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quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Em dia com o Machado 142 (jlo)

E aí, vocês assistiram ao último programa do GAB?
Não, não me refiro ao "De frente com a GABi", leitora amiga.
GABinete da presidenta?  Nããão... meu caro leitor.
Ah, reconhecem não saber do que estou falando!?
Pois ainda há milhares de pessoas no país que se deleitam com esse entretenimento.
Sem falar nos binóculos dos lares vizinhos, que ficam até mesmo horas a postos, janela com janela...
Tudo começou na Roma antiga, com a homenagem a Baco, deus do vinho. Inicialmente, por ocasião das vindimas, ocorria um cerimonial sério, como muitas vezes acontece em alguns encontros sociais, nos quais, após o momento sacratíssimo, todos os participantes passam a ritual diferente... Daí, bacanal.
A bacanal, segundo se informa, ocorria inicialmente, durante três dias, uma vez por ano, quando a festa era exclusivamente feminina e secreta. Depois, o homem entrou nela e a farra passou a ser semanal. Nessa festa, ocorria todo o tipo de comilanças, bebedeiras e desregramentos sexuais. Em especial, quando adentrava os palácios de governantes depravados.
A licenciosidade começou entre os romanos, foi para Portugal com o nome de entrudo e veio para o Brasil, em 1854, com a denominação posterior de carnaval. A nova farra começava nas ruas, onde mulheres seminuas e homens embriagados causavam todo o tipo de arruaça: gritos, danças, rebolados, cantos sensuais, risos, limões de cheiro, substituídos, anos mais tarde, por sprays de espuma...
Cheguei a dizer que a onda tinha-se acabado, em 4 de fevereiro de 1894, ano sem carnaval, por incrível que pareça. Na época, aduzi que "rir não é só le propre de l'homme, é ainda uma necessidade dele"...
Ó tempos!
Mas, então, já sabe a resposta à minha pergunta inicial?
Não, também não é sobre o carnaval...
É certo que estou falando de um dos programas mais impróprios para menores atualmente e semelhante aos citados antes. Em português, denomina-se "Grande Amigo do Brasil", daí, GAB, muito conhecido como Big Brother Brasil ou BBB.
O fato é que o BBB atual é apenas uma modalidade restrita de se expor a libido à flor da pele de jovens ou não, como ocorre no carnaval... Ocupa o tempo ocioso de quem não tem o que fazer.
Há pouco, li a declaração de uma bela moça de que já havia dormido com mais de 400 rapazes...
Jovem, acredite em mim. Casar é melhor do que não ter parceiro(a) fixo(a). Eu e "Carola" vivemos felizes 35 anos. E não havia prazer maior do que o nosso, pois estava alicerçado no amor, lealdade e respeito mútuos...
Quer ouvir uma modinha carnavalesca do meu tempo? Ouça, então, o primeiro grande sucesso de Momo, substituto de Baco. Depois compare com o que se ouve atualmente.
É da época que, embora seus excessos, seu som musical jamais seria defeso às crianças. Clique aqui: http://letras.mus.br/chiquinha-gonzaga/abre-alas/.
A pais e filhos, recomendo a substituição do GAB pelo GIBI educativo, pois é pela leitura dos quadrinhos que se desenvolve o gosto pela boa literatura, a melhor amiga de todos nós.

Mas, pelo amor dos seus filhinhos, nada de GAB.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Em dia com o Machado 141 (jlo)

A última semana acabou com uma triste notícia. Sabeis que foi a execução do Marco Archer. Comoção nacional, hipócritas e outros adjetivos foram citados na mídia sobre o caso.
Após clamar inutilmente por clemência ao Governo da Indonésia, Archer deixa seu alerta, que aproveita a algumas pessoas de bom-senso e juízo: "A droga só tem dois caminhos: prisão e morte".
Lembrou-me a crônica que escrevi alhures sobre Tomás Coelho, um dos brasileiros mais ilustres da última geração do Império, falecido em 22 de setembro de 1895, publicada em A semana. No mundo econômico, exerceu análoga influência que tinha no mundo político. Em sua memória, foi fundado o bairro Tomás Coelho, no Rio de Janeiro, em 1981.
Alguém se lembra dele? Assim é a vida. Assim como nosso nobre político foi quase chefe de governo, o que só não se deu devido à queda do Império, também em alguns dias mais Archer será esquecido, inclusive pela mandatária de nossa nação, que já "não se lembra" das promessas de campanha. Afinal, "numa campanha, faz-se o diabo". E foram tantas...
Vejamos algumas promessas eleitorais, publicados nesta semana por alguns órgãos da Imprensa, e o que de fato vem ocorrendo:

                     Promessa
             Realidade
1. Não haverá tarifaço.
2. Não haverá aumento dos juros.
3. Não mudam os direitos trabalhistas.
4. Ampliação do "mais médicos".
5. "Brasil, pátria educadora."
1. Previstos aumentos de tarifas em até 30%.
2. O BC aumentou os juros.
3. Cinco direitos trabalhistas foram alterados.
4. A "saúde pública" no Brasil está um caos.
5. O MEC foi quem teve maior corte de verbas.

E estamos apenas no início do seu segundo mandato.
"No mundo infernal há cinco terrores e tormentos: amargura moral, uivos terríveis, trevas horríveis, calor inextinguível, sede insaciável e penetrante mau-cheiro", dizia John Heydon. Infelizmente, em nossos dias, tais "ameaças" não mais assustam ninguém. Que pena!
Falta-nos refletir sobre o que Jung denominou de predomínio do inconsciente. Disse ele que "A aparição dos ditadores e de toda a miséria que eles trouxeram provém de que os homens foram despojados de todo o sentido do além, pela visão curta de seres que se acreditavam muito inteligentes." (In: Memórias, sonhos, reflexões. Ed. Nova Fronteira, 1986, p. 82).
Eu, se pudesse modificar a legislação eleitoral, proporia um artigo que impusesse a "lei de responsabilidade verbal". Tudo o que o político prometesse em campanha teria de ser obrigado a cumprir. Duela a quien le duela.
Lembrando o alerta de Archer, parodio a estrofe do poema O tempo, do nosso Olavo Bilac:
Trabalhai, porque a vida é eterna,
E não há moratória pras cocas,
Não viveis muito tempo na Terra,
Não façais nenhum uso das drogas.
Mas não falemos mais sobre política e economia. Deixemos "aos mortos o cuidado de enterrar os seus mortos".
Vamos cantar com https://www.youtube.com/watch… e esquecer as mágoas, pois vivemos para ser felizes e não para ser os profetas do caos.


quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Em dia com o Machado 140 (jlo)

            Mal convalescia o público espírito do abalo que lhe proporcionou a notícia dos escândalos da Petrobras e de outras empresas públicas, surgia, no Distrito Federal, a notícia de que o dinheiro dos salários de professores, segurança e saúde fora retido para fazer caixa nas contas públicas federais. Para o leitor ou a leitora de outros estados, esclareço que essa verba é constitucionalmente repassada ao governo local de Brasília pela Administração Federal.
            Nem bem o povo candango (nome originariamente atribuído aos operários que vieram do Nordeste para construir Brasília ou aos primeiros habitantes da Capital Federal) ruminou as primeiras informações de jogadas político-econômicas para livrar da acusação de improbidade a Administradora suprema da nação, eis que a imprensa brasileira denuncia rombos rotundos nas contas do ex-governador, aliado do Governo petista, disfarçados em tentativas de corromper o atual governador com gastos milionários destinados à sua residência oficial em Águas Claras, prontamente rechaçadas pelo nobre Rodrigo Rollemberg, atual Governador.
Cuidado, Governador, as ciladas e os amigos da onça multiplicar-se-ão em teu Governo de tal forma que, se não te apegares a Deus de toda a tua alma e de todo o teu coração, serás mais um defenestrado do cargo, como já virou moda no DF. Cerca-te de administradores e servidores que sejam altamente honestos, competentes e que não apenas finjam ser tais, para que a má fama da Capital Federal seja definitivamente separada do currículo dos políticos corruptos que para cá venham.
            A coisa está cinza. Atualíssima, minha crônica de 21 de julho de 1878 prediz: "Nas Câmaras, os deputados deixarão o recinto quando se discutirem os projetos, e entrarão unicamente para votá-los [... ]". Que "Deus não permita, ao menos nestes séculos mais próximos".
Por via das dúvidas, alerto à amiga leitora e ao não menos amigo leitor para não fazerem o que o Governo Federal, os Governos estaduais e as Câmaras municipais vêm fazendo: superfaturando contratos, corrompendo aliados, enviando mares de dinheiros para o exterior e queimando oceanos de petróleo sob as nossas ventas, entre outras mil estrepolias.
            Ah, você quer imitar o que eles fazem, pois isto é Brasil? Não é não. Pelo menos agora que "nunca como antes neste país" a presidenta e seus ministros se comprometem tanto a prender corrompedores e corrompidos. Se ainda duvida, leia o singelo poema em redondilha maior que este seu amigo Machado, por intermédio da intuição a seu secretário lhes envia, intitulado: 
Atraso de pagamento

Na vida tudo tem tempo:
Há tempo de receber,
Como há tempo de pagar,
Só não posso me esquecer...

Pois senão vou me lascar
E ainda dou mau exemplo
Se não pago meus impostos
Como o dízimo do templo...

Mas o governo, porém,
Mexe até com caixa dois...
Retém merreca do povo
Que promete pra depois...

Depois de fingir que tem
Dinheiro do proletário
E superávit em contas,
Adia o nosso salário...

Mas vai pagar com atraso
A conta de outro domínio,
Como a da luz ou do gás...
Não pagues teu condomínio

E te verás em perigo.
Apenas de uma tacada,
Ficarás sem gás em casa,
Tua luz será cortada...

A taxa de condomínio,
Nem penses em atrasá-la,
Pois terás como inimigo
O SPC ou a Serasa.

Entretanto, meu amigo
E amiga do coração,
Ao teu salário atrasado,
Nem um "p" de correção!

            Despeço-me com a frase lapidar que a Excelentíssima Presidenta da República Federativa do Brasil atirou sobre um atônito e tonto país: "Brasil, pátria da educação!" 
            P.s.: Acaba de ser divulgado que, no exame do Enem deste ano, 529.000 redações alcançaram a nota zero. Quanta imparcialidade na correção feita por esses desalmados professores. Seria tão simples aprovar esses textos; bastaria que atribuíssem um pontinho a quem soubesse escrever, pelo menos, o título da redação.
              Parabéns, presidenta!...

terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Em dia com o Machado 139 (jlo)

Acabamos de ler, no facebook, que "A gente ama não é a pessoa que fala bonito, é a pessoa que escuta bonito". Discordo, pois tenho um amigo que não ouve bem e, em consequência... Trocaria, de início, o final da frase por: "é a pessoa que faz bonito".
Veja, leitor, se não fica melhor assim: "A gente ama não é a pessoa que fala bonito, é a pessoa que faz bonito".
Escutar bonito é entender o que ouve até o fim da emissão sonora. Imagine, leitora, como seu interlocutor não ficará feliz se estiver falando, falando e você só ouvindo, escutando...
Fazer bonito, entretanto, é pôr em prática o que se lê, se vê, se escuta e se fala de bom e de útil.
É cumprir bem todos os nossos deveres e, em vez de estar sempre apenas visando direitos, realizar, antes, nossas obrigações de cidadão e cidadã com responsabilidade.
Fazer bonito é não mentir em discursos de bela aparência, mas que são como sepulcros caiados por fora e cheios de ossos podres por dentro, como já dizia o Mestre.
É ser tolerante com os erros alheios, mas não conivente com eles. É feio dizer, sem palavras: "faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço". O honesto é dizer: "faça o que eu digo, mas principalmente o que eu faço" e, em seguida, só fazer bonito.
Fazer bonito é amar a todas as criaturas de Deus, seres humanos e animais, sem lhes exigir o que estes não nos podem dar, mas procurando auxiliá-los em sua evolução espiritual. Ninguém mais do que o Cristo exemplificou o bem como Ele. Isso está na questão número 625 d'O Livro dos Espíritos, escrito por Allan Kardec, que sempre se esforçou em escutar, ler, escrever e fazer bonito.
Fazer bonito é ter atitude e não se calar ante as injustiças sociais e abusos de autoridades, combatendo o nepotismo e o despotismo cínicos, hipocrisia de quem deseja o poder principalmente para si e benesses espúrias para seus familiares.
É se preparar para uma competição em nosso país, ainda que não a conquistemos, mas não correr o risco de ser desmoralizado por não se concentrar no principal: a competição... Esse é o fazer bonito politicamente correto. De que nos adianta arrumar nossa casa para os outros apenas se divertirem? Divirtamo-nos juntos.
Há muita gente que fala bonito e escuta bonito, mas faz muito feio, pois só faz isso por cálculo em benefício próprio. Parece político, antes das eleições, aperta a mão de todo o mundo. Eleito, porém, não está nem aí para o povo e suas necessidades.
Não devemos impor nossa ideologia a outrem e, sim, respeitar as convicções religiosas, políticas e sociais alheias sem abrir mão de nossas crenças sinceras. Por isso, fazer bonito é tratar com urbanidade e respeito a todas as pessoas, ainda que discordemos de suas ideias e independentemente de serem ou não religiosas.
Conclusão: fazer bonito é cultivar as duas principais virtudes humanas: o amor e a humildade. Amor ao bem, à verdade, a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos. Humildade para reconhecer que não somos melhores do que alguém, ainda que não tenha as mesmas crenças que nós, ainda que seja ateu, pois conforme diz Jesus: "Deus criou o Sol e a chuva para todos, justos e injustos" (Mateus, 5:45).
É, enfim, ser úteis à sociedade sem discriminação nenhuma. O que as pessoas fazem no cotidiano repercute mais do que suas crenças e promessas vãs.
Desse modo, retificamos nossa frase inicial, substituindo-a por esta: "a gente deve amar as pessoas incondicionalmente, mas admirar e se emocionar é para as que não somente escrevem, dizem e escutam bem, como igualmente fazem o bem desinteressado".

Isso, sim, é fazer bonito! 

quinta-feira, 1 de janeiro de 2015


Em dia com o Machado 138 (jlo)

Amigos leitores, conta-nos Joteli que, na juventude, após passar a frequentar uma "Mocidade espírita", certo dia, há quarenta anos, foi visitado, em sua casa por uma senhora, sua prima, chamada Benedita, que era membro de Igreja Evangélica no Rio de Janeiro e leitora assídua da Bíblia. Ela era a mãe de Samuel, Pedro e João. Os dois primeiros, protestantes; o último, sem uma crença definida, para não se dizer ateu.
Dos três irmãos, João era o mais intelectualizado. Já naquele tempo, ele era mestre em Letras.
Entusiasmado com a oportunidade de realizar um diálogo esclarecedor com dona Benedita, meu ingênuo secretário guardava a ilusão de convertê-la ao Espiritismo, mas ela, por certo, pensava em afastá-lo do "diabo" e batizá-lo em sua Igreja. Assim foi que Joteli abriu O Evangelho segundo o Espiritismo e pôs-se a lê-lo ostensivamente, enquanto dona Benedita conversava com a mãe do meu tolo secretário.
Não sabia ele, porém, o que o aguardava.
Como se fora desafiada, a evangélica dirigiu-se ao nosso herói e começou sua pregação:
— Nosso Salvador é Jesus Cristo, você aceita sua salvação?
Ainda meio confuso, Joteli balbuciou um "nunca o neguei como Salvador", sem mais chance de falar o que quer que fosse, pois a inquisidora, entusiasmada pela "rendição" do oponente, disparou sua metralhadora, como se estivesse em guerra contra o soldado ímpio, que se atrevera a desafiá-la com aquela obra, para ela, produto demoníaco...
Ignorava, Benedita, que ali, no Evangelho espírita, estava a essência dos ensinos do mesmo Jesus de sua crença, tão amado por todos os cristãos: o ensino moral.
Durante cerca de uma hora, a protestante falou e falou sem parar um só momento. Contou a história da Bíblia desde o Gênesis até o Apocalipse bíblicos (Os atos dos apóstolos ficariam para outra ocasião).
A Joteli, só restou a opção de ouvir e nada dizer. Até porque, se o desejasse, sua idosa prima não o escutaria.
Há uma diferença básica entre ouvir e escutar, que não nos cabe aprofundar aqui. Mas para matar a curiosidade da leitora, digo-lhe que a primeira está ligada à percepção dos sons; a segunda à sua assimilação, ao seu entendimento, ao que Mikhail Bakhtin chama de dialogismo, salvo melhor juízo.
Não houve, portanto, interação entre os dois, mas, se de sua parte Joteli ficara decepcionado por não ter tido qualquer chance de falar, para sua interlocutora, Jeová, mais uma vez, tinha vencido o demônio.
O tempo passou, Benedita desencarnou, Joteli mudou-se do Rio, casou-se, teve três filhos e veio morar definitivamente em Brasília.
Vinte anos após, encontrou o primo João, filho caçula de Benedita, que lhe dissera ter-se tornado espírita após o falecimento materno.
— Como se deu tua conversão, se eras tão incrédulo? Perguntou-lhe Joteli.
— Numa noite inesquecível, ainda cheio de dúvidas, resolvi visitar um centro espírita no bairro de Bonsucesso. Ali adentrando, por primeira vez, tremendo de medo, pois mamãe quando viva sempre demonizou o Espiritismo, eu não disse uma só palavra a ninguém sobre quem eu era, minha família, origens, cultura e crença.
Entretanto, ao se realizar a reunião mediúnica, um dos médiuns que, como os demais participantes, eu jamais vira antes, virou-se para mim e disse-me, com o modo de falar próprio de mamãe:
— João, meu filho, eu não já lhe disse para não participar dessas reuniões demoníacas? Isso é coisa de satanás, afaste-se daqui antes que você seja lançado nas fornalhas do inferno.
— Não tive mais dúvida alguma. Aquela era mamãe...

A partir desse dia, concluiu, estudo as obras de Allan Kardec e busco divulgá-las com inabalável convicção.

  Quando o texto é escorreito (Irmão Jó)   Atento à escrita correta É o olho do revisor, Mas pôr tudo em linha certa É com o diagramador.   ...