Páginas

sexta-feira, 26 de maio de 2017

Em dia com o Machado 264 (jorge leite)

— Ah! o senhor é o Vicente Vítor? 
— Bem-humorado, Vicente, moço de 27 anos, disse-lhe que sim, era o próprio.
Estavam num sarau organizado pela viúva Camargo, em maio de 1884, e quem fizera a pergunta fora Sinhazinha Mota, menina de dez anos, admiradora de Vítor, pelas obras clássicas maravilhosas que este compunha.
Vicente sonhava compor música pop, embora houvesse herdado de seu pai o gosto pelos grandes clássicos: Bach, Beethoven, Chopin, Schumann, Mozart... O motivo era simples: as cantigas populares vendiam milhões de cópias, ao passo que as composições clássicas apenas eram apreciadas nas altas rodas sociais.
O produtor musical de suas obras, entretanto, bem como seus amigos e amigas, gostavam muito das composições de Vicente. Certo dia em que este compôs uma sonata, intitulou-a Viúva Camargo, nome da senhora de 28 anos com a qual sonhava casar-se e que era a linda e jovem mãe de Sinhazinha Mota. O editor, porém, discordou:
— Vicente, sua composição é sublime demais para que você não lhe dê o título de Ave Maria dos ricos de espírito.
Vicente Vítor não gostava de contrariar seu editor musical, que já lançara trinta de suas composições; por isso, sufocou sua paixão e concordou com ele. Somente impôs uma condição: que fosse gravada no disco uma dedicatória: “À Excelentíssima Senhora Marina Camargo”. Assim foi feito, e o disco alcançou enorme sucesso de público e a gratidão da viúva, que aceitou casar-se com Vítor, por quem também se apaixonou, seis meses depois.
Infelizmente, porém, a viúva era tísica e, no ano seguinte ao casamento, ou seja, em 1885, entregou sua alma a Deus.
A partir desse dia, Vicente Vítor deixou de compor os clássicos e resolveu voltar ao seu antigo sonho de produzir música pop. Entretanto, sentava-se ao piano, começava a escrever e... nada de música pop. Somente lhe ocorriam sons de chuva caindo, árias angelicais, réquiens e sonatas ao luar, entre outros acordes clássicos. O luto não o deixava, e seu produtor já o procurara, preocupado com sua falta de inspiração.
Numa manhã, ao sair de casa totalmente concentrado na ideia de produzir um grande sucesso musical country, seu mordomo perguntou-lhe se Vítor não desejaria levar o guarda-chuva, pois a natureza anunciava temporal.
Ouvindo isso, o festejado compositor clássico adentrou novamente a casa, sentou-se ao piano e compôs... mais uma música clássica. A última de sua vida.
Não me peça as cifras, amigo leitor, mas o título e a letra são estes:

Noite da Rainha

A tristeza arde no meu coração.
Morta! e o desespero arde no meu peito.
Morta! e o desespero arde no meu peito.
Não mais sentir você.
Marina!
Não mais ouvir seu sorriso.
Menina!
Não tem mais jeito.
Dor e saudade da morta querida.
Dor e saudade da morta querida.
Nunca mais ver minha mulher.
Oh, nunca mais!
Oh, nunca mais!
Jamais terei nos braços minha amada,
A musa inspiradora dos meus versos.
Oh, não se vá! fique mais um pouco.  
Oh, não se vá! não me deixe louco.
Não me abandone para sempre!
Não me deixe eternamente!
Mas eis que um vulto se aproxima,
É Marina! É Marina!
Abre seus braços e me chama:
Oh, meu amigo!
Oh, vem comigo!
Era noite,
Noite da rainha!

Foi um sucesso de venda. Nada menos de quinhentas cópias... Uma delas foi colocada no túmulo do casal que, conforme seu desejo, fora sepultado junto.


quarta-feira, 17 de maio de 2017



EM DIA COM O MACHADO 263 (JLO)

Reendereçamento da crônica de 29 de agosto de 1889 (Gazeta de Notícias).

Hão de fazer-me justiça, ainda, meus mais críticos leitores. Pois não é que, após atravessar as águas do Letes, virei feiticeiro? Aí embaixo, chamavam-me bruxo; aqui em cima, denominam-me feiticeiro. Durma-se com isso!
Agora, vou relatar-vos o que vi, do lado de cá, cuja responsabilidade por minha transformação espiritual foi fundamental. Vi o mago Merlin em frente à minha casa, colocando, num caldeirão negro, cheio de uma poção mágica enfumaçada, seis pés de galinha, seis asas de morcegos, sete rabos de arraia etc.
O conteúdo do caldeirão produzia várias bolhas, que subiam ao céu até desaparecerem. Uma delas estourou sobre minha cabeça, quando Merlin profetizou: Não és mais bruxo e, sim, feiticeiro. E o feitiço que fizeres somente uma pessoa poderá desfazê-lo: tu mesmo.
Fiquei intrigado com essa revelação e perguntei-lhe qual era o motivo de agora eu ser tido como feiticeiro, e não como bruxo. “Então não sabes a diferença entre um e outro? Pois revelar-te-ei agora: o bruxo é como eu, um mago capaz de fazer bruxarias. Atribuem-lhe poderes sobrenaturais, por desconhecimento das leis naturais da natureza; entretanto, tudo o que ele faz é um exercício de alquimia, ou seja, manipulação dos elementos químicos para produzir efeitos especiais. Já o feiticeiro faz feitiço, que é considerado coisa do diabo, mas não no teu caso. Teu feitiço é para o bem”.
Foi então que vi passar pelas minhas retinas tudo o que venho relatando-vos, leitor amigo, em 263 crônicas. E lembrei-me de ter dito alhures que o curandeirismo foi a célula da medicina. Tudo começou com as ervas, depois vieram os unguentos, os chás, as infusões e o emplasto Brás Cubas. Até que apareceram o dó-maior, o dó-menor, o ré-médio, o médico e a droga alopática. Tudo isso em nome da cura. Portanto, quem foi que disse que o curandeiro deve ser punido? Ele é pioneiro na cura das doenças. É o pai de Hipócrates e da sã medicina.
Dessa primeira conclusão decorre outra, a de que o Espiritismo é o santo remédio para um grande mal da humanidade chamado materialismo, essa fábrica de idiotas, de loucos inconsequentes... Não pode subsistir. Caso isso ocorra, cada alienado desses será capaz de causar prejuízo a milhões de cidadãos, antes de morrer e deixar no pó tesouros incalculáveis, que para ele não terão passado de alucinação e débito incalculável.
Felizmente, no meu caso, quem preparou a poção que me transformou foi Merlin, o bom mago, cujos poderes mágicos são voltados para o bem e o esclarecimento da humanidade com a sã profecia espírita.
O Espiritismo, amigo leitor, vem renovar os apelos de Jesus à humanidade: “Sede perfeitos, como vosso Pai o é”; “Amai o vosso próximo, fazendo-lhe tudo aquilo que desejais que ele vos faça”.
Só o amor permanece pela eternidade afora, o mais não passa de loucura e ignorância. Desvios da Lei Divina, que, por amor, nos fará retornar, pela dor, ao caminho do bem.
Por fim, o alerta máximo: “De que vale ao homem conquistar o mundo inteiro, se perder a sua alma?” Pensai nisso, leitor, e estudai a proposta definitiva dos céus à humanidade, cuja revelação foi feita por aqueles que consideráveis mortos.
E amai-vos, com pureza total, com respeito de irmãos, com amor ao bem e ao exercício da caridade, quando percebereis que a matéria grosseira que tanto perseguis se esvai no ar como aquela bolha que estourou em minha cabeça.
Só o Espírito permanece, pois é eterno!





quarta-feira, 10 de maio de 2017



EM DIA COM O MACHADO 262 (jlo)


Reendereçamento da crônica machadiana de 7 de junho de 1889 (Gazeta de Notícias)

Não aceito que me chamem de falso profeta; então, adianto-me na publicação do que ocorrerá, no Brasil, nos próximos meses: o sapo cururu continuará cantando e a vaca permanecerá no brejo.
Evoquei Nostradamus para uma entrevista sobre o futuro brasileiro (daqui do mundo espiritual também fazemos evocações) e ele me disse que, ou o Brasil acaba com o jeitinho, ou o jeitinho acaba com o Brasil. O que não pode, mesmo, continuar é esses para lamentares no comando da situação política do país. O povo precisa unir-se e dar um basta à corrupção endêmica nacional, que alcançou, ultimamente, níveis inimagináveis em qualquer republiqueta.
Bilhões foram pelo ralo da roubalheira crassa e institucionalizada nestas últimas duas décadas. Com o montante desviado, daria para resolver os problemas da educação, da saúde, da segurança, no Brasil que, assim, ingressaria na elite das nações mais desenvolvidas do mundo.
— E qual seria a causa principal de todo esse descalabro, Machado?
— Uma praga chamada materialismo. Acabemos com ela e tudo será resolvido. O materialista utiliza-se de todos os recursos que atraem as almas ingênuas para uma vida inconsequente.
— Então, que se deve fazer?
— Investir na educação do espírito, como um todo: corpo, mente e alma.
Nos cuidados com o corpo, mostrar à criança e ao jovem a importância de uma vida sadia, pela prática de esportes, cuidados higiênicos, boa alimentação e atividades intelecto-morais. No trato da mente, educá-los para uma vida intelectual e moral elevada, buscando o apoio de uma fé que lhes satisfaça a razão e o coração. No zelo da alma, fornecer-lhes todos os recursos para o conhecimento de si, a fim de perceber o outro e desenvolver o gosto pelo bem-estar do próximo, base para o próprio bem. Valorizar o trabalho, como ocorre em países como a Dinamarca, nivelar os salários e acabar com as mordomias de agentes e servidores públicos...
— E que pode o Espiritismo fazer para contribuir com isso?
— Faço minhas as palavras de Allan Kardec: “[...] uma nação iniciada no Espiritismo tornar-se-á a mais admirável e a mais feliz das nações” (Apud FRIGÉRI, Reformador, maio 2017).
— E que ganhamos com o estudo do Espiritismo, amigo Machado?
— Meu caro Joteli, repetindo o Codificador, “[...] quem se der ao trabalho de aprofundar a questão do Espiritismo encontra nele uma satisfação moral tão grande, a solução de tantos problemas que inutilmente havia pedido às teorias vulgares; o futuro se desdobra à sua frente de maneira tão clara, tão precisa e tão lógica, que a si mesmo confessa a impossibilidade de as coisas realmente não se passarem assim [...] (op. cit.).
— E como podemos divulgá-lo melhor, Machado, uma vez que o Espiritismo é a grande mensagem do Cristo para regeneração da humanidade e extinção do mal na Terra?
— Proporcionando a todos o “livre-exame”, mas também pelos efeitos elevados sobre nossa alma que demonstrarmos a todos que nos observam. Espiritismo prático é a essência de sua propaganda. Por isso, adotou a máxima: “Fora da caridade, não há salvação” em sua bandeira. E, finalizando, com as palavras de Kardec, “[...] sua propagada se faz dizendo: vede os prós e os contras; julgai o que melhor satisfaz o vosso julgamento, o que corresponde melhor às vossas esperanças e aspirações, o que mais vos toca o coração, e decidi-vos com conhecimento de causa” (op. cit.).
Conclui Kardec que, “[...] Bem compreendido, o Espiritismo é, para a vida da alma, o que o trabalho material é para a vida do corpo. Ocupai-vos dele com esse objetivo e ficai certos de que quando tiverdes feito, para o vosso melhoramento moral, a metade do que fazeis para melhorar a vossa existência material, tereis feito a Humanidade dar um grande passo (id.).
— Machado, se o sapo cururu e os seus cúmplices houvessem tido uma educação intelecto-moral, como a proposta pela Doutrina Espírita, ou eles mudariam de profissão ou mudariam o Brasil...
— ... O mundo.

segunda-feira, 1 de maio de 2017



Em dia com o Machado 261 (jlo) – 19  de julho de 1888 (Gazeta de Notícias)

Acaba de ser dado um golpe de mestre pelos espíritas brasileiros. Apareceu no Rio de Janeiro um pesquisador de nomeada que estudou a fundo as manifestações do paranormal escocês  Dunglas Home. Os fenômenos de efeitos físicos e mediúnicos desse cidadão escocês foram amplamente documentados por Adilton Pugliese em sua obra intitulada Daniel Dunglas Home: o médium voador, publicada pela EBM Editora, em 2013.
Eu dizia, em 1888, que outro médium renomado estivera na FEB, Rio de Janeiro, a qual “não achou que o homem valesse a fama”. Referi-me ao Dr. Slade. Vá a outras fontes, leitor amigo, saiba separar, com a ajuda de pesquisadores sérios, o joio do trigo. Diversos cientistas, filósofos e beletristas responsáveis, ao longo dos séculos, têm mudado sua visão materialista pela espiritualista e, em especial, espírita.
Um deles foi Viriato Correa, renomado escritor, em sua época, membro da Academia Maranhense de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico do Rio de Janeiro que, em 1938, foi eleito imortal pela Academia Brasileira de Letras. Viriato faleceu em 1967, em avançada idade (84 anos).
Sua conferência, feita em 1925, foi publicada em artigo da revista Reformador, da Federação Espírita Brasileira, em três longos textos, cujo início se deu em setembro de 1970 e foi concluído em novembro desse ano. Tal é a riqueza de informações e beleza literária neles existentes que vale a pena comentar alguns dos seus pontos.
O douto conferencista iniciou narrando a fábula do coelho que vivia na toca e, sem jamais ter saído dali, foi nomeado rei. No final da história, esclarece ao leitor que, no dia de sua saída da toca, pela primeira vez, o rei coelho ficou tão deslumbrado com o que viu cá fora que abdicou do trono e foi muito mais feliz do que antes. Pois agora podia desfrutar a liberdade e os tesouros da natureza.
Viriato compara sua existência atual com a desse coelho. Diz ter sido ateu até os 42 anos, quando fatos extraordinários aconteceram com ele e, após ter lido O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, passou a ter uma nova visão sobre a vida humana e sua imortalidade. Agora, sim, compreendia Deus em sua onipotência, bondade e misericórdia, “o Deus que perdoa e consola, que não tem decisões implacáveis, que não tem infernos para penas eternas”.
E arremata, logo abaixo: “Hoje considerando as coisas, meditando sobre o tempo que passou, é que vejo o que havia de ridículo e de caricato no materialismo que me encheu tão longo período de vida”. O Espiritismo consola, esclarece e cura nossas mazelas físicas e espirituais. É o que Viriato Correia demonstra em sua conferência, rica de casos engraçados e marcantes que o fizeram abandonar completamente a visão materialista da vida, a qual nada de bom nos proporciona no futuro. Substituiu-a pela noção espírita clara, obtida, não somente por ele, mas por todo o buscador sincero da verdade.
Há fraudes? Com certeza, como em tudo o que se liga às ações do ser humano. Mas se sairmos da periferia e aprofundarmos nossas pesquisas sobre o assunto, não somente pela leitura das obras de pesquisadores honestos, como também pela observação e experimentação, que caracterizam os procedimentos científicos da Doutrina Espírita, certamente, nossa fé  tornar-se-á inabalável, e a finalidade da vida será mais bem compreendida por todos nós: evoluir para a perfeição, que nos proporcionará a felicidade dos justos.

É então que nos vem à memória a pergunta de Allan Kardec: Qual destas duas doutrinas é melhor para nós, a materialista, que não nos dá qualquer perspectiva de sobrevivência após a morte, por nos assegurar o mergulho da alma no nada, após uma curtíssima existência no mundo; ou a espírita, que nos garante a sobrevivência após a morte física e a possibilidade de evolução e felicidade eterna? Eu fico com esta. E você, amigo leitor, qual delas escolhe?

  Salve (a) Botânica! (Irmão Jó) I Vem do grego  botane , a Botânica, Ramo setorial da Biologia Com significado, sim, de planta Que...