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segunda-feira, 28 de novembro de 2022



EXPERIÊNCIAS
 
Uma história de culpa e redenção
Que só pude entender
Fitando a vida na reencarnação:
 
Há mais de um século passado,
Jovem senhora de fortuna imensa
Desfez-se do homem bom que havia desposado,
Propinando-lhe a morte
Aproveitando antiga desavença.
 
O marido morreu, sem saber que a consorte
Era a autora do crime...
Sob o açoite invisível de veneno,
Desligou-se do corpo, acreditando
Ter sido vítima de um bando
De conhecidos salteadores,
Que lhe haviam furtado extensa faixa
De lavoura e terreno...
 
Ela fingiu sofrer, chorou a lamentar-se,
Resguardando a frieza em pomposo disfarce:
Depois, armou-se de razão e herança,
Em seguida a mais ouro, ei-la que avança
No rumo do prazer, unicamente...
 
Borboleta das noites de aventura,
Converteu-se em esfinge de loucura
E espalhava paixões, assassinatos,
Suicídios e duelos insensatos,
Até que, um dia, a morte
Surgiu numa doença e abateu-a de todo...
 
A fidalga saiu de túmulo dourado,
Abominando o corpo aniquilado
Como quem deixa um cárcere de lodo.
 
Atônita, encontrou na própria mente
As sombras que largara para trás...
Via os homens que amara, odiando-lhe o nome
E os lares que ela mesma havia destruído
Sem alento e sem paz,
Padecendo viuvez, necessidade e fome,
Em razão dos seus gestos sem sentido...
 
Ao fim de tempo longo em suplício e cansaço,
Vendo em si própria a culpa e a punição reunidas,
Rogou regresso ao mundo em lágrimas doridas;
Queria renascer, desprezada e doente,
De maneira a expiar os erros que fizera...
Foi assim que a fidalga ressurgiu
Na penúria de humílima tapera.


Ninguém lhe conhecia a genitora...
A pequenina fora
Simplesmente enjeitada
Sobre o lodoso vão de uma velha calçada...
 
Recolhida num lar de gente boa,
Cedo mostrou-se como viveria,
Débil mental, vagando à-toa,
Muda e louca, chamavam-na Maria;
E porque andasse, ao léu, de porta em porta,
Fosse onde fosse, se chorava ou ria,
Populares gritavam: “sai, Maria!...
Não te queremos... Sai, Maria Torta!...”

E a pobre em se sentindo injuriada
Pelo cruel pejorativo,
Buscava defender-se a rugido e pedrada,
Ferindo o próprio peito morto-vivo...
 
Sessenta anos viveu à noite e ao vento,
Sem pouso certo, atada ao sofrimento...
 
Dias atrás, fui vê-la... Achei Maria,
Num recanto de pobre enfermaria...
Era um farrapo humano, uma sombra de gente
Que a moléstia arrasava, asperamente...
 
Dera-lhe a caridade um colchão por guarida
E a morte lhe traria o apoio de outra vida...
 
Agonizou, por fim, a nobre companheira
Que varara, gemendo, uma existência inteira.
 
Nós – a equipe de simples servidores –
Expressando-lhe amor em visita singela,
Orávamos em grupo, junto dela,
Suplicando a Jesus lhe amenizasse as dores...
Quando o corpo cansado demonstrou
Que não mais lhe servia,
Mensageiros da Altura, com cuidado,
Libertaram Maria...
 
Foi um deslumbramento inesperado.
A sala estreita e pobre iluminou-se,
Ramalhetes lembrando estranhas primaveras
Chegavam pelas mãos de amigos de outras eras...
 
Jubilosa e espantada, vi Maria
Deixar o corpo em pranto de alegria...
Seres angelicais cantavam em surdina
Doces evocações da Morada Divina...
A pobre soluçava ao tentar entendê-las...
 
Logo após, envolvida em flores luminosas,
Numa sege de luz, enfeitada de rosas,
Maria se elevou para além das estrelas...
 
DOLORES, Maria. A vida conta. Psicografia de F. C. Xavier. Ed. C.E.U., 1980.


domingo, 27 de novembro de 2022

 


27.2 Eficácia da prece

 

Qualquer coisa que vocês pedirem na prece, creiam que obterão (Marcos, 11:24).

 

        Há pessoas que contestam a eficácia da prece, entendendo que, por conhecer Deus nossas necessidades, é desnecessário expô-las a Ele. Acrescentam ainda que, tudo se encadeando no verso por leis eternas, nossos desejos não podem mudar os decretos de Deus.

        Sem dúvida, há leis naturais e imutáveis que Deus não pode revogar conforme os caprichos de cada um. Mas daí a crer que todas as circunstâncias da vida estejam submetidas à fatalidade, a distância é grande. Se assim fosse, o homem nada mais seria que um instrumento passivo, sem livre-arbítrio e sem iniciativa. Nessa hipótese, só lhe caberia curvar a fronte ante os golpes do destino, sem procurar evitá-los; não deveria tentar desviar-se do raio. Deus não lhe deu o entendimento e a inteligência para que não os utilizasse, a vontade para não querer, a

atividade para ficar em inação. Como o homem é livre para agir, numa ou noutra direção, seus atos têm, para ele mesmo e para os outros, consequências subordinadas ao que ele faz ou deixa de fazer. Por sua iniciativa, há portanto acontecimentos que escapam forçosamente à fatalidade, e que nem por isso destroem a harmonia das leis universais, da mesma maneira que o avanço ou o atraso dos ponteiros de um relógio não anula a lei do movimento sobre a qual se estabelece o mecanismo. Deus pode, pois, atender a certos pedidos, sem derrogar a imutabilidade das leis que regem o conjunto, subordinado sempre o atendimento à sua vontade.

        Seria ilógico concluir-se, desta máxima: “Qualquer coisa que vocês pedirem na prece, creiam que obterão", que basta pedir para obter, como seria injusto acusar a Providência se ela não atender todos os pedidos que lhe fazem, porque ela sabe melhor do que nós o que é para nosso bem. Assim procede o pai sábio, que recusa ao filho as coisas contrárias ao interesse deste. O homem, geralmente, só vê o presente; ora, se o sofrimento é útil à sua felicidade futura, Deus o deixará sofrer, como o cirurgião deixa o doente sofrer as dores duma operação que deverá curá-lo.

        O que Deus lhe concederá, se lhe pedir com confiança, é a coragem, a paciência e a resignação. O que ainda lhe concederá são os meios de por si mesmo se livrar das dificuldades, com a ajuda das ideias que lhe serão sugeridas pelos bons espíritos, de maneira que lhe restará o mérito da ação. Ele assiste aos que se ajudam a si mesmos, segundo esta máxima: "Ajuda-te e o céu te ajudará", e não os que tudo esperam dum socorro estranho, sem usar suas próprias faculdades. Porém, na maioria da vezes, preferimos ser socorridos por um milagre, sem nada fazermos (cap. 25, it. 1 e segs.).

        Tomemos um exemplo. Um homem está perdido num deserto; sofre horrivelmente de sede; sente-se fraco e deixa-se cair na terra. Ora, pedindo a ajuda a Deus e espera; mas nenhum anjo vem dar-lhe de beber. No entanto, um Bom Espírito lhe sugere o pensamento de levantar-se e seguir um dos caminhos que tem diante de si. Então, por um movimento maquinal, reúne as forças que lhe restam, levanta-se, caminha e descobre um regato ao longe. Com essa visão, ganha coragem. Se tiver fé, exclamará: "Obrigado, meu Deus, pelo pensamento que me inspirou e pela força que me deu". Se não tiver fé, dirá: "Que boa ideia eu tive! Que sorte a minha de tomar o caminho da direita e não o da esquerda; o acaso, algumas vezes, serve-nos admiravelmente! Quanto me felicito pela minha coragem e por não me haver deixado abater!"

        Mas, dirão, por que o bom Espírito não lhe disse claramente: “Siga este caminho, e no fim encontrará o que necessita?” Por que não se mostrou a ele, para guiá-lo e sustentá-lo no seu abatimento? Dessa maneira o bom Espírito o teria convencido da intervenção da Providência. Primeiramente, para lhe ensinar que é necessário ajudar-se a si mesmo e usar as próprias forças. Depois, porque, pela incerteza, Deus põe à prova a confiança e a submissão à sua vontade. Esse homem estava na situação da criança que, ao cair, vendo alguém, põe-se a gritar e espera que a levantem; mas, se não vê ninguém, esforça-se e levanta-se sozinha.

        Se o anjo que acompanhou Tobias lhe houvesse dito: "Sou enviado por Deus para  guiá-lo na viagem e preservá-lo de todo perigo". Tobias não teria nenhum mérito. Fiando-se no seu companheiro, nem mesmo precisaria pensar. Foi por isso que o anjo só se deu a conhecer ao retornarem.


sábado, 26 de novembro de 2022

 

EM DIA COM O MACHADO 551
O SÁBIO E A SOLUÇÃO DOS CONFLITOS (Irmão Jó)

        Alma amiga, ainda há pouco pensava no que escrever. Então, pedi a inspiração divina (fato real) para que me sugerisse um tema. Abri o livro Jesus no Lar, com mensagens de Neio Lúcio, psicografadas por Chico Xavier e, encantado, li a história do ministro sábio, que está no capítulo 15 dessa obra.

     Relata o autor espiritual que Mateus falava sobre a missão dos administradores do povo, quando Jesus narrou a história do reino atacado por adversários do soberano, cuja rebeldia insuflada ao povo de grande província cresceu descontroladamente. Preocupado, o monarca apelou para um hábil juiz, que criou tantas leis, como seu primeiro-ministro, que nada mudaram em relação à situação reinante.

        Desencantado, o rei substituiu o juiz por famoso doutrinador, que fez brilhantes discursos, mas não conseguiu modificar o estado de perturbação do reino. Então foi chamado um sacerdote, mas este, piorando a situação, amaldiçoou os opositores do rei.

        Decepcionado, o soberano colocou um médico na direção geral dos negócios, mas este, visando à conquista dos benefícios régios, informou ao rei que seus adversários eram doentes mentais. “E fez disso propaganda tão ruinosa que a indisciplina se tornou mais audaciosa e a revolta mais desesperada.”

        O rei, então, imaginou que somente um general célebre resolveria os conflitos. Este arremessou as forças armadas sobre os insubordinados da província e deu início à guerra civil.        Foram tantas as mortes que o “imperante”, abatido moralmente, resolveu chamar um sábio para solucionar a crise no reino. O sábio, após refletir por um tempo, percebeu que nada do que fora feito resolveria o problema: “Não criou novas leis, não pronunciou discursos, não censurou os insurretos, não perdeu tempo em zombaria, nem estimulou qualquer cultura de vingança”.

        Visitou a região conflituosa e passou a observar-lhe as necessidades prementes. Ali, inúmeras famílias não tinham teto, havia necessidade de trabalho e de instrução. Então, passou a construir lares, oficinas de trabalho e de estudo, abrir estradas, inaugurar escolas e incentivar o povo a estudar e trabalhar, “lutando, com valioso espírito de entendimento e fraternidade, contra a preguiça e a ignorância”.

        Algum tempo depois disso, acabaram as discórdias, pois o bem em ação eliminou a desconfiança, dureza de coração e insegurança dos mais exaltados. Finalizando a história, ante a imensa satisfação de Mateus, concluiu Jesus:

        — O ódio pode atear muito incêndio de discórdia no mundo, mas nenhuma teoria de salvação será realmente valiosa sem o justo benefício aos espíritos que a maldade ou a rebelião desequilibraram. Para que o bem possa reinar entre os homens, há de ser uma realidade positiva no campo do mal, tanto quanto a luz há de surgir pura e viva, a fim de expulsar as trevas.

         Paz e luz aos nossos dias, com as bênçãos do Salvador do Mundo, Jesus, o Cristo de Deus!


sexta-feira, 25 de novembro de 2022

 




ESQUEMA DE LUZ

Não chores. Trabalha sempre.
Não condenes. Abençoa.
Não te revoltes. Perdoa.
Cultiva o amor fraternal.
Não te detenhas. Prossegue.
Não reclames. Confia.
Busca a celeste alegria
Doando o Bem pelo Mal.
Não te lastimes. Espera.
Não combatas. Colabora.
Serve e serve, hora por hora
No ideal que conduz.
E encontraremos mais cedo,
No amor unido à verdade,
A luz da felicidade
Em nosso esquema de luz.
 
DOLORES, Maria. A vida conta. Psicografia de F. C. Xavier. Ed. C.E.U., 1980.


quarta-feira, 23 de novembro de 2022

 


ESCOLA BENDITA
 
Quem vê a Terra de longe
Nota que o orbe no espaço
Recorda um comboio de aço
Varando os céus na amplidão;
Em trilhos de mar e terra,
Conquanto em linha disforme,
Formando o comboio enorme
Cada cidade é um vagão.
 
Contemplo esse trem-escola,
Conduzindo várias classes,
Em salões de muitas faces,
Cada pessoa é aprendiz;
Todo viajor nessa nave,
Em nome da luz divina,
Luta, sofre e raciocina,
Aprendendo a ser feliz.
 
Cada qual em seu refúgio,
Seja palácio ou choupana,
Recebe da escola humana
As lições do eterno bem;
Cada aluno está restrito
Ao progresso em que se marca,
Até que, enfim, desembarca
Nas plataformas do além.


Alma querida, prossegue
No educandário sublime,
Que nada te desanime
Nos dias de prova e dor...
Quem conquista as notas altas
Quem mais se alteia e merece
É quem mais serve e se esquece
Na sementeira do amor.
 
DOLORES, Maria. A vida conta. Psicografia de F. C. Xavier. 1980.

segunda-feira, 21 de novembro de 2022

 


DOIS PENSAMENTOS
 
Sofre e abençoa, chora mas porfia
Aprendendo as lições de cada dia...
 
****


A existência na Terra é a subida escarpada
E o dever nos recorda o símbolo da cruz;
Segue e agradece a Deus a aspereza da estrada
Que te eleva da sombra à exaltação da luz!...
 
DOLORES, Maria. A vida conta. Psicografia de F. C. Xavier. 1980.


domingo, 20 de novembro de 2022

 


27.1 Qualidades da prece

 

Quando orarem, vocês não deverão de ser como os hipócritas, que gostam de orar em pé nas sinagogas, e nos cantos das ruas, para serem vistos dos homens; em verdade lhes digo, que eles já receberam sua recompensa. Mas vocês, quando orarem, entrem no seu aposento, e fechada a porta, orem a seu Pai em secreto; e seu Pai, que vê o que se passa em secreto, lhes dará a recompensa.

E quando orarem não falem muito, como os pagão, os quais imaginam  que pelo seu muito falar serão atendidos. Não queiram portanto parecer-se com eles; porque seu Pai sabe o que lhes é necessário, primeiro que vocês lhe peçam (Mateus, 6:5- 8).

Mas quando se puserem em oração, se tiverem alguma coisa contra alguém, perdoem-lhe, para que também seu Pai, que está nos Céus, também perdoe seus pecados. Porque se vocês não perdoarem, também seu Pai, que está nos Céus, não perdoará seus pecados (Marcos, 11:25- 26).

E propôs também esta parábola a alguns que confiavam em si mesmos, como se fossem justos, e desprezavam os outros:

— Subiram dois homens ao templo, para orar: um era fariseu e o outro publicano. O fariseu, posto em pé, orava intimamente desta forma: Graças te dou, meu Deus, porque não sou como os demais homens, que são uns ladrões, injustos e adúlteros, como é também este publicano. Jejuo duas vezes na semana, pago o dízimo de tudo o que possuo.

O publicano, pelo contrário, posto lá de longe, não ousava nem ainda levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: Meu Deus, tenha piedade de mim que sou pecador.

Digo-lhes que este voltou justificado para a sua casa, e não o outro; porque todo o que se exalta será humilhado, e todo o que se humilha será exaltado (Lucas, 18:9-14).

As qualidades da prece foram claramente definidas por Jesus. Quando orarem, diz Ele, não se coloquem em evidência, mas orem em secreto. Não afetem orar muito, porque não será pelas muitas palavras que serão atendidos, mas pela sinceridade delas. Antes de orar, se tiverem qualquer coisa contra alguém, perdoem, porque a prece não pode ser agradável a Deus, se não partir de um coração purificado de todo sentimento contrário à caridade. Orem, enfim, com humildade como o publicano, e não com orgulho, como o fariseu. Examinem seus defeitos, e não suas qualidades, e se se compararem aos outros, procurem o que existe de mau em vocês (cap. 10, itens 7 e 8).




sábado, 19 de novembro de 2022

 

EM DIA COM O MACHADO 550:
HORAS DIFÍCEIS (Irmão Jó)

 


            Alma irmã, durante muito tempo eu julgava os acontecimentos da vida pelo que ocorria em minha própria existência. Enfim, aprendi que o que ocorre conosco não serve como medida do que é certo ou errado em relação aos fatos sociais genéricos. Por exemplo, se estudei em escola pública e tive como professor alguém que não cumpria bem seus deveres profissionais, não posso julgar todos os professores de escola pública com base no comportamento daquele professor. Tempos difíceis todos temos, mas Deus está no comando.

            Precisamos entender que todos nós estamos sujeitos a errar. Provavelmente, aquele professor ainda não atingiu a maturidade que o faça perceber as consequências para si mesmo de seu despreparo profissional.

            Por essa razão, o espírito Emmanuel também intitulou sua mensagem como Horas difíceis. Ela está no livro psicografado por Chico Xavier que se chama Livro de Respostas, editado pela Federação Espírita Brasileira. Após elencar as situações ruins que podemos estar passando, Emmanuel conclui: “Se essas horas de crise te surgiram na existência, não desanimes nem te desesperes. Ergue a fronte para o alto e conta com Deus. Realmente, o que mais importa é o que sucede dentro de ti”.

            Em apoio às palavras finais de Emmanuel, lemos na obra ditada pelo espírito Maria João de Deus, intitulada Cartas de Uma Morta, também psicografada por Chico Xavier, no capítulo 63, esta frase: “Um espírito pode beneficiar-se com o que lhe provém do exterior, mas o seu verdadeiro mundo é aquele criado por seus pensamentos, atos e aspirações”.

            Foi por esse motivo que, ao ser indagado por Allan Kardec, na questão 621 d’O Livro dos Espíritos, onde se situa a lei de Deus, a resposta recebida foi objetiva: “Na consciência”. Provavelmente, aquele educador relapso foi de tal modo prejudicado por suas atitudes negativas, que aprendeu com seus erros a se tornar um dos melhores professores da escola. Ele poderia também ter percebido que o magistério não era sua vocação e ter optado por outra profissão na qual se realizaria e proporcionaria melhores resultados para si e para outrem.

            Mas se o professor se acomodou, certamente chegará o dia em que perceberá o mal causado a quem lhe cabia educar. Se não nesta, noutra encarnação, pois ainda que ignoremos os apelos da consciência, dia haverá em que teremos de escutá-la a clamar, incessante, como na figura bíblica: “Caim, Caim, que fizeste do teu irmão?”

            Somente em boa sintonia com a consciência, entenderemos a lei de causa e efeito. Então, a fé verdadeira nos dará forças para atuar no bem, fiéis às palavras de Pedro: “O amor cobre a multidão dos pecados”. Daí a necessidade de satisfazermos os três requisitos para a quitação do débito espiritual de cada um de nós: arrependimento, expiação e reparação.

            Deus proverá tudo o que for preciso, no tempo certo, pois, como nos lembrou nosso amigo Evandro, nobre tradutor das obras básicas de Kardec e da Revista Espírita: “O tempo de Deus é diferente do nosso tempo”. Por esse motivo, os que agora estamos angustiados precisamos encontrar na oração, na tolerância, no trabalho e no bem incansável os remédios eficazes para enfrentarmos serenamente as horas difíceis.

sexta-feira, 18 de novembro de 2022

 


DEUS TE GUARDE
 
Deus te guarde, alma querida e boa,
Pela dor que não dizes,
Quando a injúria te induz a suportar
Os problemas e os atos infelizes.
 
Deus te compense a tolerância
Quando olvidas o mal,
Interpretando aquele que te agride
Por doente mental.
 
Deus te ilumine a frase de humildade
Ante o verbo agressor,
Quando te apagas para garantir
A presença do amor.
 
Deus te engrandeça o gesto de renúncia,
Onde a ambição, às tontas, se compraz,
Quando sabes perder conforto e benefício
Em proveito da paz.
 
Deus proteja o silêncio em que te esforças
Na compreensão que te sustém,
Quando toleras golpe ou desafio
Sem ferir a ninguém.
 
Por tudo o que há de bom que nos ofertas
Na jornada de luz que te bendiz,
Pelo perdão constante em que te nutres,
Deus te guarde, alma irmã, Deus te faça feliz.
 
DOLORES, Maria. A vida conta. Psicografia de F. C. Xavier. 1980.


quarta-feira, 16 de novembro de 2022


A PONTE DE LUZ

 
Terminara Jesus a prédica no monte.
Nisso, o apóstolo Pedro aproxima-se
E diz-lhe: "Senhor, existe alguma ponte
Que nos conduza ao Alto, ao Céu que brilha muito acima?
Conforme ouvi de tua própria voz,
Sei que o Reino do Amor está dentro de nós...
Mas deve haver, no Além, o País da Beleza,
Mais sublime que o Sol, em fulgor e grandeza...
Onde essa ligação, Senhor, esse divino acesso?
 
Jesus silenciou, como entrando em recesso
Da palavra de luz que lhe fluía a jorro...
Circunvagou o olhar pelas pedras do morro
E, depois de comprida reflexão,
Falou ao companheiro: — "Ouve, Simão,
Em verdade, essa ponte que imaginas
Existe para a Vida Soberana,
Mas temos de atingi-la por estrada
Que não é bem a antiga estrada humana."
 
— "Como será, Senhor, esse caminho?"
Tornou Simão a perguntar.
E Jesus respondeu sem hesitar:
— "Coração que a escolha, às vezes, vai sozinho,
E quase que não tem
Senão renúncia e dor, solidão e amargura...
E conquanto pratique e viva a lei do bem,
Sofre o assédio do mal que o vergasta e procura
Reduzi-lo à penúria e ao desfalecimento.
Quem busca nesta vida transitória,
Essa ponte de luz para a eterna vitória
Conhecerá, de perto, o sofrimento
E há de saber amar aos próprios inimigos,
Não contará percalços nem perigos
Para servir aos semelhantes,
Viverá para o bem a todos os instantes
E mesmo quando o mal pareça o vencedor,
Confiando-se a Deus, doará mais amor...
E ainda que a morte, Pedro, se lhe imponha,
Na injustiça ferindo-lhe a vergonha,
Aceitará pedradas sem ferir,
Desculpará injúria e humilhação
Se deseja elevar o coração
À ponte para o Reino do Porvir..."
 
Alguns dias depois, o Cristo flagelado,
Entregue à própria sorte
Encontrava na cruz o impacto da morte,
Silencioso, sozinho, desprezado...
Terminada que foi a gritaria
Da multidão feroz naquele dia,
Ante o Céu anunciando aguaceiro violento,
Pedro foi ao Calvário, aflito e atento,
Envergando disfarce...
Queria ver o Mestre, aproximou-se
Para sentir-lhe o extremo desconforto...
 
Simão chorou ao ver o Amigo morto.
E ao fitá-lo, magoado, longamente
Ele ouviu, de repente,
Uma voz a falar-lhe das Alturas:
— "Pedro, segue, não temas, crê somente!...
Recorda os pensamentos teus e meus...
Esta cruz que me arrasa e me flagela
É a ponte que sonhavas, alta e bela,
Para o Reino de Deus."
 
DOLORES, Maria. A vida conta. Psicografia de F. C. Xavier. 1980.


segunda-feira, 14 de novembro de 2022

 


CERTA CRIANÇA

 

Falávamos em torno da criança,
Numa reunião de cultura e amizade,
Na infância a flor da Humanidade
Que o Céu envia à Terra, em luzes de esperança,
Quando o Irmão Frederico nos contou
Por nota de serviço:
 
– Meus irmãos, quanto a isso,
Tenho um caso expressivo a relatar:
Sabem que fui pintor com grande clientela;
Certa feita, um garoto abordou-me no lar,
Seis janeiros de idade e presença singela,
Envergando um roupão imundo e roto...
Declarou residir num recanto de esgoto,
Perdera os pais na morte e pedia-me um pão.
Parei tocado de admiração.
 
Doía vê-lo assim, maltratado e sozinho,
Figurava-se um pássaro sem ninho,
Na manhã muito fria, a tremer e a tremer...
Enquanto se servia,
Qual se fosse num sonho de alegria
Da porção de merenda improvisada,
Fitei-lhe a cabeleira despenteada,
Os olhos luminosos de candura,
Os pés descalços com sinais de lama
E, abeirando-me dele, perguntei:
– Como se chama?
Ele me respondeu, como que a medo:
– Meu nome é Alfredo...
 
Uma ideia, de súbito, me veio:
Pintá-lo nuns momentos de recreio.
O pequeno aderiu. Pousou à minha frente,
No grande ateliê a que levei-o.
Após algumas horas, tive o esboço e a base
Para a tela maior que, então, me vinha à mente...
Depois disso, o “até breve” numa frase
E alguns magros tostões na mão pequena.
No entanto, ele indagou
Num tom de voz de fazer pena:
– O senhor não me quer para morar consigo?
– Não, Alfredo, – aduzi, – tenho o meu próprio lar,
Procura um outro amigo,
Alguém há de surgir que te possa ajudar.
 
Olhos em pranto, entre magoado e aflito,
Postou-se à frente do meu cavalete,
Onde me vira trabalhar,
E disse: o meu retrato está bonito...
Em seguida, saiu para não mais voltar.
 
Surge a pausa do amigo. A emoção se lhe aviva,
Logo após, continua a narrativa:
– Dói-me rememorar, porém confesso:
O retrato de Alfredo fez sucesso...
Ganhei muito dinheiro
Em cópias e encomendas
Para festejos e oferendas...
Mas sempre conservei o original;
Várias vezes, mudei de residência,
No entanto, a grande tela
A que emprestei o nome de “Inocência”
Foi sempre, em minha sala de serviço,
O quadro principal.
 
Trinta e cinco janeiros transcorridos,
Com meus filhos casados... Eu doente,
Certa noite, a lembrar os tempos idos,
Observei que alguém, de passo leve,
Penetrara-me a casa, mansamente;
Colocando-me à espreita e firme à escuta,
Vi que esse alguém
Na sala de trabalho, quase à minha frente,
Manejava lanterna diminuta...
Sustentava, porém, junto ao meu leito,
Num disfarce perfeito,
O botão de uma forte campainha,
Cujo toque de alarme
Somente dava som em morada vizinha,
Onde, a qualquer instante de perigo,
Um devotado amigo
Estava pronto para auxiliar-me.
 
Esse amigo que amei qual se fosse meu filho,
Tinha uma chave de meu domicílio...
Fiquei, ansiosamente, a esperar e esperar,
Tremendamente mudo...
O assaltante, contudo,
Rebuscava o meu cofre, devagar...
 
Decorridos minutos,
Um grupo socorrista,
Ante a estranha ocorrência,
Penetrou-me, depressa, a residência,
E pôs-se logo à vista.
Fez-se luz e agitado companheiro
Atirou no infeliz
Que caiu, colocando as mãos no peito.
Ergui-me e vim para o recinto estreito...
O assaltante era um homem bem vestido
Que, a princípio, supus desconhecido;
O sangue a borbotar do peito aberto
Anunciava a morte, ali por perto...
Ele, porém, fitou-me longamente,
Depois de contemplar a tela em frente,
E, em seguida,
Falou-me em voz sumida:
– O senhor
Deve ser o pintor...
Vai lembrar-se de mim...
E como quem se via
No instante amargo e exato
Em que achava no piso o próprio fim,
Disse ainda mais quase que em segredo:
– Eu sou o Alfredo,
O Alfredo do retrato...
 
Sob forte emoção,
O amigo terminou a narração:
– Naquela mesma hora,
Debrucei-me chorando sobre o morto,
Atrelado a terrível desconforto...
E, ainda hoje, penso muitas vezes
Que, na Terra, por mais que se resguarde
A infância, como sendo a aurora da esperança,
O socorro à criança
Quase sempre é uma luz que brilha muito tarde...
 
DOLORES, Maria. A vida conta. Psicografia de F. C. Xavier. 1980.


domingo, 13 de novembro de 2022

 


26.1.3 Mediunidade gratuita

 

     Os médiuns modernos — pois os apóstolos também tinham mediunidade — igualmente receberam de Deus um dom gratuito, o de serem os intérpretes dos Espíritos para a instrução dos homens, para lhes mostrar o caminho do bem e conduzi-los à fé, e não para vender palavras que não lhes pertencem, porque não são produto de sua concepção, nem de suas pesquisas, nem de seu trabalho pessoal. Deus deseja que a luz atinja a todo o mundo, ele não quer que o mais pobre seja deserdado e possa dizer: Não tenho fé, porque não tinha como pagá-la; não tive a consolação de receber o estímulo e o testemunho de afeição daqueles por quem choro, pois sou pobre. É por isso que a mediunidade não é um privilégio, e se encontra por toda parte. Pagar por ela seria, portanto, desviá-la de seu objetivo providencial.

         Quem conhece as condições em que os bons espíritos se comunicam, sua repulsa a tudo que é de interesse egoísta, e sabe quão pouco é preciso para afastá-los, não poderá jamais  admitir que espíritos superiores estejam à disposição do primeiro que os convocar a tanto por sessão. O simples bom senso repele tal pensamento. Não seria também uma profanação, evocar por dinheiro os seres que respeitamos ou que nos são caros? Sem dúvida que se pode obter assim as manifestações, mas quem poderia garantir-lhes a sinceridade? Os espíritos levianos, mentirosos, travessos e toda a turba de espíritos inferiores, muito pouco escrupulosos, atendem sempre a esses chamados, e estão prontos a responder ao que lhes perguntarem, sem qualquer preocupação com a verdade. Aquele, pois, que deseja comunicações sérias deve primeiro procurá-las com seriedade, esclarecendo-se quanto à natureza das ligações do médium com os seres do mundo espiritual. Ora, a primeira condição para se conseguir a benevolência dos bons espíritos é a humildade, o devotamento, a abnegação, o mais absoluto desinteresse moral e material.

         Ao lado da questão moral, apresenta-se uma consideração efetiva, não menos importante, que se refere à própria natureza da faculdade. A mediunidade séria não pode ser e não será jamais uma profissão, não somente porque ela seria desacreditada moralmente, e logo assimilada aos adivinhos, mas porque um obstáculo material a isso se opõe: é que se trata de uma faculdade essencialmente instável, fugidia e variável, com cuja permanência ninguém pode contar. Seria, portanto, para seu explorador, uma receita inteiramente incerta, que poderia faltar-lhe no momento mais necessário.

         Outra coisa é uma capacidade adquirida pelo estudo e pelo trabalho, e que, por isso mesmo, torna-se uma verdadeira propriedade, da qual é naturalmente lícito tirar proveito. Porém, a mediunidade não é nem uma arte nem uma habilidade, eis porque não pode ser uma profissão. Ela não existe sem o concurso dos espíritos; se estes faltarem, não há mediunidade, pois embora a aptidão a possa substituir, o exercício se torna impossível. Não existe, portanto, um único médium, no mundo, que possa garantir a obtenção de um fenômeno espírita em momento determinado. Explorar a mediunidade, como se vê, é querer dispor de uma coisa que realmente não se possui. Afirmar o contrário é enganar quem paga. Há mais: não é de si mesmo que se dispõe, e sim dos espíritos, das alma dos mortos, cujo concurso é posto à venda. Essa ideia repugna instintivamente. Foi esse tráfico, degenerado em abuso, explorado pelo charlatanismo, pela ignorância, pela credulidade e pela superstição, que provocou a proibição de Moisés. O Espiritismo moderno, compreendendo o lado sério do assunto, lançou o descrédito sobre essa exploração e elevou a mediunidade à categoria de missão. (O Livro dos Médiuns, cap. 28, e O Céu e o Inferno, cap. 12).

      A mediunidade é uma coisa santa, que deve ser praticada santamente, religiosamente. Se há uma espécie de mediunidade que requer esta condição de maneira ainda mais absoluta, é a mediunidade curadora. O médico oferece o resultado dos seus estudos feitos ao longo de sacrifícios geralmente penosos; o magnetizador dá seu próprio fluido, por vezes, mesmo sua própria saúde; eles podem estipular um preço para isso. O médium curador transmite o fluido salutar dos bons espíritos, e não tem o direito de vendê-lo. Jesus e os apóstolos, embora pobres, não cobravam pelas curas que operavam.

         Que aquele, pois, que não tem do que viver, procure outros recursos que não os da mediunidade; e que não lhe consagre, se necessário, senão o tempo de que possa dispor materialmente. Os espíritos reconhecerão seu devotamento e seus sacrifícios, enquanto se afastam dos que os utilizam como trampolim.

        (3.ª ed. francesa. Tradução livre do irmão Jó.)


  Propriedade Intelectual (Irmão Jó) Houve época em que produzir Obra de arte legal Era incerto garantir Direito intelectual.   Mas com tant...