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quinta-feira, 18 de dezembro de 2025


 

Égalités (Irmão Jó)
 
Há muita gente bacana
Na praia em Copacabana.
 
Imóveis na sua frente
Abrigam bacana gente.
 
Lá, com nome Égalité,
Há um prédio em que se vê
 
Indigente incorporada
Que, desde a noite, cantava.
 
E, em frente ao Égalité,
Ninguém a ousava ver.
 
Entanto, até da janela
Do prédio, se via ela.
 
A sua dança macabra
A muitos dó inspirava.
 
Vestida com macacão,
Causava-nos compaixão.
 
Sua rota vestimenta
Por ela também lamenta.
 
E o canto continuava
Enquanto rodopiava...
 
Aquela dança e canto
Lembravam ritos do banto
 
Clamando aos céus por justiça,
Na sociedade enfermiça...
 
E a indigente dançava,
E a miserável cantava.
 
E era impressionante
Seu rito e riso sonante.
 
E nada do seu bramido
Parecia ter sentido.
 
Entanto, ela certamente
Já nascera indigente.
 
Sem pai, com mãe prostituta,
Desistira da labuta.
 
Tudo sofrera na vida
Desde criança nascida.
 
A sua educação
Foi  do estupro ao bofetão.
 
Seu canto e dança macabra
Tudo isso revelava.
 
Ninguém lhe dava atenção;
Ninguém lhe tem compaixão...
 
O seu bailado, porém,
Subiu da Terra ao Além.
 
E, se houve indiferença
E asco à sua presença,
 
Cedo, no dia seguinte,
Ela já atraíra ouvintes...
 
Eram pobres indigentes
Ouvindo cantos candentes.
 
Outros, de dentro do prédio,
Tudo tendo, tinham tédio...
 
Nem mesmo queriam ver
O rosto do louco ser.
 
Mas os que estavam lá fora
Viam a louca senhora.
 
Eram os descamisados
Socialmente abandonados.
 
Nem mais sabiam seu nome
Aqueles mortos de fome.
 
Nem mesmo sabiam ler
Na fachada: Égalité.
 
Desde a mais tenra idade
Sem noção de igualdade...
 
E, enquanto  a louca cantava
Cada um deles dançava.
 
Todos pobres sem saber
O que é égalité.


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