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quarta-feira, 31 de março de 2021

 



2 NAS VERTIGENS DA VISÃO

(Espírito Cruz e Sousa/médium Waldo Vieira)

 

Vândalo audaz, herói das cimitarras,

Vi-me à frente de guerras carniceiras,

Fulvo tropel de heráldicas bandeiras,

Rios de sangue, lúbricas fanfarras.

 

Largas legiões famélicas, bizarras,

Lama, lodo, letíficas trincheiras,

Bárbaro louro em asas condoreiras,

Era o abutre da morte, inflando as garras.

 

Finda a pompa na clâmide funérea,

Volvo ao cárcere estreito da matéria,

Preso a ventre cativo em mar de abrolhos.

 

Tântalo reencarnado entre os vencidos,

Pago os troféus de torvos tempos idos,

Com lágrimas flamívomas nos olhos.


(apud PALHANO JÚNIOR; SOUSA, 1994, p. 161)

 Brasília, DF, 31 de março de 2021.

 

Referência

 PALHANO JÚNIOR, Lamartine; SOUZA, Dalva Silva. A Imortalidade dos Poetas "Mortos". Vitória, ES: FESPE, 1994.

terça-feira, 30 de março de 2021

 

  • EM DIA COM O MACHADO 464:
  • violência gera violência


 

        Armai-vos, não; amai-vos!...

        A violência jamais resolveu as divergências políticas e religiosas no mundo, pois como nos afirmam os Espíritos: "violência gera violência".

        — Amai-vos, dizia Jesus.

        — Armai-vos, entenderam os homens...

        — De que vos adianta conquistar o mundo inteiro e perder vossa alma? — dizia o Cristo.

        — De que nos adianta uma alma, que nem sabemos existir, e perder o mundo inteiro, dizem os descrentes egocêntricos.

        — Não ajunteis tesouros na Terra, onde as traças roem, a ferrugem corrói e os ladrões roubam, falava Jesus.

        — Não atendamos "conselhos moralistas", sejamos ricos, faturemos muito, em dinheiro vivo, construamos mansões com piscinas gigantes, campos para golfe, futebol e lindos jardins.

        — Felizes os pobres de espírito, porque deles é o Reino dos Céus, afirmava o Messias divino.

        — A vida é uma só; depois de mim, o dilúvio — contesta quem coloca todos os seus objetivos em destruir as esperanças alheias, dar vazão às paixões e erigir uma fortaleza material para si.

        O professor doutor de Filosofia Alexsandro, estudioso e divulgador da obra de Pietro Ubaldi, em comentário ao nosso último blog, afirmou-nos que, quanto mais estuda esse autor, mais se convence de que "a solução dos nossos problemas não passa por uma ideologia política (capitalista ou comunista), ainda que não prescindamos da necessidade de enfrentar os problemas de nossa organização política e as desigualdades socioeconômicas". Ele concluiu que "Evoluir espiritualmente é a chave".

        E nós assinamos embaixo. Naturalmente, que somos seres de natureza política, como já afirmara Aristóteles; entretanto sem a aplicação prática das leis morais, como vemos citadas no livro terceiro, capítulos 1 a 12 d'O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, continuaremos tentando "levar vantagem em tudo" sem pensar nas consequências de nossos atos lesivos ao próximo que, pela lei de causa e efeito, nos custarão caro, mais cedo do que imaginamos.

        Não pague para ver, pois a última frase de Jesus, com a qual concluímos, é esta:

        — É necessário que haja escândalos, mas ai de quem os provocar (Mateus, 18:7).

 

Links recomendados:

 

Do Editor e Prof. Astolfo O. de Oliveira Filho:

 

1.  blog Espiritismo Século XXI – http://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com.br/

2.  revista O Consolador - http://www.oconsolador.com  

3.  editora EVOC - http://www.oconsolador.com.br/editora/evoc.htm  

4.  jornal O IMORTAL - http://www.jornaloimortal.com.br/Home

 

Do Prof. Dr. Alexsandro:

 

https://www.sabedoriapolitica.com.br

 

domingo, 28 de março de 2021

 

COLETÂNEA DE POEMAS MEDIÚNICOS DE CRUZ E SOUSA

 


        A partir deste domingo, publicarei uma coletânea incrível de poemas mediúnicos atribuídos ao poeta Cruz e Sousa em continuidade à "análise comparativa espírita de sonetos" deste nosso maior poeta, autor de Broquéis, Faróis, Tropos e Fantasias (com a colaboração de Virgílio Várzea), Missal, Evocações e Últimos Sonetos.

         Em cada dia da semana, será publicado um soneto do maior poeta do Simbolismo mundial, psicografado por médium diverso do anterior. A exceção será o dia de publicação da crônica semanal. Começarei pelo poema escrito em vida por Cruz e Sousa:

 

1 A MORTE

 

Oh, que doce tristeza e que ternura

No olhar ansioso, aflito dos que morrem...

De que âncoras profundas se socorrem

Os que penetram nessa noite escura?

 

Da vida aos frios véus da sepultura

Vagos momentos trêmulos decorrem...

E dos olhos as lágrimas escorrem

Como faróis da humana Desventura.

 

Descem então aos golfos congelados

Os que na Terra vagam suspirando,

Com velhos corações tantalizados.

 

Tudo negro e sinistro vai rolando

Báratro abaixo aos ecos soluçados

Do vendaval da morte ondeando, uivando... 

(apud PALHANO JR.; SOUSA, 1994, p. 160; SILVEIRA, 1982, p. 89).

 

         Brasília, DF, 28 de março de 2021.

 

Referências

 

PALHANO JÚNIOR, Lamartine; SOUZA, Dalva Silva. A Imortalidade dos Poetas "Mortos". Vitória, ES: FESPE, 1994.

SILVEIRA, Tasso da. Cruz e Sousa. 6. ed. Rio de Janeiro: Agir, 1982.

 

  1.1  Morte – Médium Chico Xavier

 

    O soneto anterior intitulado A morte é que foi escrito em vida por Cruz e Sousa, mas por não estar claramente expressa a informação na página citada antes, atribuí-o ao Espírito Cruz e Sousa equivocadamente. Isso não deixa de ser interessante, pois é bem provável que algum crítico da obra mediúnica tenha dito que o poeta jamais escreveria sobre tal tema em vida, ou, ao menos, que esse não é o estilo de Cruz e Sousa, como foi conhecido antes de sua "morte".

    Pois bem, para restaurar a verdade, acrescentei acima nova citação onde está  o poema na obra organizada por Tasso da Silveira, que também informei abaixo da primeira referência.

    Feita a correção, transcrevo a seguir o soneto verdadeiramente psicografado por Chico Xavier. É como se o poeta respondesse ao que escreveu no soneto anterior, qual se pode constatar numa leitura atenta de ambos os poemas. Neste soneto mediúnico, a intenção não é fazer apologia da morte, mas demonstrar que a morte é o retorno à vida real do espírito, livre dos grilhões materiais:

 

MORTE (Espírito Cruz e Sousa/Chico Xavier)

Longe do sentimento limitado

Da matéria em seus átomos finitos,

No limite de um mundo ignorado

Celebra a morte seus estranhos ritos.

 

Hinos e vozes, lágrimas e gritos

Do espírito que, outrora encarcerado,

Contempla a luz dos orbes infinitos,

Bendizendo a amargura do Passado!

 

Ó Morte, a tua espada luminosa,

Formada de uma luz maravilhosa,

É invencível em todas as pelejas!

 

És no Universo estranha Divindade

Ó operária divina da Verdade,

Bendita sejas tu! Bendita sejas!... (apud PALHANO JR.; SOUSA, 1994, p. 162).

 

        Brasília, DF, 29 de março de 2021.

 

Referência

 

PALHANO JÚNIOR, Lamartine; SOUSA, Dalva Silva. A Imortalidade dos Poetas "Mortos". Vitória, ES: FESPE, 1994.

 


sábado, 27 de março de 2021

 


14 HONRE A SEU PAI E A SUA MÃE

 

Piedade filial - Quem é minha mãe e quem são meus irmãos? Parentescos corporal e espiritual.

 14.1 Instruções dos Espíritos

A ingratidão dos filhos e os laços de família

Você sabe os mandamentos: Não cometa adultério; não mate; não roube; não diga falso testemunho; não faça mal a ninguém; honre a seu pai e a sua mãe (Marcos, 10:19; Lucas, 18:20; Mateus, 19: 19).

Honrará a seu pai e a sua mãe, para ter uma dilatada vida sobre a Terra que o Senhor seu Deus lhe há de dar. (Êxodo, Decálogo, 20:12).

 

14.1.1 Piedade filial

          O mandamento: "Honre a seu pai e à sua mãe" é uma consequência da lei geral da caridade e do amor ao próximo, porque não se pode amar ao próximo sem amar aos pais; mas a palavra honre implica um dever a mais para com eles: o da piedade filial. Deus quis demonstrar, assim, que ao amor é necessário juntar o respeito, a estima, a obediência e a condescendência, o que implica a obrigação de cumprir para com eles, de maneira ainda mais rigorosa, tudo o que a caridade determina em relação ao próximo. Esse dever se estende naturalmente às pessoas que se encontram no lugar dos pais, e cujo mérito é tanto maior, quanto o devotamento é para elas menos obrigatório. Deus pune sempre de maneira rigorosa toda violação desse mandamento.

         Honrar seu pai e sua mãe não é somente respeitá-los, é também assisti-los nas suas necessidades; proporcionando-lhes o repouso na velhice; cercá-los de cuidados, como eles fizeram por nós na infância.

         É sobretudo para com os pais sem recursos que se demonstra a verdadeira piedade filial. Satisfazem esse mandamento aqueles que julgam fazer muito, ao lhes darem o estritamente necessário para que não morram de fome, enquanto eles mesmos de nada se privam? Relegando-os aos piores cômodos da casa, apenas para não deixá-los na rua, e reservando para si mesmos os aposentos mais confortáveis? Ainda bem quando  isso não é feito de má vontade, e não os obrigam a pagar o que lhes resta da vida com a carga dos serviços domésticos! É justo que pais idosos e fracos tenham de servir a filhos jovens e fortes? A mãe lhes teria vendido o leite, quando ainda estavam no berço? Por acaso, contou suas noites de vigília, quando eles estavam doentes, os passos que deu para proporcionar-lhes o cuidado necessário? Não, não é só o estritamente necessário que os filhos devem aos pais pobres, mas também, tanto quanto puderem, as pequenas alegrias do supérfluo, as amabilidades, os cuidados carinhosos, que são apenas os juros do que receberam, o pagamento de uma dívida sagrada. Essa, somente, é a piedade filial aceita por Deus.

         Infeliz, portanto, aquele que se esquece da sua dívida para os que o sustentaram na sua fraqueza, os que, com a vida material, lhe deram também a vida moral, e que frequentemente se impuseram duras privações para lhe assegurar o bem-estar! Infeliz do ingrato, porque ele será punido pela ingratidão e o abandono; será ferido nas suas mais caras afeições, às vezes desde a vida presente, mas de maneira certa noutra existência, em que terá de sofrer o que fez os outros sofrerem!

         Certos pais, é verdade, menosprezam seus deveres, e não são para os filhos o que deviam ser. Mas é a Deus que compete puni-los, e não aos filhos. Não cabe a estes censurá-los, pois que talvez eles mesmos fizeram por merecê-los assim. Se a lei da caridade nos manda pagar o mal com o bem, ser indulgentes para as imperfeições alheias, não maldizer do próximo, esquecer e perdoar as ofensas, e amar até mesmo os inimigos, quanto essa obrigação se faz ainda maior, em relação aos pais!

         Os filhos, devem, portanto, tomar como regra de conduta para com os pais todos os preceitos de Jesus referentes ao próximo, e lembrar que todo procedimento condenável em relação aos estranhos, mais condenável se torna para com os pais. E que aquilo que no primeiro caso seria apenas uma falta, pode tornar-se um crime no segundo, porque, aqui, à falta de caridade se junta a ingratidão.

 

Tradução livre da 3ª ed. francesa pelo prof. dr. Jorge Leite de Oliveira.

terça-feira, 23 de março de 2021

 


EM DIA COM O MACHADO 463:

exegeses bíblicas e seus frutos (Jó)

 


      N'O evangelho segundo o espiritismo, Allan Kardec classifica em três as revelações divinas: a primeira foi recebida por Moisés e está sintetizada nos Dez Mandamentos, que Jesus resumiu em dois: amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos; a segunda revelação é a Boa Nova de Jesus, relatada pelos quatro evangelistas; a terceira é a Doutrina dos Espíritos ou Espiritismo cristão.

    Os exegetas da Bíblia costumam identificar, nessa obra sagrada, informações muito importantes para a cultura cristã, como as seguintes:

- a Bíblia protestante tem 66 livros;

- a Bíblia católica tem 72 livros;

- o menor capítulo é o salmo 117, que louva a Deus, "pois o seu amor é forte e sua verdade é para sempre";

- o maior capítulo é o salmo 119 (com 176 versículos) em cerca de oito páginas e meia da Bíblia de Jerusalém;

- o capítulo central da Bíblia é o salmo 118;

- o versículo central é o de número 8 desse mesmo salmo: "É melhor confiar no Senhor do que confiar no homem." (Bíblia de João Ferreira de Almeida);

- os evangelhos estão dispostos nesta sequência: Mateus, Marcos, Lucas e João, mas exegetas bíblicos concluíram que o primeiro Evangelho é o de Marcos; Mateus e Lucas o ampliaram; João escreveu seu evangelho com avançada idade;

- o menor evangelho é o de Marcos, com apenas 16 capítulos; o maior é o de Mateus, com 28. O evangelho de João contém 21 capítulos e o de Lucas, 24.

     Tudo isso e muito mais é bastante interessante, como base cultural sobre as Escrituras Sagradas; entretanto, mesmo o conhecimento dos ensinos morais, acrescido a isso, se não for secundado pelas boas obras, de nada nos adiantará, como já dissera Paulo, no capítulo 13 da I epístola aos coríntios, que começa com estes versículos: "1 Ainda que eu falasse línguas, as dos homens e as dos anjos, se eu não tivesse a caridade, seria como bronze que soa ou como címbalo que tine"; e "2 Ainda que tivesse o dom da profecia, o conhecimento de todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, a ponto de transportar montanhas, se não tivesse a caridade, nada seria". E prossegue, nesse seu verdadeiro poema epistolar, que só se encerra neste versículo: "13 Agora, portanto, permanecem fé, esperança, caridade, essas três coisas. A maior delas, porém, é a caridade". (BÍBLIA DE JERUSALÉM, 2004, p. 2009- 2010).

      Algumas pessoas, porém, embora se emocionem com tais salmos e versículos, como ocorre com outros, da Bíblia, não os aplicam, senão como recomendação do comportamento alheio e não do seu. Por esse motivo, concluímos que muito mais importante do que conhecer o modo como é estruturada a Bíblia é vivenciar seus ensinamentos na prática, como já nos propunha Paulo e o Espiritismo ratifica com a máxima: "Fora da caridade não há salvação!"

    Leia também as informações do amigo Astolfo, culto pesquisador  espírita no linkhttp://www.oconsolador.com.br/ano5/238/oespiritismoresponde.html

    Acrescenta ainda o professor Astolfo a seguinte informação:

   Em contraste com o informado pelos exegetas bíblicos, de que o evangelho segundo Marcos foi o primeiro, e o de Mateus apenas o complementou,  informa o Espírito Emmanuel, na obra Paulo e Estêvão, que João Marcos era ainda adolescente quando Gamaliel deu a Paulo os pergaminhos de Levi (Mateus). Segundo relatado na obra, esses escritos eram copiados por todos os cristãos convertidos, graças ao trabalho que Paulo e Barnabé, o tio de João Marcos, realizaram entre os chamados gentios.

    Estas informações são oportunas, para que o amigo  leitor possa entender como Paulo pôde conhecer tão bem os ensinamentos de Jesus quando o evangelho de Marcos nem mesmo existia. É que, obviamente, ele leu os escritos de Mateus.

    Sugiro ao leitor e leitora que leiam a obra-prima citada: Paulo e Estêvão, psicografada por Chico Xavier.


sexta-feira, 19 de março de 2021

 

Bom dia, amigos leitores!

Como vocês podem constatar, publiquei antecipadamente a tradução livre d'O Evangelho Segundo o Espiritismo. Um dos motivos é a necessidade de preparar-me adequadamente para falar um pouco, neste domingo, às 17 horas, sobre o tema abaixo:



Convido-os para assistir nossas modestas considerações (que aliás, de nossas só têm as emissões vocálicas e o esforço de pesquisa) sobre o assunto. 

Grande abraço! Deus, Cristo e Caridade é o lema de Kardec, da FEB e nosso.

Saudações fraternais!

Grande abraço.

quinta-feira, 18 de março de 2021

 



13.5.12 Beneficência verdadeira

Pergunta de Allan Kardec

A beneficência é bem compreendida, quando se limita ao círculo de pessoas da mesma opinião, da mesma crença ou do mesmo partido?

Resposta de São Luís

Paris, 1860

Não, é acima de tudo o espírito de seita e de partido que deve ser abolido, porque todos os homens são irmãos. O verdadeiro cristão vê  apenas irmãos em todos os seus semelhantes, e, para socorrer o necessitado, não procura saber antes sua crença ou sua opinião, sobre qualquer coisa. Seguiria ele o preceito de Jesus Cristo, que manda amar até mesmo os inimigos, se repelisse um infeliz, por ter crença diferença da sua? Que o socorra, pois, sem lhe pedir contas à consciência, mesmo porque, se for um inimigo da religião, esse será o meio de fazer que ele a ame. Repelindo-o, só faria que a odiasse.

Tradução livre da 3ª ed. francesa pelo prof. dr. Jorge Leite de Oliveira


terça-feira, 16 de março de 2021

 

EM DIA COM O MACHADO 462

O que é seguir Jesus (Jó)

 


            

            Mateus, 7:21, cita estas palavras de Jesus, que retumbam nos túmulos e nas mentes de milhares dos reprodutores do seu Evangelho: "Nem todo aquele que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus". E Paulo, em I Coríntios, 15:19, alerta-nos que "Se esperamos em Cristo apenas nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens".

            Refletindo nessas últimas palavras paulinas, o Espírito Emmanuel diz-nos, no capítulo 123 da obra Pão Nosso, que devemos "confiar em Cristo e aguardar n'Ele". Entretanto, prossegue, "[...] que dizer da angústia da alma atormentada no círculo de cuidados terrestres, esperando egoisticamente que Jesus lhe venha satisfazer os caprichos imediatos?"

            O significado da vida, enfatiza, não pode ser confundido com o de "uma vida". Este conceito melhor se aplica a cada existência nossa no corpo físico. A vida, porém, não se restringe à passagem, por todas as etapas, da infância à ancianidade somática.  Pois existir, diz Emmanuel, "´[...] é ser alguém e alguma coisa no concerto do Universo". É permanecer vivo para sempre.

            A morte orgânica não é o fim. É a continuação da vida em plano existencial por ora ainda muito desconhecido por grande  parte da humanidade. Precisamos manter nossa esperança no Cristo, mas "com a noção real da eternidade".

            Infelizmente, porém, muitos de nós ainda vacilamos na crença que pregamos a outrem enfaticamente. Mesmo sabendo da transitoriedade do corpo somático, desculpamo-nos de nossa fraqueza com a justificativa falsa de que temos a eternidade para nos corrigir. Isso nada mais é do que eterna preguiça. Patinhar até que o buraco cavado no gelo de nossa alma nos afogue num mar de lama, donde só sairemos após muito sofrer e clamar misericórdia.  Por isso, Emmanuel nos propõe indagar da própria consciência não somente se estamos, mas se permanecemos com o Cristo.

            E permanecer com Jesus é mais do que falar no bem ou escrever sobre o bem. É pensar no bem. É amar e realizar o bem. É ter a convicção, como conclui esse iluminado Espírito, "[...] de que a esperança legítima não é repouso e sim confiança no trabalho incessante".

            Esta é a senha para entrarmos no reino divino: fazer a vontade do Pai no serviço ao próximo, no amor a todas as suas criaturas. Viver com a certeza de que nada termina com o corpo, mas que conosco segue nossa consciência, que nos cobrará, não somente pelo mal que deixamos de fazer, mas por todo o mal decorrente do bem que não fizermos.

            Por isso mesmo, despeço-me da leitora amiga e do bom leitor com a seguinte trova:

            Quem já sente Jesus presente em sua vida

            Não espera qualquer vantagem no que faz.

            Segue servindo, amando e perdoando, sempre

            Coerente com  Sua Luz e a consciência em paz.

sábado, 13 de março de 2021

 


13.5.11 Benefícios retribuídos com ingratidão

Guia Protetor 

Sens, 1862

 

Que devemos pensar das pessoas que, tendo sido pagas com ingratidão por seus  benefícios, não fazem mais o bem por medo de encontrar ingratos?

 

Essas pessoas têm mais egoísmo do que caridade, porque fazer o bem somente para receber demonstrações de reconhecimento, é não o fazer desinteressadamente, e somente o bem desinteressado é agradável a Deus. São também orgulhosas, porque se comprazem na humildade do beneficiado, que vem colocar a seus pés seu testemunho de reconhecimento. Aquele que busca na Terra a recompensa do bem que faz, não a receberá no céu, mas Deus a reservará para o que não a procura no mundo.

Devemos sempre ajudar aos fracos, mesmo sabendo-se de antemão que aqueles a quem fazemos o bem não nos serão gratos. Saibam que, se aquele a quem prestam um serviço esquecer o benefício, Deus terá este mais em conta do que se vocês fossem recompensados pela gratidão daquele. Deus permite que às vezes vocês sejam pagos com a ingratidão, para provar sua perseverança em fazer o bem.

Quem sabe, aliás, se esse benefício, esquecido, momentaneamente, não produzirá mais tarde bons frutos? Fiquem certos, portanto, de que essa é uma semente que germinará com o tempo. Infelizmente, vocês não veem nunca além do presente; trabalham para si mesmos e não pelos outros. Os benefícios acabam por amolecer os corações mais endurecidos; eles podem ficar esquecidos aqui na, Terra, mas quando o Espírito se livrar do corpo, ele se lembrará, e essa lembrança será o seu castigo. Então, ele lamentará a sua ingratidão, desejará reparar sua falta, pagar sua dívida noutra existência, aceitando mesmo, frequentemente, uma vida de devotamento ao seu benfeitor.

É assim que, sem o suspeitarem, vocês terão contribuído para o progresso moral do beneficiado, e reconhecerão então toda a verdade desta máxima: um benefício nunca se perde. Mas vocês terão também trabalhado para si mesmos, pois terão o mérito de haver feito o bem com desinteresse, sem  desanimar com as decepções.

Ah, meus amigos, se vocês conhecessem todos os laços que, na vida atual, os ligam às suas existências anteriores; se pudessem abarcar a multidão das relações que aproximam os seres uns dos outros, para seu progresso mútuo,  vocês admirariam muito mais a sabedoria e a bondade do Criador, que lhes permite renascer para chegarem a Ele.

Tradução livre da 3ª ed. francesa pelo prof. dr. Jorge Leite de Oliveira

terça-feira, 9 de março de 2021

 

  • Em dia com o Machado 461:
  • Devaneios linguísticos de Jó

 


        Amigo leitor, no ano passado, eu estava correndo em pista do Lago Sul, de Brasília, quando levei uma queda. Como a pista era bastante inclinada, uma senhora que subia por ela, de carro, ao me ver cair de ponta-cabeça, imaginou que eu teria fraturado o crânio. Logo, a bondosa dama ligou para a ambulância do Corpo de Bombeiros, que não tardou a chegar.

        Vendo-me sentado no acostamento da pista, cercado pelo zelo da senhora, que lhe passou sua impressão sobre minha queda, um dos três militares que me atenderam iniciou uma série de perguntas. Graças a Deus, respondi com lucidez a todas elas, mas o paramédico ficou espantado com minha trajetória de vida: auxiliar de pintor de paredes, vigia de loja de vizinho evangélico, aos doze ou treze anos de idade, balconista, jornaleiro, vendedor de picolés e, aos dezenove anos, soldado do Exército. Faltavam-me opções, pois ainda nem completara o ensino médio.

        Após promoção, fui transferido para Salvador, onde fiquei durante ano e meio. Depois, para Barreiras, BA, onde me casei e, no ano seguinte, vim com a nova família, agora acrescida da filha primogênita, para Brasília.

        Como aprendera a gostar de poesia e rabiscar meus poemas, ainda em mocidade espírita de Rocha Miranda, no Rio de Janeiro (Mocidade Espírita Irmão Isaac, do Centro Espírita Jesus, Maria e José), ao saber de concurso nacional de poesia, promovido pela Revista Brasília, inscrevi-me.  Para minha surpresa, fui classificado com medalha de bronze, como prêmio ao meu poema intitulado A Marcha.

        Por essa época, eu já havia concluído o ensino médio, aqui na Capital. Então prestei vestibular no Centro de Ensino Unificado de Brasília (UniCEUB) e, cinco anos após, iniciei meu trabalho como professor de língua portuguesa na própria faculdade que me formara e onde também me pós-graduara como especialista em língua portuguesa.

        Em pouco mais de duas décadas, no ensino de português, redação e literatura, conheci as teorias de Roman Jakobson, Henri Saussure e Noam Chomsky sobre a língua e a linguagem. Entretanto, nunca pensei em substituir a alma pela sua faculdade de se comunicar.

        Agora, após ter concluído, na UnB, especialização, mestrado e doutorado em literatura e estar cursando um estágio pós-doutoral, on-line, na Universidade Estadual da Bahia, propuseram-me a leitura de filósofos e teóricos que veem diferente de mim as funções da linguagem propostas por Jakobson. Um deles é Roland Barthes, para quem "a língua é fascista, porque nos obriga a dizer".

        Pelo que sei, o que nos faculta, e não nos obriga a dizer, é a vontade, atributo da alma. Enfim... anotei algumas coisas gostosas ditas por esse emérito professor francês. Uma delas é que "a literatura está onde há sabor nas palavras, pois sabor e saber têm a mesma origem etimológica latina".

        Outra coisa interessante, que contrasta com o gênio conservador francês de sua língua, é que, para Barthes, a escola deveria encorajar a "aprendizagem simultânea de várias línguas com funções diversas, promovidas à igualdade".

        Há mais coisas interessantes em sua excelente obra. Humana como tantas outras que se julgam muito sábias, mas que, com sua ciência igualmente mutante, não decifram o mutante coronavírus. Sua proposta de diversificação do aprendizado linguístico, no entanto, valoriza o que tenho postado aqui, a conta-gotas, semanalmente: a tradução livre de uma página da terceira edição francesa d'O Evangelho Segundo o Espiritismo em terceira pessoa, que é a língua falada, predominantemente, pelo povo.

        À bientôt!

 

 

 

 

 

sábado, 6 de março de 2021

 


 

13.5.10 Os órfãos

Um Espírito Protetor

Paris, 1860

 

Meus irmãos, amem os órfãos! Se vocês soubessem quanto é triste estar só e abandonado, sobretudo na idade infantil! Deus permite que existam órfãos, para nos convidar a lhes servir de pais. Que divina caridade, a de ajudar uma pobre criaturinha abandonada, livrá-la da fome e do frio, orientar sua alma, para que ela não se perca no vício!

Quem estende a mão a uma criança abandonada é agradável a Deus, pois compreende e pratica a sua lei. Lembrem-se também de que, frequentemente, a criança que agora vocês socorrem foi-lhes cara noutra encarnação, e se o pudessem recordar, o que fazem já não seria caridade, mas o cumprimento de um dever.

Assim, portanto, meus amigos, todo sofredor é seu irmão e tem direito a sua caridade. Não a essa caridade que magoa o coração; não a essa esmola que queima a mão de quem a recebe, pois seus óbolos são frequentemente muito amargos! Quantas vezes eles seriam recusados, se no casebre a doença e a privação não os esperassem!

Deem delicadamente, juntem ao benefício o mais precioso de todos: uma boa palavra, uma carícia, um sorriso amigo. Evitem esse ar de proteção, que revolve a lâmina no coração que sangra, e pensem que, ao fazer o bem, trabalham para vocês e para os seus...

Tradução livre da 3ª ed. francesa pelo prof. dr. Jorge Leite de Oliveira

terça-feira, 2 de março de 2021

 

  • EM DIA COM O MACHADO 460:
  • A evolução pede passagem...

 

Mens agitat molem (A mente move a matéria) – Virgílio, Eneida, VI, 727. Apud ANDRADE, Hernani Guimarães. A mente move a matéria. São Paulo: FE Ed. Jornalística Ltda, 2005.

     

Estive refletindo sobre a época atual. Muitas pessoas negam que o mundo evoluiu, moralmente, nos últimos milênios. Isso não é novidade, pois já há quem não creia que o Cristo tenha encarnado na Terra. Negam a história de milhares de cristãos, cruelmente assassinados, mas criticam os absurdos cometidos pela Igreja, quando esta passou a fazer parte do Estado e, consequentemente, da política. No entanto, a Igreja foi criada pelos que sucederam aos mártires cristãos. Outras pessoas pregam a anarquia dos sentidos, pois, segundo seu juízo, ninguém sairá vivo do mundo. Confundem o cérebro, órgão de manifestação do pensamento, com a mente, faculdade da alma que comanda esse órgão.

Tanto umas quanto outras afirmam que todas as filosofias antigas e modernas nada mais são que manifestações de ideias de alguns seres humanos criativos, que desejam manter-se no controle da situação e submeter os fracos às suas elucubrações mentais. Os objetivos são o poder e a riqueza.

Hoje, porém, a consciência humanitária atingiu estágio jamais alcançado. Como exemplo, temos o avanço extraordinário dos meios de comunicação, que nos permitem ver e falar, instantaneamente, com alguém que esteja no outro lado da Terra. A liberdade de manifestação do pensamento e o respeito às diferenças são muito maiores do que em priscas eras, em especial nos países democratas. Mulheres têm seus direitos e dignidade mais respeitados, preconceitos são combatidos, e animais têm seus defensores.

Atualmente, famílias de classe média vivem mais confortavelmente que monarcas de dois séculos atrás. A educação tem alcançado um número de pessoas nunca antes atingido, e a medicina oferece especializações médicas para a terapia de cada órgão corporal. Tratamentos com choque elétrico a doentes mentais foram substituídos por remédios potentes; implantes dentários substituem dentaduras postiças; cirurgias oculares corrigem deficiências visuais; vacinas antiviróticas obtêm resultados altamente eficazes; próteses mecânicas permitem que portadores de necessidades especiais levem vidas normais; serviços públicos e privados contratam essas pessoas etc. etc.

O que falta aos que negam a evolução humana é o estudo e a fé nas três revelações divinas anunciadas há milênios, desprovidas dos preconceitos provenientes das falsas ideologias. Estudo para comprovarem suas manifestações ao longo dos séculos. Fé para libertarem-se dos condicionamentos causados pelos negativistas de todos os tempos, que ainda vivem sob o jugo das paixões e da profunda ignorância espiritual.

Embora sempre tenha havido revelações locais, destinadas a coibirem a brutalidade dos diversos povos, imperam no mundo três principais revelações divinas: a primeira, representada pelos Dez Mandamentos, teve em Moisés seu revelador; a segunda tem em Jesus Cristo a figura central; e a terceira, prometida por este para ficar eternamente entre nós, é o Espiritismo, também chamada Doutrina dos Espíritos, cuja direção central é a de Jesus.

 Reflitamos nestas palavras de Allan Kardec, ao se referir ao "caráter da revelação espírita" no capítulo primeiro d'A Gênese:

 

O Espiritismo, partindo das próprias palavras do Cristo, como este partiu das de Moisés, é a consequência direta da sua doutrina. À ideia vaga da vida futura, acrescenta a revelação da existência do mundo invisível que nos rodeia e povoa o espaço, e com isso precisa a crença, dá-lhe um corpo, uma consistência, uma realidade à ideia. Define os laços que unem a alma ao corpo e levanta o véu que ocultava aos homens os mistérios do nascimento e da morte. Pelo Espiritismo, o homem sabe de onde vem, para onde vai, por que está na Terra, por que sofre temporariamente e vê por toda parte a Justiça de Deus. Sabe que a alma progride incessantemente, através de uma série de existências sucessivas, até atingir o grau de perfeição que a aproxima de Deus. Sabe que todas as almas, tendo um mesmo ponto de origem, são criadas iguais, com a mesma aptidão para progredir, em virtude do seu livre-arbítrio; que todas são da mesma essência e que não há diferença entre elas, senão quanto ao progresso realizado; que todas têm o mesmo destino e alcançarão o mesmo fim, mais ou menos rapidamente, conforme seu trabalho e boa vontade.

 

        Diz ele ainda que não há quem esteja deserdado, nem quem seja mais favorecido, pois Deus não privilegiou a criação de seus seres. Tudo evolui, todos estamos submetidos à lei do amor, da justiça e do trabalho; não há quem esteja destinado ao mal e ao sofrimento eternos. Demônios, do grego daimónium, são Espíritos imperfeitos, que tanto praticam o mal, quando encarnados, quanto o praticam no mundo espiritual. Eles também estão sujeitos à lei do progresso. E os chamados anjos nada mais são do que Espíritos que aproveitaram essa lei no bem incessante. Enfim, conclui Kardec, todos somos filhos das próprias obras, mas ninguém é deserdado pelo Pai, que preside toda a Criação: Deus!

              Saúde, paz e bem, amigos leitores!

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