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sexta-feira, 27 de setembro de 2019




5.7.4 Perda de pessoas amadas. Mortes prematuras  

Quando a morte vem ceifar em suas famílias, levando sem consideração os jovens em lugar dos velhos, dizem frequentemente: "Deus não é justo, pois sacrifica o que está forte e  cheio de futuro, para conservar os que já viveram longos anos, carregados de decepções; pois leva os que são úteis e deixa os que não servem mais para nada; pois despedaça o coração de uma mãe, privando-a da inocente criatura que era toda a sua alegria”.
Criaturas humanas, é nisso que vocês necessitam elevar-se acima do terra-a-terra da vida, para compreender que o bem está, muitas vezes, onde julgam ver o mal; a sábia providência onde creem ver a fatalidade do destino.  Por que medir a Justiça Divina pela sua medida? Podem supor que o Senhor dos Mundos queira, por um simples capricho, infligir-lhes penas cruéis? Nada se faz sem um propósito inteligente, e, seja o que for que ocorra,  tudo tem  sua razão de ser. Se perscrutassem melhor todas as dores que os atingem, sempre encontrariam nelas a razão divina, razão regeneradora, e seus miseráveis interesses representariam uma consideração secundária, que relegariam para o último plano.
Creiam-me: a morte é preferível, mesmo numa encarnação de vinte anos, a esses desregramentos vergonhosos que desolam as famílias respeitáveis, ferem um coração de mãe, e fazem branquear antes do tempo os cabelos dos pais. A morte prematura frequentemente é um grande benefício, que Deus concede ao que se vai e que se preserva assim das misérias da vida, ou das seduções que poderiam arrastá-lo à perdição. Aquele que morre na flor da idade não é vítima da fatalidade, mas Deus julga que é útil para ele não ficar mais tempo na Terra.
É uma terrível desgraça, dizem, que uma vida tão cheia de esperanças seja cortada tão cedo! De que esperanças querem falar? Daquelas da Terra onde aquele que se foi poderia brilhar, fazer sua carreira e sua fortuna? Sempre essa visão estreita que não consegue elevar-se acima da matéria! Sabem qual tem sido a sorte dessa vida tão cheia de esperanças, segundo entendem? Quem lhes diz que ela não poderia estar carregada de amarguras? Consideram como nada as esperanças da vida futura, preferindo as da vida efêmera que arrastam pela Terra? Imaginam, então, que mais vale uma posição elevada, entre os homens, do que entre os Espíritos bem-aventurados?
Regozijem-se em vez de chorar, quando apraz a Deus retirar um de seus filhos deste vale de misérias. Não seria egoísmo desejar que fique, para sofrer convosco? Ah! Essa dor se concebe entre os que não têm fé, e que veem na morte a separação eterna. Mas vocês, espíritas, vocês sabem que a alma vive melhor quando livre de seu invólucro corporal. Mães, saibam que seus filhos bem-amados estão perto de vocês; sim, eles estão bem perto; seus corpos fluídicos as envolvem, seus pensamentos as protegem, e a lembrança que deles guardam transportam-nos de alegria; mas também as suas dores sem razão os afligem, porque denotam uma falta de fé e constituem uma revolta contra a vontade de Deus.
Os que compreendem a vida espiritual escutem as pulsações de seu coração chamando esses entes bem-amados. E, se pedirem a Deus que os abençoe, sentirão consolações poderosas, dessas que secam as lágrimas; sentirão aspirações grandiosas, que lhes mostrarão o futuro prometido pelo Soberano Senhor.
Sansão, antigo membro da Sociedade Espírita de Paris, 1863.

Tradução livre da 3ª ed. francesa pelo Prof. Dr. Jorge Leite de Oliveira

terça-feira, 24 de setembro de 2019




EM DIA COM O MACHADO 386:
vontade, pensamento e ação (Jó)

Após sua publicação d’O Livro dos Espíritos, em 18 de abril de 1857, Allan Kardec optou por também editar, com recursos pessoais, um periódico que não apenas servisse como aprofundamento às 501 questões da primeira edição daquela obra básica, como também a ampliasse, a partir de sua segunda edição, para 1.019 questões.
Além disso, a Revista Espírita, nome que deu ao periódico, serviria como laboratório experimental para a ampliação de sua obra, que se desdobraria noutras quatro: O Livro dos Médiuns, O Evangelho Segundo o Espiritismo, O Céu e o Inferno e A Gênese. Isso sem nos referir a livros como Instrução Prática Sobre as Manifestações Espíritas; O Espiritismo na Sua Expressão mais Simples; e outros opúsculos.
Na Revista Espírita de janeiro de 1858, em: Respostas dos Espíritos a algumas perguntas, Kardec acha estranho que os Espíritos possam agir sobre a matéria. Em consequência disso, é informado que o Espírito age por si mesmo, com base no que viria a ser chamado, mais tarde de perispírito, ou seja “laço que une o Espírito à matéria”.
Na observação logo abaixo, é explicado que esse laço é “impalpável”, mas nele está a “causa primeira de todos os nossos movimentos voluntários”, assim como “a eletricidade derruba, levanta e transporta massas inertes”. Vamos entender, por fim, que a causa inicial da ação sobre o “agente físico” é a “inteligência que age sobre esse agente”. Assim como o pensamento age sobre nossos membros, mas são estes que se movem, e não o pensamento, é pela ação da vontade do Espírito, atuando sobre seu perispírito, que este é capaz de agir sobre a matéria.
E onde se situa a vontade? Explica-nos o Espírito Emmanuel que a vontade é que governa “todos os setores da ação mental”, que ele classifica em desejo, inteligência, imaginação, memória, além dos “que definem os investimentos da alma” (in: XAVIER, Chico. Pensamento e Vida, cap. 2).
Sem a vontade, explica-nos o venerando guia espiritual daquele que foi eleito O Maior Brasileiro de Todos os Tempos,

O desejo pode comprar ao engano aflitivos séculos de reparação e sofrimento, a inteligência pode aprisionar-se na enxovia da criminalidade, a imaginação pode gerar perigosos monstros na sombra, e a memória, não obstante fiel à sua função de registradora, conforme a destinação que a natureza lhe assinala, pode cair em deplorável relaxamento.
Só a vontade é suficiente forte para sustentar a harmonia do Espírito.
Em verdade, ela não consegue impedir a reflexão mental, quando se trate da conexão entre os semelhantes, porque a sintonia constitui lei inderrogável, mas pode impor o jugo da disciplina sobre os elementos que administra, de modo a mantê-los coesos na corrente do bem (op. cit.).

                Fomos criados à “imagem e semelhança de Deus”, por sermos seus filhos, ou seja, Espíritos imortais, que têm por destinação a perfeição. Assim sendo, é imprescindível que disciplinemos nossa vontade para a ação permanente no bem. Isso porque, sendo Deus puro Amor, somente pensando no Amor e agindo com Amor poderemos ser felizes.

sexta-feira, 20 de setembro de 2019



Tradução livre em terceira pessoa do Dr. Jorge Leite de Oliveira


5.7.3 A felicidade não é deste mundo

Não sou feliz! A felicidade não foi feita para mim! exclama geralmente o homem, em todas as posições sociais. Isso, meus caros filhos, prova melhor que todos os raciocínios  possíveis, a verdade desta máxima do Eclesiastes: "A felicidade não é deste mundo". Com efeito nem a fortuna, nem o poder, nem mesmo a juventude em flor, são condições essenciais da felicidade. Digo mais: nem mesmo a reunião dessas três condições, tão cobiçadas, pois que ouvimos constantemente, no seio das classes privilegiadas, pessoas de todas as idades lamentarem amargamente sua condição de existência.
Diante disso, é inconcebível que as classes trabalhadoras e militantes invejem tão avidamente a posição das que parecem favorecidas pela fortuna. Neste mundo, por mais que se faça, cada qual tem a sua parte de trabalho e de miséria, seu quinhão de sofrimento e decepções. Donde é fácil chegar-se à conclusão de que a Terra é um lugar de provas e de expiações.
Assim, pois, os que pregam que a Terra é a única morada do homem e que somente nela, e numa só existência, lhe é permitido alcançar o mais alto grau das felicidades que sua natureza comporta, iludem-se e enganam aqueles que os escutam. Considerando-se que está demonstrado, por uma experiência multissecular, que este globo só excepcionalmente reúne as condições necessárias à felicidade completa duma pessoa.
Genericamente, pode afirmar-se que a felicidade é uma utopia, a cuja conquista as gerações se lançam, sucessivamente, sem jamais a alcançarem. Porque, se o homem sábio é uma raridade neste mundo, o homem realmente feliz nunca foi encontrado.
Aquilo em que consiste a felicidade na Terra é coisa tão efêmera, para quem não se deixa guiar pela sabedoria, que por um ano, um mês, uma semana de completa satisfação, todo o resto da existência se passa numa sequência de amarguras e decepções. E notem, meus caros filhos, que falo aqui dos felizes da Terra, dos invejados pelas multidões.
Consequentemente, se a morada terrena se destina a provas e expiações, deve-se admitir que existem, além, moradas mais favorecidas, em que o Espírito do homem, ainda prisioneiro dum corpo material, desfruta em sua plenitude das alegrias inerentes à vida humana. Foi por isso que Deus semeou, no seu turbilhão, esses belos planetas superiores para os quais seus esforços e suas tendências os farão um dia gravitar, quando estiverem suficientemente purificados e aperfeiçoados.
No entanto, não se deduza de minhas palavras que a Terra esteja para sempre destinada a ser penitenciária. Não, por certo! Porque, dos progressos realizados se pode facilmente deduzir os progressos futuros, e, das melhorias sociais já conquistadas, virão novas e mais fecundas melhorias. Essa é a tarefa imensa que deve ser realizada pela nova Doutrina que os Espíritos lhes revelaram.
Assim, pois, meus queridos filhos, que um santo estímulo os anime, e que cada um dentre vocês se despoje energicamente do velho homem. Dediquem-se todos à propagação desse Espiritismo, que já deu início à sua própria regeneração. É um dever fazer seus irmãos participarem dos raios dessa luz sagrada. À obra, portanto, meus queridos filhos! Que nesta reunião solene, todos os seus corações aspirem a esse grandioso objetivo, de preparar para as futuras gerações um mundo em que felicidade não seja mais uma vã palavra.

François-Nicolas-Madelaine - Cardeal Morlot
Paris, 1863.

terça-feira, 17 de setembro de 2019




EM DIA COM O MACHADO 385:
mundo quadrado e mentes planas (jó)

“Diz o insensato em seu coração: ‘Deus não existe!’. São falsos, corrompidos, abomináveis; ninguém age bem.” — Davi. Salmo 14: O homem sem Deus (BÍBLIA de Jerusalém. Paulus, 2004).

No programa Fantástico da Globo, no dia 15/9/2019, foi apresentada reportagem que nos esclarece sobre a diferença entre conhecimento científico, comprovado por fatos patentes, e teimosia de pessoas, por vezes de má fé; outras, por ignorância, que insistem na negativa do que já está plenamente provado pela ciência atual.
E que foi mostrado no Fantástico? — perguntará o leitor. Simples, que a Terra é redonda. Parece incrível, mas  é inútil  reafirmar, a milhões de pessoas, esta verdade patente: a esfericidade do globo terrestre. Mesmo que elas sejam lançadas ao espaço!
Isso traz-me, novamente, à memória, uma conversa que tive, ainda na juventude, com senhora de setenta para oitenta anos, após a ida do homem à Lua, em 1969. Para ela, isso nunca ocorreu, jamais ocorreria e não adiantava dizer-lhe que o fato fora filmado com a partida do foguete, o pouso da nave, a imagem redonda da Terra, vista do espaço, e da caminhada de Neil Armstrong pelo solo lunar. Dona Francisca, como se chamava, simplesmente negava tudo. — Tudo mentira! Dizia ela, convicta do que falava.
Também não cria na forma arredondada da Terra. Sua forma era plana. E fim de papo. Isso não é de admirar, quando vemos, ainda hoje, pessoas que formam comunidades “científicas” para contestar o que já é considerado comprovado pela maioria da humanidade: a Terra é redonda e (ainda) azul. Outro grupo afirma, com pseudocálculos matemáticos, que nosso mundo não é plano nem redondo e, sim, oval ou cônico.
Até hoje, jamais vira algo como um planeta quadrado. Ao menos em foto de qualquer site, blog ou sei lá o quê. Pois não é que o site G17[1] afirma, peremptoriamente, que os cientistas descobriram um planeta quadrado que tem o dobro do tamanho da Terra e, ainda por cima, é azul? Valha-nos Deus! Só falta aparecer um maluco dizendo que esse planeta é a própria Terra ampliada no espelho do Hubble, telescópio gigante enviado pelo homem ao espaço há algumas décadas.
Mas quadrada mesmo é a mente de alguns terráqueos, que duvidam de tudo e sempre têm uma ideia própria, transformada em “teoria” para contestar qualquer coisa, mesmo o que já está provado cientificamente. Quando questionam, por exemplo, o caráter científico do Espiritismo, Kardec responde: “O Espiritismo não é da alçada da ciência”.
— Mas o que é isso? perguntaria o leitor bem informado. Então, o Espiritismo não é da alçada da ciência?
E o codificador da Doutrina Espírita responderia: — Não da ciência baseada nos fenômenos materiais, comprovados em laboratórios, e sim daquela que se baseia nos fatos espíritas, como diz William Crookes, um dos maiores cientistas do século XIX, em sua obra. E, como é sabido: contra fatos, não há argumentos válidos.
O Espiritismo é ciência de observação. Como tal, requer longo estudo e prática dos que creem na revelação dos Espíritos, devidamente confirmada pelos médiuns, seus instrumentos de trabalho, sob a coordenação do Cristo de Deus e seus enviados. Ele atende à  promessa de Jesus de retornar e permanecer conosco para sempre, conforme lemos em João, 14: 15 a 18.
Ainda assim, grande quantidade de incrédulos continuarão contestando os fatos espíritas. Não vale a pena perder tempo com eles, como também não merecem atenção aqueles que insistem em que a Terra não é redonda.
Foi por saber que é tempo perdido argumentar contra céticos irredutíveis, ou com fanáticos irracionais, que Allan Kardec nos advertiu: “Persuadamo-nos bem de que certas pessoas, enquanto viverem, jamais aceitarão o Espiritismo, nem aberta nem tacitamente [...]” (Revista Espírita, jan. 1867).
E concluímos: — Se não aceitam o que a própria ciência oficial, baseada em fatos comprovados pelos telescópios, pela circum-navegação e pelas viagens espaciais vê, filma, fotografa e divulga; se não creem no que os laboratórios são capazes de reproduzir quantas vezes se queira, como crerão numa ciência de observação, como o é o Espiritismo? Ainda que presenciem o fenômeno, e o Espírito comunicante seja um seu familiar ou parente que lhes diga algo somente conhecido deles, criarão mil e uma teorias: a do demônio, a da captação mental da ideia difusa no espaço, a da alucinação...
Sobre eles, diria Jesus: — Deixai-os, são cegos guiando cegos!



[1] No rodapé do site, lemos o seguinte: “G17 é site de humor. As publicações do site são piadas produzidas para fins de entretenimento”. Entretanto, não vai faltar quem acredite na história e jure de pés juntos que é verdadeira. São as mentes tão quadradas como as “notícias” desse site. Não investigam nada a fundo, creem em absurdos e negam os fatos, contra os quais não existem argumentos contrários

sexta-feira, 13 de setembro de 2019







5.7.2 O mal e o remédio

Seria a Terra um lugar de alegrias, um paraíso de delícias? A voz do profeta não retine ainda nos seus ouvidos? Ele não clamou que haveria choro e ranger de dentes para os que nascessem neste vale de dores? Os que nele vieram viver, esperem, portanto, lágrimas ardentes e penas amargas, e quanto mais agudas e profundas forem as suas dores, voltem os olhos ao céu e bendigam ao Senhor, por tê-los querido provar!
Oh, criaturas! Vocês não reconhecem o poder de seu Senhor, senão quando ele curar as chagas do seu corpo e encher seus dias de beatitude e de alegria? Não reconhecem então seu amor, senão quando ele adornar seu corpo com todas as glórias, e lhes der seu brilho e brancura?
Imitem aquele que lhes foi dado para exemplo. Chegado ao último grau da abjeção e da miséria, estendido sobre um estrume, ele disse a Deus: "Senhor! conheci todas as alegrias da opulência, e você reduziu-me à mais profunda miséria! Obrigado, obrigado, meu Deus, por ter querido provar seu servo!".
Até quando seus olhos só alcançarão os horizontes limitados pela morte? Quando, enfim, sua alma quererá lançar-se além dos limites dum túmulo? Mas ainda que tivessem de chorar e sofrer a vida inteira, o que é isso, ao lado da eternidade de glória reservada àquele que houver suportado a prova com fé, amor e resignação? Busquem, pois, consolações para seus males no futuro que Deus lhes prepara, e a causa de seus males no passado; e aqueles que mais sofrem julgar-se-ão bem-aventurados da Terra.
No estado de desencarnados, quando planavam no espaço, vocês escolheram suas provas, por se considerarem bastante fortes para suportá-las. Por que murmurarem agora? Os que pediram a fortuna e a glória desejavam lutar contra a tentação e vencê-la. Os que pediram para lutar de corpo e alma contra o mal moral e físico sabiam que quanto mais forte fosse a prova, mais gloriosa seria a vitória, e que, se triunfassem, mesmo que seu corpo fosse lançado sobre um estrume, na ocasião da morte, ele deixaria escapar uma alma esplendente de brancura, purificada pelo batismo da expiação e do sofrimento.
Que remédio, então, prescrever aos que foram atacados por obsessões cruéis e males cruciantes? Um só é infalível: é a fé, é o olhar no céu. Se, no auge dos seus mais cruéis sofrimentos, cantarem hinos ao Senhor, o anjo à sua cabeceira lhes mostrará o sinal da salvação e o lugar que ocuparão um dia... A fé é o remédio certo para o sofrimento. Ela mostra sempre os horizontes do infinito, ante os quais se esvaem os poucos dias sombrios do presente.
Não mais nos perguntem, portanto, qual remédio curará tal úlcera ou tal chaga, para tal tentação ou tal prova. Lembrem-se de que aquele que crê se fortalece com o remédio da fé, e aquele que duvida um segundo da sua eficácia é punido, imediatamente, porque sente no mesmo instante as angústias pungentes da aflição.
O Senhor marcou com seu selo todos os que creem nele. Cristo disse-lhes que a fé transporta montanhas, e digo-lhes que aquele que sofre e que tiver a fé como amparo será colocado sob sua proteção e não mais sofrerá. Os momentos mais dolorosos serão para ele como as primeiras notas de alegria da eternidade. Sua alma desprender-se-á de tal modo de seu corpo, que, enquanto este se torcer em convulsões, ela planará nas regiões celestes, entoando com os anjos hinos de reconhecimento e de glória ao Senhor.
Felizes os que sofrem e choram! Que suas almas se alegrem, porque serão satisfeitas por Deus.
Agostinho
Paris, 1863.

Tradução livre da 3ª ed. francesa: Jorge Leite de Oliveira

terça-feira, 10 de setembro de 2019




EM DIA COM O MACHADO 384:
sexo e responsabilidade (Jó)


Vivemos numa época em que tudo se faz, socialmente, em nome do Estado Democrático de Direito e da democracia no Brasil. Conforme cita o art. 1º da Carta Magna brasileira: “A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito [...]”.
E que é democracia? É o “governo do povo; governo em que o povo exerce a soberania (o controle do regime político é exercido pelo povo)”; “sistema político cujas ações atendem aos interesses populares. Definições do Houaiss e do Aurélio.
Conclui o artigo citado, de nossa Constituição Federal: “[...] e tem como fundamentos: [...] III – a dignidade da pessoa humana”.
Respeito à dignidade não significa que, em nome da liberdade de expressão, também constitucional, se atente contra os seres em formação psicofísica e social, como ocorre com nossas crianças e adolescentes, a quem se propôs, na Bienal do Livro, a aquisição de obra com imagem de dois jovens do mesmo sexo beijando-se na boca. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), em seu art. 1º prevê a “proteção integral à criança e ao adolescente”. O art. 2º define criança como “pessoa até doze anos de idade incompletos e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade”.
A Psicologia já comprovou cientificamente que até seus sete ou oito anos de idade, o psiquismo da criança ainda está se formando. Somente a partir daí podemos dizer que a alma infantil já está completamente de posse do corpo e de suas manifestações psicológicas. Como submeter essas pessoas a matérias que tragam fotos de beijos entre pessoas do mesmo sexo, ainda que estas mereçam todo o nosso respeito?
Os incisos anteriores e os seguintes da Lex Magna não serão citados, por não serem o caso desta análise. O parágrafo único, entretanto, confirma a definição de democracia dos dicionários: “Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente nos termos desta Constituição”.
Eis o que diz o preâmbulo de nossa Lei Maior:

Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL (destaque em negrito meu).

                Também reza o art. 227 da Constituição Federal vigente que

É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
[...] § 4º A lei punirá severamente o abuso, a violação e a exploração sexual da criança e do adolescente.

                Conclusão: Nossa Constituição evoca a fé do povo, que está “sob a proteção de Deus”, para lembrar aos nossos políticos e aos representantes dos três poderes a necessidade de respeito à nação cristã brasileira. No caso da criança e do adolescente, além do art. 227 da Constituição Federal de 1988, existe a Lei 8.069, de 13 jul. 1990 (ECA), que assegura à criança e ao jovem “proteção integral”. Ou seja, física, orgânica, mental e espiritual.
Então, não cabe alegar-se “Estado democrático de direito” para interpretar as nossas leis, segundo a vontade de uma minoria da população. É preciso respeitar a tradição cristã do nosso povo e as normas estatuídas.
            Há uma frase célebre que diz: “O meu direito vai até onde eu não ameace o direito de outrem”. Nesse caso, creio que a vontade do nosso povo, de quem emana o poder, não pode ser substituída por sofismas que alegam a democracia para justificar manifestações deturpadas do pensamento e comportamento. Em nome da liberdade de expressão não é lícito, a meu ver, utilizar-se do critério monocrático de Ministro do Supremo Tribunal Federal para garantir um “direito enviesado” que mais atenta contra a moral e os bons costumes do que garante o suposto direito das minorias.
            Muito ainda se pode dizer sobre esse assunto, mas fico por aqui, ainda que com todo o respeito à diversidade de gêneros, cuja gênese extrapola o corpo físico de cada digno ser humano. Não posso, entretanto, deixar de relembrar as seguintes orientações do Espírito Emmanuel, citadas por um psiquiatra espírita em brilhante palestra sobre o assunto:

[...] em torno do sexo, será justo sintetizarmos todas as digressões nas normas seguintes:
Não proibição, mas educação.
Não abstinência imposta, mas emprego digno, com o devido respeito aos outros e a si mesmo.
Não indisciplina, mas controle.
Não impulso livre, mas responsabilidade.
Fora disso, é teorizar simplesmente, para depois aprender ou reaprender com a experiência.
Sem isso, será enganar-nos, lutar sem proveito, sofrer e recomeçar a obra da sublimação pessoal, tantas vezes quantas se fizerem precisas, pelos mecanismos da reencarnação, porque a aplicação do sexo, ante a luz do amor e da vida, é assunto pertinente à consciência de cada um.[1]









[1] XAVIER, Francisco Cândido. Vida e Sexo. Pelo Espírito Emmanuel. 27. ed. – 3. imp. Brasília: FEB, 2016,  p. 8.

quinta-feira, 5 de setembro de 2019





5.7 Instruções dos Espíritos

5.7.1 Bem e mal sofrer

Quando Cristo disse: "Bem-aventurados os aflitos, porque deles é o Reino dos Céus", não se referia aos sofredores em geral, porque todos os que estão neste mundo sofrem, quer estejam sobre o trono ou sobre a palha. Mas, ah! poucos sofrem bem; poucos compreendem que apenas as provas bem suportadas podem conduzi-los ao Reino de Deus. O desânimo é uma falta; Deus lhes recusa consolações, se não tiverem coragem.
A prece é um sustentáculo para a alma, mas não é suficiente: precisa apoiar-se numa fé viva na bondade de Deus. Ele já lhes disse, frequentemente, que não coloca fardos pesados em ombros frágeis; mas o fardo é proporcional às forças, como a recompensa será proporcional à resignação e à coragem. A recompensa será tanto maior, quanto mais penosa foi a aflição. Mas essa recompensa deve ser merecida, e é por isso que a vida está cheia de tribulações.
O militar que não é enviado à linha de fogo não fica contente, porque o repouso no campo não lhe proporciona nenhuma promoção. Seja como o militar, e não aspire a um repouso que enfraqueceria  seu corpo e entorpeceria  sua alma. Contente-se, quando Deus o envia à luta. Essa luta não é o fogo das batalhas, mas as amarguras da vida, nas quais muitas vezes necessitamos de mais coragem que num combate sangrento, pois aquele que se mantém firme diante do inimigo pode fraquejar sob o impacto de uma pena moral. O homem não recebe nenhuma recompensa por essa espécie de coragem, mas Deus lhe reserva a coroa e um lugar glorioso.
Quando se deparar com uma causa de dor ou de contrariedade, eleve-se  acima dela. E quando chegar a dominar os impulsos da impaciência, da cólera ou do desespero, diga, a si mesmo, com justa satisfação: "Fui o mais forte!"
Bem-aventurados os aflitos pode, então, ser traduzido assim: Bem-aventurados os que têm ocasião de provar sua fé, sua firmeza, sua perseverança e sua submissão à vontade de Deus, porque terão centuplicadas as alegrias que lhes faltam na Terra; e após o trabalho virá o repouso.
Lacordaire. Havre, 1863.

terça-feira, 3 de setembro de 2019




EM DIA COM O MACHADO 383
Coerência, virtude difícil... II ()


Em conversa espiritual com H. Campos sobre as incoerências relatadas em meu blog, ele contou-me a seguinte parábola, extraída de uma das crônicas arquivadas em biblioteca do Mundo Maior, que fora narrada por Jesus, mas não citada pelos evangelistas:
— Residiam em Jericó um fariseu idoso, usurário, com sua esposa também idosa. Ambos, diariamente, subiam dessa cidade para Jerusalém, onde ele fazia suas pregações. A mulher era possuidora de grande bondade e o auxiliava nos trabalhos do templo.
Em suas palestras, Joseph Jacobson, o fariseu, sempre ressaltava aos seus ouvintes a importância de auxiliar os pobres, não somente com denários, como também na aquisição de seus produtos, para lhes garantir a sobrevivência digna. E concluía com lindas orações.
Algo, porém, inquietava Joseph: sua esposa, atenta às suas palavras, não perdia oportunidade de ajudar as pessoas diariamente. Como a carência material encontrada pelo caminho era grande, sempre que a rica carruagem com o casal, puxada por três lindos corcéis, parava numa vila, Mariah, a generosa mulher, dava esmolas e comprava algo dos vendedores ambulantes do local. Nada além de um denário.
Joseph, embora mesquinho com o próximo, gostava de usar roupas caras, para causar boa impressão aos seus ouvintes. Certa ocasião, na noite anterior à subida para o Templo de Salomão, gastou, na compra de ricas roupas para si, 100 denários (aproximadamente R$ 3.000,00).
No dia seguinte, seguia com a esposa para Jerusalém. Ao passarem pela primeira vila, a mulher, com dó de vendedor de banquinhos de madeira, embora não precisasse, comprou um dos pequenos móveis, pelo qual pagou o equivalente a um denário (R$ 30,00). Joseph, como bom fariseu, não perdeu tempo:
— Desse jeito, mulher, quando voltarmos a Jericó, você já terá gastado todo o nosso dinheiro. É como dizem: as mulheres, quando envelhecem, acham que precisam comprar o céu, antes de morrer. Assim não é possível. Como você é pródiga! Estou pensando em contratar uma curadora para você, Mariah. Não tem um dia que não dê esmola ou que não compre algo no valor desse banquinho, que não nos serve para nada.
E a mulher calada estava, calada ficou. Apenas pensou: Que é um denário diário, para quem ganha 900 denários todo mês?
Somos bem o retrato desse fariseu. Com os desafortunados, somos muito mesquinhos e com nós mesmos, bastante pródigos. Coerência é virtude de poucos, muito poucos...
Lembrete: Nossas crônicas são fruto de nossos devaneios literários, ainda que, por vezes, baseados na recriação de fatos reais.


  Dia do Índio?  (Irmão Jó) Quando Cabral chegou neste país, quem dominava a terra eram tupis; Mas não havia autoridade aqui, predominava a ...