Em
dia com o Machado 230 (jlo)
Amiga leitora, ouvi dizer
que Tancredo Neves dizia o seguinte: “Quando algum político precisa explicar,
depois de dito, algo que repercutiu mal perante a nação, melhor teria sido não
ter dito nada antes”. A clareza é qualidade fundamental na comunicação. Sem
ela, tudo são trevas.
É exatamente assim que ocorre
com os textos mal escritos: se o aluno ou uma pessoa qualquer escreve algo que
só está claro para si e não para quem lê, melhor seria não ter escrito aquilo.
A ambiguidade ou duplo sentido pode ser interessante na literatura, quando o
narrador escreve alguma coisa com um sentido literal e outro metafórico. Era o
que eu fazia, quando encarnado pela última vez, no Rio de Janeiro, após minha
encarnação como Laurence Sterne, na Inglaterra, no século XVIII. Por isso
mesmo, lia suas obras e imitava seu estilo burlesco e satírico. Algo ali era-me
familiar...
Houve um tempo em que os
animais falavam. Se os cidadãos da atualidade se inspirassem na sabedoria
daqueles seres, por certo, o mundo seria bem mais prático. Cito um caso.
Acompanhei Joteli e
esposa em visita a uma amiga recém-operada do ombro ontem. Ao adentrarem a casa
da convalescente, sua cadela Pequinês recebeu os recém-chegados com
estardalhaço, latindo insistentemente. Entretanto, logo parou de latir quando
os anfitriões lhe pediram para se calar. Chama-se Lis e é bastante agitada.
Acompanhou o dono da casa e seus amigos até a sala e sentou-se num dos sofás,
atenta às suas conversas com os recém-chegados.
De vez em quando, latia,
como quando o genro e a filha do Paulo, o anfitrião, que lá estavam há algum
tempo, despediram-se. No entanto, um pouco mais tarde, fiquei impressionado com
sua manifestação de respeito, no momento em que a esposa de Joteli propôs fazer
uma prece de rogativa aos céus em benefício da melhora da amiga enferma que ali
já estava.
Lis fechou seus olhos e
manteve-se num silêncio profundo e reverencioso, assim permanecendo até o fim
da prece.
Talvez seja por isso que
um ex-ministro afirmou, ao lhe ser perguntado sobre a razão de seu profundo
amor ao seu cãozinho de estimação: — Cachorro também é gente. O problema não é
esse e, sim, o de que muita gente é tratada pior do que cachorro, mas muito
cachorro demonstra ter mais respeito às coisas divinas do que nós.
Estendemos as mãos,
aplicamos um passe na convalescente e em seu esposo. Lis fechou os olhinhos e
nos acompanhou, enquanto orávamos, como se entendesse tudo. Certamente que não pescava uma só palavra do que dizíamos,
mas sentiu as vibrações positivas e delas também desfrutou. É a alma, em processo
de transformação, como disse o filósofo espírita francês Léon Denis em sua obra
intitulada O problema do ser, do destino
e da dor: “A alma dorme nos minerais, sonha nos vegetais, agita-se nos
animais e desperta no homem”.
Eu diria que, antes, a
alma já despertou nos cachorros...
Depois disso, o ser
espiritual continua trabalhando os sentimentos, errando e acertando. Percorre a
estrada eterna da lei de evolução, submetido à lei de ação e reação, até
aprender que somente o amor é lei divina. Então, após o seu despertar, passa a
se esforçar permanentemente no bem, até alcançar o objetivo máximo da
recomendação do Cristo: “Brilhe a vossa luz!”