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domingo, 31 de julho de 2022

 


Não foi Jesus quem mandou os cristãos matar

 

Infelizmente, os adeptos da nova doutrina não se entenderam sobre a interpretação das palavras do Mestre, na maioria veladas por alegorias e figuras de linguagem. Daí surgirem, desde o início, as seitas numerosas que pretendiam, todas elas, a posse exclusiva da verdade e que dezoito séculos não conseguiram pôr de acordo. Esqueceram o mais importante dos preceitos divinos, aquele de que Jesus havia feito pedra angular do seu edifício e a condição expressa da salvação: a caridade, a fraternidade e o amor ao próximo, pois essas seitas se anatematizaram reciprocamente, arremeteram-se umas contra as outras, as mais fortes esmagando as mais fracas, afogando-as em sangue, ou nas torturas e nas chamas das fogueiras.         

Os cristãos, vencedores do Paganismo, passaram de perseguidos a perseguidores. Foi com ferro e fogo que plantaram a cruz do cordeiro sem mácula nos dois mundos. É um fato comprovado que as guerras de religião foram mais cruéis e fizeram maior número de vítimas que as guerras políticas, e que em nenhuma outra se cometeram tantos atos de atrocidade e de barbárie.

A culpa seria da doutrina do Cristo? Não, por certo, pois ela condena formalmente toda violência. Disse ele alguma vez a seus discípulos: Vão matar, queimar, massacrar os que não acreditarem como vocês? Não, pois lhes disse o contrário. Todos os homens são irmãos, e Deus é soberanamente misericordioso. Amem seu próximo; amem seus inimigos; façam bem aos que os perseguem. 

E lhes disse ainda: Quem matar com a espada perecerá pela espada. A responsabilidade, portanto, não cabe à doutrina de Jesus, mas àqueles que a interpretaram falsamente, transformando-a num instrumento a serviço de suas paixões. Daqueles que ignoraram estas palavras: Meu Reino não é deste mundo.


sábado, 30 de julho de 2022

EM DIA COM O MACHADO 534:
EXERCITANDO A INDULGÊNCIA (JÓ)
jojorgeleite@gmail.com

Bom dia, amigo leitor.

Hoje falarei sobre a indulgência que, segundo os dicionários, é sinônimo de clemência, misericórdia, bem como tolerância, benevolência. Aliás, o “verdadeiro sentido da palavra caridade”, como lemos na questão 886 d’O Livro dos Espíritos, é o de “Benevolência para com todos, indulgência para as imperfeições dos outros, perdão das ofensas”.
Um amigo meu, setentão, como eu, por vezes fala um pouco alto, em virtude de estar deficiente da audição. Hoje, ele lembrou-se duma história ocorrida com Sócrates que, provavelmente, já citei antes, mas nunca é demais recordar. Aliás, há um provérbio que diz: “Recordar é viver”. Nem sempre. Por vezes, o que lembramos é acre e a vida precisa ser doce.
— E que seu amigo lembrou ocorrido com Sócrates? Você me perguntará.
É o seguinte, o filósofo ateniense caminhava distraído por uma rua, quando esbarrou num cidadão e desculpou-se, mas este não quis saber de desculpas e xingou  Sócrates em altos brados.
Um amigo do filósofo, vendo a cena, esperou que o agressor se afastasse e disse àquele: — Como é que você é agredido com tantos coices verbais e não responde nada, Sócrates?
Em resposta, o sábio disse-lhe: — Não se discute com os brutos, frase que ficou famosa em latim: Cum brutis non est luctandum. E continuou: —Não se deve disputar (ou discutir) com os ignorantes. Se revidasse os coices dessa pessoa, eu estaria no mesmo nível de estupidez dela.
Tudo isso foi dito por meu amigo, que gosta de subir as escadas, a pé, até o sexto andar do bloco residencial em que mora. Hoje, ao alcançar o quarto andar, ouviu vozes de criança com uma mulher e pensou ser sua esposa falando com seus netos, que toda semana vão visitá-los. Então falou bem alto: — Estou chegando!
Ao alcançar o quinto andar, percebeu ter-se enganado. As vozes eram de netos, mas de idosa moradora nesse andar, afrodescendente, como atualmente costuma-se dizer.
Ela havia parado na porta, antes de entrar e, em alta voz e olhar furioso, disse a meu amigo mais ou menos isto:
— Que susto! Sobe logo e some de minha frente!
Meu amigo nada respondeu-lhe e subiu para o sexto andar. Logo, foi tomado de profunda indulgência para com a vizinha. Imaginou quanto ela pode ter sido discriminada em sua vida e prometeu a si mesmo orar por ela.
Então, lembrei-me de uma frase atribuída ao Dalai Lama e a disse ao meu amigo: “Viva o hoje! Só existem dois dias no ano que nada pode ser feito. Um chama-se ontem, e o outro chama-se amanhã. Portanto, hoje é o dia certo para amar, acreditar, fazer e principalmente viver”.
Vivamos, pois, exercitando o respeito, “a indulgência para as imperfeições alheias”; e perdoemos suas ofensas, pois nunca podemos avaliar o estrago que o ontem terá feito nas suas vidas, em especial nas vidas dos idosos.

sexta-feira, 29 de julho de 2022

 


DIVINA CONQUISTA
 
Esta singela narrativa
Ouvi de amado amigo – um gênio dentre os gênios –
História que ele arquiva
Em seus registros  de milênios.
 
Um Espírito que, em  si, já conquistara
Inteligência primorosa e rara
Manifestou anseio superior:
Desejou trabalhar junto ao Senhor,
Amá-lo, vê-lo e fruir-lhe a presença...
Para isso pediu aos Ministros  da Lei
Que se lhe concedessem uma vida de rei.
Recebida a licença,  
Fez-se na Terra um nobre soberano,
Foi grande, poderoso, justo e humano,
Mas, adstrito à própria posição,
Viveu atento à representação
Do povo que escolhera governar.
De volta ao Grande Lar,
Assim que o Mais-Além se lhe descerra,
Subiu a conviver com benfeitores
Que haviam sido príncipes na Terra...
 
Mas, logo após, rogou aos Divinos Mentores  
A graça de ser santo...
Tornou ao mundo transformado
Em famoso varão
Que só pensava em perfeição.
Viveu de isolamento, entre prece e o jejum,  
Sem se doar a mal nenhum;
No entanto, circunscrito
Às tradições da crença em que vivia,
Abandonando o corpo teve a companhia
De ilustrados teólogos do Além,  
Mensageiros da Paz e Expoentes do Bem.
 
Decorrido algum tempo, ele quis ser um artista.  
Voltou a Terra músico e pintor;
Foi um gênio a compor e recompor  
Imagens de harmonia e poemas em cor.  
Regressando ao  Além, depois de longos dias,
A transportar consigo láureas resplendentes
Passou a respirar
No clima cultural de artistas eminentes.
 
Depois disso, por décadas afora,
De vida em vida, em largo itinerário,
Eis que a sede de Cristo mais  se lhe aprimora...
Foi Escritor, Juiz, Cientista e Operário.
 
Mas um dia chegou em que ele disse:
— Senhor! Senhor! Tenho escolhido tanto,
Ignoro, porém, o que te agrade,
Dá-me agora, Jesus tua vontade,
Ensina-me o dever,
Para que eu seja o  que preciso ser!...
 
Tempo vasto rolou nas vias do Infinito.
Quando voltou a renascer
Numa casa singela...
A vida lhe corria doce e bela
Quando os pais retornaram para  o Além...
Os três irmãos do lar,
Consolidando a própria segurança,
Não se pejaram de o desvincular
Do direito de herança...
Ele não destacou qualquer reclamação,  
Aprendera dos pais a ciência do bem.
Aceitou contas que jamais fizera
E compromissos que desconhecia,
Sem ferir a ninguém.
Esqueceu todo o  mal, buscando um novo dia,
Estudou, quanto pode, entre serviço e escola,
Fez-se negociante e depois lavrador,
Casou-se e converteu-se em pai guiado pelo amor,
Mas porque socorresse aos pobres e aos doentes,
A família insurgiu-se a golpes deprimentes...
 
A esposa sem razão
Permutou-lhe o carinho  e a companhia  
Por um homem tocado de ambição.
Ao vê-lo amargurado, em transes de agonia,
Os filhos declararam-no demente
E um processo instaurou-se de repente,
A julgá-lo incapaz de senso e direção.
Destituído e expulso do seu chão,
Não levantou a voz sequer
Para acusar os filhos e à mulher.
E prosseguiu servindo.
Agia, sol a sol, por ínfimo ordenado,
Mas esparzindo sempre a riqueza do  amor,
Onde surgisse algum necessitado.
 
Alcançou noventa anos de amargura  
E nunca se queixou, nem se deu à secura...
Era sempre um amigo da alegria,
Criando paz e luz, bondade e simpatia.
Certa noite, sozinho,
O estimado velhinho.
Viu-se fora do corpo, ante a pressão da morte...
Procura na oração  apoio que o  conforte,
Mas nisso um anjo posto à cabeceira,
Fala-lhe brandamente: — Meu irmão,
Partamos para a vida verdadeira...
Ele escutou celeste cavatina
E, aflito, perguntou: — Que há que não entendo?
O Emissário aclarou: — É a música divina,
Saudando um justo que acabou vencendo...  
Entre assombro e receio, estranheza e torpor,
O pobre proferiu ansiosa indagação:
— Quem será esse justo, Deus de Amor?
 
O silêncio se fez qual se fosse de estalo.
Logo após, o velhinho, a chorar de emoção,  
Viu que o próprio Jesus vinha buscá-lo...
Prosternado, gritou: — Senhor, eu não mereço!...
Mas o Cristo avançou, estendo-lhe a mão...  
 
Soluçando de amor e de alegria,
O pobre irradiou sublime claridade,
No entanto, nem notou que ele próprio trazia
No próprio coração, a estrela da humildade.
 
MARIA DOLORES (Espírito). In: Vida em vida. Psicografado por Francisco Cândido Xavier. 1. ed. – 1.ª impr. por demanda (P.O.D.). Brasília: FEB, São Paulo: IDEAL, 2021. Divina conquista.


quarta-feira, 27 de julho de 2022



 DEUS TE VÊ

 
Deus te vê, alma querida,
Quando te pões na trilha escura,
Para ajudar aos filhos da amargura
Que tanta vez se vão
Como sombras errantes no caminho
— Chagas pensantes ao relento —,
Entre as nuvens do Pó e as pancadas do Vento,
Com saudades do Pão...
 
Deus te vê a mensagem de bondade
Com que suprimes ou reduzes
As provações, as lágrimas e as cruzes
Dos que vagam na rua sem ninguém,
E te agradece as posses que desprendes,
No auxílio ao companheiro em desamparo,
Seja um tesouro inesperado e raro,
Seja um simples vintém!...
 
Deus te vê quando estendes braço amigo
Aos que carregam lenhos de tristeza,
Doando-lhes o afeto, o abrigo, a mesa,
O remédio, a camisa, o cobertor...
E, por altos recursos sem que o saibas,
Manda que a Lei te aumente os dons divinos,
Em mais belos destinos,
Para a glória do amor.
 
Deus te vê na palavra com que ensinas
A senda clara e boa
Da verdade que alenta e que abençoa
Sem perturbar e sem ferir...
E determina aos homens que teu verbo
Seja apoiado, aceito
E ouvido com respeito,
Na construção excelsa do porvir.
 
Deus te vê quando acolhes sem revide
O golpe da pedrada que te insulta,
O braseiro da ofensa, a dor oculta
Em ferida mortal...
E te louva o perdão espontâneo e sincero
Com que ajudas o Céu no trabalho fecundo
De extinguir sem alarde, entre as sombras do mundo,
A presença do mal!...
 
Deus te vê, através da caridade!...
Mas não só isso... Em paz calada e santa,
Pede alguém que te siga e te garanta
Na jornada de luz!...
E, por isso, onde estás, rujam trevas em torno,
Sofras humilhação, injúria, cativeiro,
Tens contigo um sublime companheiro:
— Nosso Amado Jesus!..
 
DOLORES, Maria (Espírito). Antologia da espiritualidade. Psicografado por: Francisco Cândido Xavier. 6. ed. 2. imp. Brasília: FEB, 2014.

segunda-feira, 25 de julho de 2022

 A SUBLIME POESIA DE MARIA DOLORES

DEUS QUER MISERICÓRDIA

 

Se confias em Deus, alma querida,

Vem com Jesus, do lar, que te resguarda e eleva,

Ao vale da aflição onde vagam na sombra

Os romeiros da Angústia e as vítimas da treva!...

Na crença que te nutre, acende a chama

Do amor que te desvende, trilha afora,

Os convidados d’Ele ao banquete da vida,

Os que formam na Terra a multidão que chora.

Vamos!... Jesus, à frente, nos precede,

Insistindo por nós, de caminho a caminho,

E pede proteção ao que segue em penúria,

Reconforto a quem vai padecente e sozinho...

Aqui, passam em bando, aos ímpetos do vento,

Pequeninos sem fé, sem apoio, sem nome

Que fazem? De onde vêm? Aonde vão? Ninguém sabe

E nem sabe explicar a mágoa que os consome;

Ali, geme, sem teto, o doente esquecido

Além, tropeça e cai, sem a escora de alguém,

O velhinho largado à vastidão da noite,

Que recebe, por leito, a terra de ninguém;

Mais adiante, é a viuvez cansada de abandono,

Almas na solidão de torturante espera,

Implorando socorro ao telheiro vazio,

A recolher somente a dor que as dilacera;

Flagelam-se, mais longe, os tristes companheiros

Que andaram sem pensar, nas veredas do crime,

Rogando leve olhar de bondade e esperança,

Numa frase de paz que os restaure e reanime!...

Ante os erros que encontres, não censures

Nem te queixes... Trabalha, alma querida!...

Deus quer misericórdia!... Ama, serve, abençoa

E Deus te susterá nas provações da vida.

Vem como és e auxilia quanto possas,

Não clames pelo Céu, sonhando em vão!...

Nosso Senhor te aguarda tão somente,

Traze teu coração!...

DOLORES, Maria (Espírito). Antologia da espiritualidade. Psicografado por: Francisco Cândido Xavier. 6. ed. 2. imp. Brasília: FEB, 2014.

domingo, 24 de julho de 2022

 


23.4 Não vim trazer a paz, mas a divisão

 

Não julguem que vim trazer paz à Terra; não vim trazer-lhe paz, mas espada; porque vim separar o homem contra seu pai,  a filha contra sua mãe, a nora contra sua sogra; e o homem terá por  inimigos os de sua casa (Mateus, 10:34-36).

Vim lançar fogo à Terra, e que quero eu, senão que ele se acenda? Devo receber um batismo, e quanto me apresso para que ele se cumpra! Vocês creem que eu vim trazer paz à Terra? Não vim trazer  a paz, mas a divisão. Pois, de agora em diante, se houver cinco pessoas numa casa, elas serão divididas, três contra duas e duas contra três. O pai estará contra o filho, e o filho contra o pai; a mãe contra a filha, e a filha contra a mãe; a sogra contra a nora, e a nora contra a sogra (Lucas, 12:49-53).

Foi mesmo Jesus, a personificação da doçura e da bondade, ele que não cessava de pregar o amor ao próximo, quem disse: Eu não vim trazer a paz, mas a espada; vim separar o filho do pai, o esposo da esposa; vim lançar fogo à Terra e tenho pressa que ele se acenda? Essas palavras não estão em flagrante contradição com o seu ensino? Não é  blasfêmia atribuir-lhe a linguagem dum conquistador sanguinário e devastador? Não, não há blasfêmia nem contradição nessas palavras, porque foi ele mesmo quem as pronunciou, e elas atestam a sua elevada sabedoria. Somente a forma, um tanto equívoca, não exprime exatamente seu pensamento, o que provocou alguns enganos quanto ao seu sentido verdadeiro. Tomadas ao pé da letra, elas tenderiam a transformar a sua missão, inteiramente pacífica, numa missão de turbulências e discórdias, consequência absurda, que o bom senso rejeita, pois Jesus não podia contradizer-se (ver cap. 14).

Toda ideia nova encontra forçosamente oposição, e não há uma só que se implantasse sem lutas. Nesses casos, a resistência é sempre proporcional à importância dos resultados previstos, pois quanto maior ela for, maior será o número de interesses ameaçados. Se ela for notoriamente falsa, se a julgam sem consequências, ninguém se alarma, e a deixam passar, certos de sua falta de vitalidade. Mas se ela é verdadeira, se está assentada em bases sólidas, se é possível entrever-lhe o futuro, um secreto pressentimento adverte seus antagonistas de que se trata de um perigo para eles, para a ordem de coisas por cuja manutenção se interessam. E é por isso que se lançam contra ela e seus adeptos. A medida da importância e das consequências de uma ideia nova se encontra, portanto, na emoção que seu aparecimento provoca, pela violência da oposição que desperta, e pela intensidade e a persistência da cólera dos seus adversários.

Jesus vinha proclamar uma doutrina que minava pelas bases os abusos em que viviam os fariseus, os escribas e os sacerdotes do seu tempo. Por isso o fizeram morrer, acreditando matar a ideia matando o homem. Mas a ideia sobreviveu, porque era verdadeira; engrandeceu-se, porque estava nos desígnios de Deus, e, nascida numa pequena vila da Judeia, foi plantar a sua bandeira na própria capital do mundo pagão, em face dos seus inimigos mais encarniçados, daqueles que tinham o maior interesse em combatê-la, porque ela subvertia as crenças seculares, a que muitos se apegavam, mais por interesse do que por convicção. Lá, mais lutas terríveis aguardavam seus apóstolos. As vítimas foram inúmeras, mas a ideia cresceu sempre e saiu triunfante, porque superava, como verdade, suas antecessoras.

Note-se que o Cristianismo apareceu quando o Paganismo declinava, debatendo-se contra as luzes da razão. Ainda o praticavam, formalmente, mas a crença já havia desaparecido de maneira que apenas o interesse pessoal o sustinha. Ora, o interesse é tenaz, não cede nunca à evidência, irrita-se tanto mais, quanto mais peremptórios são os raciocínios que se lhe opõem e que melhor demonstram seu erro. Bem sabe que está errado, mas isso pouco lhe importa, pois não possui a verdadeira fé na alma; o que mais teme é que a luz abra os olhos dos cegos. Esse erro o beneficia, e por isso a ele se apega e o defende.

Sócrates não ensinara também uma doutrina, até certo ponto, semelhante à do Cristo? Por que, então, não prevaleceu, naquela época, no seio de um dos povos mais inteligentes da Terra? É que os tempos ainda não haviam chegado. Ele semeou em terra não lavrada: o Paganismo ainda não havia-se desgastado. Cristo recebeu sua missão providencial no tempo apropriado. Nem todos os homens do seu tempo estavam à altura das ideias cristãs, mas havia entre eles uma aptidão mais geral para assimilá-las, porque já se fazia sentir o vazio que as crenças vulgares deixavam na alma. Sócrates e Platão haviam aberto o caminho e predisposto os espíritos. (Ver na Introdução, item IV: Sócrates e Platão, precursores da ideia cristã e do Espiritismo).

sábado, 23 de julho de 2022

 


EM DIA COM O MACHADO 533:
A ETERNA CARIDADE DIVINA (Jó)

 
Bom dia, amigo leitor!
Dia desses, lembrei-me de uma discussão com pessoa querida, que me ofendeu sem razão aparente, e fiquei muito triste. Caminhava pelo Parque da Cidade em Brasília, quando de repente avistei o sublime espírito Maria Dolores[i] que, em versos, me disse:
 
— Não guardes e nem fales, coração,
Palavras de azedume ou desesperação.
O verbo que escarnece, esfogueia, envenena,
Traz em si mesmo a dolorosa pena
De amarga frustração!
 
Muitas vezes nós mesmos, trilha afora
No pensamento que se desarvora,
Nas teias da ilusão sem motivo ou sem base,
Para sair do mal e regressar ao bem
Precisamos apenas de uma frase
Do carinho de alguém!
 
         Comovido, respondi-lhe também em versos:
 
— É o que agora, querida irmã em Cristo
Recebo de você; e me consolo
C’a bênção do carinho, mas insisto
Em lhe dizer que a dor é pelo dolo...
 
         Antes mesmo que eu prosseguisse com meus lamentos, Dolores  olhou-me ternamente e disse:
 
— Na dor que nos renova,
Quantas vezes na vida a gente espera
Simplesmente um sorriso,
Para fazer o esforço que é preciso,
A fim de não perder nas lágrimas da prova
A paz da fé sincera!...
 
Pensa nisso e abençoa
Àquela própria mão que espanca ou aguilhoa.
Fel, tristeza, amargura,
Transformam desventura em maior desventura!
 
— Mas não é fácil, deixar
De sempre nos magoar...
— respondi-lhe, mente a mente.
E ela disse novamente:
 
— Se a mágoa te domina,
Observa a lição da Bondade Divina!
Se o homem tala o campo aos horrores da guerra,
Deus recama de verde as úlceras da Terra.
Cerre-se a noite fria,
Deus recompõe sem falta os fulgores do dia.
Atire-se um calhau à fonte na espessura,
Deus protege a corrente
E a fonte lava a pedra a beijos de água pura
E prossegue indulgente,
Doce, clara, bendita,
Fertilizando o campo em que transita.
Isole-se a semente pequenina
Na clausura do chão
E eis que Deus a ilumina
E ela faz a alegria e a fartura do pão!
Que a poda fira a planta a golpes destruidores
E Deus reveste o tronco em auréolas de flores!...
 
— Sei que Deus é justo, amiga,
Mas como agir diante duma ofensa
Lançada por vil intriga
Daquele que, antes de falar, não pensa?
 
Eu lhe falei, e ela me respondeu,
Enquanto me olhou, com muito amor,
E a dor em mim logo desvaneceu
Apaziguada por seu resplendor:
 
— Conquanto seja em tudo a Justiça perfeita
Que nos premia, ampara, aprimora e endireita
Pelo poder do amor incontroverso,
Deus quer que a Lei do amor seja cumprida
Para a glória da vida,
Nas mais remotas plagas do Universo!
 
Serve, pois, coração,
À tolerância, à paz, à bondade e à união!
Embora desprezado, anônimo, sozinho,
Agradece, em silêncio, a injúria, o pranto, o espinho
E serve alegremente...
Dor é nova ascensão à Vida Superior!...
Rende-te a Deus e segue para a frente,
Pois Deus é Caridade e a Caridade ardente
Tudo cobre de amor!...
 
Terminei a caminhada e guardei a paz, confortado e agradecido àquele bondoso espírito e a Deus, por permitir-me a amizade e o conhecimento da verdade através de mensagens sublimes desta Doutrina consoladora, o Espiritismo cristão.
Paz e luz! 

 

 Obs.: encontro fictício; poema de Maria Dolores na obra abaixo referenciada.



[i] DOLORES, Maria (Espírito). Antologia da espiritualidade. Psicografado por: Francisco Cândido Xavier. 6. ed. 2. imp. Brasília: FEB, 2014.

 


sexta-feira, 22 de julho de 2022


 


DEUS É CARIDADE 

(Lembrança aos companheiros da Doutrina Espírita)

Não guardes e nem fales, coração,
Palavras de azedume ou desesperação.
O verbo que escarnece, esfogueia, envenena,
Traz em si mesmo a dolorosa pena
De amarga frustração! 

Muitas vezes nós mesmos, trilha afora
No pensamento que se desarvora,
Nas teias da ilusão sem motivo ou sem base,
Para sair do mal e regressar ao bem
Precisamos apenas de uma frase
Do carinho de alguém!
 
Na dor que nos renova,
Quantas vezes na vida a gente espera
Simplesmente um sorriso,
Para fazer o esforço que é preciso,
Á fim de não perder nas lágrimas da prova
A paz da fé sincera!...
 
Pensa nisso e abençoa
Àquela própria mão que espanca ou aguilhoa.
Fel, tristeza, amargura,
Transformam desventura em maior desventura!
Se a mágoa te domina,
Observa a lição da Bondade Divina!
Se o homem tala o campo aos horrores da guerra,
Deus recama de verde as úlceras da Terra.
Cerre-se a noite fria,
Deus recompõe sem falta os fulgores do dia.
Atire-se um calhau à fonte na espessura,
Deus protege a corrente
E a fonte lava a pedra a beijos de água pura
E prossegue indulgente,
Doce, clara, bendita,
Fertilizando o campo em que transita.
Isole-se a semente pequenina
Na clausura do chão
E eis que Deus a ilumina
E ela faz a alegria e a fartura do pão!
Que a poda fira a planta a golpes destruidores
E Deus reveste o tronco em auréolas de flores!...
Conquanto seja em tudo a Justiça perfeita
Que nos premia, ampara, aprimora e endireita
Pelo poder do amor incontroverso,
Deus quer que a Lei do amor seja cumprida
Para a glória da vida,
Nas mais remotas plagas do Universo!
 
Serve, pois, coração,
À tolerância, à paz, à bondade e à união!
Embora desprezado, anônimo, sozinho,
Agradece, em silêncio, a injúria, o pranto, o espinho
E serve alegremente...
Dor é nova ascensão à Vida Superior!...
Rende-te a Deus e segue para a frente,
Pois Deus é Caridade e a Caridade ardente
Tudo cobre de amor!... 

DOLORES, Maria (Espírito). Antologia da espiritualidade. Psicografado por: Francisco Cândido Xavier. 6. ed. 2. imp. Brasília: FEB, 2014.

 


  Propriedade Intelectual (Irmão Jó) Houve época em que produzir Obra de arte legal Era incerto garantir Direito intelectual.   Mas com tant...