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quarta-feira, 26 de outubro de 2016




Em dia com o Machado 234 (jlo)


Acompanhei meu secretário e esposa em passeio que fizeram ao Rio de Janeiro. No centro da cidade, eles resolveram fazer umas compras na Av. Nossa Senhora de Copacabana.
Como de praxe, viram deitados ou sentados nas calçadas diversos mendigos. Um deles era Simão, idoso e enfermo, cujo cajado estava encostado na porta fechada de uma loja.
Vagara, incerto, após fugir da seca no Piauí e fora despejado do pardieiro onde se hospedara, após acabar-se o pouco dinheiro que trouxera, resultante da venda de seu pequeno sítio a parentes que prometeram ajudá-lo, mas o deixaram desamparado. Agora, não lhe restava outra opção a não ser a de ser mais um dentre tantos seres humanos (ser, ser, seres, notou, leitor?) sem lar, sem cama, sem pão (sem, sem, sem, leitora, você viu isso?) e maltrapilho a vagar incerto, pelas longas e, por vezes, tumultuadas avenidas cariocas (as, as, as... isso é coisa da carioca Cecília Malan, rs).
Os cabelos alvos, a face enrugada, as mãos encarquilhadas de Simão muito pouco comoviam os transeuntes, que não se importavam em saber de onde viera e por que ali se encontrava. Os que o viam, apenas sabiam que se tratava de um mendigo. Não lhe conheciam o passado e nem lhes interessava seu futuro.
Com o passar dos dias, sem condições de comprar remédios para as feridas que surgiam em seu corpo encarquilhado, em virtude da desidratação e quedas, muitos pedestres o tratavam mal. Diversas pessoas afastavam-se enojadas. Alguns diziam que era “leproso”, outros alegavam que se fazia de doente e necessitado, mas que era farsante explorador da bolsa alheia.
Muitas vezes, Simão refletia em como fora difícil sua vida na caatinga nordestina; todavia, quando moço, possuía corpo robusto e boa saúde, a tudo superando, até chegar ali, na esperança de encontrar ao menos um biscate, um pequeno quarto onde repousar da velhice, alguma roupa limpa para vestir e o pão de cada dia. O tempo foi passando e Simão foi ficando cada vez mais fraco, mais desiludido, mais enfermo e cansado. Já não tinha forças nem mesmo para tentar localizar seus parentes no Piauí. Muito menos coragem para tal, pois sabia que seus três “filhos homens” e suas “cinco filhas mulheres” viviam em situação de penúria material e sua viagem para a “Cidade Maravilhosa” fora, para todos, uma boca a menos para comer a mandioca ralada com o pouco feijão da cuia; mais caldo do que feijão.
Um dia, porém, quando Joteli e esposa já não mais caminhavam pela avenida Nossa Senhora de Copacabana, após uma noite de chuva e de frio, o velho sofredor tentou levantar-se do seu canto na calçada onde dormira e caiu. Perdeu os sentidos e... horas depois, um rabecão que por ali passava recolheu seu corpo sem vida e o enterrou como indigente.
Assim é o destino de milhões de seres humanos.
Esta e outras cenas, vistas por meu amigo, o poeta português João de Deus, inspirou-lhe o seguinte poema, que compartilho com meus trinta ou quarenta fiéis leitores semanais:

Simão, o mendigo

Doente, pobre, velhinho,
O desditoso Simão,
Arrimado a seu bordão,
Andava devagarinho...

Pés e mãos em chaga aberta,
Lá ia o velho, coitado!
Enfermo, desamparado
E humilde na estrada incerta.

Cabelo todo branquinho,
Rugosa a face morena,
O pobre metia pena
A vagar pelo caminho...

De onde viera? Ora, quem
Buscava saber ao certo?
Vinha de longe ou de perto?
Ninguém sabia, ninguém.

Só lhe sabiam do nome,
E que, em miséria, sem nada,
Ele esmolava na estrada,
A fim de matar a fome.

Estendendo seu chapéu,
Pedia, cheio de dor:
— Uma esmola, meu senhor,
Por amor ao Pai do Céu!...

Mas, oh! Deus, que desalento
Neste mundo de aflição!
Ninguém ouvia Simão
Nas horas do sofrimento.

— Passai de largo! é leproso!... 
Diziam homens cruéis
— Oh! não vos   aproximeis
Deste  ancião  perigoso!...

— Ah! que graça! Põe-te à brisa! —
Exclamava outro passante —
— Nada de esmola ao tratante,
Que este  velho não precisa!...

O mendigo, nos seus ais,
Dizia: — Viva a saúde!
Trabalhei enquanto pude,
Agora, não posso mais...

Toda a gente lhe fugia,
Ninguém lhe dava uma sopa,
Nem um trapinho de roupa
Para a noite da agonia.

Muito tempo era passado,
E o desditoso velhinho
Sentia-se mais sozinho,
Mais doente, mais cansado...

Chegou, enfim, um  momento
Em que o velho sofredor
Caiu de frio e de  dor
Na estrada do sofrimento.

Caiu e sonhou, contente,
Embora a sede e o cansaço,
Que Jesus vinha do Espaço
Dizendo-lhe, docemente:

— Escuta, meu bom Simão,
Não temas, querido amigo!
Sê forte! Eu estou contigo.
Chegaste à ressurreição.

Não chores. Estou aqui!...
Terminou tua aflição,
Estás em meu coração!
Pensavas que te esqueci?

Enquanto o mundo enganado
Atormentava-te ao peso
De zombaria e desprezo,
Eu sempre estive ao teu lado.

Teus prantos e tuas dores
São, hoje, a luz que te veste
No campo do amor celeste,
Repleto de eternas flores.

E Jesus, em voz mais terna,
Concluía: — Vem, Simão,
À doce consolação
Do mundo de luz eterna!...

E Simão, chorando e rindo,
A seguir, ditoso, o Mestre,
Esqueceu a dor terrestre,
No céu venturoso e lindo.

O caminho era de   estrelas
De tão sublime matiz
Que o pobre ria,                feliz,
Sem saber como entendê-las.

No outro dia, ao reconforto
Do Sol de coroa erguida,
Acharam Simão sem vida...
O mendigo estava morto.

Amiga leitora, você que é sensível e gosta de poesia poderá ler este e outros belos poemas na obra Antologia Mediúnica do Natal, psicografada por Chico Xavier e publicada pela FEB.
O livro também possui belas mensagens de Emmanuel, Humberto de Campos e outros escritores e poetas que já atravessaram o Campo da Esperança e me fazem companhia no Clube Beethoven ou na Academia Celestial de Letras de cidade vizinha a Nosso Lar. Ótimo presente de Natal! que poderá ser adquirido em dezembro nas livrarias espíritas ou na livraria da FEB, em Brasília, na Av. L2 Norte, ou no Rio de Janeiro, Centro, na Av. Passos, número 30.

terça-feira, 18 de outubro de 2016



Em dia com o Machado 233 (jlo)


A visão materialista da vida na Terra não traz benefícios ao seu possuidor. Ela açoda todos os instintos negativos da pessoa, incrementa o egoísmo e a impiedade humanos.
Há pessoas que se formam em determinadas áreas do conhecimento visando exclusivamente lucros materiais. Desse modo, podem até mesmo possuir grandes saberes em seu ofício, mas nem sempre os utilizam em prol de uma sociedade melhor e, sim, de suas vantagens pessoais.
Na área médica ou odontológica, por exemplo, não é raro constatarmos, entre a maioria de profissionais responsáveis, aqueles que se prevalecem da falta de conhecimento e necessidade orgânica de seus pacientes para realizarem procedimentos cirúrgicos absolutamente desnecessários e, por vezes, desastrosos. Não vou citar mais do que dois casos, ocorridos com um amigo.
O primeiro foi quando uma azia o levou a um cirurgião gastroenterologista. Este, após ver os resultados dos exames solicitados, diagnosticou-o com a doença intitulada Esôfago de Barret. Então, foi logo marcando uma série de exames pré-operatórios, sem ao menos propor-lhe um tratamento alternativo. Procurado outro especialista da área, este propôs ao meu amigo que fizesse tratamento clínico de alguns meses. Caso isso não resolvesse, indicaria o procedimento cirúrgico. Resultado: após esse período de tratamento, meu amigo nunca mais teve problemas gastresofágicos.
E a cirurgia, resolveria também? Sic, nem sempre... Sem contar que ninguém quer ser furado quando uma simples cápsula ou o “emplasto Brás Cubas” pode curá-lo.
O segundo caso pode também ser visto sob diferentes procedimentos adotados por dois dentistas: o primeiro deles realizou uma restauração de um dente do maxilar inferior do meu amigo, ao qual provocou uma grande fenda na gengiva. É o que em odontologia se chama de recessão ou retração gengival, que pode ter também outras causas, como o bruxismo, etc., e assim fica difícil à vítima provar a imperícia do profissional. Isso foi há cinco anos. Nunca mais meu amigo conseguiu mastigar alimentos sólidos, além de não suportar líquidos muito gelados nesse lado da boca.
O procedimento de outra profissional, em relação a um dente restaurado, do maxilar superior desse meu amigo, que lhe provocara dores, foi mais responsável: fez o RX dentário, analisou-o, detidamente, prescreveu-lhe um potente anti-inflamatório, como opção alternativa ao tratamento do canal do dente, e... heureca! Deu certo.
Nesta semana, um homem de 62 anos, jovem para os dias atuais, morreu por falta de transporte, em tempo hábil, de um hospital a outro, especializado no tratamento de problemas renais. O motivo? Falta de gasolina na ambulância. A família propôs ao responsável da área pagar o combustível, mas sua proposta foi recusada porque a “instituição pública” não admitia tal procedimento. Ou seja, a burocracia estatal e a falta de espírito humanitário levou a óbito um cidadão que precisava de atendimento urgente.
Será que se o paciente fosse um parente muito querido do tal “Estado” teria havido sua morte? Duvido!
Termino com um soneto de Cruz e Sousa, para nossa reflexão, intitulado:

CLAMANDO...

Bárbaros, vãos, dementes e terríveis
Bonzos tremendos de ferrenho aspecto,
Ah! deste ser todo o clarão secreto
Jamais pôde inflamar-vos, Impassíveis!

Tantas guerras bizarras e incoercíveis
No tempo e tanto, tanto imenso afeto,
São para vós menos que um verme e inseto
Na corrente vital pouco sensíveis.

No entanto nessas guerras mais bizarras
De sol, clarins e rútilas fanfarras,
Nessas radiantes e profundas guerras...

As minhas carnes se dilaceraram
E vão, das Ilusões que flamejaram,
Com o próprio sangue fecundando as terras...


quarta-feira, 12 de outubro de 2016




Em dia com o Machado 232 (jlo)

Após a conclusão de Memórias Póstumas, fui à editora entregar os textos digitados na atual versão do iPhone 7.0, adquirida em minha última viagem a New York, e dirigi-me à seção de entrega do arquivo original, conhecida pela sigla AAS, da editora Braziliense, na Capital do Brasil. 
Ali, fui informado sobre a necessidade de, antes, ir a três outras seções para carimbar uma pequena guia de entrada do original. Depois de ter rodado como pião, voltei à ASS, às 10h15, mas dei com os burros n’água desse setor. Pois li com meus próprios olhos o seguinte aviso, colado internamente, no vidro da porta agora fechada:

   Tendo em vista termos dedetizado a sala da AAS, não mais haverá expediente para o público externo hoje. Nossos funcionários estão trabalhando apenas internamente.
Horário de atendimento:  das 8h15 às 16h, de segunda a sexta-feira.

Na segunda-feira, voltei lá, pois fora informado de que a AAS seria a primeira e a última etapa da entrega. Ao ser atendido, porém, a funcionária da recepção esclareceu-me que o carimbo final do cupom seria dado no protocolo da editora, noutro setor, mas antes, eu deveria preencher um formulário, com todos os meus dados, inclusive telefone celular, e anexar cópia de minha identidade, após o que teria de percorrer cem metros até o fim da linha da burocracia...
Perguntei-lhe onde havia copiadora, para xerocar minha identidade e o formulário preenchido. A jovem disse-me que na biblioteca da editora eu encontraria uma dessas máquinas. A biblioteca ficava a duzentos metros do local onde estávamos.
Para lá fui e providenciei as cópias da documentação que levava em mãos. Em seguida, retornei ao sonhado protocolo, distante da AAS cerca de cem metros. Sem problema, pois sou um caminhante das ruas cariocas e, portanto, não há distância que me impeça alcançar meus objetivos.
Entreguei os documentos ao atendente do protocolo e ouvi deste a seguinte pergunta: — E a cópia da identidade, você a trouxe?
— ?... Meu Deus! As muitas letras estão acabando com o meu fosfato. A cópia esqueceu-me...
O jovem, todavia, numa demonstração de desprendimento inusitada, disse-me que copiaria minha identidade gratuitamente. Só havia uma condição, que aceitei: após a edição, eu deveria doar-lhe um dos meus livros com dedicatória de agradecimento.
Creio que, depois disso, fiquei mais desmemoriado do que se estivesse sofrendo do Mal de Parkinson. A cabeça doeu tanto, que tomei um AAS (ácido acetilsalicílico) para melhoral da cefaleia.
E nem me peça para explicar como é que pode haver expediente interno numa seção fechada e dedetizada, porque aí já é exigir demais, caro leitor. Pergunte lá na AAS.
Ainda bem que aquela não era uma repartição pública, onde somos SEMPRE muito bem atendidos.










sábado, 8 de outubro de 2016



Em dia com o Machado 231 (jlo)

Amiga leitora, hoje Joteli  prestará justa homenagem a uma linda mulher. Com a palavra meu secretário, que deseja expor seus devaneios poéticos em seu poema Rainha Iluminada.

Quando, no centro de Barreiras, vi
Tua chegada alegre, de repente,
Senti, no nosso encontro frente a frente,
Marcante sensação de déjà-vu.

Teu sorriso sem igual até então
Fez florescer em mim uma certeza:
Estava ali presente uma princesa
Que reinaria um dia em ma maison.

E por saber que eu folgaria vê-las
Deus não tardou a me mandar, do Céu,
Três belos astros, três lindas estrelas:
Fabiane, Cristiane e Daniel.

Minha querida e sempre amada Lourdes,
Agora que outros três astros chegaram,
Temos também Mateus, João e Lucas
Mas outros três também já se preparam...

Tu és prova de que, mais que o saber,
Será preciso amor e muita ação
Para que o ser não venha a padecer
Por falta de respeito ao seu irmão.

Tu és prova de que a simplicidade
E a doação de amor, mais que a ciência,
Expandem-se por toda a humanidade
Pois Deus é Pai de amor e de clemência.

O teu amor ao próximo  me faz
Sentir pequeno ante tua altura.
Às agressões respondes com brandura,
Seguir teus passos é viver em paz.

E assim termina Joteli sua homenagem à esposa amada, que faz da caridade ao próximo um exemplo de vida e jamais demonstra soberba, em razão de seu trabalho à frente da assistência aos mais necessitados, como humilde servidora de Jesus. 
Maria de Lourdes Pereira de Oliveira, muito obrigado pela pessoa maravilhosa que és.

Eu te amo.

  Salve, 18 de abril, Dia Nacional do Espiritismo (Irmão Jó) Foi no dia 18 de abril que Kardec, Na Cidade de Luz, em manhã memorável, Lança ...