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sexta-feira, 29 de julho de 2022

 


DIVINA CONQUISTA
 
Esta singela narrativa
Ouvi de amado amigo – um gênio dentre os gênios –
História que ele arquiva
Em seus registros  de milênios.
 
Um Espírito que, em  si, já conquistara
Inteligência primorosa e rara
Manifestou anseio superior:
Desejou trabalhar junto ao Senhor,
Amá-lo, vê-lo e fruir-lhe a presença...
Para isso pediu aos Ministros  da Lei
Que se lhe concedessem uma vida de rei.
Recebida a licença,  
Fez-se na Terra um nobre soberano,
Foi grande, poderoso, justo e humano,
Mas, adstrito à própria posição,
Viveu atento à representação
Do povo que escolhera governar.
De volta ao Grande Lar,
Assim que o Mais-Além se lhe descerra,
Subiu a conviver com benfeitores
Que haviam sido príncipes na Terra...
 
Mas, logo após, rogou aos Divinos Mentores  
A graça de ser santo...
Tornou ao mundo transformado
Em famoso varão
Que só pensava em perfeição.
Viveu de isolamento, entre prece e o jejum,  
Sem se doar a mal nenhum;
No entanto, circunscrito
Às tradições da crença em que vivia,
Abandonando o corpo teve a companhia
De ilustrados teólogos do Além,  
Mensageiros da Paz e Expoentes do Bem.
 
Decorrido algum tempo, ele quis ser um artista.  
Voltou a Terra músico e pintor;
Foi um gênio a compor e recompor  
Imagens de harmonia e poemas em cor.  
Regressando ao  Além, depois de longos dias,
A transportar consigo láureas resplendentes
Passou a respirar
No clima cultural de artistas eminentes.
 
Depois disso, por décadas afora,
De vida em vida, em largo itinerário,
Eis que a sede de Cristo mais  se lhe aprimora...
Foi Escritor, Juiz, Cientista e Operário.
 
Mas um dia chegou em que ele disse:
— Senhor! Senhor! Tenho escolhido tanto,
Ignoro, porém, o que te agrade,
Dá-me agora, Jesus tua vontade,
Ensina-me o dever,
Para que eu seja o  que preciso ser!...
 
Tempo vasto rolou nas vias do Infinito.
Quando voltou a renascer
Numa casa singela...
A vida lhe corria doce e bela
Quando os pais retornaram para  o Além...
Os três irmãos do lar,
Consolidando a própria segurança,
Não se pejaram de o desvincular
Do direito de herança...
Ele não destacou qualquer reclamação,  
Aprendera dos pais a ciência do bem.
Aceitou contas que jamais fizera
E compromissos que desconhecia,
Sem ferir a ninguém.
Esqueceu todo o  mal, buscando um novo dia,
Estudou, quanto pode, entre serviço e escola,
Fez-se negociante e depois lavrador,
Casou-se e converteu-se em pai guiado pelo amor,
Mas porque socorresse aos pobres e aos doentes,
A família insurgiu-se a golpes deprimentes...
 
A esposa sem razão
Permutou-lhe o carinho  e a companhia  
Por um homem tocado de ambição.
Ao vê-lo amargurado, em transes de agonia,
Os filhos declararam-no demente
E um processo instaurou-se de repente,
A julgá-lo incapaz de senso e direção.
Destituído e expulso do seu chão,
Não levantou a voz sequer
Para acusar os filhos e à mulher.
E prosseguiu servindo.
Agia, sol a sol, por ínfimo ordenado,
Mas esparzindo sempre a riqueza do  amor,
Onde surgisse algum necessitado.
 
Alcançou noventa anos de amargura  
E nunca se queixou, nem se deu à secura...
Era sempre um amigo da alegria,
Criando paz e luz, bondade e simpatia.
Certa noite, sozinho,
O estimado velhinho.
Viu-se fora do corpo, ante a pressão da morte...
Procura na oração  apoio que o  conforte,
Mas nisso um anjo posto à cabeceira,
Fala-lhe brandamente: — Meu irmão,
Partamos para a vida verdadeira...
Ele escutou celeste cavatina
E, aflito, perguntou: — Que há que não entendo?
O Emissário aclarou: — É a música divina,
Saudando um justo que acabou vencendo...  
Entre assombro e receio, estranheza e torpor,
O pobre proferiu ansiosa indagação:
— Quem será esse justo, Deus de Amor?
 
O silêncio se fez qual se fosse de estalo.
Logo após, o velhinho, a chorar de emoção,  
Viu que o próprio Jesus vinha buscá-lo...
Prosternado, gritou: — Senhor, eu não mereço!...
Mas o Cristo avançou, estendo-lhe a mão...  
 
Soluçando de amor e de alegria,
O pobre irradiou sublime claridade,
No entanto, nem notou que ele próprio trazia
No próprio coração, a estrela da humildade.
 
MARIA DOLORES (Espírito). In: Vida em vida. Psicografado por Francisco Cândido Xavier. 1. ed. – 1.ª impr. por demanda (P.O.D.). Brasília: FEB, São Paulo: IDEAL, 2021. Divina conquista.


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