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terça-feira, 23 de agosto de 2016



Em dia com o Machado 225 (jlo)

No meu tempo, após os 50 anos, já se era considerado velho. E não havia essa história de idoso, não. Era-se velho mesmo e ponto final. Afinal, estávamos no século XIX.
Pois bem, um dia, mais exatamente naquele último sábado, 1º de abril de 1893, do alto dos meus quase 54 anos, fui convidado por Mário de Alencar a participar de um baile comemorativo do seu casamento no Club Beethoven. Naturalmente, em nome de nossa velha amizade, e do meu gosto por um baile, ali compareci, acompanhado de Carolina.
Estávamos rodeados de grandes amigos, além do Mário e esposa: Rui Barbosa, Sílvio Dinart (Visconde de Taunay), Belmiro Braga, Salvador de Mendonça, Joaquim Nabuco e... no salão do baile, entre outras formosas mulheres, uma linda sobrinha de Carola, no auge de suas dezoito primaveras. Enquanto, na sala ao lado, Carolina conversava com as ilustres damas, esposas de nossos amigos, vi sua sobrinha acenar-me para segui-la à sala de dança. Ali entrando, convidei-a para bailar, mais como troça, em vista de nossa grande diferença de idade. Para minha surpresa, ela não somente aceitou o convite, como também me pediu outro beijo, quando lhe pespeguei um respeitoso ósculo na linda bochecha.
Sim, leitor, para meu espanto, Corina, como se chamava a jovem, sussurrou-me ao ouvido estas doces palavras: — Outro beijo, querido, quero outro beijo.
Naquele instante, o mundo girou 360º à nossa volta e, sem me importar com mais nada, atendi seu pedido com todo o meu afeto que, a bem da verdade, já remontava a alguns anos.
Dançamos. E enquanto bailávamos, ela perguntou-me, cheia de emoção:
— Você me ama muito, muito mesmo?
Naquele instante, suas palavras de dois anos atrás vieram-me à memória, quando lhe perguntei se me amava:
— Amo-o muito e muito mesmo.
Não é preciso lhe dizer, leitora curiosa e maldosa, que minha resposta, agora, não foi outra:
— Amo-a muito e muito mesmo.
É impressionante como o amor faz-nos repetir sempre as mesmas palavras, enquanto o coração canta sinfonias divinas.
Depois dessa confissão, Corina se afastou. Talvez para não a notarem e fazerem mau juízo de nós. Talvez... não, amiga, não posso crer que ela fosse leviana, mesmo em se tratando de um amor a alguém tão maduro, enquanto ela reverdecia e se abria em flor.
Cerca de uma hora após, Carolina chamou-me para retornarmos a casa, pois estava com forte dor de cabeça. Coisa da maturidade, amiga, reforçada pelas longas leituras, à luz do lampião, que a amada esposa fazia para mim, também já com as vistas cansadas pelo ofício das letras.
Três dias após o baile, levei a esposa querida a uma loja, na rua do Ouvidor, para renovar-lhe o figurino com as roupas da última moda francesa. Ali, fomos atendidos por gentil e bela jovem que, certamente, ainda não ouvira notícias sobre mim. As comunicações, nessa época, não possuíam a celeridade da TV e da internet atuais. A saia e blusa compradas por Carolina precisavam de pequenos ajustes, desse modo, ficamos de retornar à loja meia hora depois.
Regressei à casa comercial só, a pedido da esposa, que desejava ver umas bolsas francesas em outra loja. No meu retorno ao estabelecimento comercial, ao adentrar o recinto, a jovem vendedora reconheceu-me imediatamente e atendeu-me com um belo e brejeiro sorriso. Recebi a encomenda e, de saída, ouvi-a dizer baixinho a um colega, ao tempo que apontava seu lindo dedinho em minha direção:
— Lindão!
Foi o bastante para que o amor juvenil recrudescesse em minha alma de velho, mas não velha alma. Porém não era ela o troféu cobiçado...
O olhar da vendedora fez-me acreditar no amor de Corina.
Ao chegar a casa, enquanto Carolina descansava de sua nova cefaleia em nosso tálamo, dei vazão aos meus devaneios e reescrevi os últimos oito “Versos a Corina”:

Corina, ao teu poeta, esta doce ilusão
Que acalenta e rejuvenesce o coração
É como o céu sem nuvem, suave, tranquilo,
Que em toda a sua glória e paz há de atraí-lo.
E nada mais no mundo é como teus prazeres,
Pois tu só, puro amor, acima de outros seres,
Fazes-me despertar dos sonhos como a flor
Mais bela do jardim edênico do amor.

Nunca deixes de amar, leitor e leitora, pois, assim como o trabalho, o amor “move o mundo”.

terça-feira, 16 de agosto de 2016



Em dia com o Machado 224 (jlo)

Começaram as Olimpíadas no Brasil. Agora, todo o cuidado do mundo é o da prevenção contra o terrorismo. Se houvesse tanta cautela assim em tudo o que é necessário para a garantia da segurança e bem-estar da população brasileira, durante o ano inteiro, nosso país, certamente estaria entre as nações mais civilizadas do mundo.
Infelizmente, porém, tais medidas preventivas e recepção de primeiro mundo às delegações e autoridades estrangeiras e brasileiras são práticas de ocasião e local. Onde não há competição esportiva, os terroristas nem precisam se preocupar, pois o cotidiano do nosso povo é conviver com a possibilidade de morrer a todo o momento. Nem dentro de casa estamos seguros...
As estatísticas provam que, no Brasil, o número de vítimas de atos de vandalismo, novo nome que o governo agônico atual dá aos crimes, é tão absurdo que Osama Bin Laden, se vivo fosse, pediria a seus sequazes que orassem pelo povo brasileiro e não se preocupassem em provocar ataques terroristas contra nossas instituições, pois isso aqui é rotineiro...
Por esses dias, em Natal, mesmo com o reforço das Forças Armadas, os bandidos - se me permitem usar esse termo arcaico e ofensivo a esses pobres marginais - continuam queimando ônibus e destruindo o patrimônio da cidade potiguar. Simplesmente porque as autoridades bloquearam os sinais de celulares dos presidiários.
Em diversas cidades brasileiras, nos últimos dez anos, mais de mil ônibus foram queimados...
Lojas são incendiadas, inocentes são assassinados, mulheres são estupradas e por aí vai...
Alguns dias antes do início das Olimpíadas, ocorreu um crime no Rio de Janeiro, em bairro não contemplado com as medidas de segurança dos locais das competições, que, em qualquer país civilizado, seria, no mínimo, tratado como um crime bárbaro. Sou capaz de apostar que a leitora nem sabe a que me refiro. Nossa alienação é fruto da banalização do crime em terras tupiniquins. Fosse a assassinada uma socialite e, com certeza, até a família do criminoso já teria sido identificada e presa. Pergunta você se o assassino está preso?
— Fugiu, mas se um cidadão com CPF informar seu paradeiro à polícia o assassino será preso.
— Código de pessoa física?
— Não, crédito com a polícia federal...
Um motorista de ônibus da Ceilândia, cidade de Brasília, informou-nos que, em apenas um mês, já foi assaltado sete vezes. No último roubo, ele nem ao menos estava ao volante. Saiu com o celular recém-comprado na rua, que lhe custou R$ 900,00, economia de um ano de trabalho, e, sob a ameaça de um calibre 38, teve de entregar ao meliante, além do celular, chaves de casa, carteira com algum dinheiro e identidade.
Após a divulgação dessa terrível rotina de assaltos, fomos informados pela Imprensa que, neste ano, tais ocorrências diminuíram vinte por cento. Animador, não é mesmo, amiga leitora?
Isso significa que, no próximo mês, nosso amigo motorista será assaltado apenas cinco vezes... Caso não morra antes e deixe esposa viúva com três ou quatro filhos, pois pobre não se contenta em ter um ou dois filhos... isso é coisa de gente rica.
O povo Iraquiano chega a ter inveja... Só não lhe peça para vir morar nos subúrbios das grandes cidades brasileiras. Viver no Brasil é conviver com a insegurança. Terrorismo aqui é coisa corriqueira, preocupação menor... enquanto não ocorre com “gente grande”.
Ah, sim, o crime ao qual me referi linhas acima foi o do assassinato, com três facadas no pescoço, de uma mãe, na frente de sua filhinha de apenas onze anos.

Coisa trivial por estas bandas...

quarta-feira, 3 de agosto de 2016


Em dia com o Machado 223 (jlo)

Começo hoje pela reportagem que assisti na TV. Trata-se de menina de sorriso encantador. Seu nome é Iasmim. Parece ter oito anos de idade e, como tantas crianças, é moradora de rua. Sua família mora numa barraca à frente de alguns prédios da classe média paulista.  
Tanto a jovem mãe da criança quanto seu jovem companheiro não tinham emprego nem casa para morar. Então os três viviam da caridade alheia.
O casal se diz ex-consumidor de crack, que, há mais de ano, não usa drogas e orienta Iasmim para nunca adquirir qualquer vício prejudicial à saúde. As misérias morais e mortes presenciadas, fossem em função do consumo de drogas ou de violências diversas, despertaram o casal do pesadelo vivido.
Agora, a alegria da família é Iasmim, com seu lindo sorriso e triste olhar, que lhes tem imenso amor. Muitas pessoas passaram a socorrer essa família, após conhecerem seu drama, com doações diversas.
Ao ser indagada sobre o que mais desejava, Iasmim respondeu que seu sonho era morar numa casa e ter um quarto só para ela, que dorme junto da mãe e do companheiro desta na barraca...
Embora a menina seja filha de outro morador de rua desaparecido, ela considera seu pai o atual marido de sua mãe. Este rapaz informou já ter passado tanta fome que, na época, pensara em se suicidar. Só tem dezoito anos e se disse habilitado ao trabalho como servente de pedreiro; porém ninguém lhe dava serviço ao sabê-lo morador de rua.
Assim também ocorria com a mãe de Iasmim, que, segundo informou, já trabalhara em serviços domésticos, mas também não conseguia mais emprego, quando sabiam se tratar de moradora de rua.
O zelo pela filha é encantador. O repórter mostrou-nos a menina, de manhãzinha, escovando os lindos dentes sob a supervisão e carinho maternos.
Levada aos estúdios da TV que produziu a reportagem sobre sua vida, Iasmim viveu um conto de fadas. Foi recebida carinhosamente pelas atrizes do programa infantil do qual ela gosta, fez um belo dueto musical com uma das cantoras da emissora e disse que sonha se tornar cantora.
Após a reportagem, tudo parece ter melhorado na vida do trio. A mãe conseguiu emprego como auxiliar de limpeza, o pai foi contratado para o exercício de sua profissão, e Iasmim foi matriculada em escola pública.
Há anjos que descem do céu para socorrer as almas decaídas, Iasmim é um deles.
Constatou Roberto Cabrini, autor da reportagem, que se ao menos um por cento do dinheiro público desviado com corrupção no Brasil fosse investido em saneamento básico, educação, emprego e moradia, restariam poucos moradores de rua.
E o que não se faria com o produto de nossos impostos, se noventa e nove por cento do dinheiro desviado pela corrupção fosse investido nas políticas sociais, tais como saúde, educação, habitação, alimentação, saneamento, transporte, segurança e geração de empregos? E o lazer?
Ah, essa utopia consta em nossa constituição cidadã... do futuro.
Se nosso povo e seus políticos fossem, antes de mais nada, honestos, certamente, os sonhos das futuras Iasmins estariam realizados.
Uma pergunta, porém, não quer calar. Por que Cabrini não levou o jovem a uma junta do serviço militar e o alistou? O serviço militar é santo remédio para esses jovens. Fornece-lhes moradia, roupas, calçados, alimentação e um salário mínimo. E o mais importante: dá dignidade aos jovens e abre-lhes as portas para uma carreira promissora, na qual a disciplina e os hábitos saudáveis são rotineiros.
E por que não o estender às jovens, como a mãe de Iasmim? Enquanto os pais estivessem no quartel, a filha ficaria, em tempo integral, na escola, onde teria roupas, quatro refeições diárias, material escolar, bons professores e lazer.
Na caserna, às 22h, o toque de recolher lembra ao cidadão que é hora de dormir. Às 6h, o toque da alvorada desperta todo o mundo. A barba e o bigode têm de estar bem feitos, a roupa deve estar limpa e bem passada e os coturnos bem engraxados.
A disciplina e os bons hábitos são a contribuição de nossas Forças Armadas para o exercício da cidadania. A escola militar está entre as melhores do país, mas precisa ser valorizada e ter ampliado o seu acesso a essas classes miseráveis...
Manter a ordem e a disciplina é a missão das Forças Armadas que deve ser complementada pelo resgate, nas ruas e no espírito, dessas jovens vítimas de uma sociedade injusta e corrupta.
Para tais famílias, deveria ser reservada uma casa, do lado de fora, com quarto arejado, destinado a cada Iasmim e a cada Zezim com uma janela que se abrisse para um lindo pomar e por onde penetrasse o Sol da esperança. Com os 99% restituído às boas mãos militares isso seria possível.

Quem concorda assina em baixo. 

  O livro   (Irmão Jó)   D esde cedo é importante I ncentivar a leitura A os nossos filhos infantes.   M ais tarde, na juventude, U ma vont...