Em dia com o Machado 272 (Jó)
Esta eu ouvi do meu concunhado Carvalho. Apenas troquei os
nomes das personagens: Joaquim, também conhecido como Kincão, dono de uma mercearia que também vendia materiais de
obras, era amigo de Manuel, ou Mané,
homem de poucas letras, mas bem conceituado proprietário de um restaurante na
cidade de Barreiras, BA, onde ambos mantinham seus negócios e residiam.
Certo dia, em que faltara algo em seu comércio, Manuel
escreveu um bilhete a Joaquim, solicitando-lhe envio do produto em
escassez.
Ao ler o bilhete, Joaquim estranhou: — Ué, o Mané está reformando seu restaurante? Pensou.
Entretanto, como o pedido era para atendimento
urgente, chamou o motorista do caminhão de transporte da loja,
pediu-lhe para colocar, no carro, cinco sacos de cal, com trinta
quilos cada, e levá-los ao amigo rapidamente.
Uma hora depois, o próprio Manuel entrou nervoso no
comércio de Joaquim e perguntou-lhe:
— Kincão, por que
você não atendeu ao meu pedido e ainda me enviou cinco sacos de cal?
— Ora, Manuel, não foi o que você me pediu no bilhete?
— De jeito nenhum, pedi-lhe cinco sacos de sal e não de
cal.
— Pois então, releia o que você escreveu:
"Amigo Kincãu, mandi intregá nu meu restorante cinco
saco de cal".
Ao que o Mané
respondeu:
— Mas, amigo, só pur causu qui faltô uma cobrinha embaixo do “c” ocê num intendeu?
E "corrigiu" cal para "çal".
*
Consultando Machado sobre como escrever bem, ele disse-me
que, antes de mais nada, é preciso ler muito, os mais diversos gêneros
textuais: artigos, crônicas, contos, romances, piadas, comerciais, artes,
composições musicais, poemas, relatórios, resumos, resenhas, E-mails, WhatsApps...
— Que tal você sugerir-nos que fazer ou não em nossos
textos, amado guru? pedi-lhe.
Ele, então, disse-me que escrever e falar bem é abrir a
porta do sucesso. Entretanto, a fala é menos rigorosa do que a escrita, em
relação à norma padrão de qualquer idioma. Por isso, disse, ao escrever,
precisamos observar cinco requisitos básicos: clareza, concisão, coerência, correção
e originalidade. E passou-me estas dicas que, segundo ele, não
abordam tudo, mas o essencial numa redação:
A clareza é irmã da concisão. Não use palavras rebuscadas, utilize
frases curtas. Seja objetivo, evite adjetivação exagerada. Cada período deve
possuir apenas uma ideia central. Fuja da generalização no que escrever.
A coerência é irmã da lógica. É preciso haver nexo entre os
termos e frases do período escrito, sem o que podemos contradizer-nos. Para o nexo, é
necessário o uso correto dos conectivos: pronomes, conjunções, preposições,
numerais, artigos...
A correção gramatical requer considerável conhecimento linguístico
e também muita atenção no que se pensa e no que, de fato, está escrito. Para
isso, é preciso revisar diversas vezes o que escrever, antes de submeter seu texto a outro leitor, ou
então ter um bom revisor, como é seu amigo Astolfo...
Em textos que exigem o predomínio da norma culta, deve
evitar-se o uso de gírias, palavras estrangeiras ou vulgares. Caso seja
indispensável sua presença, elas devem ser destacadas; com itálico, no caso
de estrangeirismos, ou com aspas, nos demais casos.
Você pode redizer ou reescrever qualquer coisa, todavia o
modo como o faz é que estabelece a diferença. Isso é que eu chamo
originalidade.
Assim concluiu o Bruxo
do Cosme Velho: Por vezes, um pouco de ironia, na literatura, faz um bem
enorme...
E eu continuo lendo, escrevendo e aprendendo...
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