Não foi Jesus quem mandou os cristãos
matar
Infelizmente, os adeptos da nova
doutrina não se entenderam sobre a interpretação das palavras do Mestre,
na maioria veladas por alegorias e figuras de linguagem. Daí surgirem, desde o
início, as seitas numerosas que pretendiam, todas elas, a posse exclusiva da
verdade e que dezoito séculos não conseguiram pôr de acordo. Esqueceram o mais
importante dos preceitos divinos, aquele de que Jesus havia feito pedra angular
do seu edifício e a condição expressa da salvação: a caridade, a fraternidade e
o amor ao próximo, pois essas seitas se anatematizaram reciprocamente,
arremeteram-se umas contra as outras, as mais fortes esmagando as mais fracas,
afogando-as em sangue, ou nas torturas e nas chamas das
fogueiras.
Os cristãos, vencedores do Paganismo,
passaram de perseguidos a perseguidores. Foi com ferro e fogo que plantaram a
cruz do cordeiro sem mácula nos dois mundos. É um fato comprovado que as
guerras de religião foram mais cruéis e fizeram maior número de vítimas que as
guerras políticas, e que em nenhuma outra se cometeram tantos atos de
atrocidade e de barbárie.
A culpa seria da doutrina do Cristo?
Não, por certo, pois ela condena formalmente toda violência. Disse ele alguma
vez a seus discípulos: Vão matar, queimar, massacrar os que não acreditarem
como vocês? Não, pois lhes disse o contrário. Todos os homens são irmãos, e
Deus é soberanamente misericordioso. Amem seu próximo; amem seus inimigos;
façam bem aos que os perseguem.
E lhes disse ainda: Quem matar com a
espada perecerá pela espada. A responsabilidade, portanto, não cabe à doutrina
de Jesus, mas àqueles que a interpretaram falsamente, transformando-a num
instrumento a serviço de suas paixões. Daqueles que ignoraram estas
palavras: Meu Reino não é deste mundo.