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quinta-feira, 30 de janeiro de 2020




O ADEUS DE KARDEC E A CONSTITUIÇÃO DO ESPIRITISMO
Jorge Leite de Oliveira



Centro Espírita Léon Denis: SEMINÁRIO NO CELD
Em outubro de 1868, a Revista Espírita publicou uma "Profissão de fé materialista", assinada por A. Regnard, o qual defende tal postura, apoiado em ideias  antigas, desde Aristóteles e "[...] Epicuro até Bacon, até Diderot, até Virchow, Moleschoff e Büchner, sem contar os contemporâneos e compatriotas [...]" (KARDEC, 1868, p. 425).

Numa demonstração de que não teme tais ideias, as quais considera nefastas ao espírito humano, o Codificador do Espiritismo, após tecer algumas considerações sobre o texto de Regnard, arremata com esta profética frase:

O materialismo é uma consequência da época de transição em que estamos; não é um progresso, longe disso, mas um instrumento de progresso. Desaparecerá, provando a sua insuficiência para a manutenção da ordem social e para a satisfação dos espíritos sérios, que procuram o porquê de cada coisa; para isto era necessário que o vissem em ação. A Humanidade, que precisa crer no futuro, jamais se contentará com o vazio que ele deixa atrás de si, e procurará algo de melhor para o compensar (KARDEC, 1868, p. 427).

Admitida a verdade espírita da imortalidade da alma, o que nos deve preocupar passa a ser a finalidade da vida, ou seja, o dever e não apenas o prazer, que deve ser tido em sua relativa importância e fugacidade aqui na Terra. O papel dos médiuns é o de comprovar, pela experiência, o que afirma a teoria.
As obras básicas já estavam concluídas e a Revista Espírita (RE) entrara em seu 12º ano. Em janeiro de 1869, Allan Kardec publica suas constatações, das quais destacamos estas quatro:
1º) em todos os níveis da classe social existem espíritas;
2º) tendo em vista as consolações proporcionadas pelo Espiritismo, a infelicidade predispõe a criatura à crença espírita;
3º) a Doutrina Espírita possui mais adeptos entre quem não possuía uma crença;
4º) por fim, os “sensualistas” e apegados às “posses e gozos materiais”, além dos fanáticos, são os que mais rejeitam as ideias espíritas.
Esses últimos são, na definição de Jesus, os cegos que não querem ver e os surdos que não querem ouvir. Conclui Kardec, resumindo, que "[...] o Espiritismo é acolhido como um benefício por aqueles que ele ajuda a suportar o fardo da vida e é repelido ou desdenhado por aqueles que ele dificulta no gozo da vida”.
O verdadeiro espírita, diz Kardec (RE, 1869, jan., p. 36) é o que pratica seus ensinamentos e se esforça em se tornar melhor. Não é certo chamar de espírita, como ocorria no século XIX, pessoas que praticavam a “magia negra” e as charlatãs, mesmo que tais pessoas se digam espíritas. Da mesma forma, não consideramos médico quem não está habilitado pela academia a exercer essa sublime profissão. Kardec vai mais longe, diz que a Doutrina Espírita “[...] repudia toda solidariedade com a magia, a feitiçaria, os sortilégios, a cartomancia, os adivinhos, os ledores de sorte e todos aqueles que têm o ofício de comerciar com os Espíritos, [...] pretender tê-los às suas ordens [...]” (op. cit., loc. cit.).
Em seguida, explica-nos o Codificador da Doutrina Espírita que os Espíritos, como individualidades que gozam do livre-arbítrio, por serem as almas dos homens, como nós, “que viveram sobre a Terra”, não estão sujeitos às nossas ordens. Eles manifestam-se quando, onde querem e sempre com a finalidade de nos instruírem e nos incentivarem a nossa melhoria moral. Logicamente, refere-se aos Espíritos superiores. A estes não cabe nos ajudarem a resolver nossos problemas materiais, o que podemos fazer pessoalmente. Sem isso, onde estariam nosso livre-arbítrio e mérito?
Complementa Kardec: “[...] ignorar essas coisas é ignorar o abecê do Espiritismo”. A primeira lei espírita é a “do amor ao próximo” e sua máxima está contida nesta frase: “Fora da caridade, não há salvação”.
Prosseguindo em suas reflexões, diz o insigne autor das obras básicas do Espiritismo que “A instrução é indispensável, ninguém o contesta; mas, sem a moralização, não passa de um instrumento, muitas vezes improdutivo para aquele que não sabe regular o seu uso com vistas ao bem” (op. cit., p. 41). Conforme repete o Espírito Emmanuel, precisamos de duas asas para nos elevarmos a Deus:

Já se disse que duas asas conduzirão o Espírito humano à presença de Deus. Uma chama-se amor; a outra, sabedoria. Pelo amor, que, acima de tudo, é serviço ao semelhante, a criatura se ilumina e aformoseia por dentro, emitindo, em favor dos outros, o reflexo de suas virtudes; e pela sabedoria, que começa na aquisição do conhecimento, recolhe a influência dos vanguardeiros do progresso, que lhes comunicam os reflexos da própria grandeza, impelindo-a ao Alto. Através do amor valorizamo-nos para a vida. Através da sabedoria somos pela vida valorizados (EMMANUEL, 2016, cap. 4).

Também podemos simbolizar, no avião, o corpo e na alma humana o piloto que, assim como necessita das asas do amor e da sabedoria, também requer o motor da vontade e o combustível da humildade. Só assim, o Espírito terá forças suficientes para sair da horizontalidade da matéria à verticalidade do anjo, quando então estará em condições de “ver Deus”. Se essas peças se ajustam, o Espírito alça voo às alturas; se falha qualquer delas, ele perde altura ou despenca no abismo. 
O amor precisa transcender o apelo das paixões e fraquezas materiais; a sabedoria precisa exercitar a caridade com o impulso do motor da vontade; e o sublime combustível que nos permitirá vencer o mal, que ainda reside em nós, é a humildade, sem a qual podemos despencar das alturas.
Kardec reunia todas essas condições, por isso transcendeu a matéria, com todas as suas mazelas e, portanto, não mais necessitaria retornar ao nosso mundo físico senão em espírito. Numa das suas mais conhecidas manifestações, o Espírito Allan Kardec diz-nos o seguinte:


O Espiritismo entra numa fase solene, mas na qual ainda terá grandes lutas a sustentar; é preciso, pois, que seja forte por si mesmo e, para ser forte, deve ser respeitado. Cabe aos seus adeptos dedicados fazê-lo respeitar, inicialmente pregando-o pela palavra e pelo exemplo; depois, desaprovando, em nome da Doutrina, tudo quanto pudesse prejudicar a consideração de que deve ser rodeado. É assim que poderá afrontar as intrigas, a zombaria e o ridículo (KARDEC, RE, 1869, fev.).


Referências

KARDEC, Allan. Profissão de fé materialista.  Revista Espírita 1868. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. Disponível em: www.febnet.org.br. Acesso em 16 dez. 2016.

EMMANUEL [Espírito]. Psicografia de Francisco Cândido Xavier. Pensamento e Vida.  Brasília: FEB, 2016.

 (Condensado da revista Reformador, mar. 2017, pub. mensal da Federação Espírita Brasileira.)

terça-feira, 28 de janeiro de 2020




EM DIA COM O MACHADO 404:
ATÉ QUE A JUSTIÇA DIVINA AJA...


        O Espírito Manoel Philomeno de Miranda informa-nos que o Espírito decaído que se tornaria o novo soberano, numa das regiões trevosas da espiritualidade, ironizando o código búdico das quatro nobres verdades, propôs seu programa de domínio espiritual intitulado as quatro legítimas verdades:
primeira: "o homem é um animal sexual que se compraz no prazer" e, portanto, "deve ser estimulado ao máximo, até a exaustão", após o que, deve ser levado "aos abusos, às aberrações";
segunda: "o narcisismo é filho predileto do egoísmo e pai do orgulho, da vaidade, inerentes ao ser humano"; deve-se, portanto, estimular a "presunção, nas modernas escolas do Espiritualismo, ensejando a fascinação";
terceira: "o poder tem prevalência na natureza humana", por ser "remanescente dos instintos agressivos, dominadores e arbitrários";
quarta: "o dinheiro, que compra vidas e escraviza almas, será outro excelente recurso decisivo. [...] o conforto amolenta o caráter, desestimula os sacrifícios" (FRANCO, 2011, p. 89- 90).
        Sintetizando, o soberano das trevas, propõe seu programa de combate a Deus, a Jesus e seus irmãos, que ainda lutamos para sair da infância espiritual, baseado em quatro fraquezas humanas: luxúria, narcisismo, poder e riqueza. Começo a análise pela quarta fraqueza.
Deus é Amor. Ninguém é tão bom quanto Deus, já dizia Jesus ao jovem que o chamara de bom Mestre e lhe perguntara que fazer para alcançar a vida eterna.  
— Por que me chamas bom? Não há bom, senão um só que é Deus (Mateus, 19: 17).
Ao lhe ser dito em seguida, pelo Mestre, que guardasse os mandamentos, o jovem, que era rico, pergunta a Jesus: — Quais?
O Mestre cita-lhe, em  síntese, os Dez Mandamentos; e o jovem afirma-lhe que, desde a mocidade, vinha guardando esses mandamentos. E torna a perguntar: — Que me falta ainda?
Então Jesus propõe-lhe algo que, até hoje, parece absurdo à maioria das criaturas da Terra:
— Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens, dá-os aos pobres e terás um tesouro no Céu. Depois, vem e segue-me.
Ouvindo essas palavras, o moço saiu pesaroso, pois possuía muitos bens. E foi então que Jesus comentou ser muito difícil, a quem ama as riquezas da Terra, matéria efêmera, possuir os tesouros do Céu, destinados ao espírito eterno, onde "as traças não roem, a ferrugem não consome e o ladrão não rouba" (Mateus, 6: 19, 20).
O apego à riqueza adiou o alcance da "vida eterna" ou "reino de Deus" por aquele jovem, ainda que estivesse bem-intencionado. Nas próximas crônicas, falarei sobre a luxúria, o narcisismo e o poder.  

Referências

BÍBLIA SAGRADA. Tradução de João Ferreira de Almeida. 4. ed. Barueri, SP: 2011.

BÍBLIA DE JERUSALÉM. Diversos tradutores. 3. imp. São Paulo: Paulus, 2004.

FRANCO, Divaldo Pereira. Trilhas da Libertação. Pelo Espírito Manoel Philomeno de Miranda. 10. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2011.

sábado, 25 de janeiro de 2020



Continuação da tradução livre da terceira edição de L'Évangile selon le Espiritisme pelo Prof. Dr. Jorge Leite de Oliveira


7.3 Mistérios ocultos aos sábios e aos prudentes

"Em seguida, disse Jesus: Graças Lhe dou, Pai, Senhor do Céu e da Terra, por ter escondido estas coisas aos sábios e prudentes, e as ter revelado aos simples e aos pequenos" (Mt, 11:25).

Pode parecer estranho que Jesus renda graças a Deus por haver revelado essas coisas aos simples e pequenos, que são os pobres de espírito, ocultando-as aos sábios e prudentes, mais aptos, aparentemente, a compreendê-las. É que devemos entender pelos primeiros os humildes, os que se humilham perante Deus e não se consideram superiores a todo o mundo; e, pelos segundos, os orgulhosos, envaidecidos de seu saber mundano, que se julgam prudentes, porque negam e tratam  a Deus, de igual para igual, quando não o rejeitam. Isso porque, na Antiguidade, sábio era sinônimo de douto. Por issoDeus lhes deixa a pesquisa dos segredos da Terra, e revela os do Céu aos simples e aos humildes que se inclinam perante Ele.
Assim acontece, atualmente, com as grandes verdades reveladas pelo Espiritismo. Alguns incrédulos se admiram de que os Espíritos se esforcem tão pouco para os convencer. É que esses últimos se ocupam com os que buscam a luz com boa-fé e com humildade, de preferência aos que julgam possuir toda a luz e imaginam, talvez, que Deus deveria ficar muito feliz de os conduzir a Ele, provando-lhes Sua existência.
O poder de Deus se manifesta nas pequenas como nas maiores coisasEle não põe a luz sob o alqueire, mas a derrama em ondas  por toda a parte; de modo que somente os cegos  não a veem. Deus não lhes quer abrir os olhos à força, pois lhes apraz mantê-los fechados. Chegará sua vez, mas antes é preciso que sintam as angústias das trevas, e reconheçam Deus, e não o acaso, na mão que lhes fere o orgulho. Para vencer a incredulidade, Ele emprega os meios mais convincentes, conforme os indivíduos. Não cabe ao incrédulo Lhe prescrever o que deve fazer, ou Lhe dizer: Se quiser me convencer, deve proceder desse ou daquele modo, em tal ocasião e não noutra, porque essa ocasião é a que mais me convém.
Que os incrédulos não se espantem de que nem Deus, nem os Espíritos, que são os agentes da Sua Vontade, não se submetam às suas exigências. Perguntem a si mesmos o que diriam, se o último dos seus servos quisesse impor-se a eles. Deus impõe Suas condições, e não se submete às dos outros. Ouve com bondade os que o procuram humildemente, e não os que se julgam mais do que Ele.
Deus, dirão, não poderia tocá-los pessoalmente por meio de sinais  brilhantes, em presença dos quais o incrédulo mais endurecido teria de curvar-se? Sem dúvida que o poderia, mas, nesse caso, onde estaria o seu mérito? e ademais, de que serviria isso? Não se veem diariamente criaturas que recusam a evidência, chegando até mesmo a dizer: Ainda que eu visse, não acreditaria, pois sei que é impossível? Se esses se recusam a reconhecer a verdade, é porque seu espírito ainda não está maduro para compreendê-la, nem seu coração para a sentir. orgulho é a venda que obscurece sua visão. De que serve apresentar a luz a um cego? É preciso, pois, curar primeiro a causa do mal. É por isso que, Médico Hábil que é, Deus castiga primeiramente o orgulho. Não abandona Seus filhos perdidos, pois sabe que, cedo ou tarde, seus olhos abrir-se-ão; mas quer que o façam de sua própria vontade, e, então, vencidos pelos tormentos da incredulidade, atirar-se-ão por si mesmos em Seus braços, e, como o filho pródigo, pedir-Lhe-ão que os perdoe.

terça-feira, 21 de janeiro de 2020




EM DIA COM O MACHADO 403
A BALA NÃO RESOLVE, MAS O AMOR COMOVE E CONVERTE (Jó)

Em belo texto de sua obra intitulada Nas Pegadas do Mestre, Pedro de Camargo, ou, se preferirem, Vinícius, diz o seguinte:

O homem é conversível. Jesus veio promover sua conversão anunciando o Evangelho antes que existisse qualquer livro ou manuscrito com essa designação. O Evangelho é uma mensagem que convida os homens para o Reino de Deus. Para alcançá-lo, porém, é mister uma condição: converter-se. Converter significa mudar de vida, deixar o caminho velho e tomar rota nova, pois o homem tem vivido no reino da carne, da mentira e do egoísmo; e o Reino de Deus é precisamente o oposto, isto é, o reino do espírito, da verdade e do amor (cap. Os verdadeiros cristãos).

Há algum tempo, citei aqui a história de um taxista, que nos transportou do aeroporto para o hotel de Copacabana. Ali nos hospedamos por uns dias. Relembremos a história. Antônio (nome fictício) demonstrava imensa paciência no trânsito carioca, coisa rara em quem passa o dia rodando nas ruas do Rio de Janeiro. Inquirido sobre o que lhe proporcionava toda aquela sua calma, na agitação daquelas ruas movimentadas, ele contou-me um pouco de sua vida.
No passado falou-me eu era frequentador de boates, beberrão e brigão. Não aceitava levar desaforos para casa, e isso custou-me arranhões e prisões diversas vezes. Consumia drogas, aprontava “barracos” por qualquer insignificância, dormia com mulheres que mal conhecera e que se aproveitavam de minha embriaguez para me furtar, enfim, minha vida era um inferno. Até que um dia, a convite de amigo evangélico, resolvi assistir a um culto na igreja de sua frequência assídua. A partir daquele dia, aceitei Jesus e converti-me.
Na fala mansa e espiritualizada daquele homem simples, vibrava a sinceridade de suas resoluções, como a de nunca mais beber ou consumir qualquer droga. Não havia como não perceber, ali, a excelência da mensagem transformadora do Cristo, como ocorre quando nos convertemos ao seu Evangelho. E isso depende mais de nós do que da religião que adotamos, pois em todas a mensagem divina está presente.
Afirmou-me Antônio que não tinha qualquer receio de entrar numa comunidade pobre de inúmeras favelas da cidade, quando chamado para o serviço de táxi. E, embora já houvesse sabido de diversas ocorrências de assaltos aos seus colegas de trabalho, jamais fora assaltado.
É a proteção de Deus eu disse-lhe. Quando nos sintonizamos em faixas espirituais elevadas, nada nos acontece, se tivermos merecimento, pois a proteção do Alto sempre nos acompanhará.
Esse caso veio-nos novamente à memória ao relermos a mensagem do Espírito Bispo de Argel, n’O Evangelho Segundo o Espiritismo, item 11 do cap. 13, que nos assegura ser preciso nos ocupemos unicamente com a promoção da felicidade alheia, para assegurarmos, nesta existência, a própria felicidade, além de encontrarmos um sentido para a vida. O que Deus quer de nós é que cultivemos, dia a dia, o amor ao próximo.
Quando as pessoas responsáveis pela administração das sociedades se convencerem de que não se combate a violência com violência e, sim, com investimento em educação moral e intelectual, a sociedade será melhor. Pois ao invés de mandarmos para o cemitério milhares de almas revoltadas, investiremos no reino prometido por Jesus aos justos. Somente o amor, fruto do esclarecimento, do oferecimento de oportunidades igualitárias a todos, sem deixar de proporcionar a cada um o que lhe é devido, construirá uma sociedade melhor.
Só a água espiritual, do poço das virtudes, prometida por Jesus à samaritana, administrada em doses certas, promoverá a conversão dos revoltados e equivocados da Terra. Mas é preciso que os que nisso acreditam, por sua vez se convertam e se tornem um novo ser em Cristo, que nada deixou escrito, mas separou o tempo em antes e depois dele.
É preciso que, desde criança, o ser humano aprenda a viver com morigeração, sob a orientação de programas educativos. É urgente que se invista em segurança, não para matar o criminoso, mas para educá-lo em trabalhos de colônias prisionais agrícolas. Segurança para impedir a entrada, seja por terra, pela água ou pelo ar, e seu cultivo em solo pátrio, das drogas devastadoras, que incentivam o ser humano a destruir e se destruir. Segurança no oferecimento de dois turnos escolares para nossas crianças e jovens, com recreação e boa alimentação acrescidos à instrução de boa qualidade. Criação de escolas, enfim, que eduquem para a prática do amor, em contraposição ao egoísmo, da humildade, em vez do orgulho. Geração de empregos bem remunerados, enfim, que se invista na conversão do ser equivocado, caminho real de transformação de cada um de nós, de cada família, de cada comunidade, até que toda a Terra esteja convertida ao bem.
Nossa certeza baseia-se nestas palavras de Jesus: amai-vos. E isso não se consegue com falsas promessas, nem com repressão por bala, pois a transformação social se sustenta primacialmente no amor, que comove e converte.

terça-feira, 14 de janeiro de 2020




EM DIA COM O MACHADO 402
ser e não parecer (Jó)

To be or not to be” é a famosa frase de Hamlet, personagem do imortal dramaturgo inglês Shakespeare, do século XVII. E é com ela que inicio esta crônica, propondo-lhe nova versão: em vez de “ser ou não ser”, ser e não parecer.
         Aliás, esse é o título de um dos excelentes temas da obra de Vinícius, pseudônimo do escritor espírita Pedro de Camargo, que nasceu em Piracicaba, São Paulo, no dia 7 de maio de 1878, e desencarnou na capital paulista, em 11 de outubro de 1966, ou seja, aos 88 anos de idade. Parece que Deus prioriza longa vida às pessoas boas, que semeiam e, sobretudo, praticam o bem enquanto prisioneiras da carne.
         Às más também... mas ao passo que estas se remoem no remorso, enquanto não vem o arrependimento de suas ações nefastas; aquelas estão sempre em paz com Deus, que mora em nossas consciências, além de desfrutarem da felicidade dos justos...
         Não é nosso objetivo escrever sobre a longa trajetória de vida cristã de Pedro de Camargo, que fundou centro espírita, presidiu a Sociedade de Cultura Artística e divulgou pelo rádio, desde 1949, um programa evangélico-espírita. Também não vamos nos deter demasiado sobre sua condição de orador espírita altamente apreciado e de escritor de diversas outras obras e artigos espíritas publicados em Reformador, periódico mensal da Federação Espírita Brasileira.
O que nos motiva a redigir este texto são as frases que lemos, hoje, e nos fizeram refletir, mais uma vez, na importância de nosso esforço cotidiano em ser, e não em parecer, cada vez melhor.
         Uns versos de Carlos Drummond de Andrade que nunca nos esqueceram são estes: “Lutar com as palavras é a luta mais vã; entanto lutamos, mal rompe a manhã”. Também poderíamos parodiar o poeta que se intitulava gauche, por recomendação de “um anjo torto” nestas suas palavras: “Quando nasci, um anjo torto me disse: - Vai, Carlos, ser gauche na vida”. A paráfrase não é desta frase, e sim dos versos drummondianos supracitados:

Lutar contra o mal
Das mentes malvadas
São lutas mui duras;

Entanto, lutemos,
Rompendo alvoradas
E noites escuras.

         Agora as três frases de Vinícius:

Se observarmos atentamente o que se passa na sociedade, verificaremos que tudo se faz, não no sentido de ser, mas no de parecer. 
Realmente, quando se trata de qualidades e virtudes, é muito mais fácil simulá-las que as adquirir. O resultado, porém, é que não é o mesmo.
Daí o transformarem a religião em acervos de dogmas abstrusos e numa série de determinadas cerimônias que se executam maquinalmente; a eugenia, em arte dos arrebiques; o civismo, em toques de caixa e de cornetas, executados por indivíduos trajando uniformes; o patriotismo, em discursos ocos e plataformas pejadas de falazes promessas, formuladas já com o propósito de não se cumprirem; a política, finalmente, em processo de explorar o povo.[1]

         Sábias palavras para todos nós. Infelizmente, algumas pessoas farão delas um chicote para açoitar o que consideram imperfeições alheias, sem, entretanto, se corrigirem de suas próprias fraquezas. Outras, sedentas de poder, mas hipócritas, pregarão ao próximo essas e outras frases, ansiosas para que creiam em sua fala; entretanto, para elas mesmas, as advertências soarão como o bronze que soa, ou como o vento que sopra...
         Aos que nos esforçamos em seguir, como Pedro de Camargo, “Nas pegadas do Mestre”, sua constatação é mais um incentivo para que continuemos nos esforçando em ser  fiéis discípulos de Jesus até o fim, sem outro propósito, a não ser o de sermos coerentes com o que pensamos, falamos e fazemos de bom, verdadeiro e útil.


[1] VINÍCIUS. Nas Pegadas do Mestre. 12. ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 2009, p. 71.

quarta-feira, 8 de janeiro de 2020




EM DIA COM O MACHADO 401:
falando sério de Brasília (jó)


Quando cai a chuva em Brasília, tudo o que era seco enverdece. As aves piam agitadas, e a secura desaparece. O Lago Paranoá cresce, e quem não jaz morto aparece. Aqui nada morre, hiberna. Mesmo caindo poucas chuvas, as barragens d’água hodiernas fertilizam maçãs e uvas. Temos manga, jaca, abacate, tudo ao alcance de quem cate...
As quadras são cheias de frutos, os parques se enchem de gente. Até mesmo antes do nascente, néscios caminham com argutos. E o clima é tão seco, meu cara, que rivaliza com o Saara.  
Aqui também há vida e fé. Nas bancas não há só jornais, há água de coco e café.
Há desfiles de carnavais de várias escolas de samba e blocos tradicionais. A escola de samba ARUC é a campeã do Cruzeiro, mas também brilha a Asa Norte, com tabaques e com pandeiros. Temos também noventa blocos, dos quais citarei quatro ou três: Babydoll de Nylon é um; outro é o bloco de Samambaia, e, para o bom do português, o Beija Me Beija é o da vez...
         Soube, hoje, pelo Jornal, para gáudio de ator e atriz, que no Teatro Nacional estará Machado de Assis. Como autor de peças teatrais, de alvos certeiros em crônicas, esse Bruxo do Cosme Velho volta com mil verves irônicas.
Quase em frente de cada quadra, temos também academia. Então, meu caro e bom leitor, nada melhor do que a ironia para começar 2020. Pois nosso negócio é o seguinte: com tantos fakes circulando, sejas leitor, sejas ouvinte, curte cada uma maravilha de nossa querida Brasília, mas não te metas na política, o carnaval de ano inteiro.
Mas falo sério agora, amigo, se desejas sempre contigo, em qualquer lugar que tu estejas, a fortaleza contra o mal, não faças tu de Brasília um palanque de vãs riquezas. Não uses dinheiro do imposto para teu próprio usufruto, se estás em algum cargo público. Não aceites, se és político, qualquer vantagem indevida, e, ainda que não seja assim, faze sempre o bem, vai por mim. 
Pois só a pura consciência e o exercício da clemência aliado ao bem incessante farão de cada cidadão um exemplo belo e profundo, de Brasília para o Brasil e do Brasil para o Mundo.



sexta-feira, 3 de janeiro de 2020

Continuação da tradução livre da terceira edição francesa d'O Evangelho Segundo o Espiritismo pelo Prof. Dr. Jorge Leite de Oliveira:



7.4.2 Adolfo, Bispo de Argel, 
Marmande, 1862.

Seres humanos, por que lamentam as calamidades que vocês mesmos amontoaram sobre suas cabeças? Desprezaram a santa e divina moral do Cristo; não se admirem então de que a taça da iniquidade haja transbordado por toda a parte.
O mal-estar se generaliza. De quem é a culpa, senão de vocês mesmos, que incessantemente procuram esmagar uns aos outros? Vocês não podem ser felizes sem mútua benevolência, mas como a benevolência pode existir junto com o orgulho? O orgulho é a fonte de todos os seus males. Apliquem-se, pois, à tarefa de destruí-lo, se não quiserem perpetuar suas funestas consequências. Um só meio vocês têm para isso, mas esse meio é infalível: tomarem por regra invariável de sua conduta a lei do Cristo, lei que têm rejeitado ou falseado na sua interpretação.
Por que vocês têm em tão grande estima o que brilha e encanta os olhos, em vez do que toca o coração? Porque o vício desenvolvido na opulência é o objeto da sua adulação, enquanto nada mais têm do que um olhar de desdém para o verdadeiro mérito, que se oculta na obscuridade? Que um rico libertino, perdido de corpo e alma, se apresente em qualquer lugar, e todas as portas lhe são abertas, todas as honras são para ele, enquanto mal se concede uma saudação ao homem de bem que vive do seu trabalho. Quando a consideração que se dispensa aos outros é medida pelo peso do ouro que eles possuem, ou pelo nome que trazem, que interesse podem eles ter de se corrigirem de seus defeitos?
A situação seria outra, entretanto, se o vício dourado fosse fustigado pela opinião pública, como o é o vício em andrajos. Mas o orgulho é indulgente para tudo quanto o lisonjeia. Século de cupidez e de dinheiro, dizem vocês. Sem dúvida; mas por que deixaram as necessidades materiais sobrepujarem o bom senso e à razão? Por que cada um deseja elevar- se acima do seu irmão? Hoje, a sociedade sofre as consequências disso.
Não esqueçam que tal estado de coisas é sempre o sinal de decadência moral. Quando o orgulho atinge seu extremo, é indício de uma próxima queda, pois Deus sempre pune os soberbos. Se às vezes os deixa subir, é para lhes dar tempo de refletir e de emendar-se, sob os golpes que, de tempos em tempos, desfere no seu orgulho como advertência. Mas, em vez de humilharem, eles se revoltam. Então, quando a medida está cheia, Deus a revira por completo, e a queda é tanto mais terrível, quanto mais alto hajam subido.
Pobre raça humana, cujo egoísmo corrompeu todos os caminhos, reanime-se, apesar de tudo! Em sua misericórdia infinita, Deus lhe envia poderoso remédio para seus males, socorro inesperado à sua aflição. Abra os olhos à luz: aqui estão as almas dos que não mais vivem na Terra, para lhes recordar os verdadeiros deveres. Elas dir-lhe-ão com a autoridade da experiência, quanto as vaidades e as grandeza de sua passageira existência são pequeninas, diante da eternidade. Dir-lhe-ão que, no Além, será maior o que foi menor entre os pequenos deste mundo; que o que mais amou seus irmãos será também o mais amado no Céu; que os poderosos da Terra, se abusaram da sua autoridade, serão obrigados a obedecer aos seus servos; que a caridade e a humildade, enfim, essas duas irmãs que estão sempre de mãos dadas, são os títulos mais eficazes para se obter graça diante do Eterno.


  O jovem que labuta (Irmão Jó) — Aonde você vai, jovem soldado? — Vou defender a pátria e a liberdade. — E você, vai aonde, atarefado? — Vo...