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terça-feira, 29 de agosto de 2017



Em dia com o Machado 278 (jó)



Talvez o leitor amigo estivesse estranhando minha ausência. Volto hoje com a postagem hebdomadária, prevenindo ao curioso crítico que nunca deixei de estar de butuca em cada letra destes devaneios desvairados e dúbios.
Retorno com uma notícia auspiciosa: não mais Um homem célebre (In: Várias histórias), mas centenas de ilustres mensageiros das artes, da ciência e da filosofia estão retornando à vida física. Além de Emmanuel, guia espiritual de Chico Xavier, estão reencarnando Léon Denis, Victor Hugo, Shakespeare, Charles Dickens, Eva Blavatsky, Ernesto Bozzano, Eça de Queirós, Antero de Quental, Camilo Castelo Branco, Tomás Antônio Gonzaga, Castro Alves, Gonçalves Dias, Augusto dos Anjos, Cruz e Sousa, Francisca Júlia, Cecília Meireles e Maria Dolores. Essas mentes brilhantes, dentre outras grandes almas da humanidade, estão retornando à Terra, em novas vestes físicas, para o trabalho de espiritualização do mundo.
Com não há espaço suficiente para escrever sobre esses e outros monstros sagrados que retornam, sorteei alguns destes, sobre quem farei sumárias apresentações biográficas:
Antero de Quental (1842-1891). Poeta e filósofo português. É considerado o líder do Realismo, em sua pátria, e um dos grandes sonetistas de sua época. Esse bardo, do plano espiritual, publicou diversos sonetos, psicografados pelo médium português Fernando de Lacerda e pelos brasileiros Chico Xavier e Waldo Vieira. Em todos os seus poemas, apela para o respeito à vida física, para a certeza da existência de Deus e da vida espiritual eterna, com suas consequências boas ou más, conforme o uso que se faz do livre-arbítrio.
Augusto dos Anjos (1884-1914). Poeta brasileiro de Eu e Eu e outras poesias, compôs poemas de estilo único, não somente quando encarnado, mas também após “abotoar o paletó”, como dizia um amigo em relação a quem desceu à “terra dos pés juntos”. Seu pessimismo poético era alternado com poemas de belo teor filosófico, o que o fez ser comparado a Antero de Quental.
Fernando Pessoa (1888–1935). Esse português foi cognominado poeta-plural, em vista dos heterônimos que criou. Os mais conhecidos são Alberto Caeiro, Álvaro de Campos, Bernardo Soares e Ricardo Reis. Sua obra publicada postumamente é bem mais vasta que a editada em vida física. Lançou, durante a existência corporal, os seguintes livros: Em 1918: 35 Sonnets; em 1921: English Poems I, II e III; em 1934: Mensagem.
Maria Dolores (1900-1959). Brasileira, foi professora aos 16 anos e era considerada menina-prodígio. Extremamente bondosa, tinha por lema: amor, perdão e caridade. Adotou seis meninas e, ainda em vida, publicou uma obra intitulada Ciranda da vida, destinada a arrecadar dinheiro para fundar o Lar das Meninas sem Lar. O que veio a se concretizar, tamanho foi o sucesso comercial de seu livro. Participava do grupo As mensageiras do bem, que arrecadava e doava às famílias pobres alimentos, remédios e roupas. Sua produção mediúnica, psicografada por Chico Xavier, é de uma beleza sublime. Os temas são, em geral, os mesmos que adotara como norma de vida: caridade, perdão, fé, amor a Deus e ao próximo.
Deixei para o final a russa Helena Petrovna Blavatsky (1831-1891). Formada em Teosofia, é considerada a maior ocultista do século XIX. Escreveu ela, no jornal Spiritual Scientific:

A Magia é [...] conhecimento profundo das forças ocultas da Natureza e das leis que governam os mundos visíveis e invisíveis. O Espiritismo nas mãos de um adepto experiente torna-se Magia [...], nas mãos de um médium inexperiente, dá origem à Feitiçaria inconsciente [...].

Ainda bem que fui cognominado por Carlos Drummond de Bruxo, sinônimo de Mago. Entretanto, leal leitor, segundo Blavatsky, a Magia não se destina ao vulgo, por ser uma ciência esotérica profunda, reservada aos iniciados no Ocultismo.
O Espiritismo, ao contrário, veio esclarecer a todos o significado dos conceitos cristãos ocultos sob o véu do simbolismo, com a singeleza possível, mas, também, com a transcendentalidade de revelação divina. E, como Ciência do Infinito, ele requer de cada um de nós várias existências para ser mais bem compreendido. Isso porque sua destinação de permanecer eternamente conosco foi anunciada por Jesus, segundo João, 14:15-18.
Como somente a madureza de minha última existência na Terra, aliada à amizade de renomados espíritas, permitiu-me sair das trevas do preconceito para a luz da verdade, terei de voltar também, com toda essa plêiade de espíritos, para reescrever minha obra literária.
Por enquanto, vou ensaiando, parcamente, algo com meu limitado secretário; entretanto, prometo a todos os meus fiéis leitores dedicação total à causa maior desta arte sublime: cooperar com Jesus para o advento de um mundo de paz, de amor e de fé. 


domingo, 20 de agosto de 2017



Em dia com o Machado 277 (jó)

Neste sábado, 19 de agosto de 2017, estivemos novamente no Guillon Ribeiro, núcleo da Federação Espírita Brasileira situado em Santo Antônio do Descoberto, Goiás. Ali são desenvolvidas diversas atividades de assistência social no período matutino.
Um dos vários grupos é o nosso. Como de hábito, já em Goiás, com outros dois ou três voluntários, visitamos cinco famílias dentre as mais sofridas.
A primeira foi a do rapaz de trinta anos que, desde seu nascimento, jaz em seu grabato semicego, mudo e com movimento corporal apenas da cintura para cima. Cuida dele a devotada mãe. A segunda visita foi a senhora com um inchaço no rosto e outro nas pernas. Em seguida foi a vez da jovem paralítica de quatorze anos, também muda, alheia ao que se passa ao redor de sua cama. Também é cuidada, amorosamente, pela mãe e padrasto. A quarta família visitada foi a de dois idosos. Ele, esquelético e sempre adormecido, jaz encolhido, em seu catre, entre a vida e a morte, enrolado em fino cobertor. Acompanha-o a esposa, que se move em cadeira de rodas, triste e chorosa. Comove a cena, embora os cuidados prestados a ambos pela filha e genro. A última visita foi à casa do rapaz de trinta anos de idade, paralítico e em estado de coma há cerca de quinze anos. Seu pai, idoso, aposentou-se poucos anos atrás e sofre de hanseníase, mas está sempre alegre e bem-disposto, quando nos recebe.
Todas essas famílias têm benefícios do Núcleo Guillon Ribeiro, como cestas básicas, roupas e medicamentos, qual ocorre com dezenas de outras casas do local. Nossas visitas, aos sábados, são realizadas para levar-lhes mensagem, palavra amiga, preces e passes. Tudo isso com muito respeito à crença de todos eles e sem imposições.
Neste tempo de incredulidade e depressão, em que o número de suicídios, no mundo, tem atingido níveis epidêmicos, mais do que nunca, a benefício próprio, é preciso nosso engajamento em atividades sociais como essa.
Então, amigos, vocês que pensam ter problemas, saiam de casa, ao menos uma vez por semana e vejam que isso é nada, ante tanta dor ainda existente no mundo. Visitem os enfermos, deem-lhes uma palavra amiga, de esperança, de fé em Deus. Levem, também, pão e agasalho aos necessitados. Doem alegria, otimismo onde e a quem puderem, porque, conforme nos diz Jesus, o Reino de Deus não é de quem apenas promete e aconselha muito, muito menos dos indiferentes, mas dos que, socorrendo as misérias do mundo, passarão à sua direita, como consta no Evangelho:

Então, dirá o Rei aos que estiverem à sua direita:  Vinde, benditos do meu Pai, possuí por herança o Reino que vos está preparado desde a fundação do mundo; porque tive fome, e destes-me de comer; tive sede, e destes-me de beber; era estrangeiro, e hospedastes-me; estava nu, e vestistes-me; adoeci, e visitastes-me; estive na prisão, e me fostes ver [...]. (Mateus, 25:34 – 40)

— E que fazer para combater minha depressão?
— Faz o seguinte: procura a FEB, sábado, 7h da manhã, na quadra 603 da av. L2 Norte e diz que é voluntário para o trabalho em Santo Antônio do Descoberto. A saída é às 7h10 e o retorno, às 13h30. Com isso, e umas boas caminhadas, não há depressão que aguente.
Ah, você prefere colaborar aqui mesmo, no Plano Piloto. Então procure o Núcleo da FEB na 909 Norte, mesma entrada do Grupo Espírita Irmão Estêvão. Porque, como diz Allan Kardec, “Fora da caridade, não há salvação!”


segunda-feira, 14 de agosto de 2017



Em dia com o Machado 276 (jó)

Uma das mulheres mais extraordinárias que já houve na Terra é Santa Isabel. Ela viveu nos séculos XIII e XIV d.C. e sua história é narrada em Isabel de Aragão, a rainha médium, publicada pela editora O Clarim, de São Paulo. Essa obra foi psicografada por Valter Turini e ditada pelo espírito Monsenhor Eusébio Sintra. Recomendo aos teóricos literatos esse romance mediúnico com fulcro em fatos históricos registrados nos arquivos da Igreja Católica.
Vou comentar um pouco sobre a vida dessa rainha, que sempre afirmava ter recebido de Deus um trono para fazer caridade, mas o bom mesmo é ler o livro que citei acima.
Não relatarei todos os fatos extraordinários manifestados por Isabel, pois os céticos rir-se-ão disso, como ocorre com tudo aquilo que não presenciaram nem compreendem. Mas o fenômeno Isabel de Aragão está registrado nos arquivos da Santa Sé. Isabel era católica e passava grande parte de seu dia orando no oratório do castelo de São Jorge, em Portugal, onde a família real residia. Para a Igreja, seus dons mediúnicos eram milagres de uma santa.
A rainha era riquíssima e doava verdadeiras fortunas à Igreja e conventos no seu reinado. Casou-se com Dom Dinis, o rei poeta cujas composições literárias fazem parte do cancioneiro trovadoresco medieval.
No capítulo 23 do citado livro, Isabel diz a sua dama de honra, Ximena, que certas “situações [...] esbarram no sentido lógico das coisas”. Ao que esta lhe pergunta: “— O quê, por exemplo, senhora?”
A resposta foi a seguinte: “— As gritantes diferenças a ocorrerem entre as condições das criaturas neste mundo [...]. Por que uns poucos tão ricos, a deterem todas as facilidades deste mundo, enquanto outros nascem para penar, a chafurdarem na mais negra miséria?... Ou ainda, a inteligência brilhante, perante a idiotia mais consistente?”.
A rainha faz ainda algumas considerações, concluindo que um “pai justo e bom”, como Deus, não discrimina seus filhos, favorecendo mais a um do que a outro. Tal modo de pensar é perfeitamente coerente com a lucidez racional de Isabel, que conhecia e praticava os ensinamentos de Jesus como ninguém, em sua época.
No capítulo anterior aos nossos comentários acima, aconselhando Dom Dinis, que se encontrava em disputa pelo poder com seu filho Afonso, a rainha diz-lhe, com profunda sabedoria: “A prática do mal exaure-nos, mina-nos as forças!... A vivência do amor, entretanto, fortalece-nos!... Pena a humanidade ainda desconhecer tal procedimento!...”
Tendo o poder mediúnico da materialização, Isabel de Aragão estava sendo vigiada por Dom Dinis, que sempre fora condescendente com sua prática da caridade, mas, então idoso, proibira-a de sair pelas ruas do reino distribuindo pães e dinheiro, o que Isabel sempre fizera, mesmo porque ela era herdeira de grande fortuna. Desse modo, toda a caridade feita pela rainha baseava-se em seus próprios recursos.
Certo dia, pela manhã, quando não era tempo de rosas, Isabel, ao sair em socorro dos pobres, foi surpreendida pelo esposo, que lhe perguntou o que ela levava sobre o manto. Sua resposta foi de que se tratava de rosas, embora todas as suas damas de companhia soubessem que ela levava pães, às ocultas do rei, para distribuição aos pobres do local.
Dom Dinis então pede-lhe: “— Deixe-me vê-las”.
Para espanto do rei e de todos que a acompanhavam, Isabel abre seu manto e dali sai grande quantidade de rosas. Apenas rosas.
Pena que nossa sociedade, em especial, políticos, gestores públicos e privados só tardiamente percebam a atuação inexorável da lei de causa e efeito. E esta materializará, sob o manto  da consciência culpada, em vez de rosas, apenas espinhos.

segunda-feira, 7 de agosto de 2017

Não Podemos Ler Roustaing? 

Li parte dos livros de Roustaing. Do que li gostei, mas por não ter lido de forma completa, não tenho opinião formada sobre sua mensagem. Mas no momento o que mais me intriga em relação a Roustaing, é que estão procurando impedir aos espíritas o direito de conhecê-lo. Antes de comentar este fato, permita-me o leitor que eventualmente seja totalmente leigo em Roustaing, informar-lhe o que pesquisei sobre este espírita da época de Kardec.
Para que as pesquisas abaixo tenham o necessário contraponto, sugiro ao leitor ver, pela internet, comentários contra Roustaing no Blog oprimadodekardec.blogspot.com.br
Vejamos quem foi Roustaing: O francês Jean-Baptiste Roustaing foi espírita da primeira geração. Contemporâneo de Kardec, tornou-se espírita estudando as obras de Kardec e mantendo correspondência com o próprio.
Assim como Kardec teve por missão codificar as obras básicas, Roustaing também deu a sua contribuição ao Espiritismo. Coube a ele a missão de organizar, através de mensagens dos espíritos, um conjunto de livros denominados “Os Quatro Evangelhos”, que enfoca o lado religioso do Espiritismo. O conteúdo desses livros compreende comentários (dos espíritos, repito) sobre os textos dos quatro evangelistas. Portanto, são livros mediúnicos.
Sei muito pouco sobre Roustaing. Talvez, caro leitor, você questione: Por que se envolver então com o polêmico tema Roustaing?
Minha resposta: Entusiasmei-me em conhecê-lo quando soube que grandes oradores espíritas da atualidade têm nos “Os Quatro Evangelhos” importante fonte de pesquisa e estudo.
Fiquei também intrigado ao saber, de fontes fidedignas, que estes grandes e admirados oradores espíritas que lêem e estudam Roustaing, se vêem quase que obrigados a esconder tal fato. Pois, se assim o fizessem, seriam proibidos de proferir palestras em várias Instituições Espíritas!!! Todo este mistério levou a interessar-me e a pesquisar a vida de Roustaing. Com este objetivo, li dois livros que contam sua vida de espírita, mas ainda não li seus livros.
Soube que o seu livro foi editado pela FEB – Federação Espírita Brasileira. Soube ainda que há tempos existem dois grupos dentro da FEB que têm opiniões diametralmente opostas sobre a importância d’Os Quatro Evangelhos para o Espiritismo. Um grupo o coloca num importante patamar; outro o despreza. Ambos os grupos sabem que em nenhum momento Roustaing se viu como um ser mais importante do que Kardec para o movimento espírita. O que é um bom sinal. Aliás, Roustaing via Kardec como “o mestre”.
Esta rivalidade dentro da FEB fez com que a obra de Roustaing não tivesse a divulgação ou a exposição que os demais livros espíritas têm.
Antes de qualquer pré-julgamento do leitor, esclareço que valorizo a organização e o trabalho da FEB, pois, não obstante todos os percalços do caminho, geralmente à frente dessa honrada instituição estiveram e estão homens sérios que querem o bem de nossa Doutrina. Obviamente, como ocorre com a maioria das instituições, em sua trajetória esses líderes do passado e do presente acertaram muito e erraram muito. O que é próprio de quem muito faz.
Agora retorno ao tema inicial deste texto: estão procurando impedir os espíritas de conhecer Roustaing. A seguir explico o porquê desta minha conclusão.
Pelos motivos acima expostos interessei-me em ler e estudar Os Quatro Evangelhos. Como resido em São Paulo-SP, procurei-o nas principais livrarias espíritas desta capital. Não o encontrei. Não o encontrei nem mesmo na livraria da FEESP - Federação Espírita do Estado de São Paulo. E nesta citada livraria tive uma infeliz surpresa: O Os Quatro Evangelhos não está presente tão somente nas bancas da livraria, esta obra também não está presente no catálogo de livros da instituição!
Todos nós sabemos que uma coisa é faltar livros nas estantes; outra bem diferente é o livro não constar da lista do catálogo da livraria!
Será que está havendo censura prévia no movimento espírita? Será que as Instituições Espíritas representativas estão querendo nos dizer que livros podemos, ou não, ler?
Depois de procurar e não encontrar o citado livro, amigos informaram-me que (utilizando-me da expressão de um deles) “deram um chá de sumiço em Roustaing”. E me explicaram qual é um dos “fortes motivos” para esta ocorrência: Roustaing diz no seu livro que Jesus, quando na Terra, tinha corpo fluídico. Eu, que prefiro preocupar-me mais com a mensagem de Jesus do que circunstâncias outras, pergunto-me: E daí? Será que este erro, ou este acerto, pode fazer com que nos impeçam de ler uma obra que grandes espíritas reforçam sua importância e qualidade?
Será que podemos deixar de lado o que sempre aprendemos em nossa doutrina: Examinai tudo, retende o que é bom...
Por que não deixar para nós, leitores, a decisão que nos aprouver?
No consagrado livro “Brasil Coração do Mundo, Pátria do Evangelho”, editado pela FEB, psicografia de Chico Xavier, o espírito Humberto de Campos reforça a importância de Roustaing para o Espiritismo. Escreveu o espírito Humberto de Campos: “(...) Segundo os planos de trabalho do mundo invisível o grande missionário (Allan Kardec), no seu maravilhoso esforço de síntese, contaria com a cooperação de uma plêiade de auxiliares de sua obra, designados particularmente para coadjuvá-lo, nas individualidades de Jean-Baptiste Roustaing, que organizaria o trabalho da fé; de Léon Denis, que efetuaria o desdobramento filosófico; de Gabriel Delanne, que apresentaria a estrada científica e de Camile Flammarion, que abriria a cortina dos mundos, desenhando as maravilhas das paisagens celestes, cooperando assim na codificação kardequiana no Velho Mundo e dilatando-a com os necessários complementos.”
Se assim é, como diz o espírito Humberto de Campos, por que as instituições espíritas aceitam e valorizam as contribuições de Leon Denis, Gabriel Delanne e Camile Flammarion, mas colocam restrições justamente naquele que teve como foco o que mais precisamos para educar nossos sentimentos, que é a fé?
Kardec nos ensinou que o verdadeiro espírita é um Livre Pensador. Óbvio que com esta denominação, o mestre Kardec quis deixar para o futuro a mensagem de que não cabe às instituições espíritas ditar regras de conduta. E ponto final.
Mas continuemos...
Kardec leu o Os Quatro Evangelhos e, na Revista Espírita de junho de 1.866, fez o seguinte comentário: “Esta obra compreende a explicação e a interpretação dos Evangelhos, artigo por artigo, com a ajuda de comunicações ditadas pelos Espíritos. É um trabalho considerável e que tem, para os Espíritas, o mérito de não estar em nenhum ponto, em contradição com a doutrina ensinada pelo ‘O Livros dos Espíritos’ e ‘O Livro dos Médiuns”.
Com seu espírito crítico e racional, Kardec reforça a sintonia do conteúdo do livro com as obras da codificação. Em parte do seu texto, Kardec faz críticas em alguns pontos do livro mencionado. Por exemplo, Kardec critica o caso do corpo fluídico de Jesus, bem como a forma da elaboração do livro. Mas sem desmerecer a importância da obra, Kardec reforça: “Estas observações, subordinadas à sanção do futuro, em nada diminuem a importância da obra que, ao lado de coisas duvidosas, em nosso ponto de vista, encerra outras incontestavelmente boas e verdadeiras, e será consultada pelos Espíritas Sérios”.
Percebeu, caro leitor, que Kardec disse que Os Quatro Evangelhos traz informações “incontestavelmente boas e verdadeiras, e será consultada pelos Espíritas Sérios”. Por que então determinadas instituições espíritas estão estimulando estes espíritas sérios consultarem este livro às escondidas para, sensatamente, evitar o “caça as bruxas”?
Meus amigos, devemos em todas as áreas, e principalmente na área espírita que militamos, evitar críticas baseadas somente em evidências. Pois existem evidências que o tempo comprova não serem verdadeiras. Nossas críticas para serem válidas, precisam ser sustentadas no tripé:
“Fatos”;
Devem “visar o bem comum”;
E precisam ser de “caráter construtivo”.
A crítica que ora faço às instituições citadas, é baseada neste tripé. Isto é, é baseada em:
a) Fatos
A crítica que faço não tem por base “evidências”. Pois é fato de que no catalogo da livraria da FEESP - Federação Espírita do Estado de São Paulo não consta o citado livro de Roustaing; bem como é fato de que a FEB - Federação Espírita Brasileira cria impedimentos para que o citado livro seja conhecido pelos espíritas.
b) Visa o bem comum
Minha crítica é um incentivo ao conhecimento. Pois a proibição, ou quase proibição de uma obra, além de cercear a liberdade de opção, prejudica a tão necessária análise comparativa tão utilizada por Kardec (quando da elaboração das obras básicas). Pois, se lermos Roustaing, teremos como comparar sua mensagem com o conhecimento que o Espiritismo nos proporcionou.
c) Caráter construtivo
A pergunta que precisa ser respondida é: por que desconhecermos uma obra em que o próprio Kardec ressalta que traz informações “incontestavelmente boas e verdadeiras, e será consultada pelos Espíritas Sérios”?
A respeitável médium Ivone A. Pereira, logo nas primeiras páginas do seu livro Devassando o Invisível (Editora FEB), diz: “(...) se é dever de qualquer cidadão respeitar opiniões alheias, ao espírita, com muito maior razão, assistirá o dever de consideração à opinião do próximo, ainda quanto antagônica ao seu modo de pensar.” Em outras palavras, esta notável médium nos orienta e nos alerta sobre a importância da fraternidade entre nós espíritas. Que surjam as críticas construtivas, pois que este era também o interesse de Kardec, mas que de forma conjunta à critica, esteja o nosso respeito às essas duas instituições que são para o Brasil – e até para o mundo – importante base da divulgação espírita. Vê-se na FEB e na FEESP a presença de incansáveis trabalhadores, que visam o bem do próximo. Vê-se, nestas instituições, a presença de pessoas que dedicam suas vidas a esta causa maravilhosa que é o Espiritismo. Vê-se, nestas instituições, trabalho profícuo carregado de amor e de desinteresse pessoal. Não obstante as eventuais críticas que estas instituições recebem (o que é normal e próprio em entidades representativas), a grande questão é: Será que o Espiritismo teria conseguido chegar onde chegou sem a forte contribuição da FEB e de suas representantes estaduais? Certo, de que há muito, muito e muito por fazer. Mas as bases fortes que existem, devemo-las em grande parte a estas importantes instituições.
Um adendo: Eu disse logo acima: “onde (o Espiritismo) chegou”. Esta afirmação pode gerar o seguinte e natural questionamento: “Mas, o Espiritismo com tão poucos adeptos, já chegou a um bom lugar no panorama mundial das religiões?” Não. Sabemos que não. No entanto, comparando a “idade” do Espiritismo com as “idades” do Catolicismo e do Protestantismo, o caminho que percorremos é altamente significativo. Mas há muito por fazer ainda.
Mas, voltando ao nosso tema, faço aqui um apelo às livrarias espíritas, principalmente as dos órgãos representativos estaduais e federal: não nos impeçam de comprarmos Os Quatro Evangelhos. Deixe-nos conhecer e estudar Roustaing para que possamos tirar nossas próprias conclusões. Deixe-nos sermos “Espíritas-Livres Pensadores”, como preconizou Kardec.
Caro leitor, conforme está claro em toda a extensão deste texto, meu objetivo não é colocar-me contra ou a favor do conteúdo do livro Os Quatro Evangelhos. Pois, como poderia posicionar-me em relação a algo que não conheço?
Posiciono-me sim, sobre o direito que temos de conhecer um livro que Kardec (repito pela terceira vez), ao mesmo tempo em que criticou parcialmente o seu conteúdo, mencionou que a obra de Roustaing “(...) traz informações incontestavelmente boas e verdadeiras, e será consultada pelos Espíritas Sérios”.

Disponível em: http://www.uniaoespiritadepiracicaba.com.br/artigos/alkindar-de-oliveira/487-nao-podemos-ler-roustaing, Acesso em 07 ago 2017.

domingo, 6 de agosto de 2017

Em dia com o Machado 275 (jlo)

Faz uns cinco anos que estivemos em Salvador, onde residi quando solteiro, há mais de quatro décadas. Agora, ali estava com esposa, filha, genro e neto. Mais precisamente, no Largo do Pelourinho, na Cidade Alta, onde há diversas atrações turísticas, como museus, associações de capoeiristas e lojas de artesanato.
Estávamos de carro locado, e meu genro era o motorista. Tentamos estacionar numa vaga de estacionamento público, quando nos vimos cercados por “flanelinhas”. Um deles dirigiu-nos a palavra e cobrou antecipadamente dez reais para “vigiar” nosso carro, caso quiséssemos deixá-lo ali. O “preço” a ser pago antecipadamente era da hora, mas se o carro ficasse mais tempo, teríamos de pagar o equivalente.
Perguntamos-lhe se ele era funcionário da prefeitura. Ele disse que não. Nesse momento, um dos guardas do local aproximou-se e, indignados, expusemos-lhe a situação.
O agente de segurança também se demonstrou altamente perplexo e passou a ameaçar o “flanelinha”, caso ocorresse qualquer coisa com o nosso automóvel. O teatro armado na hora foi perfeito:
— Não incomode estes cidadãos. Eles vão deixar o carro aqui e vão aonde quiserem. Quando voltarem, se você os importunar vai se ver comigo.
— Sim, senhor... sim senhor! Eu só...
— Cale a boca!
— Mas...
— Fique calado! já lhe falei... Se houver qualquer reclamação dessas pessoas contra você essa será a primeira e a última. Em seguida, disse-nos:
— Podem ir ao seu passeio, cidadãos. Vocês não serão mais incomodados.
Ficamos até emocionados com a autoridade do guarda. Chegamos a julgá-la, mesmo, um tanto exagerada, mas saímos dali alegres e tranquilos. Fomos ao comércio local, compramos algumas lembranças, visitamos um museu, assistimos a um evento de capoeira e, uma hora depois, retornamos ao lugar do estacionamento.
Embora o dia ainda estivesse claro, pois ainda não dera dezoito horas, para nossa surpresa, não havia mais um único guarda ali, mas “flanelinhas” é que não faltavam. O que fora repreendido pelo guarda havia posto um carro na frente do nosso, impedindo-nos a saída. Ao avistar-nos, como se nada houvesse acontecido, cobrou pela hora em que o carro ali ficara e, só após o pagamento da “taxa”, empurrou o veículo que impedia a saída do nosso.
Também no Rio de Janeiro, há poucos anos, no centro da cidade, à noite, minha família e a de meu primo procurávamos um estacionamento público para deixar nosso carro, após o que jantaríamos em um dos restaurantes locais. Depois de muito procurar, encontramos uma vaga, mas assim que paramos ali, surgiu à nossa frente um “flanelinha” com a seguinte informação:
— Cinco “real”, doutor, para vigiar... E para não acontecer nada com o carro, mais cinco, na volta...
Não precisou dizer mais... saímos dali e fomos procurar outro local para estacionar, pois a insegurança já estava instalada. Nenhum guarda estava nas proximidades. Em Brasília, os “flanelinhas” nos agradecem qualquer real, ou mesmo centavos, que lhes damos; salvo rara exceção. Ainda bem! Por via das dúvidas, sempre procuro ter algumas notas de dois reais e moedinhas de um real no carro.
Aqui no Plano Piloto, onde resido, em Brasília, existem diversas passagens subterrâneas de pedestres. Em pleno centro da Capital, entretanto, tais passagens são verdadeiramente imundas e não oferecem nenhuma segurança para quem tem a coragem de por ali passar. Vândalos quebram pisos e as paredes outrora ladrilhados, bem como espalham todo o tipo de sujeira por lá. À noite, esses locais servem de abrigo a moradores de rua que nos brindam com pontas de cigarro, garrafas vazias de cachaça, dejetos fecais e urina.
Quanta diferença entre a preservação e segurança de nosso espaço turístico e o de países europeus, como Portugal, por exemplo. Estivemos em Lisboa e outras cidades portuguesas há poucos anos e ficamos admirados com a limpeza dos locais públicos. Raras eram as pichações nesses lugares, e a segurança nos assegurava o direito de ir e vir sem sobressaltos.
Um fato pitoresco, que observamos em Lisboa, ao passarmos por estacionamento em frente a pequena loja, foi o cartaz colocado ali: “Proibido estacionar. Obrigatório ler”.
É bem verdade que, em Paris, onde também já estivemos, a limpeza dos espaços públicos não era tão exemplar. O francês fuma muito e joga guimbas de cigarro para todo lado. Entretanto, havia boas condições de segurança, nas ruas francesas, à noite.
Enquanto isso, na capital do Brasil, país com uma das mais altas arrecadações de impostos do mundo, quase nada se faz para proporcionar aos turistas e cidadãos locais ao menos um pouco de segurança e prazer no desfrute de um bom restaurante à noite sem sobressaltos.





Vejam, que beleza!... quanta segurança! Trabalhos “artísticos” nas paredes... E assaltos, diversos assaltos! Nunca vi um guarda ali! E essa é apenas uma das diversas passagens subterrâneas construídas para não sermos atropelados ao tentar cruzar o eixinho, logo acima.


  Dia do Índio?  (Irmão Jó) Quando Cabral chegou neste país, quem dominava a terra eram tupis; Mas não havia autoridade aqui, predominava a ...