Em
dia com o Machado 292 (jÓ)
Amigo
Jó, vou contar-lhe uma história simples, que exemplifica como funciona a Lei
Divina de ação e reação. Você verá que essa Lei independe de qualquer
sentimento pessoal de revide a uma maldade que nos seja feita por alguém, seja
esse mal decorrente de sua ação ou omissão.
Já
lhe contei aqui o caso envolvendo dois amigos de juventude, quando ambos
moravam no Rio de Janeiro e um deles era soldado do Exército? Se não o fiz,
faço-o agora. Se já o fiz, faço-o novamente. E a culpa é de minha fraca
memória.
Etiel,
o militar, era um dos sete filhos órfãos de pai, de família muito humilde e,
ainda assim, solidária com outras pessoas também carentes economicamente. Por
esse motivo, e por não ter tido oportunidade de concluir seus estudos do antigo
segundo grau, atual ensino médio, após um tempo de trabalho no comércio, nosso
amigo foi recrutado...
Serviu
no Exército quando os militares, como bons guardiães da pátria, suspeitavam que
todo cidadão menos bitolado ou mais letrado que outros era tido por suspeito de
traição ao Brasil. Mas também o amor à pátria e a honestidade no trato com as
coisas públicas eram fundamentais. Tanto foi assim que um dos lemas da época
era: “Brasil, ame-o ou deixe-o”.
A
organização militar em que Etiel incorporou, já o dissemos aqui, era comandada
por um dos mais rígidos generais da época, cujo nome não vem ao caso citar. O
que lembramos era a função da polícia do Exército (PE) que, não tendo bandidos
assassinos de policiais, como atualmente, para prender, ufanava-se de
fiscalizar e encarcerar recrutas moradores de favelas, em sua maioria, por
coisas mínimas, como as que gosto de catar e citar em meus escritos.
Desse
modo, muitas vezes, sem mais nem menos, alguns dos cidadãos que não tinham
muitas opções profissionais, a não ser ingressar na carreira militar, acabavam
indo fazer uma “visita” ao Batalhão da Polícia do Exército (BPEx), como foi o
caso de meu amigo, quando seu cinto era sujado por alguns dos soldados
brincalhões desse batalhão. Ali ficava algumas horas em fila e, por vezes, em
posição de sentido, até que anotassem seu nome, identidade, unidade militar e
fosse liberado...
Enquanto um chora, outro
ri. É a lei do mundo, meu caro Joteli. É a perfeição do universo. Tudo chorando
seria monótono. Tudo rindo, seria cansativo; mas uma boa distribuição de
lágrimas e valsas, soluços e danças traz à alma do povo a variedade necessária e o
equilíbrio da vida está feito. Se a infração fosse
considerada grave, como a de agressão a um dos soldados da PE, o infrator
poderia ficar detido no batalhão e só seria liberado alguns dias depois, para
se apresentar ao comandante do seu quartel e ficar mais algum tempo preso...
Andar
na rua sem a farda no corpo, nem pensar. Diariamente, tinham de ir para seus
quartéis com o fardamento engomado e passado, além do cinto limpo com Kaol e os
sapatos engraxados, barba feita e cabelos cortados. Como era lindo o metal da
fivela do cinto, brilhava tanto, quando bem limpo, que até parecia ouro. Isso
demonstra quanto eram amados... Cinto limpo era a ilusão do ouro, cinto sujo
era a demonstração da falta de gratidão a tão paternais superiores
hierárquicos, que lhes concediam a ilusão de ser gente.
—
E aonde vai a lei de ação e reação
nessa história, meu caro Bruxo?
—
Aqui: Etiel gostava muito de uma jaqueta verde-oliva muito elegante, que fazia
parte do seu uniforme militar, com previsão de uso para dias frios. Como morava
perto da Igreja da Penha e, no início da ladeira que dava acesso a sua casa,
havia um parque de diversões, certo domingo, os dois amigos resolveram ir
passear ali. Julgando-se livre da vigilância dos soldados da PE, Etiel
resolveu, naquela noite fria, usar a jaqueta.
Após
passearem pelo parque, os amigos pararam em frente a um estande de tiro ao alvo
com espingarda de rolha e pressão de ar. De repente, dois soldados da PE, cada
um deles com quase dois metros de altura, abordaram Etiel. Então, um deles
perguntou ao meu franzino amigo, vinte centímetros mais baixo: “Quem lhe
autorizou usar essa jaqueta?”
Ao
ouvir isso, o amigo de Etiel saiu de fininho e desapareceu no meio dos
frequentadores do parque, deixando-o à mercê dos seus algozes que, se fossem
assaltantes, teriam feito o que quisessem com meu amigo.
Mas
foi só um susto...
Após
ser advertido, Etiel foi deixado à vontade pelos “policiais”, que lhe
“recomendaram” tirar a jaqueta e não mais a usar sem a farda.
Vinte
anos depois, Etiel foi visitado, em Brasília, por aquele quase irmão, acolhido
em seu lar durante longos anos... Agora comerciante bem-sucedido, o amigo de
Etiel foi com este ao Setor Comercial Sul (SCS), onde pretendia sacar dinheiro
para umas compras que faria no Paraguai. Chegando ao SCS, foi o amigo que pediu
a Etiel para aguardá-lo em frente a uma loja mais afastada, enquanto ele iria
ao banco...
Cerca
de meia hora depois, pálido como cera, o amigo chegou e disse-lhe que, ao sair
do banco, fora abordado por dois assaltantes.
Estes encostaram-no num muro e, enfiando as mãos em seus bolsos da calça, roubaram-lhe o
dinheiro que ali estava.
Penalizado,
Etiel ouviu o amigo explicar-lhe que, por sorte, a outra metade do dinheiro
sacado ficara no bolso traseiro da calça, e os
ladrões não o viram. Somente então meu amigo lembrou-se do ocorrido vinte anos
atrás, no parque da Penha, no Rio de Janeiro.
Assim,
fica a lição: “Tudo que desejares que outrem te faça, faze-lhe também”.
Quem
disse isso foi um carpinteiro que passou a vida fazendo o bem e, como
retribuição do povo, que curara de suas enfermidades físicas e morais, foi
crucificado, mas voltou do Além, dias depois, para
lhe dizer: “Os meus discípulos serão conhecidos por muito se amarem”.
Au
revoir!