Em dia com o Machado 245 (jlo)
Amiga leitora, hoje vou filosofar um
pouco, pois "os tempos são chegados". De acordo com Yuval Noah
Harari, em Uma breve história da humanidade, nada mais somos
do que a ramificação dos primatas que, de cerca de doze mil anos para cá, vem
dominando o mundo e exterminando outros animais, muitos dos quais reproduzidos
para nos alimentar.
Diz ele, no final do primeiro
capítulo de sua obra: "Se a culpa é dos sapiens ou não, o fato é que, tão
logo eles chegavam a um novo local, a população nativa era extinta".
Na conclusão desse capítulo, Harari
deduz que, provavelmente, o Homo sapiens, que somos nós,
"conquistou o mundo, acima de tudo, graças à sua linguagem única".
Isso me faz pensar nas teorias de
renomados filósofos do século XIX que, baseados nessa "linguagem
única", realizaram verdadeiras proezas intelectuais para provar que nada
mais somos do que matéria.
A base para tal constatação é a Ciência
Positivista, que foi elevada à condição de verdade absoluta, contra todas as
ideias espiritualistas do passado e do presente. Um dos seus teóricos foi Hegel
(1770- 1831), que "matou a religião" e elegeu a adoração ao homem
como fundamento de nossas vidas, ao considerar a História como a
"realidade absoluta" e "eliminar a dicotomia matéria e
espírito".
O fundador do Positivismo foi Auguste
Comte (1798-1857), que substituiu a Filosofia pela Ciência. Seu culto é o da
Humanidade, o "Grande Ser", composto pelos cidadãos do passado, do
presente e do futuro que foram, são ou possam ser úteis à própria Humanidade.
Outro "humanista absoluto"
foi Nietzsche (1844- 1900), com sua teoria sobre o "super-homem" cujo
objetivo na vida seria o de idolatrar o próprio corpo e buscar, antes de mais
nada, os próprios interesses, uma vez que, para ele, nada mais somos do que
matéria e, como tal, fadados à extinção após a morte. Para Nietzsche, Deus não
existe; e a concepção de uma divindade é um pretexto para dominar as mentes e
os povos fracos. Esse filósofo foi enlouquecendo aos poucos e morreu louco, mas
ainda é seguido por muitos...
Mas quem estrutura, definitivamente o
Materialismo, cuja teoria já existia no mundo desde a época dos filósofos
gregos pré-socráticos (cerca de 500 anos a.C.), foi Karl Marx (1818- 1883), com
a contribuição de Engels, que finalizou sua obra máxima após a morte de Marx: O
Capital.
Alguns políticos e cidadãos
brasileiros levaram a sério tais devaneios e procuraram aplicá-los com rigor à
vida prática, principalmente, com base na já tão conhecida "lei de Gérson",
que, embora nos proponha levar "vantagem em tudo", também nos conduz
ao suicídio lento pelo tabagismo, pois essa “lei” surgiu de uma propaganda de
cigarros em que o ex-craque de futebol, Gérson, cigarro à boca, dizia a célebre
frase: “Gosto de levar vantagem em tudo, certo?”
Então, amiga, vou enumerar-lhe agora
as dez conclusões às quais cheguei em relação ao abismo em que foi atirado nosso
país pelos maus políticos, empresários e economistas inescrupulosos:
1ª) É preciso conquistar e manter o
poder a qualquer custo. Então, nomeemos para os diversos cargos públicos e
políticos as pessoas que trabalhem para a grande coligação partidária formada
pelos partidos da situação.
2ª) No judiciário, indiquemos para
cargos-chave, em especial na direção de presídios, filiados aos nossos
coligados, pois estes saberão tratar humanamente os pobres traficantes e
matadores de ou sem aluguel. Para as cadeias, encaminhemos, também, os incautos
que não pagam pensão, imposto de renda, etc. e os deixemos junto com aqueles,
que saberão cuidar destes.
3ª) Indiquemos os "melhores
políticos" para a gestão e negócios de grandes empresas e bancos públicos,
eles saberão onde depositar os lucros desviados para nossos "fundos
partidários" e "bolsos sem fundos".
4ª) Criemos o maior número de
programas sociais, pois o povo não gosta de estudar e fundar escolas é
desperdício de dinheiro público. Isso fica para a iniciativa privada.
5ª) Universidades públicas, como a do
Rio de Janeiro, são desperdício de dinheiro. Nada de subsídios a essas fontes de "alienação mental". O que o povo quer é circo e brioche.
6ª) Nossas escolas públicas devem ser
instruídas a orientarem seus alunos com base nas seguras teorias materialistas
de Marx e seus companheiros de ideal econômico. "Proletários,
(des)uni-vos, nós sabemos o que é melhor para vocês".
7ª) Vamos criar um cadastro de maus
pagadores e convidá-los a saldar suas contas, anualmente, com descontos de até
80%. Deixemos aos otários o pagamento integral de seus impostos e
endividamentos.
8ª) Governar é fazer dívidas e
construir "elefantes brancos" que fiquem inacabados e sem
possibilidade de sua construção. Que se danem os escrúpulos. Afinal, o nosso é
apenas um dentre milhares de municípios, e ninguém vai nos fiscalizar, pois já
tomamos nossas providências para corromper os fiscais que têm o DNA semelhante
ao nosso. (Não, amigo leitor, não se trata de Data de Nascimento Antigo, mas você pode sugerir outro significado.
Que tal Depravado Nível Animal?)
9ª) Vamos manter as indicações
políticas para os altos cargos governamentais, em especial nos tribunais de
justiça. Se nossos representantes estiverem no comando das leis, estas nunca
serão contra nós. E se o forem, nossos companheiros dos diversos sindicatos
políticos e movimentos paramilitares não permitirão que nos façam qualquer mal.
10ª) E última conclusão: Mantenhamos
a obrigatoriedade do voto e a urna eletrônica. Do resto, cuidamos nós. Afinal,
só nós, os animais fortes e poderosos, sobreviveremos.
Após nós, que venha o dilúvio.
Qualquer semelhança de muitos
políticos atuais com o Homo sapiens é isso mesmo: completa.
E eu, amigo leitor, não falo mais de
política.