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terça-feira, 9 de março de 2021

 

  • Em dia com o Machado 461:
  • Devaneios linguísticos de Jó

 


        Amigo leitor, no ano passado, eu estava correndo em pista do Lago Sul, de Brasília, quando levei uma queda. Como a pista era bastante inclinada, uma senhora que subia por ela, de carro, ao me ver cair de ponta-cabeça, imaginou que eu teria fraturado o crânio. Logo, a bondosa dama ligou para a ambulância do Corpo de Bombeiros, que não tardou a chegar.

        Vendo-me sentado no acostamento da pista, cercado pelo zelo da senhora, que lhe passou sua impressão sobre minha queda, um dos três militares que me atenderam iniciou uma série de perguntas. Graças a Deus, respondi com lucidez a todas elas, mas o paramédico ficou espantado com minha trajetória de vida: auxiliar de pintor de paredes, vigia de loja de vizinho evangélico, aos doze ou treze anos de idade, balconista, jornaleiro, vendedor de picolés e, aos dezenove anos, soldado do Exército. Faltavam-me opções, pois ainda nem completara o ensino médio.

        Após promoção, fui transferido para Salvador, onde fiquei durante ano e meio. Depois, para Barreiras, BA, onde me casei e, no ano seguinte, vim com a nova família, agora acrescida da filha primogênita, para Brasília.

        Como aprendera a gostar de poesia e rabiscar meus poemas, ainda em mocidade espírita de Rocha Miranda, no Rio de Janeiro (Mocidade Espírita Irmão Isaac, do Centro Espírita Jesus, Maria e José), ao saber de concurso nacional de poesia, promovido pela Revista Brasília, inscrevi-me.  Para minha surpresa, fui classificado com medalha de bronze, como prêmio ao meu poema intitulado A Marcha.

        Por essa época, eu já havia concluído o ensino médio, aqui na Capital. Então prestei vestibular no Centro de Ensino Unificado de Brasília (UniCEUB) e, cinco anos após, iniciei meu trabalho como professor de língua portuguesa na própria faculdade que me formara e onde também me pós-graduara como especialista em língua portuguesa.

        Em pouco mais de duas décadas, no ensino de português, redação e literatura, conheci as teorias de Roman Jakobson, Henri Saussure e Noam Chomsky sobre a língua e a linguagem. Entretanto, nunca pensei em substituir a alma pela sua faculdade de se comunicar.

        Agora, após ter concluído, na UnB, especialização, mestrado e doutorado em literatura e estar cursando um estágio pós-doutoral, on-line, na Universidade Estadual da Bahia, propuseram-me a leitura de filósofos e teóricos que veem diferente de mim as funções da linguagem propostas por Jakobson. Um deles é Roland Barthes, para quem "a língua é fascista, porque nos obriga a dizer".

        Pelo que sei, o que nos faculta, e não nos obriga a dizer, é a vontade, atributo da alma. Enfim... anotei algumas coisas gostosas ditas por esse emérito professor francês. Uma delas é que "a literatura está onde há sabor nas palavras, pois sabor e saber têm a mesma origem etimológica latina".

        Outra coisa interessante, que contrasta com o gênio conservador francês de sua língua, é que, para Barthes, a escola deveria encorajar a "aprendizagem simultânea de várias línguas com funções diversas, promovidas à igualdade".

        Há mais coisas interessantes em sua excelente obra. Humana como tantas outras que se julgam muito sábias, mas que, com sua ciência igualmente mutante, não decifram o mutante coronavírus. Sua proposta de diversificação do aprendizado linguístico, no entanto, valoriza o que tenho postado aqui, a conta-gotas, semanalmente: a tradução livre de uma página da terceira edição francesa d'O Evangelho Segundo o Espiritismo em terceira pessoa, que é a língua falada, predominantemente, pelo povo.

        À bientôt!

 

 

 

 

 

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