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terça-feira, 31 de dezembro de 2019




EM DIA COM O MACHADO 400:
lembrando o óbolo da viúva no natal (jó)

         Em palestra proferida no último domingo de 2019, na Federação Espírita Brasileira, Geraldo Campetti Sobrinho referiu-se ao óbolo da viúva, observado por Jesus, que informou a seus discípulos que a doação dela foi maior do que a de todas as ricas ofertas depositadas no gazofilácio. Pois a viúva dera o que lhe faria falta, enquanto os demais doadores ofereciam o que lhes sobrava. E o que ela doara, informou Geraldo, seria mais ou menos vinte centavos de reais em nossos dias.
         O expositor lembrou-nos que mais vale um pouco doado com amor do que muita doação feita para receber o aplauso do mundo. Isso nos faz lembrar uma frase popular muito repetida por dona Cely, nossa mãezinha, que desencarnou há alguns anos na avançada idade de 89 anos: “O pouco com Deus é muito; o muito sem Deus é nada”.
         Quando auxiliamos alguém com amor, ainda que nossa ajuda o sacie apenas por um dia, o prazer que sentimos em ajudar é maior do que o de quem ajudamos.  Neste mês em que se comemora o Natal, até o fim de 2019, nossos sentimentos de amor e compaixão são estimulados pela mensagem de Jesus para que façamos sempre o bem.
Muitos comerciantes que estavam à beira da falência têm sido salvos por esse “renascer anual do Cristo” nos corações do povo brasileiro. A solidariedade está presente mesmo nos ateus, o que se explica pela euforia das festas de fim de ano. Há confraternizações nos escritórios, nas indústrias, nos clubes, nos lares, nas escolas, nas igrejas. E as vendas “explodem”...
Atire a primeira pedra quem nunca participou do amigo oculto, do bingo, da quermesse da igreja em que muitos só comparecem uma vez ao ano. Qual é a família que nunca levou o filhinho ou a filhinha ao shopping para ver Papai Noel chegando de helicóptero ou recebendo-os, sentado em seu trenó, com um abraço e o grito carinhoso: Ho, ho, ho!
Embora Jesus, o homenageado, seja lembrado mais pelas guloseimas e presentes, Ele sempre nos envia alguns dos seus elevados emissários para nos relembrar que seu Reino não é deste Mundo. E nada custa doar a quem anda descalço, ou quase nu, um par de calçados e vestuários esquecidos no guarda-roupas de nossa casa há mais de seis meses, como disse Geraldo.
Citarei duas dessas surpresas proporcionadas pelos emissários de Jesus neste mês de dezembro de 2019:
A primeira ocorreu no dia em que estávamos para jantar, eu e esposa, num dos self-services do Conjunto Nacional, shopping de Brasília. Aproximou-se de nós humilde moça, que nos rogou um pouco de comida, pois tinha fome. Nesse momento, Lourdes, minha mulher, que é vidente, observou, ao lado da jovem, um Espírito com aparência de idoso de barbas brancas, que disse à nossa companheira: Em nome de Jesus, alimente esta pobre irmã. Lourdes atendeu-o imediatamente, com imensa alegria. E, enquanto servia à jovem, dizia-lhe: Pede, minha filha, o que você desejar comer.
Quando terminou de encher o prato da moça com o que de melhor esta lhe pedira e pagar seu alimento, minha esposa disse ter sido aquele o melhor presente já recebido em sua vida. A pobre, ao se afastar, olhava agradecida para o prato cheio e para sua benfeitora. Ao lado da pedinte, o Espírito Bezerra de Menezes, o “Médico dos Pobres”, acenava para Lourdes com um beijo carinhoso, que ela jamais esquecerá.
O segundo fato é também muito comum nesta época de nossa forte sintonia com o plano espiritual. Um amigo disse-nos que voltava da academia onde costuma malhar e estava com dois reais no bolso. Em frente a sua casa, há uma banca de jornais que também vende gostoso cafezinho ao preço de um real.
Nosso amigo vinha pensando em tomar seu cafezinho ali, quando jovem senhora o abordou e lhe pediu um trocado. Ele, então, respondeu-lhe: Venha comigo até a banca, pois vou comprar um cafezinho e dou-lhe o troco.
Ela seguiu-o desconfiada. Ao chegarem à banca, nosso amigo pediu ao jornaleiro um cafezinho e entregou-lhe dois reais, esperando receber o troco. Para sua surpresa o dono da banca devolveu-lhe os dois reais e disse-lhe que daquela vez o café ficava por conta da casa. Meu amigo, que tem fama de nefelibata, por ser meio desligado do mundo real, respondeu-lhe, indicando a moça: Prometi dar-lhe o troco...
O jornaleiro pegou a nota de dois reais, foi até o caixa e, caindo em si, voltou com o dinheiro, pegou um pacote de biscoitos, entregou-o à pobre, junto com os dois reais, e lhe ofereceu um suco. Vendo isso, outro senhor, que antes conversava com ele, pediu à jovem para abrir a mão, que encheu de moedas. Ela olhou, agradecida, para seus três benfeitores e pediu ao Sr. Marcelo que substituísse o suco pelo cafezinho.
Como lembrou Jesus, não é preciso que doemos muito com ostentação. E o ditado popular confirma: “Quem dá aos pobres empresta a Deus”. Isso é Natal!

sábado, 28 de dezembro de 2019

Continuação da tradução livre da terceira edição de L'Évangile selon le Espiritisme pelo Prof. Dr. Jorge Leite de Oliveira

7.3 Mistérios ocultos aos sábios e aos prudentes

"Em seguida, disse Jesus: Graças lhe dou, Pai, Senhor do Céu e da Terra, por ter escondido estas coisas aos sábios e prudentes, e as ter revelado aos simples e aos pequenos" (Mt, 11:25).

Pode parecer estranho que Jesus renda graças a Deus por haver revelado essas coisas aos simples e pequenos, que são os pobres de espírito, ocultando-as aos sábios e prudentes, mais aptos, aparentemente, a compreendê-las. É que devemos entender pelos primeiros os humildes, os que se humilham perante Deus e não se consideram superiores a todo o mundo; e, pelos segundos, os orgulhosos, envaidecidos de seu saber mundano, que se julgam prudentes, porque negam e tratam  a Deus, de igual para igual, quando não o rejeitam. Isso porque, na Antiguidade, sábio era sinônimo de douto. Por issoDeus lhes deixa a pesquisa dos segredos da Terra, e revela os do Céu aos simples e aos humildes que se inclinam perante Ele.
Assim acontece, atualmente, com as grandes verdades reveladas pelo Espiritismo. Alguns incrédulos se admiram de que os Espíritos se esforcem tão pouco para os convencer. É que esses últimos se ocupam com os que buscam a luz com boa-fé e com humildade, de preferência aos que julgam possuir toda a luz e imaginam, talvez, que Deus deveria ficar muito feliz de os conduzir a Ele, provando-lhes Sua existência.
O poder de Deus se manifesta nas pequenas como nas maiores coisasEle não põe a luz sob o alqueire, mas a derrama em ondas  por toda a parte; de modo que somente os cegos  não a veem. Deus não lhes quer abrir os olhos à força, pois lhes apraz mantê-los fechados. Chegará sua vez, mas antes é preciso que sintam as angústias das trevas, e reconheçam Deus, e não o acaso, na mão que lhes fere o orgulho. Para vencer a incredulidade, Ele emprega os meios mais convincentes, conforme os indivíduos. Não cabe ao incrédulo Lhe prescrever o que deve fazer, ou Lhe dizer: Se quiser me convencer, deve proceder desse ou daquele modo, em tal ocasião e não noutra, porque essa ocasião é a que mais me convém.
Que os incrédulos não se espantem de que nem Deus, nem os Espíritos, que são os agentes da Sua Vontade, não se submetam às suas exigências. Perguntem a si mesmos o que diriam, se o último dos seus servos quisesse impor-se a eles. Deus impõe Suas condições, e não se submete às dos outros. Ouve com bondade os que o procuram humildemente, e não os que se julgam mais do que Ele.
Deus, dirão, não poderia tocá-los pessoalmente por meio de sinais  brilhantes, em presença dos quais o incrédulo mais endurecido teria de curvar-se? Sem dúvida que o poderia, mas, nesse caso, onde estaria o seu mérito? e ademais, de que serviria isso? Não se veem diariamente criaturas que recusam a evidência, chegando até mesmo a dizer: Ainda que eu visse, não acreditaria, pois sei que é impossível? Se esses se recusam a reconhecer a verdade, é porque seu espírito ainda não está maduro para compreendê-la, nem seu coração para a sentir. orgulho é a venda que obscurece sua visão. De que serve apresentar a luz a um cego? É preciso, pois, curar primeiro a causa do mal. É por isso que, Médico Hábil que é, Deus castiga primeiramente o orgulho. Não abandona Seus filhos perdidos, pois sabe que, cedo ou tarde, seus olhos abrir-se-ão; mas quer que o façam de sua própria vontade, e, então, vencidos pelos tormentos da incredulidade, atirar-se-ão por si mesmos em Seus braços, e, como o filho pródigo, pedir-Lhe-ão que os perdoe.


7.4 Instruções dos Espíritos
O orgulho e a humildade

7.4.1 Lacordaire
Constantine, 1863.

Que a paz do Senhor esteja com vocês, meus queridos amigos! Venho até vocês para encorajá-los a seguir o bom caminho.
Deus concedeu a missão de vir esclarecê-los aos pobres Espíritos que outrora habitaram a Terra. Bendito seja Ele pela graça que nos dá de podermos ajudar o adiantamento de vocês. Que o Espírito Santo me ilumine e me ajude a tornar minha palavra compreensível, e me conceda a graça de pô-la ao alcance de todos. Todos vocês, encarnados, que estão sob prova e procuram a luz, que a Vontade de Deus me ajude a fazê-la brilhar ante seus olhos!
A humildade é uma virtude muito esquecida, entre vocês. Os grandes exemplos que lhes foram dados são bem pouco seguidos. E, no entanto, sem humildade, vocês podem ser caridosos com seu próximo? Oh, não, porque esse sentimento nivela os homens, ele diz-lhes que são irmãos, que se devem ajudar mutuamente, e leva-os ao bem. Sem a humildade, vocês enfeitam-se de virtudes que não possuem, como se usassem um vestuário para ocultar as deformidades do seu corpo. Lembrem-se d'Aquele que nos salvou; lembrem-se da sua humildade que o fez tão grande e o elevou acima de todos os profetas.
O orgulho é o terrível adversário da humildade. Se o Cristo prometeu o Reino dos Céus aos mais pobres, é porque os grandes da Terra imaginam que os títulos e as riquezas são a recompensa de seus méritos, e que a sua essência é mais pura que a do pobre. Creem que essas coisas lhes são devidas, e por isso, quando Deus as retira, acusam-no de injustiça. Oh, zombaria e cegueira! Deus distingue vocês pelos corpos? O envoltório do pobre não é da mesma essência que o do rico? O Criador terá feito duas espécies de homens? Tudo aquilo que Deus faz é grande e sábio. Não lhe atribuam jamais as ideias concebidas por seus cérebros orgulhosos.
Oh, rico, enquanto você dorme em seus aposentos dourados, ao abrigo do frio, não sabe que milhares de irmãos seus, que valem tanto quanto você, jazem sobre a palha? O infeliz faminto não é seu igual? A essa palavra, bem sei que seu orgulho se revolta. Concordará em dar-lhe uma esmola; mas jamais, em apertar-lhe fraternalmente a mão. “O quê! dirá, eu nascido dum sangue nobre, grande da Terra, ser igual a esse miserável esfarrapado? Vã utopia de pretensos filósofos! Se fôssemos iguais, por que Deus o teria colocado tão baixo e a mim tão alto?” É verdade que suas roupas não são nada iguais, mas se ambos se despissem, qual a diferença que haveria entre vocês? A nobreza do sangue, dirá. Mas a Química ainda não encontrou diferenças entre o sangue do nobre e o do plebeu, entre o do senhor e do escravo. Quem lhe garante que você também não foi miserável e infeliz como ele? Que não tenha também pedido esmola? Que não a pedirá um dia a esse mesmo que hoje despreza? As riquezas são eternas? Elas não acabam com o corpo, invólucro perecível de seu Espírito? Oh, volte-se humildemente sobre si próprio! Lance enfim os olhos sobre a realidade das coisas desse mundo, sobre o que faz a grandeza e a humilhação no outro; lembre-se de que morte não o poupará mais do que aos outros; que seus títulos não o preservarão dela; que ela o pode ferir amanhã, hoje, dentro de uma hora; e se você ainda enterra-se  no seu orgulho, oh! quanto então, eu o lamento, pois será digno de piedade!
Orgulhosos! Que vocês foram, antes de serem nobres e poderosos? Talvez vocês fossem menores que o último de seus criados. Curvem, portanto, suas frontes altivas, que Deus pode rebaixar, no momento mesmo em que as elevam mais alto. Todos os homens são iguais na balança divina; as virtudes somente os distinguem aos olhos de Deus. Todos os Espíritos são da mesma essência, e todos os corpos foram feitos da mesma massa. Seus títulos e seus nomes em nada a modificam; eles ficam no túmulo; não são eles que dão a felicidade prometida aos eleitos; a caridade e a humildade são os seus títulos de nobreza.
Pobre criatura! Você é mãe, e seus filhos sofrem. Estão com frio. Têm fome. Você vai, curvada ao peso da sua cruz, humilhar-se para conseguir um pedaço de pão. Oh, eu me inclino diante de você! Como é nobre, santa e grande aos meus olhos! Espere e ore; a felicidade ainda não é deste mundo. Aos pobres oprimidos, que nele confiam, Deus concede o Reino dos Céus.
E você, jovem menina, pobre criança lançada ao trabalho, entregue às privações, por que esses tristes pensamentos? Por que chora? Que seus olhos se voltem, piedosos e serenos, para Deus; às aves do céu Ele dá o alimento. Confia nele, e Ele não a abandonará. O som das festas, dos prazeres mundanos, faz bater seu coração. Você queria também enfeitar de flores a fronte e misturar-se aos felizes da Terra. Diz que poderia, como as mulheres que vê passar, estouvadas e alegres, ser rica também. Oh, cale-se, criança! Se soubesse quantas lágrimas e dores sem conta se ocultam sob esses vestidos bordados, quantos suspiros se asfixiam sob o ruído dessa orquestra feliz, preferiria seu humilde retiro e sua pobreza. Conserve-se pura aos olhos de Deus, se não quer que seu anjo da guarda volte para Ele, escondendo o rosto sob as asas brancas, e a deixe com seus remorsos, sem guia, sem apoio, neste mundo, em que estaria perdida, esperando a punição no outro.
E todos vocês que sofrem as injustiças dos homens, sejam indulgentes com as faltas dos seus irmãos, lembrando que vocês mesmos não estão livres de culpas; isso é caridade, mas é também humildade. Se sofrerem calúnias, curvem a fronte diante da prova. Que lhes importam as calúnias do mundo? Se sua conduta é pura, Deus não lhes pode recompensar por isso? Suportar corajosamente as humilhações dos homens é ser humilde e reconhecer que somente Deus é grande e poderoso.
Oh, meu Deus, será preciso que o Cristo volte novamente à Terra, para ensinar aos homens as tuas leis, que eles esqueceram? Deverá Ele ainda expulsar os vendilhões do templo, que maculam tua casa, esse recinto de orações? E, quem sabe, oh, homens, se Deus lhes concedesse essa graça, se não o renegariam de novo, como outrora? Se não o acusariam de blasfemo, por vir abater o orgulho dos fariseus modernos? Talvez, mesmo, o fariam seguir de novo o caminho do Gólgota.
Quando Moisés subiu ao Monte Sinai, para receber os mandamentos da Lei de Deus, o povo de Israel, entregue a si mesmo abandonou o verdadeiro Deus. Homens e mulheres entregaram suas joias e seu ouro, para a fabricação de um ídolo que abandonaram. Homens civilizados, vocês fazem como eles. O Cristo lhes deixou sua doutrina, deu-lhes o exemplo de todas as virtudes, mas vocês abandonaram exemplos e preceitos. Cada um de vocês, carregando suas paixões, fabricou um deus de acordo com sua vontade; para uns, terrível e sanguinário; para outros, indiferente aos interesses do mundo. O deus que fizeram é ainda o bezerro de ouro, que cada qual adapta aos seus gostos e às suas ideias.
Despertem, meus irmãos, meus amigos! Que a voz dos Espíritos lhes toque os corações. Sejam generosos e caridosos, sem ostentação, isto é, façam o bem com humildade. Que cada um vá demolindo pouco a pouco os altares que foram elevados ao orgulho. Numa palavra: sejam verdadeiros cristãos, e atingirão o reino da verdade. Não duvidem mais da bondade de Deus, agora que Ele lhes envia tantas provas. Viemos preparar o caminho para o cumprimento das profecias.
Quando o Senhor lhes der uma manifestação mais esplendente da sua clemência, que o Enviado celeste já os encontre reunidos numa grande família; que seus corações, brandos e humildes, sejam dignos de receber a palavra divina que Ele lhes trará; que o Eleito não encontre em seu caminho senão as palmas dispostas pelo retorno de vocês ao bem, à caridade, à fraternidade; e então o seu mundo tornar-se-á um paraíso terrestre. Mas se permanecerem insensíveis à voz dos Espíritos, enviados para purificar e renovar sua sociedade civilizada, rica em ciência e, entretanto, tão pobre de bons sentimentos, ah! nada mais nos restará do que chorar e gemer pela sua sorte. Mas, não, assim não acontecerá. Voltem-se para Deus, seu Pai, e então todos nós, que trabalhamos para o cumprimento da Sua Vontade, entoaremos o cântico de agradecimento ao Senhor, por sua inesgotável bondade, e para glorifica-lo por todos os séculos dos séculos. Assim seja.

segunda-feira, 23 de dezembro de 2019




EM DIA COM O MACHADO 399:
A LEADADE E NÃO O PRAZER... (Jó)
www.jojorgeleite@gmail.com

         Há um ditado popular que diz mais ou menos o seguinte: “Você pode enganar uma pessoa a vida inteira, pode enganar algumas pessoas durante muito tempo, mas não pode enganar todo o mundo o tempo inteiro”. Outra frase, muito conhecida é a de que, em geral, a pessoa traída é a última a saber da traição. Não concordo muito com isso. O que ocorre é que, quando amamos muito alguém, não nos convencemos apenas com base em suspeitas ou atitudes um pouco levianas de nosso (a) parceiro (a), pois também necessitamos de sua tolerância. Afinal, não é fácil suportar uma infidelidade, por esta nos humilhar e causar tanta infelicidade.
         Embora se defendam muito os direitos femininos na atualidade, o que considero justo, muitas vezes são as mulheres que assediam sexualmente os homens. Não vai aqui qualquer julgamento. Apenas constatação. Por exemplo, em certas ocasiões, amigo meu, leal à esposa, que muito ama, foi acusado por outras mulheres de ser assexuado, por resistir ao seu assédio. O apelo genésico, neste mundo animalizado, é poderoso e, por vezes, difícil de resistir, como nos afirmou nosso genro, mestre em Biologia.
         Ao cristão, todavia, não é lícito fazer qualquer concessão ao adultério sexual (não vêm ao caso aqui outras definições de adultério), pois a finalidade de nossa passagem pela matéria é justamente, domar as más inclinações e nos transformarmos moralmente, como deduziu Allan Kardec. Mas a fornicação é tão grave que, muitas vezes, é punida com a morte, como já ocorria nos tempos antigos.
Precisamos combater a animalidade que ainda reside em nós, se cremos, de fato, na proposta de Jesus. Por isso, disseram-nos os Espíritos, e o Codificador do Espiritismo anotou, que pelo corpo participamos da natureza animal e pela alma possuímos a natureza espiritual (KARDEC, O livro dos espíritos (LE), q. 605).
         Quando colocamos o prazer acima das conveniências e faltamos com o respeito conosco mesmo, pois quem trai se trai, e também com quem estamos comprometidos, seja pelo matrimônio, seja pela parceria sexual e familiar, demonstramos não ter entendido o sexto Mandamento divino: “Não adulterarás”. Demonstramos, assim, não amar suficientemente a outra pessoa e também agimos hipocritamente, em relação à observação de Jesus: “[...] deixará o homem pai e mãe, e se unirá a sua mulher, e serão dois numa só carne [...]. Assim, não são mais dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus ajuntou não separe o homem” (Mateus, 19: 5, 6).
         Não é preciso lembrar às mulheres que a palavra genérica “homem” acima também se aplica a elas. E, salvo a situação de relação não consentida, qualquer atitude de entrega a outrem, seja a pessoa homem ou mulher, comprometidos com alguém, caracteriza adultério. E não cabe aqui a desculpa, muito comum nesta época de culto aos sentidos, de que uma ou outra relação sexual extramatrimonial não caracteriza infidelidade ao cônjuge ou parceiro (a).
         Retornamos à Terra para combater nossa animalidade, espiritualizando a matéria e não materializando animalescamente o Espírito. De pouco adianta sermos bons na oratória religiosa, distribuirmos benefícios materiais a diversas pessoas, orarmos pelos enfermos, criticarmos aqueles que não são fiéis a Deus e ao próximo, se, de nossa parte, não nos esforçarmos em ser melhores, em preservarmos nossa integridade moral, em não mentirmos à própria consciência, que é Deus em nós.
         O verdadeiro sentido da caridade já está expresso, há dois mil anos, por Paulo de Tarso, em I Coríntios, cap. 13:

Ainda que eu falasse a língua dos homens e dos anjos, e não tivesse caridade, seria como o metal que soa ou como o sino que tine.
2 E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse caridade, nada seria.
3 E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse caridade, nada disso me aproveitaria.
4 A caridade é sofredora, é benigna; a caridade não é invejosa; a caridade não trata com leviandade, não se ensoberbece.
5 Não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal.
6Não folga com a injustiça, mas folga com a verdade.
7 Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.

         Observe, quem nos lê, que um dos requisitos da caridade, de acordo com o apóstolo, é não tratar alguém com leviandade; outro é não se portar com indecência; e ainda outro, que fecha com “chave de ouro” essas frases, é não buscar os seus interesses.  Não suspeitar mal é não julgar alguém sem provas patentes de suas faltas, o que não significa fechar os olhos às evidências.
         Como o perdão e a humildade são inseparáveis da caridade, Paulo arremata, no versículo 8, que a pessoa caridosa “Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta”. Isso significa estar em perfeita sintonia com Deus, para não sucumbirmos, também, às tentações da animalidade, em especial nesta época de inversão de valores, com a valorização do prazer, que jamais esteve acima da lealdade. Prazer legítimo é o que se baseia no respeito ao nosso próximo mais próximo, ou seja, a nós mesmos, e a quem escolhemos para dividir a casa, o pão e o leito.
         Que Deus nos dê forças para perdoar e continuar amando e servindo aos que nos traem... E que continuemos resistindo ao mal até o fim, pois, como também recomenda o Apóstolo dos gentios, que parafraseamos agora: Não nos cansemos de fazer o bem, pois se não desfalecermos, a seu tempo colheremos os bons frutos de nossos esforços, combatendo em nós as más tendências e orando pelos fracos de espírito.
         O prazer real não é o do corpo perecível; é o do Espírito imortal, que se realiza na prática do bem incessante, que se traduz pela palavra caridade: “Benevolência para com todos, indulgência para as imperfeições dos outros, perdão das ofensas (LE, q. 886). Somente assim, atenderemos fielmente à recomendação do Cristo: “Brilhe a sua luz” (Mateus, 5: 16).
Isso, entretanto, começa pela lealdade...


sexta-feira, 20 de dezembro de 2019




Continuação da tradução livre da 3ª ed. francesa d’O Evangelho Segundo o Espiritismo. (Dr. Jorge leite de Oliveira)

Essas máximas são consequência do princípio de humildade, que Jesus não cessa de apresentar como condição essencial da felicidade prometida aos eleitos do Senhor, por estas palavras: "Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o Reino dos Céus". Ele toma uma criança como exemplo da simplicidade de coração e diz: "O maior no Reino dos Céus será todo aquele que se humilhar e se fizer pequeno como esta criança", ou seja, aquele que não tiver qualquer pretensão à superioridade ou à infalibilidade.
O mesmo pensamento fundamental se encontra nesta outra máxima: "Aquele que quiser ser o maior, seja o seu servidor", e ainda nesta: “Pois todo aquele que se exalta será humilhado; e todo aquele que se humilha será exaltado”.
O Espiritismo vem confirmar a teoria pelo exemplo, ao mostrar-nos que os grandes no mundo dos Espíritos são os que foram pequenos na Terra, e que frequentemente são bem pequenos os que aqui eram os maiores e os mais poderosos. É que os primeiros, ao morrerem, levaram consigo aquilo que unicamente constitui a verdadeira grandeza no céu, e que não se perde mais: as virtudes; enquanto os outros tiveram de deixar aquilo que os fazia grandes na Terra, e que não se pode levar: a fortuna, os títulos, a glória, o nome de nascimento. Não tendo outra coisa, chegam ao outro mundo desprovidos de tudo, como náufragos que tudo perderam, até as próprias roupas. Conservam apenas o orgulho, que torna a sua nova posição ainda mais humilhante, porque veem acima deles, resplandecentes de glória, aqueles que desprezaram na Terra.
O Espiritismo mostra-nos outra aplicação desse princípio nas encarnações sucessivas, quando aqueles que mais se elevaram numa existência, descem até o último lugar na existência seguinte, se se deixaram dominar pelo orgulho e ambição. Não procurem, pois, o primeiro lugar na Terra, nem queiram ficar acima dos outros se não quiserem ser obrigados a descer. Procurem, ao contrário, o mais humilde e o mais modesto, porque Deus saberá dar-lhes um lugar mais elevado no Céu, se o merecerem.

terça-feira, 17 de dezembro de 2019




EM DIA COM O MACHADO 398:
QUANDO AS MESAS FALAVAM (JÓ)

E, respondendo Ele, disse-lhes: Digo-vos que, se estes se calarem, as próprias pedras clamarão (Lucas, 19: 40).

    As palavras acima foram ditas por Jesus aos fariseus que lhe pediram repreendesse os discípulos do Senhor, quando este entrou triunfalmente em Jerusalém, e a multidão dos discípulos o saudou, perto da descida do monte das Oliveiras, e louvava a Deus, em alta voz, por todas as maravilhas que tinha visto.
       O Cristo também anunciou que todos os prodígios produzidos por Ele também poderiam ser realizados por nós, se tivéssemos fé. E, no capítulo 14 de João, o Mestre promete-nos o advento do Consolador, para ficar eternamente conosco.
      Era preciso algo que se contrapusesse ao incremento das ideias materialistas e seu cortejo de desgraças e negações. Então, desde 31 de outubro de 1848, as manifestações mediúnicas, que sempre existiram na humanidade, explodiram, por assim dizer, principalmente, na América e na Europa.
       Esses fenômenos despertaram a curiosidade de grande quantidade de homens de ciência. Um deles foi Robert Dale Owen, que, em sua obra Região em Litígio, narra-nos inúmeros fatos citados por pessoas idôneas ou observados pessoalmente por ele. Alguns deles referem-se às comunicações dos Espíritos por intermédio de pancadas ou elevações ao ar de mesas, em torno das quais se reuniam as pessoas.
       Eis alguns desses impressionantes fatos.
      O primeiro foi produzido na sala de jantar do Sr. Underhill, sua mulher, Kate Fox, Chambers e Dale Owen, cujos detalhes podem ser lidos na obra citada acima, traduzida e publicada pela Federação Espírita Brasileira:

Achando-se a mesa suspensa e a balança indicando o peso de 55 quilos, pedimos que diminuísse seu peso. Em poucos segundos, o braço da balança teve de ser diminuído, até indicar 45 quilos [...]. Então, pedimos que aumentasse o peso e este subiu a 58 e depois a 65 quilos! (OWEN, R. D. Região em Litígio. 5. ed. FEB, 2006, p. 331).

       O segundo realizou-se, sem contato físico de ninguém, no mesmo lugar e em nova data, com as mesmas pessoas, apenas com Harrison Gray Dyar, de New York, em substituição a Chambers, em local bastante iluminado. A mesa ergueu-se com o toque dos dedos de todos, mas, atendendo a pedidos, manteve-se suspensa no ar alguns segundos e depois pousou suavemente na sala. Em seguida, perguntado se ela poderia erguer-se sem o contato dos dedos das pessoas presentes, ela respondeu que sim e ergueu-se novamente por alguns segundos. Finalmente, pousou lentamente até tocar o assoalho com leveza (id., p. 333).
     Outros dois fenômenos ocorreram na residência de outra pessoa, que não conhecia o Espiritismo e nem acreditava nos fenômenos mediúnicos. Um dos filhos de B., amigo de Owen, chamado Carlos possuía “excelentes faculdades espirituais”. Num deles, a mesa, de pouco mais de nove quilos, ergueu-se de um lado para o outro. Depois, tornou-se tão pesada que era como se pesasse noventa quilos, para, em seguida, ficar tão leve como se tivesse a metade do seu peso, ou seja, 4,5 quilos. Finalmente, a mesa ergueu-se tão alto que mal podia ser tocada com a ponta dos dedos (op. cit., p. 335).
      Na segunda sessão, havia apenas três pessoas: Dale Owen, N. e o médium Carlos. Nessa sessão, a mesa tornou-se tão pesada que ninguém seria capaz de movê-la do lugar. Em seguida, a mesa elevou-se por três vezes. Nas duas primeiras elevações da mesa, podia-se tocá-la, ainda que com a ponta dos dedos. Na terceira elevação, ela já não podia ser alcançada e girou oito ou dez vezes no ar, antes de descer (id., p. 336).
    Tudo isso, e outros fenômenos de materializações de Espíritos e suas comunicações com as pessoas presentes, aconteceu para demonstrar à humanidade a realidade do mundo espiritual, por meio de observações e experimentações, métodos sugeridos por Kardec e utilizados pelos pesquisadores sérios. Daí surgiria, sob a coordenação do Espírito de Verdade, a Doutrina Espírita, que continua, em nossos dias, abrindo os olhos e ouvidos de quem tem “olhos para ver e ouvidos para ouvir”, como já nos advertira Jesus, nosso irmão maior, o Cristo de Deus! 



sexta-feira, 13 de dezembro de 2019




Continuação da tradução livre da 3ª ed. francesa d’O Evangelho Segundo o Espiritismo. Por: Dr. Jorge leite de Oliveira




7.2 Quem se exaltar  será humilhado

Nesse mesmo tempo, os discípulos aproximaram-se de Jesus e lhe perguntaram: Quem é o maior no Reino dos Céus? Jesus, tendo chamado um menino, o pôs no meio deles e lhes disse: — Digo-lhes, em verdade, que se não se converterem e fizerem como crianças, não entrarão no Reino dos Céus. Todo aquele, pois, que se humilhar e se fizer pequeno como esta criança, será o maior no Reino dos Céus. E o que receber em meu nome uma criança, tal como acabo de dizer, a mim é que recebe (Mateus, 18: 1-5).
Então, a mãe dos filhos de Zebedeu aproximou-se dele com seus dois filhos e o adorou, dando a entender que lhe desejava pedir alguma coisa. Ele lhe disse: — Que deseja? — Mande, disse ela, que meus dois filhos se assentem no seu Reino, um a sua direita e outro a sua esquerda. Mas Jesus lhe respondeu: Não sabe o que pede. Podem beber o cálice que eu hei de beber? Eles responderam-lhe: — Podemos. Ele lhes disse: — É certo que beberão o meu cálice; mas, pelo que toca a terem assento à minha direita ou à minha esquerda, não me cabe conceder-lhes, mas isso é para aqueles a quem meu Pai os têm preparado. Os outros dez apóstolos, ouvindo isso, indignaram-se contra os dois irmãos.  E Jesus chamou-os para perto de si e lhes disse: — Vocês sabem que os príncipes das nações as dominam e que os grandes os tratam com império. Não deve ser assim entre vocês; mas aquele que quiser ser o maior, esse seja o seu servidor; e o que dentre vocês quiser ser o primeiro, seja o seu escravo; assim como o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir, e para dar sua vida em redenção de muitos (Mateus, 20:20-28).
Jesus entrou num sábado em casa de um dos principais fariseus, para aí tomar a sua refeição. E os que estavam lá o observavam. Então, notando como os convidados escolhiam os primeiros assentos à mesa, propôs-lhes esta parábola: — Quando forem convidados a um casamento, não se assentem nos primeiros lugares, porque pode ser que esteja ali outra pessoa, mais autorizada que vocês, convidada pelo dono da casa, e aquele que o convidou venha a lhe dizer: Dê seu lugar a este; e você, envergonhado, vá buscar o último lugar. Mas, quando for convidado, vai tomar o último lugar, para que, quando vier o que o convidou, lhe diga: — Meu amigo, sente-se mais para cima. E então isso será motivo de glória diante daqueles que estarão à mesa com vocês; pois todo aquele que se exalta será humilhado; e todo aquele que se humilha será exaltado (Lucas, 14: 1, 7-11).

segunda-feira, 9 de dezembro de 2019




EM DIA COM O MACHADO 397:
NÃO BASTA SER HONESTO...

Jorge Leite de Oliveira (de Brasília)
Jojorgeleite@gmail.com



         Outro dia, li interessante texto de um articulista filosófico que me fez refletir na diferença entre honestidade e integridade. A primeira, segundo ele, está relacionada àquilo que fazemos quando somos observados ou seremos avaliados. A segunda é a que se manifesta intimamente, quanto nossa opção decorre da observância criteriosa daquilo que consideramos ético. Isso passa pela coerência entre pensar e fazer, mesmo quando estamos sós.

         A honestidade decorre de nossa escolha pelo que socialmente é considerado correto, mas com vistas a não sermos criticados ou penalizados por terceiros. Está ligada à personalidade, proveniente do latim “persona”: máscara. A integridade manifesta-se na coerência de nossos atos éticos, mesmo na ausência do julgamento alheio, sem qualquer expectativa de recompensa pelo que fazemos. É um acordo entre nós e Deus, atributo do espírito, cuja Lei está “escrita em nossa consciência”[1]. Para o Cristão, é a fidelidade à proposta do Cristo: “Sede perfeitos, como é Perfeito vosso Pai que está nos céus” (Mateus, 5:48. Destaquei). Relaciona-se à nossa individualidade.

         Para ser mais claro, nessa distinção, vou citar um caso contado por advogado amigo meu, com destacada atuação jurídica e política. Conversamos durante duas ou três horas, e uma das coisas que ele me narrou serve como motivo de reflexão ao presidente de uma gigantesca empresa pública chamada Santa Cruz, no Espírito Santo, cujo lema é: “Santa Cruz, acima de tudo; Espírito Santo, acima de todos”.

         Antes de assumir a direção da empresa, seu atual presidente, ora tratado por MB, era quase desconhecido agente público federal. Trabalhava num modesto gabinete de subsidiária de Santa Cruz e pouco produzia, pois não gozava de prestígio entre seus pares. Pessoa influente na empresa citada por meu preclaro amigo, que tratarei por H, propôs-lhe conversar com MB, para que este assumisse a direção da instituição, pois MB tinha pleno conhecimento de tudo o que nela ocorria, embora sem poderes para atuar legalmente contra seus dirigentes corruptos.

         Em síntese, moveu-se o mundo, para que MB saísse do anonimato e fosse eleito presidente da empresa, cuja produção de minério bruto está sendo dilapidada ao longo de décadas. Sua eleição foi um sucesso, pois milhares de famílias da empresa renovaram sua esperança em tempos melhores, com justiça social e próspera economia, além de expurgo dos maus dirigentes subalternos e funcionários corruptos.

Depois disso, meu amigo H., cuja esposa e filho são também da área jurídica, sabendo que dezenas de toneladas de NIÓBIO, minério MAIS VALIOSO DO QUE O OURO, há anos, são vendidas pela empresa a outros países ao preço de UM DÓLAR a TONELADA, foi ao gabinete do agora chefe da Santa Cruz para denunciar-lhe a monstruosa fraude e propor-lhe medida saneadora em benefício de sua empresa, cuja imensa reserva mineral vem sendo lesada por empresários inescrupulosos, que se tornaram bilionários, com base em lacuna de lei que permite classificar toda a sua rica produção simplesmente como minério.

Sua ideia, brilhante como sempre, era classificar e industrializar todos os minérios, antes que saíssem da empresa, o que multiplicaria enormemente seu preço, criaria milhares de empregos e evitaria a quebra futura da Santa Cruz. Para isso, medidas administrativas rígidas precisariam ser tomadas, além de proposta de correção das falhas da lei, com sua substituição por lei mais rigorosa.

Qual não foi a surpresa de H., quando MB lhe respondeu, quase gritando: “Você não é meu amigo. Quer que me matem?”    

         Humilhado, H. e sua família afastaram-se do pusilânime defensor da grande empresa, para nunca mais ali voltar. Agora, daqui a três anos, está pensando em apoiar alguém mais preparado para lidar com os corruptos da Santa Cruz.

         Conclusão, para administrar grandes empresas, não basta a máscara da honestidade, é preciso integridade moral, que também requer inteligência, coragem e coerência, além de fé verdadeira.

        





[1] KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos, questão 621.

sexta-feira, 6 de dezembro de 2019


Continuação da tradução livre da 3.ª edição francesa d’O Evangelho Segundo o Espiritismo




7 BEM-AVENTURADOS OS POBRES DE ESPÍRITO

O que se deve entender por pobres de espírito. Quem se elevar será rebaixado. Mistérios ocultos aos sábios e prudentes. Instruções dos Espíritos: O orgulho e a humildade. Missão do homem inteligente na Terra.

7.1 O que se deve entender por pobres de espírito

Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o Reino dos Céus (Mateus, 5:3).

A incredulidade se diverte com esta máxima: Bem-aventurados os pobres de espírito, como também zomba de muitas coisas que não compreende. Por pobres de espírito, Jesus não entende os tolos, mas os humildes, e diz que o Reino dos Céus é para estes e não para os orgulhosos.
Os homens de ciência e de espírito, segundo o mundo, fazem geralmente tão alta opinião de si mesmos e de sua superioridade, que consideram as coisas divinas como indignas de sua atenção. Seus olhares concentrados sobre si  mesmos não os podem elevar até Deus. Essa tendência de se acreditarem superiores a tudo leva-os muito frequentemente a negar o que, lhes sendo superior, possa rebaixá-los e a negar até mesmo a Divindade. Ou, se consentem em admiti-la, contestam um dos seus mais belos atributos: sua ação providencial sobre as coisas deste mundo, convencidos de que são suficientes para bem governá-lo. Tomando sua inteligência para medida da inteligência universal, e julgando-se aptos a tudo compreender, não podem admitir como possível aquilo que não compreendem. Quando se pronunciam sobre alguma coisa, seu julgamento é para eles inapelável.
Se não admitem o mundo invisível e uma potência extra-humana, não é que isso lhes esteja fora do alcance, mas porque seu orgulho se revolta à ideia de alguma coisa a que não possam se sobrepor, e que os faria descer do seu pedestal. Essa é a razão pela qual  só têm sorrisos de desdém por tudo o que não seja do mundo visível e tangível. Atribuem-se muito espírito e ciência para crerem em coisas que, segundo eles, são boas para os simples, tendo por pobres de espírito os que as levam a sério.
Entretanto, digam o que disserem, terão de entrar, como os outros, nesse mundo invisível que tanto ironizam. É lá que seus olhos serão abertos e reconhecerão seus erros. Mas Deus, que é justo, não pode receber da mesma forma aquele que desconheceu o seu poder e aquele que humildemente se submeteu às suas leis, nem aquinhoá-los por igual.
Ao dizer que o Reino dos Céus é para os simples, Jesus entende que ninguém será nele admitido sem a simplicidade de coração e a humildade de espírito; que o ignorante que possui essas qualidades será preferido ao sábio que acredita mais em si do que em Deus. Em todas as circunstâncias, Ele coloca a humildade entre as virtudes que nos aproximam de Deus, e o orgulho entre os vícios que d'Ele nos afastam. E isso por uma razão muito natural: a de ser a  humildade um ato de submissão a Deus, enquanto o orgulho é uma revolta contra Ele. Mais vale, portanto, para a felicidade futura do homem, ser pobre de espírito, no sentido mundano, e rico de qualidades morais.

Tradutor: Prof. Dr. Jorge leite de Oliveira



terça-feira, 3 de dezembro de 2019




EM DIA COM O MACHADO 396:
O JAQUE DA REFORMA (Jó)






   


Há três semanas, iniciou-se a reforma de nosso apartamento, em Brasília. No princípio, o trabalho era feito por três pessoas, além do mestre de obras, indicado pela arquiteta, que, para mau fado dela, é nossa vizinha do apartamento ao lado.
    O tempo passou e, de uma previsão inicial de conclusão da obra em trinta a quarenta dias, já estamos na quarta semana e a nova previsão é de, pelo menos, outras duas. Entretanto, não garanto que a obra fique pronta nesses 42 dias. A culpa é de um tal de Jaque: “Já que trocamos as duas portas da frente, vamos trocar as dos três quartos. Já que trocamos as dos quartos, por que não trocar as da cozinha e sala? Já que um dos quartos será o escritório do Jó, vamos trocar o piso do quarto...
    Desse modo, de “já que” em “já que” eu e minha querida esposa, estamos aproveitando bem esta reforma do apartamento, já que entramos, há alguns anos (eu mais que ela), na “melhor idade”. Não aceitamos menos que mudar tudo, já que esta é a última reforma que pretendemos fazer, antes de nos mudarmos para o campo dos pés juntos nos próximos trinta anos. Caso Matusalém interceda por nós, para que ainda vivamos tudo isso. Depois... como gosto não se discute, o Jaque volta à cena sob nova direção.
    Nesse ínterim, conhecemos duas histórias muito tristes, narradas pelo mestre de obras.
Um dos pedreiros que atuam na reforma é seu genro, jovem de 21 anos de idade, que foi “apadrinhado” pelo Mauro, o mestre de obras, há poucos anos, após tragédia familiar no lar do Rodrigo, seu genro, que se casou com uma das filhas do Mauro, chamada Alice.
    Dois dias atrás, Rodrigo faltou ao serviço, o que não costuma ocorrer. Mais tarde, Mauro veio ao que resta de nosso antigo apartamento e nos narrou, não uma, mas duas histórias muito tristes.
    A primeira é a de que a filhinha do jovem está hospitalizada e entubada, com grave problema respiratório. A criança, de pouco mais de um ano, é portadora da Síndrome de Down, para tristeza dos pais.
    A segunda é a de que Mauro, coração generoso, procura ajudar a família do genro há alguns anos, quando a mãe deste foi brutalmente assassinada, com 27 facadas, por seu ex-companheiro, bem mais velho que ela, inconformado com a separação.
    Um dos diálogos de Jesus com seus discípulos, narrado pelo Espírito Neio Lúcio, termina com a seguinte frase do Mestre Amado:

— O ódio pode atear muito incêndio de discórdia no mundo, mas nenhuma teoria de salvação será realmente valiosa sem o justo benefício aos espíritos que a maldade ou a rebelião desequilibraram. Para que o bem possa reinar entre os homens, há de ser uma realidade positiva no campo do mal, tanto quanto a luz há de surgir pura e viva, a fim de expulsar as trevas (LÚCIO, Neio (Espírito). Jesus no Lar. Psicografado por Chico Xavier. Cap. 15 O ministro sábio).

    O ensinamento do perdão, que não isenta o criminoso da expiação do seu crime, ante as Leis Divinas, está sempre presente nas mensagens dos Espíritos superiores contidas nas obras básicas da Doutrina Espírita, em especial n’O Evangelho Segundo o Espiritismo, como lemos abaixo:

[...] Deveis amar os infelizes, os criminosos, como criaturas de Deus, às quais o perdão e a misericórdia serão concedidos, se se arrependerem, como também a vós, pelas faltas que cometeis contra a sua Lei. Considerai que sois mais repreensíveis, mais culpados do que aqueles a quem recusardes perdão e comiseração, visto que, na maioria das vezes, eles não conhecem Deus como o conheceis, sendo-lhes pedido muito menos do que a vós (KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. XI. Caridade com os criminosos).

    Mais adiante, Elizabeth de França, Espírito de alta evolução, após pedir nosso socorro de oração ao criminoso, conclui:

Nunca digais de um criminoso: “É um miserável; deve-se expurgar a Terra de sua presença; a morte que lhe infligem é muito branda para um ser de tal espécie”. Não, não é assim que deveis falar. Observai o vosso modelo, Jesus. Que diria Ele, se visse esse infeliz junto de si? Lamentá-lo-ia; considerá-lo-ia como um doente bem digno de piedade; estender-lhe-ia a mão [...]. O arrependimento pode  tocar seu coração, se orardes com fé. É tanto vosso próximo, quanto o melhor dos homens; sua alma, transviada e revoltada, foi criada, como a vossa, para se aperfeiçoar; ajudai-o, pois, a sair do lamaçal e orai por ele (Op. cit., it. 15).

    Aprendemos, com os bons Espíritos, que o perdão recomendado por Jesus tem o grande mérito de nos livrar do ódio, que tanto mal nos faz, e das próprias emanações mentais negativas de quem nos prejudicou. Se, como vítimas, além disso, orarmos pelos nossos inimigos, nossa prece auxiliá-los-á a se arrependerem, que é o primeiro passo para a expiação de seu crime, ao qual se seguirá, de futuro, a imprescindível reparação. De nossa parte, estaremos livres de todo o mal, além de quites com a Justiça Divina de nossas dívidas passadas e presentes, conforme for o caso. Foi isso que Jesus quis dizer, quando nos ensinou: “Perdoai as nossas ofensas, assim como nós perdoamos aos nossos ofensores”.

quinta-feira, 28 de novembro de 2019





6.3 Instruções dos Espíritos 
Advento do Espírito de Verdade

6.3.1 Espírito de Verdade (Paris, 1860)

Venho, como outrora, entre os filhos desgarrados de Israel, trazer a verdade e dissipar as trevas. Escutem-me. O Espiritismo, como outrora minha palavra, deve lembrar os incrédulos que acima deles reina a verdade imutável: o Deus bom, o Deus grande, que faz germinar as plantas e que levanta as ondas. Revelei a Doutrina Divina; e, como um ceifeiro juntei em feixes o bem esparso pela Humanidade, e disse: "Venham a mim, todos os que sofrem!"

Mas os homens ingratos se desviaram do caminho reto e largo que conduz ao Reino de meu Pai, e se perderam nas ásperas sendas da impiedade. Meu Pai não quer aniquilar a raça humana. Ele quer que, se ajudando uns aos outros, mortos e vivos, ou seja, mortos segundo a carne, porque a morte não existe, vocês se socorram, e que, não mais a voz dos profetas e dos apóstolos, mas a voz dos que se foram faça-se ouvir:  orem e creiam! Porque a morte é a ressurreição, e a vida é a prova escolhida, durante a qual suas virtudes cultivadas devem crescer e desenvolver-se como o cedro.

Homens fracos, que se limitam às trevas de sua inteligência, não afastem a tocha que a Clemência Divina lhes coloca nas mãos, para clarear seu caminho e reconduzi-los, crianças perdidas, ao regaço de seu Pai.

Estou muito tomado de compaixão por suas misérias, por sua imensa fraqueza, para não estender a mão em socorro aos infelizes extraviados que, vendo o Céu, caem nos abismos do erro. Creiam, amem, meditem sobre as coisas que lhes são reveladas; não misturem o joio ao bom grão, as utopias com as verdades.

Espíritas! amem-se, eis o primeiro ensinamento; instruam-se, eis o segundo. Todas as verdades  encontram-se no Cristianismo; os erros que nele se enraizaram são de origem humana. E eis que, de além-túmulo, que acreditavam vazio, vozes lhes clamam: Irmãos! nada perece. Jesus Cristo é o vencedor do mal; sejam os vencedores da impiedade!

6.3.2 Espírito de Verdade (Paris, 1861)

Venho ensinar e consolar os pobres deserdados. Venho dizer-lhes que elevem sua resignação ao nível de suas provas; que chorem, porque a dor foi sagrada no Jardim das Oliveiras, mas que esperem, porque os anjos consoladores virão também enxugar suas lágrimas.

Trabalhadores, tracem seu sulco. Recomecem no dia seguinte a rude jornada da véspera. O trabalho de suas mãos fornece o pão terreno aos seus corpos, mas suas almas não estão esquecidas; e Eu, o Divino Jardineiro, as cultivo no silêncio dos seus pensamentos. Quando soar a hora do repouso, quando a trama escapar de suas mãos e seus olhos fecharem-se para a luz, sentirão que surge e germina em vocês minha preciosa semente. Nada se perde no Reino de Nosso Pai. Seus suores e suas misérias formam um tesouro, que os tornará ricos nas esferas superiores, onde a luz substitui as trevas, e onde o mais desnudo dentre vocês será talvez o mais resplandecente.

Em verdade lhes digo: os que carregam seus fardos e assistem seus irmãos são meus bem-amados. Instruam-se na preciosa Doutrina que dissipa o erro das revoltas e lhes ensina o objetivo sublime da prova humana. Como o vento varre a poeira, que o sopro dos Espíritos dissipe sua inveja dos ricos do mundo, que são frequentemente os mais miseráveis, porque suas provas são mais perigosas que as de vocês. Estou com vocês, e meu apóstolo lhes ensina. Bebam na fonte viva do amor e preparem-se, cativos da vida, para lançarem-se, um dia, livres e alegres, no seio d'Aquele que os criou fracos para os tornar perfeitos e deseja que modelem vocês mesmos sua dócil argila, para serem os artífices da sua imortalidade.

6.3.3 Espírito de Verdade (Bourdeaux, 1861)

          Sou o grande médico das almas, e venho trazer-lhes o remédio que os deve curar. Os débeis, os sofredores e os enfermos são meus filhos prediletos, e venho salvá-los. Venham, pois, a mim, todos os que sofrem e estão oprimidos, e serão aliviados e consolados. Não procurem além a força e a consolação, porque o mundo é impotente para dá-las. Deus dirige aos seus corações um apelo supremo, por meio do Espiritismo: escutem-no. Que a impiedade, a mentira, o erro, a incredulidade, sejam extirpados de suas almas doloridas. Esses são os monstros que sugam o mais puro do seu sangue e produzem-lhes chagas quase sempre mortais. Que no futuro, humildes e submissos ao Criador, pratiquem sua Lei Divina. Amem e orem. Sejam dóceis aos Espíritos do Senhor. Invoquem-no do fundo do coração. Então, Ele lhes enviará seu Filho bem-amado, para instruí-los e dizer-lhes estas boas palavras: Eis-me aqui; venho a vocês, porque me chamaram!

6.3.4 Espírito de Verdade (Le Havre, 1863)

Deus consola os humildes e dá força aos aflitos que a pedem. Seu Poder cobre a Terra, e por toda parte, ao lado de cada lágrima, põe o bálsamo que consola. O devotamento e a abnegação são uma prece contínua e encerram profundo ensinamento: a sabedoria humana reside nestas duas palavras. Possam todos os Espíritos sofredores compreender esta verdade, em vez de reclamar contra as dores, os sofrimentos morais, que são aqui na Terra o seu quinhão. Tomem, pois, por divisa, estas duas palavras: devotamento e abnegação, e serão fortes, porque eles resumem todos os deveres que lhes impõem a caridade e a humildade. O sentimento do dever cumprido dar-lhes-á a tranquilidade de espírito e a resignação. O coração bate melhor, a alma asserena-se, e o corpo já não sente desfalecimentos, porque o corpo sofre tanto mais, quanto mais profundamente abalado estiver o espírito.

           Tradução livre da terceira edição francesa pelo prof. dr. Jorge Leite de Oliveira em 28/11/2019.

  Quando o texto é escorreito (Irmão Jó)   Atento à escrita correta É o olho do revisor, Mas pôr tudo em linha certa É com o diagramador.   ...