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sábado, 28 de dezembro de 2019

Continuação da tradução livre da terceira edição de L'Évangile selon le Espiritisme pelo Prof. Dr. Jorge Leite de Oliveira

7.3 Mistérios ocultos aos sábios e aos prudentes

"Em seguida, disse Jesus: Graças lhe dou, Pai, Senhor do Céu e da Terra, por ter escondido estas coisas aos sábios e prudentes, e as ter revelado aos simples e aos pequenos" (Mt, 11:25).

Pode parecer estranho que Jesus renda graças a Deus por haver revelado essas coisas aos simples e pequenos, que são os pobres de espírito, ocultando-as aos sábios e prudentes, mais aptos, aparentemente, a compreendê-las. É que devemos entender pelos primeiros os humildes, os que se humilham perante Deus e não se consideram superiores a todo o mundo; e, pelos segundos, os orgulhosos, envaidecidos de seu saber mundano, que se julgam prudentes, porque negam e tratam  a Deus, de igual para igual, quando não o rejeitam. Isso porque, na Antiguidade, sábio era sinônimo de douto. Por issoDeus lhes deixa a pesquisa dos segredos da Terra, e revela os do Céu aos simples e aos humildes que se inclinam perante Ele.
Assim acontece, atualmente, com as grandes verdades reveladas pelo Espiritismo. Alguns incrédulos se admiram de que os Espíritos se esforcem tão pouco para os convencer. É que esses últimos se ocupam com os que buscam a luz com boa-fé e com humildade, de preferência aos que julgam possuir toda a luz e imaginam, talvez, que Deus deveria ficar muito feliz de os conduzir a Ele, provando-lhes Sua existência.
O poder de Deus se manifesta nas pequenas como nas maiores coisasEle não põe a luz sob o alqueire, mas a derrama em ondas  por toda a parte; de modo que somente os cegos  não a veem. Deus não lhes quer abrir os olhos à força, pois lhes apraz mantê-los fechados. Chegará sua vez, mas antes é preciso que sintam as angústias das trevas, e reconheçam Deus, e não o acaso, na mão que lhes fere o orgulho. Para vencer a incredulidade, Ele emprega os meios mais convincentes, conforme os indivíduos. Não cabe ao incrédulo Lhe prescrever o que deve fazer, ou Lhe dizer: Se quiser me convencer, deve proceder desse ou daquele modo, em tal ocasião e não noutra, porque essa ocasião é a que mais me convém.
Que os incrédulos não se espantem de que nem Deus, nem os Espíritos, que são os agentes da Sua Vontade, não se submetam às suas exigências. Perguntem a si mesmos o que diriam, se o último dos seus servos quisesse impor-se a eles. Deus impõe Suas condições, e não se submete às dos outros. Ouve com bondade os que o procuram humildemente, e não os que se julgam mais do que Ele.
Deus, dirão, não poderia tocá-los pessoalmente por meio de sinais  brilhantes, em presença dos quais o incrédulo mais endurecido teria de curvar-se? Sem dúvida que o poderia, mas, nesse caso, onde estaria o seu mérito? e ademais, de que serviria isso? Não se veem diariamente criaturas que recusam a evidência, chegando até mesmo a dizer: Ainda que eu visse, não acreditaria, pois sei que é impossível? Se esses se recusam a reconhecer a verdade, é porque seu espírito ainda não está maduro para compreendê-la, nem seu coração para a sentir. orgulho é a venda que obscurece sua visão. De que serve apresentar a luz a um cego? É preciso, pois, curar primeiro a causa do mal. É por isso que, Médico Hábil que é, Deus castiga primeiramente o orgulho. Não abandona Seus filhos perdidos, pois sabe que, cedo ou tarde, seus olhos abrir-se-ão; mas quer que o façam de sua própria vontade, e, então, vencidos pelos tormentos da incredulidade, atirar-se-ão por si mesmos em Seus braços, e, como o filho pródigo, pedir-Lhe-ão que os perdoe.


7.4 Instruções dos Espíritos
O orgulho e a humildade

7.4.1 Lacordaire
Constantine, 1863.

Que a paz do Senhor esteja com vocês, meus queridos amigos! Venho até vocês para encorajá-los a seguir o bom caminho.
Deus concedeu a missão de vir esclarecê-los aos pobres Espíritos que outrora habitaram a Terra. Bendito seja Ele pela graça que nos dá de podermos ajudar o adiantamento de vocês. Que o Espírito Santo me ilumine e me ajude a tornar minha palavra compreensível, e me conceda a graça de pô-la ao alcance de todos. Todos vocês, encarnados, que estão sob prova e procuram a luz, que a Vontade de Deus me ajude a fazê-la brilhar ante seus olhos!
A humildade é uma virtude muito esquecida, entre vocês. Os grandes exemplos que lhes foram dados são bem pouco seguidos. E, no entanto, sem humildade, vocês podem ser caridosos com seu próximo? Oh, não, porque esse sentimento nivela os homens, ele diz-lhes que são irmãos, que se devem ajudar mutuamente, e leva-os ao bem. Sem a humildade, vocês enfeitam-se de virtudes que não possuem, como se usassem um vestuário para ocultar as deformidades do seu corpo. Lembrem-se d'Aquele que nos salvou; lembrem-se da sua humildade que o fez tão grande e o elevou acima de todos os profetas.
O orgulho é o terrível adversário da humildade. Se o Cristo prometeu o Reino dos Céus aos mais pobres, é porque os grandes da Terra imaginam que os títulos e as riquezas são a recompensa de seus méritos, e que a sua essência é mais pura que a do pobre. Creem que essas coisas lhes são devidas, e por isso, quando Deus as retira, acusam-no de injustiça. Oh, zombaria e cegueira! Deus distingue vocês pelos corpos? O envoltório do pobre não é da mesma essência que o do rico? O Criador terá feito duas espécies de homens? Tudo aquilo que Deus faz é grande e sábio. Não lhe atribuam jamais as ideias concebidas por seus cérebros orgulhosos.
Oh, rico, enquanto você dorme em seus aposentos dourados, ao abrigo do frio, não sabe que milhares de irmãos seus, que valem tanto quanto você, jazem sobre a palha? O infeliz faminto não é seu igual? A essa palavra, bem sei que seu orgulho se revolta. Concordará em dar-lhe uma esmola; mas jamais, em apertar-lhe fraternalmente a mão. “O quê! dirá, eu nascido dum sangue nobre, grande da Terra, ser igual a esse miserável esfarrapado? Vã utopia de pretensos filósofos! Se fôssemos iguais, por que Deus o teria colocado tão baixo e a mim tão alto?” É verdade que suas roupas não são nada iguais, mas se ambos se despissem, qual a diferença que haveria entre vocês? A nobreza do sangue, dirá. Mas a Química ainda não encontrou diferenças entre o sangue do nobre e o do plebeu, entre o do senhor e do escravo. Quem lhe garante que você também não foi miserável e infeliz como ele? Que não tenha também pedido esmola? Que não a pedirá um dia a esse mesmo que hoje despreza? As riquezas são eternas? Elas não acabam com o corpo, invólucro perecível de seu Espírito? Oh, volte-se humildemente sobre si próprio! Lance enfim os olhos sobre a realidade das coisas desse mundo, sobre o que faz a grandeza e a humilhação no outro; lembre-se de que morte não o poupará mais do que aos outros; que seus títulos não o preservarão dela; que ela o pode ferir amanhã, hoje, dentro de uma hora; e se você ainda enterra-se  no seu orgulho, oh! quanto então, eu o lamento, pois será digno de piedade!
Orgulhosos! Que vocês foram, antes de serem nobres e poderosos? Talvez vocês fossem menores que o último de seus criados. Curvem, portanto, suas frontes altivas, que Deus pode rebaixar, no momento mesmo em que as elevam mais alto. Todos os homens são iguais na balança divina; as virtudes somente os distinguem aos olhos de Deus. Todos os Espíritos são da mesma essência, e todos os corpos foram feitos da mesma massa. Seus títulos e seus nomes em nada a modificam; eles ficam no túmulo; não são eles que dão a felicidade prometida aos eleitos; a caridade e a humildade são os seus títulos de nobreza.
Pobre criatura! Você é mãe, e seus filhos sofrem. Estão com frio. Têm fome. Você vai, curvada ao peso da sua cruz, humilhar-se para conseguir um pedaço de pão. Oh, eu me inclino diante de você! Como é nobre, santa e grande aos meus olhos! Espere e ore; a felicidade ainda não é deste mundo. Aos pobres oprimidos, que nele confiam, Deus concede o Reino dos Céus.
E você, jovem menina, pobre criança lançada ao trabalho, entregue às privações, por que esses tristes pensamentos? Por que chora? Que seus olhos se voltem, piedosos e serenos, para Deus; às aves do céu Ele dá o alimento. Confia nele, e Ele não a abandonará. O som das festas, dos prazeres mundanos, faz bater seu coração. Você queria também enfeitar de flores a fronte e misturar-se aos felizes da Terra. Diz que poderia, como as mulheres que vê passar, estouvadas e alegres, ser rica também. Oh, cale-se, criança! Se soubesse quantas lágrimas e dores sem conta se ocultam sob esses vestidos bordados, quantos suspiros se asfixiam sob o ruído dessa orquestra feliz, preferiria seu humilde retiro e sua pobreza. Conserve-se pura aos olhos de Deus, se não quer que seu anjo da guarda volte para Ele, escondendo o rosto sob as asas brancas, e a deixe com seus remorsos, sem guia, sem apoio, neste mundo, em que estaria perdida, esperando a punição no outro.
E todos vocês que sofrem as injustiças dos homens, sejam indulgentes com as faltas dos seus irmãos, lembrando que vocês mesmos não estão livres de culpas; isso é caridade, mas é também humildade. Se sofrerem calúnias, curvem a fronte diante da prova. Que lhes importam as calúnias do mundo? Se sua conduta é pura, Deus não lhes pode recompensar por isso? Suportar corajosamente as humilhações dos homens é ser humilde e reconhecer que somente Deus é grande e poderoso.
Oh, meu Deus, será preciso que o Cristo volte novamente à Terra, para ensinar aos homens as tuas leis, que eles esqueceram? Deverá Ele ainda expulsar os vendilhões do templo, que maculam tua casa, esse recinto de orações? E, quem sabe, oh, homens, se Deus lhes concedesse essa graça, se não o renegariam de novo, como outrora? Se não o acusariam de blasfemo, por vir abater o orgulho dos fariseus modernos? Talvez, mesmo, o fariam seguir de novo o caminho do Gólgota.
Quando Moisés subiu ao Monte Sinai, para receber os mandamentos da Lei de Deus, o povo de Israel, entregue a si mesmo abandonou o verdadeiro Deus. Homens e mulheres entregaram suas joias e seu ouro, para a fabricação de um ídolo que abandonaram. Homens civilizados, vocês fazem como eles. O Cristo lhes deixou sua doutrina, deu-lhes o exemplo de todas as virtudes, mas vocês abandonaram exemplos e preceitos. Cada um de vocês, carregando suas paixões, fabricou um deus de acordo com sua vontade; para uns, terrível e sanguinário; para outros, indiferente aos interesses do mundo. O deus que fizeram é ainda o bezerro de ouro, que cada qual adapta aos seus gostos e às suas ideias.
Despertem, meus irmãos, meus amigos! Que a voz dos Espíritos lhes toque os corações. Sejam generosos e caridosos, sem ostentação, isto é, façam o bem com humildade. Que cada um vá demolindo pouco a pouco os altares que foram elevados ao orgulho. Numa palavra: sejam verdadeiros cristãos, e atingirão o reino da verdade. Não duvidem mais da bondade de Deus, agora que Ele lhes envia tantas provas. Viemos preparar o caminho para o cumprimento das profecias.
Quando o Senhor lhes der uma manifestação mais esplendente da sua clemência, que o Enviado celeste já os encontre reunidos numa grande família; que seus corações, brandos e humildes, sejam dignos de receber a palavra divina que Ele lhes trará; que o Eleito não encontre em seu caminho senão as palmas dispostas pelo retorno de vocês ao bem, à caridade, à fraternidade; e então o seu mundo tornar-se-á um paraíso terrestre. Mas se permanecerem insensíveis à voz dos Espíritos, enviados para purificar e renovar sua sociedade civilizada, rica em ciência e, entretanto, tão pobre de bons sentimentos, ah! nada mais nos restará do que chorar e gemer pela sua sorte. Mas, não, assim não acontecerá. Voltem-se para Deus, seu Pai, e então todos nós, que trabalhamos para o cumprimento da Sua Vontade, entoaremos o cântico de agradecimento ao Senhor, por sua inesgotável bondade, e para glorifica-lo por todos os séculos dos séculos. Assim seja.

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