar, a leitura
das obras elevadas que cabe a cada um selecioná-las para si e sua casa; a
realização de um culto do evangelho no lar. Também cabe aos governos
promover, com o apoio da sociedade, o acesso de todos os cidadãos e cidadãs a
escolas cujo princípio seja o do ecumenismo em relação às ideias elevadas já
existentes na Terra, mas cujo expoente moral máximo chama-se Jesus Cristo.
—
É, Machado, a cada dia aprendo um pouco mais sobre a ciência da alma com
você...
—
Aos que têm “olhos de ver e ouvidos de ouvir”, apenas lembro que a promessa do
Cristo de nos enviar o Consolador para nos esclarecer de tudo o que Ele não
pudera nos dizer e ficar eternamente conosco materializou-se, na França, desde
18 de abril de 1857. Esse primeiro grande passo deu-se a partir de um único
livro, depois desdobrado em outros quatro: O
Livro dos Espíritos.
—
Por que “dos Espíritos”, se ele foi escrito por Allan Kardec?
—
Leia-o e saberá a resposta. Adianto-lhe apenas que o mais elevado de todos os
seus autores se chama Espírito Verdade,
mais conhecido, na Terra, como Jesus
Cristo.