Em
dia com o Machado 312 {jÓ)
— Boa noite, Machado. Lembrei-me de sua crônica intitulada O Sermão do Diabo (4 set. 1892),
publicada em Páginas Recolhidas (Ed.
Garnier). Conforme você lembrou-nos ali, “Já Santo Agostinho dizia que a igreja
do Diabo imita a igreja de Deus”. Todos os
itens daquela sua crônica aplicam-se à época atual, mas dois, sobretudo,
chamaram-me a atenção.
— Quais são eles, Jó?
— Os itens 20 e 21.
— Que dizem eles?
— “20 Não queirais guardar para vós tesouros na Terra, onde a
ferrugem e a traça os consomem, e donde os ladrões os tiram e levam.
21 Não vos fieis uns nos outros. Em verdade vos digo que cada um
de vós é capaz de comer o seu vizinho, e boa cara não quer dizer bom negócio.”
— Também este item é bem sugestivo, Jó:
“24 Não queirais julgar para que não sejais julgados; não
examineis os papéis do próximo para que ele não examine os vossos, e não
resulte irem os dois para a cadeia, quando é melhor não ir nenhum.”
— E que tal este outro, nobre Machado? Diga-me se ele não se
parece com o de um mau governo, sucessor de outro, também terrível, o qual foi
julgado e condenado por improbidade administrativa:
“27 Não deis conta das contas passadas, porque passadas são as
contas contadas, e perpétuas, as contas que não se contam.”
— Exatamente, Jó. Mefistofélico. A diferença são as finanças,
até agora camufladas, que arrebentarão nas mãos do próximo governante. É por
isso que concluí aquela crônica informando sobre a aparição do defunto barão
Louis, ao qual disse conhecer muito sua famosa máxima: “Dai-me boa política, e
dar-vos-ei boas finanças”.
— E que foi mesmo que ele respondeu, Machado?
— Disse-me que essa máxima estava tirando-lhe o sono na
eternidade. Então propôs-me substituí-la por esta, que lhe pareceu mais
correta: “Dai-me boas finanças, e dar-vos-ei boa política”.
— Muito apropriada à nossa velha
política, nobre Machado. Soube de casos de políticos atuais que, mesmo
presos, ainda cobram propinas...
— Aí está o x da questão, Jó. Não adianta prender o corpo, é
preciso tirar-lhe cada centavo surrupiado das finanças públicas. Mais do que
isso, é necessário responsabilizar o gestor da cousa pública ou privada por níquel gasto em obras inacabadas ou superfaturadas que deem prejuízo à
nação. Para evitar-se isso, recomendo três medidas fundamentais ao povo, aos meios
de comunicação e à polícia.
— Quais são elas, Bruxo?
— Primeiro, fiscalizar; segundo, fiscalizar; terceiro,
fiscalizar.
— Isso mesmo, Machado. Agora que se aproximam as eleições,
sugiro ao leitor fiscalizar a vida pregressa de cada candidato e se o que ele
diz é compatível com seu caráter. Pois de promessas e falácias o mundo anda
cheio. Precisamos mesmo é de competência, trabalho e honestidade.
— É verdade, amigo Jó. De falácia o Diabo entende.