Páginas

quarta-feira, 20 de dezembro de 2017



Em dia com o Machado 296 (JÓ)

            No meu tempo, eu fazia livremente da crítica política, econômica, filosófica e religiosa um terreno fértil para minhas obras literárias. Nessa época, éramos regidos pela monarquia, até 15 de novembro de 1889, quando ocorreu o primeiro golpe político no país, que instaurou a malfadada República. Golpe militar, que foi apoiado pela burguesia da época, inconformada com a abolição da escravidão no último país da América a extinguir o cativeiro oficialmente. Anos antes, já prevendo a catástrofe brasileira, eu dissera que pedia aos deuses que não permitissem a instauração de uma República no Brasil, pois esse seria “o dia da mais insolente aristocracia que o Sol jamais alumiou”.
            Dom Pedro II era conhecido mundialmente por seu amor às artes, à literatura e por seu espírito de tolerância à manifestação do pensamento e à proteção dos escravos. A ideia que ele defendia, junto com o barão de Mauá, era a de libertar e indenizar todos os ex-escravos. Na casa imperial, somente trabalhavam pessoas assalariadas. Ali não se admitia serviço escravo, e, nos saraus promovidos pela família imperial, era comum a presença de negros, como, por exemplo, a do renomado engenheiro André Rebouças.  
            D. Pedro II, desde 1848, tentara, no parlamento carioca, a abolição da escravatura, o que o indispôs com os poderosos cafeicultores e demais fazendeiros locais durante quatro décadas.  Os próprios filhos da princesa Isabel publicavam, em Petrópolis, um jornal abolicionista, mas os escravocratas poderosos não admitiam ficar sem sua servil mão de obra e combinaram com os burgueses e militares da época o “golpe republicano”.
            Eu dizia, no início, que nada do que escrevi foi censurado pela monarquia no século XIX. Também na atualidade, a liberdade de imprensa e de manifestação de pensamento é algo louvável. Tão digno de louvor, que hoje um ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) acusou seus pares de terem cometido um erro grave ao dar crédito à delação de Joesley Batista contra o presidente da República.
            Que absurdo! - dizia Sua Exª -, Joesley acusou sem provas... Joesley, empresário riquíssimo, usou um gravador de terceira categoria para gravar as inocentes palavras do presidente, que lhe solicitava pagamento de propinas. Fez o pedido ao empresário, na residência oficial da presidência, sem saber que estava sendo gravado. Isso lá é prova?!
            Aliás, acho isso uma temeridade... gravar a fala do dignitário maior da nação. Estúpido!
            É verdade! não há provas, disse outro ministro... a não ser a da filmagem de um ex-deputado, office boy do presidente, o qual, ao ser preso pela polícia federal, transportava uma mala com R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais) para pagamento de propina ao chefe do executivo federal. Que atrevimento! querer processar um presidente da República por causa de meio milhão de reais. Migalha...
            Dias depois, diversos empresários e um doleiro acusam nosso dignitário maior como chefe do bando corrupto que avassala a Nação. Absurdos! absurdos! ab... surdos! Tais energúmenos só podem estar querendo ser presos. Salafrários!
            Bem fez o presidente, quando nomeou para seu ministro-chefe da secretaria de governo um grande parlamentar, isento de toda e qualquer denúncia, a não ser a de improbidade administrativa, na administração pública, em seu estado, acrescida da fama de ser pelego dos detentores de alguns dos mais altos cargos administrativos do Executivo e do Legislativo: o ex-presidente da Câmara dos Deputados, e ex-governador de MS, ora presos, e o Excelentíssimo Senhor Presidente da República Michel Temer.
            Agora, o Ministro-Chefe da Secretaria de Governo acusa o ex-procurador-geral da República de mentiroso, por ter incriminado muitos parlamentares e o próprio chefe do Executivo. Bobagem, pura bobagem. Criminosos por quê? Teriam os nobres parlamentares e o presidente matado alguém? Não, não e não!
            Pensando bem, creio que me enganei a respeito da República. Afinal de contas, como diz um ex-presidente, réu em diversos processos, prender um governador por estar roubando dinheiro público é um crime. Provavelmente, culto como é, ele sabe que “res” significa coisa e pública, por se referir a povo, só pode ser de quem foi eleito pelo povo.
            Pena que a Justiça não entenda assim... Mas seus membros não foram eleitos democraticamente...
            Por outro lado, a imprensa brasileira só prega mentiras, a não ser quando apoia o ex-presidente. Mente, portanto, na acusação da doação de seu recebimento de um triplex, em virtude do cargo.  Calunia-o quando o acusa de ter ganho um sítio. Nada provam as delações de lhe terem sido doados milhões, cujos valores constam de suas contas bancárias.
            Pura herança. E ninguém pode ser acusado do recebimento de uma herança.
            E os grampos telefônicos comprometedores? Herança da ditadura militar...

            Que os deuses (creo aun en los dioses) me perdoem ter duvidado da República.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

  O jovem que labuta (Irmão Jó) — Aonde você vai, jovem soldado? — Vou defender a pátria e a liberdade. — E você, vai aonde, atarefado? — Vo...