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sexta-feira, 13 de setembro de 2019







5.7.2 O mal e o remédio

Seria a Terra um lugar de alegrias, um paraíso de delícias? A voz do profeta não retine ainda nos seus ouvidos? Ele não clamou que haveria choro e ranger de dentes para os que nascessem neste vale de dores? Os que nele vieram viver, esperem, portanto, lágrimas ardentes e penas amargas, e quanto mais agudas e profundas forem as suas dores, voltem os olhos ao céu e bendigam ao Senhor, por tê-los querido provar!
Oh, criaturas! Vocês não reconhecem o poder de seu Senhor, senão quando ele curar as chagas do seu corpo e encher seus dias de beatitude e de alegria? Não reconhecem então seu amor, senão quando ele adornar seu corpo com todas as glórias, e lhes der seu brilho e brancura?
Imitem aquele que lhes foi dado para exemplo. Chegado ao último grau da abjeção e da miséria, estendido sobre um estrume, ele disse a Deus: "Senhor! conheci todas as alegrias da opulência, e você reduziu-me à mais profunda miséria! Obrigado, obrigado, meu Deus, por ter querido provar seu servo!".
Até quando seus olhos só alcançarão os horizontes limitados pela morte? Quando, enfim, sua alma quererá lançar-se além dos limites dum túmulo? Mas ainda que tivessem de chorar e sofrer a vida inteira, o que é isso, ao lado da eternidade de glória reservada àquele que houver suportado a prova com fé, amor e resignação? Busquem, pois, consolações para seus males no futuro que Deus lhes prepara, e a causa de seus males no passado; e aqueles que mais sofrem julgar-se-ão bem-aventurados da Terra.
No estado de desencarnados, quando planavam no espaço, vocês escolheram suas provas, por se considerarem bastante fortes para suportá-las. Por que murmurarem agora? Os que pediram a fortuna e a glória desejavam lutar contra a tentação e vencê-la. Os que pediram para lutar de corpo e alma contra o mal moral e físico sabiam que quanto mais forte fosse a prova, mais gloriosa seria a vitória, e que, se triunfassem, mesmo que seu corpo fosse lançado sobre um estrume, na ocasião da morte, ele deixaria escapar uma alma esplendente de brancura, purificada pelo batismo da expiação e do sofrimento.
Que remédio, então, prescrever aos que foram atacados por obsessões cruéis e males cruciantes? Um só é infalível: é a fé, é o olhar no céu. Se, no auge dos seus mais cruéis sofrimentos, cantarem hinos ao Senhor, o anjo à sua cabeceira lhes mostrará o sinal da salvação e o lugar que ocuparão um dia... A fé é o remédio certo para o sofrimento. Ela mostra sempre os horizontes do infinito, ante os quais se esvaem os poucos dias sombrios do presente.
Não mais nos perguntem, portanto, qual remédio curará tal úlcera ou tal chaga, para tal tentação ou tal prova. Lembrem-se de que aquele que crê se fortalece com o remédio da fé, e aquele que duvida um segundo da sua eficácia é punido, imediatamente, porque sente no mesmo instante as angústias pungentes da aflição.
O Senhor marcou com seu selo todos os que creem nele. Cristo disse-lhes que a fé transporta montanhas, e digo-lhes que aquele que sofre e que tiver a fé como amparo será colocado sob sua proteção e não mais sofrerá. Os momentos mais dolorosos serão para ele como as primeiras notas de alegria da eternidade. Sua alma desprender-se-á de tal modo de seu corpo, que, enquanto este se torcer em convulsões, ela planará nas regiões celestes, entoando com os anjos hinos de reconhecimento e de glória ao Senhor.
Felizes os que sofrem e choram! Que suas almas se alegrem, porque serão satisfeitas por Deus.
Agostinho
Paris, 1863.

Tradução livre da 3ª ed. francesa: Jorge Leite de Oliveira

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