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terça-feira, 25 de abril de 2017



Em dia com o Machado 260 (jlo) – 11 de outubro de 1885 (Balas de estalo)

Hás de lembrar-te de minha adesão, completa e irrefutável, ao Espiritismo. Lerás agora o plano que me ocorrera, antes de converter-me ao novo credo, e a resposta que recebi dos Céus.
Meu plano era investigar todos os fenômenos, sem preconceitos, antes de refutá-los ou aceitá-los, com a coragem necessária para quebrar os milenares paradigmas religiosos  da Terra. Aceitei-os.
Faltava-me, ainda, coragem para assumir minha crença, como o fiz na última crônica. Tão logo associei-me ao Centro Espírita Delfos, na Rua do Espírito Santo, em São Cristóvão, nesta Cidade Maravilhosa, mudei-me, com Carolina, para o bairro do Cosme Velho, haja vista sua proximidade com aquela casa espírita.
Duvidas? Pois fica sabendo, meu caroável amigo, que do Cosme Velho a São Cristóvão, via Túnel Rebouças, são apenas 13,8 km. Esse túnel foi criado em homenagem ao amigo André Rebouças, o maior engenheiro carioca do Século XIX, no meu entendimento.
O que me aconteceu, a partir de então, foi algo extraordinário. Como te disse na crônica passada, descobri que sou Laurence Sterne, o escritor inglês galhofeiro do Século XVIII, reencarnado no Rio de Janeiro; mas agora tornei-me sério, e é de coisas sérias que desejo falar-te. 
O Espiritismo, amigo, é a Filosofia, Ciência e Religião do futuro. Sua maior finalidade, além de contribuir com a nossa evolução espiritual, é destruir o Materialismo, como já vem ocorrendo nestes dias. Sua expansão dar-se-á em progressão geométrica, ante as atuais descobertas da Ciência Quântica, que contribuirão para a derrocada final do Ateísmo no Mundo.
Ainda duvidas? Lê o que um mineirinho psicografou e foi ditado por três poetas do Além. O primeiro soneto é de ninguém mais, ninguém menos que o Espírito Alphonsus de Guimaraens. Compara. O mesmo estilo, a mesma elevação espiritual, o mesmo simbolismo sublime do poeta da Terra está no poeta do Espaço Metafísico em: Santa Virgo Virginum

Sobe da Terra, em ondas luminosas,
Um turbilhão de vozes e de lírios,
Buscando-vos nas Luzes Harmoniosas,
Oh! Virgem da Pureza e dos Martírios!

Imagens de turíbulos e rosas
Aromatizam todos os empíreos...
Há na Terra canções maravilhosas
Entre as luzes e as lágrimas dos círios.

Senhora, o mundo inteiro vos festeja,
Em magnificência ampla e radiosa,
Nos altares simbólicos da Igreja!

Eis, porém, que vos vejo nos caminhos,
Onde a vossa virtude carinhosa
Consola e ampara os fracos pobrezinhos...

Agora, o mesmo psicógrafo, refiro-me a Chico Xavier, retransmite-nos a lira de Auta de Sousa, a poetisa mística potiguar, autora da obra Horto, quando na vida física. Lê e delicia-te com a suavidade do Espírito imortal, pela pena do “Mineiro do Século”, no soneto intitulado

Prece

Estendei vossa mão bondosa e pura,
Mãe querida dos fracos pecadores,
Aos corações dos pobres sofredores
Mergulhados nos prantos da amargura.

Derramai vossa luz, toda esplendores,
Da imensidade, da radiosa altura,
Da região ditosa da ventura,
Sobre a sombra dos cárceres das dores!

Ó Mãe! excelsa Mãe de anjos celestes,
Mais amor, desse amor que já nos destes,
Queremos nós em cada novo dia;

Vós que mudais em flores os espinhos,
Transformai toda a treva dos caminhos
Em clarões refulgentes de alegria.

Por fim, para não te cansar, paciente leitor, brinda-te o vate português, Antero de Quental, com o soneto post mortem intitulado Rainha do Céu, e o Chico registra fielmente seu apelo:

Excelsa e sereníssima Senhora,
Que sois toda Bondade e Complacência,
Que espalhais os eflúvios da Clemência
Em caminhos liriais feitos de aurora!...

Amparai o que anseia, luta e chora,
No labirinto amargo da existência.
Sede a nossa divina providência
E a nossa proteção de cada hora.

Oh! Anjo Tutelar da Humanidade,
Que espargis alegria e claridade
Sobre o mundo de trevas e gemidos;

Vosso amor, que enche os céus ilimitados,
É a luz dos tristes e dos desterrados,
Esperança dos pobres desvalidos!...

Esta é uma pálida ideia do que as potências invisíveis vêm fazendo, há mais de um século, pela literatura do Além, sem que haja qualquer plágio ou mistificação do pobrezinho de Minas Gerais, o qual jamais aceitou qualquer retribuição financeira, pelas mais de quatrocentas! obras mediúnicas captadas por sua antena psíquica. Eu, mísero verme, a tudo isso e muito mais assisti do Centro Espírita Delfos e agora compartilho contigo em reverência a nossa Mãe Santíssima.
O Código Divino exige o império do amor sobre a Terra, e o amor de Nossa Senhora é a representação do mais puro sentimento descido do Céu, o amor materno.
Cuido mesmo que, se toda a nova revelação fosse derramada, de uma só vez, sobre ti, leitor, ficarias cego com a luz sublime jorrada sobre a Humanidade neste tempo apocalíptico.
Muito mais cousas virão, em especial a partir de julho de 2017, segundo informações mediúnicas que obtive no Delfos. Quem viver verá e ouvirá.

Adeus!

quarta-feira, 19 de abril de 2017




Em dia com o Machado 259 (jlo) - 5 de outubro de 1885 (Balas de estalo)

Bem adivinham meus amigos onde estive nesta terça-feira. Fui assistir à excelente palestra de Haroldo Dutra Dias em comemoração do nascimento de Allan Kardec, ocorrido em 3 de outubro de 1804.
O orador esclareceu-nos sobre algo que eu ainda não sabia: Hippolyte Léon Denizard Rivail adotou o pseudônimo Allan Kardec, que foi o seu nome numa de suas encarnações passadas, como divisória entre sua missão de pedagogo renomado, na França, e a de Codificador da Nova Revelação ou Consolador Prometido por Jesus, que é o Espiritismo cristão.
Confesso minha verdade. Desde que assisti à palestra do Haroldo, distinto juiz e tradutor da versão grega do Novo Testamento, além de profundo conhecedor e divulgador da obra de Kardec, não mais tive qualquer dúvida: estava diante da Verdade, que viria dissipar todas as nossas dúvidas e permanecer para sempre conosco, como cumprimento da promessa de Jesus Cristo, anotada por João.
Eis a promessa de Jesus, registrada no Evangelho desse seu bem-amado apóstolo nos versículos 15 e 16 do capítulo 14: “Se me amardes, guardareis os meus mandamentos. E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre”.
Estava à porta do Espiritismo; a conferência de sexta-feira abriu-me a Sala da Verdade. Ante o que já havia lido e o que agora via e ouvia, não tive mais qualquer dúvida: converti-me, de toda a minha alma...
Terminada a exposição, entrei na fila do passe. Os fluidos recebidos por mim abriram ainda mais minha mente e, “de repente, não mais que de repente”, como diria o poetinha Vinícius de Moraes, percebi que
“Eu não tinha este rosto de hoje, /assim calmo, assim triste, assim magro, /nem estes olhos tão vazios, /nem o lábio amargo”. Mas essa é a primeira estrofe do poema de Cecília Meireles, intitulado Retrato, e, após identificar-me com essa descrição, percebi que eu já não era mais Machado de Assis e, sim, o conhecido escritor inglês Laurence Sterne, de quem, agora, copiava o modo galhofeiro de ironizar...
Que eu me lembre, já tive 1857 encarnações, a penúltima foi a desse inglês...
Sim, porque, como Sterne, estive “[...] firmemente persuadido de que cada vez que um homem sorri — mas, mais ainda, quando ele ri —  isso acrescenta algo a esse Fragmento de Vida”.[1]
Sorrindo, olhei para um espelho, a ver se me via, e nada vi; estava totalmente espiritual. Foi quando o Espírito Zêus Wantuil surgiu e recomendou-me, livro em mãos: “Lê a obra intitulada As mesas girantes e o espiritismo, publicada pela FEB.”  
Eu estava diante do próprio autor desse livro exemplar, ou desse exemplar de livro, o que dá no mesmo.
Despertei do sonambulismo com o passista alertando-me: “Não digas a ninguém o que viste e ouviste até que tuas convicções se tornem inabaláveis”.
Fui para casa, abri O Evangelho segundo o Espiritismo e li, juro por Allan Kardec que tudo o que acabo de narrar é verdade; li que “Fé inabalável só o é a que pode encarar a razão em todas as épocas da humanidade”. Não tive dúvida, fui à livraria da FEB, na Av. L2 Norte, em Brasília, e comprei o livro.
Não se esqueça, leitor, de que agora sou Espírito e, como tal, tempo e espaço não mais são barreiras para mim...  
Amigo leitor, eu vi, eu ouvi, eu senti. Acredite em mim... por Allan Kardec... pelo Espírito da Verdade. Pelo amor de Deus! Outra coisa: não despreze minha obra só porque me tornei espírita, mas ao contrário, leia a extraordinária literatura que, futuramente, os médiuns Zilda Gama, Chico Xavier, Yvonne Pereira e Divaldo Franco psicografarão e... “Não extingais o espírito. Não desprezeis as profecias. Examinai tudo, retende o bem” (Paulo, 2 Tessalonicenses, 1;19 a 21).



[1] REGO, Enylton de Sá. O calundu e a panaceia: Machado de Assis, a sátira menipeia e a tradição luciânica. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1989, p. 81.


segunda-feira, 10 de abril de 2017



Em dia com o Machado 258 (jlo)


Sabe, Joteli, muitas vezes, imaginamos saber o que não sabemos. Por isso mesmo,   parafraseio novamente o que Hamlet, personagem shakespeariano, afirmou: Há  mais coisas no céu e na terra, Joteli, do que são sonhadas em sua filosofia.
Eu, quando encarnado no Brasil, fui crítico mordaz dos praticantes da Doutrina Espírita, embora soubesse diferenciar bem o que era Espiritismo de magia negra, cartomancia e outras manifestações “macabras” e supersticiosas. Basta que se leiam meus contos e romances.
Meu grande equívoco foi ironizar a Doutrina dos Espíritos em minhas crônicas, do que me penitencio agora. Desse modo, vou desconstruir cada uma de minhas doze crônicas com abordagem espírita, reescrevendo-as com a visão de Espírito imortal que todos somos e fazendo uma ponte entre o passado e o presente.
Brinquemos de faz de conta. Faz de conta que, em 16 de junho de 1878, após viagem, em espírito, ao futuro, rasguei essa crônica e a substituí por esta:
A ciência ufana-se de contar entre seus sábios a figura impoluta do magnetizador o Sr. Locatelli, homem probo e sábio que, após ter estudado, durante oito anos, as obras básicas publicadas pelo missionário do Cristo, Allan Kardec, fundou, na Rua do Espírito Santo, o Centro Espírita Delfos, em homenagem à cidade grega da antiguidade. Segundo fui informado, a ideia era homenagear a pitonisa do Templo de Delfos, consultada pelos sábios, a qual os aconselhara individualmente: “Homem, conhece-te a ti mesmo”, frase repetida pelo grande filósofo grego Sócrates, iniciador das verdades que o Espiritismo ressuscitou e ampliou.
Foram muitos os fenômenos mediúnicos de materialização, de pneumatografia e de voz direta observados, no Centro Espírita Delfos, por grande número de clérigos durante sua inauguração em São Cristóvão. Também, considerável número de renomados cientistas veio de longe para estudar os fenômenos. Estiveram presentes pesquisadores americanos, russos, italianos e até franceses, entre muitos outros renomados cientistas.
Tal foi a importância do evento, que o delegado local enviou para lá um efetivo policial considerável, com o objetivo de proteger dirigentes e público presente. Uma centúria de agentes da lei foi deslocada para o local, com o objetivo de garantir a segurança de todos. O local de inauguração, como não podia deixar de ser, foi o Maracanã.
Soube mesmo que o Fla-Flu previsto para  domingo, dia da inauguração do centro, foi transferido para uma quarta-feira. Os cariocas aplaudiram a iniciativa, pois afinal é muito mais importante “ganhar a nossa alma” do que vencer uma partida de futebol, ainda que esta seja decisiva, como o foi aquela, dias após.
O melhor de tudo é que, se a polícia os defende neste mundo, os bons Espíritos, enviados por Jesus, os protegem no outro. 
E, neste espaço, convido a leitora amiga e o amigo leitor para uma reflexão paulina que começa a ser mais bem entendida em nosso tempo e nos permite vislumbrar o espaço poético da realidade espiritual: “Semeia-se corpo animal, ressuscita-se corpo espiritual”.
E eu creio perfeitamente nisso, amigo Joteli. Deixemos falar e materializar-se os Espíritos, porque, se eles não o fizerem, até as pedras falarão.
...Se conosce la verità
la verità voi renderà liberi.  

segunda-feira, 3 de abril de 2017



Em dia com o Machado 257 (jlo)

— Meu caro Machado, gostei tanto da entrevista com Kardec que resolvi apelar-te para que tenhamos novo encontro com o Codificador do Espiritismo. Agora que te tornaste seu amigo, certamente ele não te negará novo encontro.
— Que desejas saber mais com ele, meu caro Joteli, que não esteja escrito nas Sagradas Escrituras, nas obras da Codificação, em Obras Póstumas e na Revista Espírita? Allan Kardec, no momento, segue Victor Hugo, reencarnado no Brasil, para dar continuidade àquela que, em sua modéstia, considera a Doutrina dos Espíritos. É verdade, mas o mérito de sistematização, análise racional, materialização escrita de forma simples, clara e coerente, além da divulgação teórica e prática, muito devem a Kardec. Continua consultando essas obras. Nelas terás resposta a qualquer dúvida de teu espírito sequioso de saber.
— Tudo isso é verdade, Bruxo, mas já que o Codificador não pode comparecer, que tal me responderes a alguns questionamentos?
— Joteli, Joteli... não te faças de desentendido. Há mais de quarenta anos tens sido iniciado na Doutrina Espírita...
— Que são quarenta e poucos anos, ante a Ciência do Infinito? Nada...
— Deixa de falsa modéstia, Jo, e vamos logo às tuas dúvidas. Também estou aprendendo, do lado de cá, mas igualmente junto de ti, aprendo um pouco dessa Doutrina maravilhosa.
— Então, transmita ao nosso curioso leitor, amigo Bruxo, algo do que tens sabido no Mundo dos Espíritos, sobre a evolução humana, tu que tanto a negaste em tuas crônicas.
— É verdade, Joteli. Penitencio-me disso. Aqui, descobri, nos arquivos da Escola da Sabedoria, que o Mundo foi feito por Ele, o Cristo de Deus (João, 1:3 “Todas as coisas foram feitas por Ele, e sem Ele nada do que foi feito se fez.”).
— Então, Jesus é o próprio Deus encarnado?
— Tu sabes que não, Joteli. Suas próprias palavras, registradas pelos evangelistas, mostram-nos claramente que Ele é o Espírito encarregado por Deus para condução dos homens terrenos. Lê o que João registrou: “E agora, Pai, glorifica-me com a glória que eu tinha, junto de Ti, antes que a Terra existisse” (João, 17:5).
— Gostarias de explicar, também, ao amigo leitor, o significado do penúltimo versículo do profeta Malaquias, cujo significado é “anjo de Deus”?
— Que diz ali, Joteli?
— “Eis que vos envio o profeta Elias, antes que venha o dia grande e terrível do Senhor.” (Malaquias, 4:5)
— Muito simples, João Batista, o Elias reencarnado, exortaria todos os judeus a seguirem Jesus, que já estava na Terra que Ele criou. E não te esqueças: Deus é nosso Pai, tanto quanto o é de Jesus. Mas, Joteli, vou contar-te uma coisa: enquanto estive na carne, rebelei-me contra certos rituais e dogmas da Igreja Católica. Por isso não aceitei a extrema unção de padre em meu leito de desencarnação. Outro  ritual, o da procissão, foi muito criticado por mim. Deste lado da vida, aprendi com Allan Kardec muita coisa que eu desprezara, deliberadamente, quando estive na matéria. Hoje compreendo melhor o Espiritismo, ainda tão ignorado no meio católico conservador e pelos evangélicos em geral.
— Vamos por parte, Bruxo, que tens contra o dogma da divindade de Jesus? não foi dito acima que Ele é o  criador da Terra?
— Da Terra, sim, do Universo, não. Ainda assim, sua criação segue o modelo de Lavoisier, transformar, condensar a matéria disseminada no espaço em forma de energia. Criador mesmo é Deus, nosso Pai e de Jesus que, assim como todos nós, foi criado “simples e sem saber”, mas que evoluiu “em linha reta”, isto é, foi dócil ao Pai desde o princípio. Jesus, o Cristo, por já ser puro antes de qualquer ser terreno, é tratado, nas Escrituras Sagradas, como o “Filho Unigênito” do Pai Eterno, nosso Deus e seu Deus, nosso Pai e seu Pai (João, 20:17). Precisas de algo mais claro do que está aqui?
— E os demais dogmas que não aceitaste e só agora o dizes a mim, teu amigo e admirador incondicional?
— Por ora, não falemos neles, mas certamente saberás o porquê de minha repulsa à imposição de tais absurdos, apenas compreensíveis em eras remotas do passado obscuro da Terra. Adeus!

— Até mais ver, amigo Bruxo do Cosme Velho.

  Quando o texto é escorreito (Irmão Jó)   Atento à escrita correta É o olho do revisor, Mas pôr tudo em linha certa É com o diagramador.   ...