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quarta-feira, 29 de abril de 2020


EM DIA COM O MACHADO 416:
Em tempo de pandemia (Jó)



Allan Kardec explica, no cap. III, item 5 da sua obra intitulada O Céu e o Inferno, ou a Justiça Divina Segundo o Espiritismo, que todos nós possuímos a natureza corpórea e a espiritual. E acrescenta: "O Espírito é o ser principal, racional, inteligente, o corpo é o envoltório material que reveste o Espírito temporariamente, para o cumprimento de sua missão na Terra e a execução do trabalho necessário ao seu adiantamento".
Em seguida, conclui: "Sem o Espírito, o corpo não passa de matéria inerte, qual instrumento privado da mola que o faz agir; sem o corpo, o Espírito é tudo: a vida, a inteligência. Ao deixar o corpo, retorna ao mundo espiritual, de onde havia saído para reencarnar".
Quando passamos a ter a convicção disso, nada mais nos abala o estado psicológico. Logicamente, isso não significa que não tenhamos que ter cuidado com o corpo, mesmo após a desencarnação de uma pessoa querida. Essa é uma homenagem justa e digna que se presta a tais pessoas. Mas a melhor homenagem que lhes prestamos é a lembrança dos bons momentos de nossa convivência, são as nossas orações, sejam estas de solicitação de auxílio divino para elas, ou de gratidão pelo bem que fizeram quando encarnadas. Nesse caso, não tenhamos dúvida de que estão muito melhor agora do que estavam quando no corpo físico.
Devemos refletir, ainda, que as mais longas existências havidas aqui na Terra não passam de cento e poucos anos. É por isso que as pessoas idosas adquirem sabedoria, experiência, mas, se pudessem, trocariam seu velho corpo por outro, jovem, para recomeçar a vida em melhores condições, pois só o corpo envelhece, a alma está sempre sendo mais aperfeiçoada, ainda que em corpo senil, quando já vive mais na pátria espiritual do que na Terra. A reencarnação permite-nos o recomeço da existência com vistas a evoluirmos sempre, mesmo que não nos lembremos do que fizemos em vida anterior, o que é uma proteção provisória, pois no mundo espiritual, donde viemos e para onde retornaremos, poderemos lembrar-nos  de nossas passadas existências.
 Desse modo, assim como uma roupa velha, que substituímos por outra nova, o mesmo ocorre com o corpo físico, que precisamos respeitar e valorizar até o fim, pois, como tudo o mais que é matéria, aqui na Terra, ele é um empréstimo de Deus para o bom cumprimento da missão e trabalho citados pelo Codificador do Espiritismo.
Nessa convicção, que só o estudo, a reflexão e a prática do Espiritismo nos proporciona claramente, suportaremos resignados e confiantes em Deus quaisquer provas ou expiações que forem necessárias ao nosso aperfeiçoamento espiritual. Os filósofos e poetas, intuitivamente, sabem disso.
            Concluamos, com esta quadra:
Hoje é dia de vida abençoada
Não morremos jamais, pois não existe
Despedida, por mais pareça triste,
Que não seja, no além, nova Alvorada.




sábado, 25 de abril de 2020





9.2.5 Hahnemann

Paris, 1863

Segundo a ideia muito falsa de que não se pode reformar a própria natureza, o homem se julga dispensado de fazer esforços para se corrigir dos defeitos em que se compraz voluntariamente, ou que para isso exigiriam muita perseverança. É assim, por exemplo, que o homem inclinado à cólera se desculpa quase sempre com seu temperamento. Em vez de se confessar culpado, ele culpa seu organismo, acusando, assim, a Deus pelos seus próprios defeitos. É ainda uma consequência do orgulho, que se encontra misturado a todas as suas imperfeições.
Sem dúvida, existem temperamentos que se prestam mais que outros a atos violentos, como há músculos mais flexíveis que melhor se prestam a exercícios físicos. Não creiam, porém, que seja essa a principal causa da cólera, e creiam que um Espírito pacífico, mesmo num corpo bilioso, será sempre pacífico, enquanto um Espírito violento, num corpo franzino, não seria dócil. Somente a violência tomará outro caráter. Não dispondo de organismo apropriado a lhe favorecer a violência, a cólera será concentrada, enquanto no caso contrário seria expansiva.
O corpo não dá mais cólera a quem não a tem, como não dá outros vícios. Todas as virtudes e todos os vícios são inerentes ao Espírito. Sem isso, onde estariam o mérito e a responsabilidade? O homem que é deformado não pode tornar-se direito, porque o Espírito não tem ação sobre isso, mas pode modificar o que se relaciona com o Espírito, quando dispõe de uma vontade firme.
A experiência não lhes prova, espíritas, até onde pode ir o poder da vontade, pelas transformações verdadeiramente miraculosas que se operam aos seus olhos? Diga-se, pois, que o homem só permanece vicioso porque quer permanecer vicioso, mas que aquele que deseja corrigir-se sempre o pode. De outro modo, a lei do progresso não existiria para o homem.

Tradução livre, em terceira pessoa, pelo Prof. Dr. Jorge Leite de Oliveira.

sexta-feira, 24 de abril de 2020




Pai Nosso

Jorge Leite de Oliveira


Certo dia, um trabalhador espírita que estava designado para desenvolver o tema intitulado A prece, em centro espírita do interior do Rio de Janeiro, por motivo de força maior, faltou à atividade. Chamado às pressas para substituí-lo, nosso amigo Josiel viu-se diante de multidão de espíritos, entre desencarnados e encarnados. A bem da verdade, encarnados mesmos, só havia cerca de dez pessoas nesse humilde lugar.
Então, pedindo intimamente a Deus inspiração, ele começou pela oração do Pai Nosso, também chamada Oração Dominical, ensinada por Jesus. Nosso amigo disse: — Estava Jesus orando quando um dos seus discípulos lhe pediu: "Senhor, ensina-nos a orar". As palavras sublimes e singelas que o Mestre pronunciou, a seguir, tornaram-se modelo de concisão e de elevação a Deus para ser pronunciado e refletido por todos os seguidores do Cristo, conforme consta na questão 625 d’O livro dos espíritos (KARDEC, 2016). Reflitamos no Pai Nosso, que deste modo se inicia:

          Pai nossos que estás nos Céus...
        Jamais houve, antes de Jesus Cristo, um profeta que tratasse Deus dessa forma. Os judeus o consideravam como o poderoso Senhor dos Exércitos, a quem, antes de amar, deviam temer. Esse Senhor Todo-Poderoso somente estava do lado dos hebreus, a quem protegia durante os combates contra os outros povos, aos quais chamavam de gentios, por não adorarem o seu Deus. Em nome deste, invadiam vilas e cidades e, quando saíam vitoriosos nas guerras sanguinárias, violentavam as mulheres jovens e crianças, antes de matá-los, assassinavam os idosos e todos os que sobreviviam aos combates. Em seguida, saqueavam e incendiavam as casas dos povos derrotados.
Como “violência gera violência”, também os povos chamados gentios agiam da mesma forma quando saíam vitoriosos nos combates contra os hebreus. Desse modo, cada um julgava que o seu Deus era mais poderoso e verdadeiro do que o do seu inimigo. Ninguém jamais havia pensado em que todos somos irmãos e Deus é nosso Bom Pai.
Em conversa com a Samaritana que tirava água do poço, a quem Jesus pedira que lhe desse de beber, Ele também ensinou-lhe que haveria dia em que Deus seria adorado em espírito e em verdade, porque o Pai procura a tais que assim o adorem. Mais uma vez, o amoroso Mestre se refere a Deus não somente como Pai, mas como Espírito. Ora, sendo Ele nosso Pai, somos todos irmãos; e sendo Deus Espírito, é nesse sentido que somos eternos, a partir de nossa criação, e, como Criador, Ele é Eterno.
Esse Pai criou todas as coisas, não somente deste Mundo, como de todo o Universo. Ele é o Espírito que se move sobre tudo o que existe, desde o verme invisível aos nossos olhos, até as estrelas mais distantes. Nada em Sua Criação é inútil. Por isso, lembrou-nos o Mestre que até os fios de nossas cabeças estão contados por Deus.
Imaginem a emoção sentida pela Samaritana, quando ela dialogou assim com Jesus: “Eu sei que o Messias, que se chama Cristo, vem; quando Ele vier, anunciar-nos-á tudo". Respondeu-lhe Jesus: Eu sou, eu que falo contigo”.           
Então, Jesus, que é considerado o “unigênito” de Deus, também nos ensina que Este é também nosso Pai e que deve ser adorado em Espírito e em Verdade por seus filhos, igualmente Espíritos. O mais perfeito deles é Jesus de Nazaré, o Messias esperado por tantos séculos e incompreendido por seu próprio povo na Judeia.
Mas esse Deus não é afeito a guerras e tampouco elege um povo em detrimento de outro. Ele é a individualização do Pai Amoroso e Bom, que a todos ama, pois estamos destinados ao progresso, rumo à perfeição. Criando pela eternidade à fora, o Espírito Divino aproveita todos os elementos da Criação pela sua Vontade Poderosa e, com eles, forma as nebulosas, as galáxias, as estrelas, os planetas, os satélites, asteroides e outros corpos celestes do Universo. Também agrega, em tempo indeterminado por nós, na Natureza, o elemento espiritual à matéria, formando a gênese de todos os seus filhos, destinados por Ele à perfeição, no nosso evoluir eterno. Por isso, recomendou-nos Jesus: “Sede perfeitos, como Vosso Pai que está nos Céus”.
Nossa perfeição, relativa em comparação com a de nosso Pai, somente será alcançada quando superarmos tudo aquilo que nos aproxima da animalidade e conquistarmos tudo o que nos eleva à condição dos Espíritos Superiores. Desse modo, continua assim Jesus a Oração Dominical:

Santificado seja o Vosso Nome.  
Quando alcançarmos a perfeição relativa, teremos a glória de colaborar com Deus na formação de novos mundos e na condução de nossos irmãos em estágio primário de evolução espiritual. Esse é o momento do louvor contrito Àquele que nos criou para evoluirmos, após a elaboração de nosso ser que se inicia no mineral, passa pelo vegetal, movimenta-se semiconsciente no animal e desperta, mais ou menos lúcido no ser humano, até alcançar a plenitude no Espírito Iluminado, que já está em condição de atender ao apelo de Jesus Cristo: “Assim, resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai que está nos Céus” (Mateus, 5:16). Quanto mais nos aproximarmos dos Espíritos Superiores, mais perto estaremos de Deus e melhor vibração terá a frase a Ele dirigida em nossa glorificação: Santificado seja o Vosso nome.

Venha a nós, o Vosso Reino...
“O Reino de Deus está dentro de vós” (Lucas, 17:21), disse-nos Jesus. Desse modo, quando pedimos a Deus para que seu Reino venha a nós, estamos nos colocando na posição do filho, diante do Pai, ao qual lhe pede a bênção, a fim de que possa ser merecedor da felicidade destinada, por Ele, a todos os que busquem com fé o Seu Reinado do Amor.

Seja feita a Vossa Vontade, assim na Terra como nos Céus...
Como filhos submissos, precisamos entender que, ao pedirmos algo a Deus, Ele nos atenderá conforme o nosso merecimento. Por isso, devemos dizer-Lhe que nos conformamos, sempre, com a Sua Vontade, pois Ele sempre saberá decidir o que é melhor para nós. Nesse sentido, a humildade e o esforço em melhorar são qualidades fundamentais que reforçam nosso mérito e atendimento diante de nossas necessidades materiais e espirituais.

Dai-nos o pão de cada dia.
A pretexto de sermos previdentes quanto ao futuro, não devemos ser ambiciosos. Precisamos trabalhar em função das nossas necessidades materiais, mas não com a intenção de amealhar fortunas incalculáveis. Por isso, aconselha Jesus: “Não junteis tesouros na Terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem e onde os ladrões minam e roubam. Ajuntai, antes, tesouros nos Céus, onde nem a traça nem a ferrugem consomem e onde os ladrões não minam nem roubam” (Mateus, 6:19-21).
Com isso, Jesus não quis dizer que não devemos prevenirmo-nos em relação ao futuro. Precisamos, sim, providenciar uma justa aposentadoria para os nossos labores cotidianos, contribuindo todo ano com um plano previdenciário que esteja de acordo com os nossos rendimentos, assim como necessitamos envidar todo o esforço para que o resultado de nossos estudos e trabalhos possa nos trazer bem-estar presente e futuro. Não é, portanto, isso o que o Cristo condena e, sim, a ganância, a falta de escrúpulos de algumas pessoas que não titubeiam em lesar o próximo para alcançar seus objetivos de riqueza material.
Também diz Jesus: “Não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã, porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo”(Mateus, 6:34). É nosso dever esforçarmo-nos por ter à mesa uma refeição substancial, por possuir um lar confortável, sem os exageros do luxo e os desperdícios de quem não se preocupa com mais ninguém, a não ser consigo próprio. Porém, não podemos esquecer que a caridade para com o próximo consiste em repartir com ele o pão que sobra em nossa mesa e a roupa que não mais usamos e abarrota nossos armários.
Ainda em Mateus, 7:7 e 8, encontramos esta recomendação do Cristo: “Pedi e dar-se-vos-á; buscai e achareis; batei e abrir-se-vos-á. Porque aquele que pede recebe, e quem busca acha; e ao que bate abrir-se-lhe-á”. Precisamos, entretanto, entender que tudo, nesta vida, obedece à lei do merecimento. Deus sempre atenderá os nossos apelos, desde que nos esforcemos para sermos dignos de sua proteção. Nosso pedido sempre será atendido no momento oportuno, desde que o mereçamos. A porta sempre se abrirá àquele que se esforça em entrar por ela sem impedir a entrada de seu irmão.

Perdoai as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores.
Somente o amor deve prevalecer em nós. Mágoas, ressentimentos e raiva sempre nos farão mal. Por isso, a uma pergunta de Pedro sobre quantas vezes ele deveria perdoar seu irmão por uma ofensa recebida, se sete vezes seriam suficientes, Jesus responde que deveria perdoar setenta vezes sete vezes. Em sua sabedoria, o Cristo desejou mostrar ao seu apóstolo a importância do perdão para nos libertar dos sentimentos negativos prejudiciais citados.
Pela Lei de Causa e Efeito, nada em nossos pensamentos, palavras e atos deixa de ter consequência boa ou ruim. Portanto, quando perdoamos nos livramos das influências negativas sem que o nosso ofensor deixe de sofrer as consequências de seu ato de crueldade. Então, se queremos ser perdoados do mal que fizermos a outrem, é preciso perdoar e, não somente isso, fazer todo o bem que nos seja possível a essa pessoa. Para tal propósito, a regra áurea de Jesus continua atual, como sempre foi e será: “Fazer aos outros o que desejamos que eles nos façam”, ou seja, fazer-lhes sempre o bem.
O perdão é uma das maiores demonstrações de nossa humildade e amor que podemos dar a alguém. Somente ama em plenitude quem  tem compaixão para com o próximo e não se deixa melindrar por nada que ele lhe faça. Esquecer uma ofensa é difícil, bem o sabemos, mas se nos esforçamos em seguir os passos de nosso Mestre, que perdoou seus algozes após ser pregado numa cruz infamante, sem ter cometido qualquer crime, estaremos nos libertando da ignorância e alcançando a libertação espiritual das influências malignas resultantes dos sentimentos negativos. Por esse motivo, lembrou-nos o Cristo: “Eu, porém, vos digo: Amai os vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei o bem aos que vos odeiam e orai pelos que vos maltratam e perseguem, para que sejais filhos do Pai que está nos Céus [...]” (Mateus, 5:44,45).

E não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal.
Em Mateus, 26:41, recomenda-nos Jesus: “Vigiai e orai, para não cairdes em tentação [...]”. Precisamos manter vigilância sobre os nossos pensamentos, palavras e atos.
Sobre os pensamentos, para não entrarmos em sintonia com influências negativas dos Espíritos que não nos querem bem. Sobre as palavras, para não falarmos mal de ninguém e também para somente dizermos o que é bom, útil e verdadeiro. Finalmente, sobre os nossos atos, a fim de não fazermos nada do que não desejamos nos seja feito. O mal que ainda se oculta em nós somente será extinto quando aprendermos que a manifestação da Lei de Deus está em nossa consciência. Não há nada melhor, para nossa vida, do que viver em paz com a Moral Divina. Buscar ser honesto nas mínimas coisas, tratar todas as pessoas com gentileza e bondade e esforçar-nos para fazer o bem, tanto quanto nos seja possível, são roteiros certos para nos livrar da tentação.
Nos momentos mais difíceis, será a oração o nosso socorro certo, se nos mantivermos vigilantes e jamais compactuarmos com o mal. Deus certamente não nos deixará cair em tentação, caso nos mantenhamos sempre em sintonia com Ele por meio da oração. Como Pai Bom e Amoroso para com todos os seus filhos, nunca nos faltará Sua Proteção, se o buscarmos com fé nos momentos de oração.
Foi para facilitar nosso momento íntimo de contato com esse Pai que tanto nos ama que Jesus nos ensinou a Oração Dominical, também chamada de Pai Nosso. Allan Kardec explica-nos que

O mal não constitui para ninguém uma necessidade fatal e só parece irresistível aos que nele se comprazem. Desde que temos vontade para o fazer, também podemos ter a de praticar o bem, pelo que, ó meu Deus, pedimos a tua assistência e a dos bons Espíritos a fim de resistirmos à tentação (KARDEC, 2015. cap. 28, it. 3).

Assim seja.
Essa é a tradução da palavra amém. Os espíritas substituem este vocábulo por aquela expressão, em suas orações. Quando proferimos “assim seja” estamos nos colocando em situação de quem espera ser atendido, mas também devemos estar certos de que Deus nos atenderá em conformidade com nossa necessidade real. Além disso, certamente, todos os nossos pedidos serão satisfeitos por Esse Pai Amoroso e Bom, mas não podemos esquecer da lei do mérito que concede “a cada um segundo suas obras”.
Que procuremos agir, portanto, sempre no bem, com abnegação e devotamento em favor do próximo, como nos ensinam os bons Espíritos. Desse modo, estaremos nos credenciando para, por nossa vez, ser auxiliados por nosso Pai Eterno.
E, para finalizar a exposição, Josiel  declamou este belo poema do Espírito José Silvério Horta, psicografado por Chico Xavier (2002, p. 351), intitulado
Oração

Pai Nosso, que estás nos Céus,
Na luz dos sóis infinitos,
Pai de todos os aflitos
Deste mundo de escarcéus.

Santificado, Senhor,
Seja o teu nome sublime,
Que em todo o Universo exprime
Concórdia, ternura e amor.

Venha ao nosso coração
O teu reino de bondade,
De paz e de claridade
Na estrada da redenção.

Cumpra-se o teu mandamento
Que não vacila e nem erra
Nos Céus, como em toda a Terra
De luta e de sofrimento.

Evita-nos todo o mal,
Dá-nos o pão no caminho,
Feito na luz, no carinho
Do pão espiritual.

Perdoa-nos, meu Senhor,
Os débitos tenebrosos,
De passados escabrosos,
De iniquidade e de dor.

Auxilia-nos, também,
Nos sentimentos cristãos,
A amar nossos irmãos
Que vivem longe do bem.

Com a proteção de Jesus,
Livra a nossa alma do erro,
Sobre o mundo de desterro,
Distante da vossa luz.

Que a nossa ideal igreja
Seja o altar da Caridade,
Onde se faça a vontade
Do vosso amor... Assim seja.

REFERÊNCIAS

KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 4. ed. 3. imp. Brasília: FEB, 2016.
______. O evangelho segundo o espiritismo. Trad. Guillon Ribeiro. 131. ed. 6. imp. (Edição Histórica). Brasília: FEB, 2015. cap. 28, it. 3.
XAVIER, Francisco Cândido. Parnaso de além-túmulo. 16. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2002, p. 351.

(Publicado em Reformador, junho de 2017, da Federação Espírita Brasileira. Republico aqui, em 23 de abril de 2020, com pequenas modificações de forma.)

terça-feira, 21 de abril de 2020



EM DIA COM O MACHADO 415:
Em paz com a vida (Jó)

        Juanita Nittla é enfermeira-chefe da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Royal Free de Londres. No ano passado, ela contraiu tuberculose e ficou afastada do trabalho durante alguns meses. Ainda assim, neste ano, atua intensivamente, com sua equipe, nos cuidados de pacientes da Covid- 19 que necessitam respirador.
        Entretanto, o número de respiradores é insuficiente ao atendimento de todos os infectados, e ela precisa tomar decisão difícil, recomendada pela equipe médica: desligar o respirador dos pacientes inconscientes e sem reação positiva ao tratamento médico, pois outros enfermos com esperança de cura aguardam um respirador. Essa é uma desencarnação, segundo ela, indolor, mas triste e solitária, pois os parentes da vítima não podem presenciar seu decesso. A morte  silenciosa é presenciada apenas pela equipe de saúde da UTI.
        Calcula-se que, atualmente, no mundo, mais de 140.000 pessoas já tenham morrido por contaminação desse vírus. Esse número ainda pode quintuplicar, ou aumentar muito mais do que isso, até surgir uma vacina para imunização das pessoas.
        A morte do corpo, fenômeno que precede o que os espíritas chamamos de desencarnação, nada mais é do que o abandono de um revestimento temporário, formado pelo corpo espiritual de cada um de nós, o perispírito, que conserva sua aparência, pelo tempo que o Espírito precise, no mundo espírita. É também nesse mundo que se encontram nossos parentes e amigos que nos antecederam ou até mesmo ali permaneceram antes de reencarnarmos. E, assim como ao reencarnarmos, somos recebidos com alegria pelos familiares e amigos daqui, ao desencarnarmos, somos acolhidos com não menor contentamento pelos d'além...
Não há por que, pois, temer a morte. Oremos pelos que se vão para o outro lado da vida, mas também pelos que ficam. Vivamos com a consciência tranquila e, ainda que aparentemente morramos sós, estaremos apenas desencarnando em paz e cercados da companhia dos amigos do mundo real, que antecede e sucede a este: o mundo espiritual.
Para os que imaginam que chegamos ao fim do mundo, o poeta português Runa brinda-nos com este belo poema intitulado:

O mundo não acaba hoje

o nevoeiro dissipou-se
como por encanto
mas o céu continua escuro
e insondável
um veludo carregado
movendo-se lentamente
da esquerda para a direita
atrás de um destino incerto

é o último dia do calendário maia

vejo tudo isto da minha varanda
falésia de cimento
cercada pela manhã baça
à espera que aconteça alguma coisa
um sinal qualquer que me arrebate
mas não posso continuar a olhar o céu
está na hora de me vestir
e ir embora para o trabalho

o mundo não acaba hoje[1]







[1] RUNA. O mundo não acaba hoje. Disponível em: http:// seguindooes coardotempo.blogspot.com. Acesso em: 20 de abril de 2020.


domingo, 19 de abril de 2020




9.2.4 A cólera

Um Espírito Protetor
Bordeaux, 1863

O orgulho leva vocês a se julgarem mais do que são, a não aceitarem uma comparação que os possa rebaixar, a se considerarem, ao contrário, de tal maneira acima de seus irmãos, seja em espírito, seja em posição social, ou ainda em relação às vantagens pessoais, que o menor paralelo  os irrita e fere. Que acontece, então? Vocês entregam-se à cólera.
Procurem a origem desses acessos de demência passageira, que os assemelham aos brutos, e os fazem perder o sangue-frio e a razão; procurem, e encontrarão quase sempre por base o orgulho ferido. Não é o orgulho ferido por uma contrariedade, que os faz repelir as observações justas e rejeitar, encolerizados, os mais sábios conselhos? Até mesmo as impaciências causadas pelas contrariedades, em geral pueris, decorrem da importância que cada um atribui  à sua personalidade, perante a qual julga que todos se devem curvar.
Na sua impaciência, o homem colérico atira-se contra tudo: à natureza bruta, aos objetos inanimados, que despedaça, porque não lhe obedecem. Ah! Se nesses momentos ele pudesse ver-se a sangue frio, teria medo de si mesmo ou se reconheceria ridículo! Que ele julgue, por isso, a impressão que deve causar aos outros. Quando não fosse pelo respeito a si mesmo, deveria esforçar-se para vencer essa tendência que o torna digno de piedade.
Se pensasse que a cólera nada resolve, que ela lhe altera a saúde, compromete a própria vida, veria que é ele mesmo a sua primeira vítima. Mas outra consideração, sobretudo,  deveria contê-lo: o pensamento de que torna infelizes todos os que o cercam. Se tem coração, não sentirá remorsos por fazer sofrer os seres que ele mais ama? E que pesar mortal se, num acesso de fúria, cometesse um ato de que se teria de recriminar por toda a vida!
Em resumo: a cólera não exclui certas qualidades do coração, mas impede que se faça muito bem, e pode levar a fazer-se muito mal. Isso deve ser suficiente para incitar-se esforços para dominá-la. O espírita, aliás, é incitado a isso por outro motivo: o de que a cólera é contrária à caridade e à humildade cristãs.

Tradução livre, em terceira pessoa, pelo Prof. Dr. Jorge Leite de Oliveira.

quinta-feira, 16 de abril de 2020



Os Obreiros do Senhor e o Espiritismo
Jorge Leite de Oliveira
jojorgeleite@gmail.com 


Revista Reformador
Em mensagem intitulada Os obreiros do Senhor, o Espírito de Verdade diz o seguinte:

Aproxima-se o tempo em que se cumprirão as coisas anunciadas para a transformação da Humanidade. Felizes os que houverem trabalhado no campo do Senhor, com desinteresse e sem outro motivo, senão a caridade! [...] Felizes os que houverem dito aos seus irmãos: ‘Irmãos, trabalhemos juntos e unamos os nossos esforços, a fim de que o Senhor, ao chegar, encontre acabada a obra’, pois o Senhor lhes dirá: ‘Vinde a mim, vós que sois bons servidores, vós que soubestes impor silêncio aos vossos ciúmes e às vossas discórdias, a fim de que daí não viesse dano para a obra! (KARDEC, 2017, p. 264)

                Allan Kardec foi instruído e, mais que isso, educado por Pestalozzi, cujo espírito pedagógico aliado a uma fé cristã sem dogmas visava a promover a união entre todos os crentes, fossem eles católicos, evangélicos, ou não, o que lhe custou a “intolerância protestante”, segundo Wantuil; Thiesen (2004, v. I, p. 74), embora ele, Pestalozzi, fosse protestante. O preconceito e a intolerância religiosa de seu tempo acabaram por paralisar uma das mais belas propostas educacionais de todas as épocas, com a implantação da pedagogia da instrução aliada à moral prática, não dogmática e tolerante para com as crenças alheias (id., p. 75). Essa era a proposta do Instituto Pestalozzi em Yverdon, na Suíça, de reputação mundial que, no dizer de um dos seus ex-alunos, o pastor Jayet, utilizava a “disciplina do amor” (In: WANTUIL; THIESEN, 2004, v. I, p. 75).
            As ideias sublimadas, porém, jamais são destruídas, por trazerem consigo as grandes verdades. Voltando a Lyon, o ainda jovem Denizard Rivail, antes mesmo de adotar o pseudônimo Allan Kardec, imaginava uma sociedade em que as disputas pelo poder cedessem lugar à ascendência do amor, à tolerância de crenças e ao respeito à diversidade de consciências. Desse modo, influenciado pela proposta pedagógica pestalozziana, Rivail ministrou cursos gratuitos, publicou obras pedagógicas premiadas, construiu institutos educativos e já se tornava célebre em Paris... mas ainda faltava algo que lhe preenchesse o ideal de transformar o mundo para melhor.
            Lembram Wantuil; Thiesen (2004, v. I, p. 83) que, desde a época em que estudou no Instituto Pestalozzi, o futuro Codificador da Doutrina Espírita sonhava com a união das religiões, por verificar ali que a intolerância religiosa afastava do trabalho professores de notável capacidade intelectual. E, quase ao final de sua missão, o “ideal da mocidade” era ressaltado por Allan Kardec nestas suas palavras:
A unidade de crença será o laço mais forte, o fundamento mais sólido da fraternidade universal, obstada, desde todos os tempos, pelos antagonismos religiosos que dividem os povos e as famílias, que fazem sejam uns, os dissidentes, vistos pelos outros como inimigos a serem evitados, combatidos, exterminados, em vez de irmãos a serem amados (KARDEC, apud WANTUIL; THIESEN, 2004, v. I, p. 83).
                Foi a partir dos primeiros contatos com os fenômenos das mesas girantes, na casa da senhora Plainemaison, em maio de 1855, que Kardec entreviu, nas comunicações observadas, algo sério, tão sério que o fez comparecer, semanalmente, àquelas reuniões. Observando e comunicando-se com os manifestantes, que se diziam ser Espíritos dos chamados mortos, o futuro Codificador do Espiritismo fazia experiências, com indagações até mesmo mentais, que sempre eram respondidas de modo inteligente e independente.
            Nessas reuniões, enquanto muitos divertiam-se com perguntas frívolas sobre coisas materiais e futuras, sem grande proveito, Kardec percebeu a “chave do problema tão obscuro e tão controvertido do passado e do futuro da Humanidade, a solução que [ele] procurara em toda a [sua] vida” (KARDEC, 2016, p. 240). Perseverando em suas observações e experiências, com método, bom senso e objetividade, o Codificador do Espiritismo angariou a confiança dos Espíritos Superiores e do Espírito de Verdade, que lhe transmitia a vontade e as diretrizes do Cristo na consolidação do edifício da Doutrina Espírita, que é o Consolador prometido por Ele para permanecer eternamente com a Humanidade e nos esclarecer todas as coisas, como nos foi narrado em João, 14: 15 a 18 e  16:12- 13.
            O tempo passou, e Kardec abandonou todos os seus projetos de pedagogo e escritor renomado, arregaçou as mangas e dedicou os anos restantes de sua existência a observar, anotar, comentar e divulgar tudo o que via e ouvia das revelações dos Espíritos, com base nos métodos experimental e dialético. Foi assim que, disse ele: “Levava para cada sessão uma série de perguntas preparadas e metodicamente dispostas. Eram sempre respondidas com precisão, profundeza e lógica” (KARDEC, 2016, p. 241).
            Ali estava a base de O livro dos espíritos, que se expandiria nas demais obras do chamado pentateuco kardequiano, subsidiadas pela Revista Espírita: O livro dos médiuns, O evangelho segundo o espiritismo; O céu e o inferno; e A gênese. Antes da implantação dessa nova era, o Espírito de Verdade, ao anunciar a Kardec sua missão, alertou-o de que para seu bom desempenho não lhe seria suficiente a inteligência. Ele teria que ser humilde, modesto e desinteressado, pois Deus “abate os orgulhosos, os presunçosos e os ambiciosos”. Ele precisaria possuir “devotamento, abnegação e disposição a todos os sacrifícios” (op. cit., p. 252).
Kardec foi fiel até o fim, ao que lhe foi exigido, com imensa boa-vontade. Apenas pediu ao Senhor que lhe desse “forças físicas e morais”, para o bom cumprimento de sua obra (id.).
            Já tendo presenciado, na mocidade, a obstrução da maravilhosa obra pedagógica de Pestalozzi, em virtude de intolerâncias, preconceitos e polêmicas, Allan Kardec diz o seguinte:

Várias vezes já nos perguntaram por que não respondemos, em nosso jornal, aos ataques de certas folhas, dirigidos contra o Espiritismo em geral, contra seus partidários e, por vezes, contra nós. Acreditamos que o silêncio, em certos casos, é a melhor resposta. Aliás, há um gênero de polêmica do qual tomamos por norma nos abstermos: é aquela que pode degenerar em personalismo; não somente ela nos repugna, como nos tomaria um tempo que podemos empregar mais utilmente, o que seria muito pouco interessante para os nossos leitores, que assinam a revista para se instruírem, e não para ouvirem diatribes mais ou menos espirituosas. Ora, uma vez engajado nesse caminho, difícil seria dele sair, razão por que preferimos nele não entrar, com o que o Espiritismo só tem a ganhar em dignidade. Até agora só temos que aplaudir a nossa moderação, da qual não nos desviaremos, e jamais daremos satisfação aos amantes do escândalo (KARDEC, 2014, p. 431).

            Sua decisão, como se comprovaria mais tarde, foi a mais acertada. Se nos ocupássemos em polemizar com aqueles que nada mais desejam do que exibir seus pseudoconhecimentos, demonstraríamos, com isso, estar no mesmo nível de tais pessoas. Quanto mais aprendemos, mais necessidade temos de exercitar a humildade, pois o que desconhecemos é sempre infinitamente maior do que o nosso pretenso saber. Como disse o Espírito Chateaubriand, na Revista Espírita (fev. 1860), o Espiritismo está sob a direção do próprio Cristo. E ninguém jamais teve a humildade que Ele teve, embora seja o Governador Espiritual da Terra. Aprendamos, pois, com Jesus, a sermos mansos e humildes de coração.
            Se Kardec evitava polemizar com pessoas egocêntricas, tudo fazia para estar presente junto àqueles que requisitavam sua visita fraterna, ainda que, em sua modéstia e altruísmo, dispensasse as homenagens pessoais e visasse sempre a caridade, virtude única atribuída por ele à “salvação” de nossas almas. Em apoio ao que dissemos, transcrevemos abaixo trechos de sua resposta ao convite recebido por ele dos espíritas de Lyon, aos quais afirmou o seguinte:

[...] Provai, sobretudo pela união e pela prática do bem, que o Espiritismo é a garantia da paz e da concórdia entre os homens, e fazei que, em se vos vendo, se possa dizer que seria desejável que todos fossem espíritas. Sinto-me feliz, meus amigos, por ver tantos grupos unidos no mesmo sentimento, marchando de comum acordo para o nobre objetivo que nos propomos. Sendo tal objetivo exatamente o mesmo para todos, não poderia haver divisões; uma mesma bandeira deve guiar-vos e nela está escrito: Fora da caridade não há salvação (KARDEC, set. 1862, p. 381).

            Mais adiante, o Codificador do Espiritismo acrescenta: “Não vos esqueçais de que a tática de vossos inimigos encarnados e desencarnados é dividir-vos. Provai-lhes que perderão o tempo se tentarem suscitar entre os grupos sentimentos de inveja e rivalidade que seriam uma apostasia da verdadeira Doutrina Espírita Cristã” (id., ibid.).
            Por fim, ao aceitar o convite dos irmãos de Lyon, Kardec demonstra a grandiosidade, a generosidade e o desapego que caracterizam todas as almas elevadas com o seguinte apelo:

Ainda uma palavra, meus amigos. Indo ver-vos, uma coisa desejo: é que não haja banquete, e isto por vários motivos. Não quero que minha visita seja ocasião para despesas que poderiam impedir a presença de alguns e privar-me do prazer de ver todos reunidos. Os tempos são difíceis; importa, pois, não fazer despesas inúteis. O dinheiro que isto custaria será mais bem empregado em auxílio aos que, mais tarde, dele necessitarão. Eu vo-lo digo com toda sinceridade: o pensamento naquilo que fizerdes por mim em tal circunstância poderia ser uma causa de privação para muitos e me tiraria todo o prazer da reunião. Não vou a Lyon para me exibir, nem para receber homenagens, mas para conversar convosco, consolar os aflitos, encorajar os fracos, ajudar-vos com os meus conselhos naquilo que estiver em meu poder fazê-lo. E o que de mais agradável me podeis oferecer é o espetáculo de uma união boa, franca e sólida. Crede que os termos tão afetuosos do vosso convite para mim valem mais que todos os banquetes do mundo, ainda que fossem oferecidos num palácio. O que me restaria de um banquete? Nada, ao passo que vosso convite fica como preciosa lembrança e um penhor de vossa afeição. Até breve, meus amigos; se Deus quiser terei o prazer de vos apertar as mãos cordialmente (KARDEC, 1862, p. 382).
                            
            É preciso que nos inspiremos no exemplo de Allan Kardec, para que o objetivo maior da Doutrina Espírita seja realizado: o da transformação moral de toda a Humanidade. Para isso, entretanto, precisamos iniciar essa transformação em nosso próprio íntimo, evitando as dissenções inúteis, praticando as boas obras e respeitando as ideias dos nossos irmãos, assim como gostaríamos que estes respeitassem as nossas. Com esse propósito, o Espírito Bezerra de Menezes, na mensagem psicografada por Chico Xavier, em 1949, já nos dirigia este apelo:

[...] A fraternidade constituir-se-á abençoado clima de trabalho e realização, dentro do Espiritismo evangélico, ou permaneceremos na mesma expectação inoperante do princípio, quando o material divino da Revelação e da Verdade não encontrava acesso em nossos espíritos irredimidos.
Formemos não somente grupos de indagação intelectual ou de crítica nem sempre reconstrutiva, mas, sobretudo, ergamos um templo interior à bondade, porque sem espírito de amor todas as nossas obras falham na base, ameaçadas pela vaga incessante que caracteriza o campo falível das formas transitórias.
“Amemo-nos uns aos outros”, segundo a palavra do Mestre que nos reúne, sem desarmonia, sem discussões ruinosas, sem desinteligências destrutivas, sem perda de tempo nos comentários vagos e inoportunos, amparando-nos reciprocamente, pelo trabalho, pela tolerância salvadora, pela fé viva e imperecível (Apud SOUZA, 2013, p. 134).

            A todos os obreiros do Senhor, os Espíritos de luz não se cansam de enaltecer a boa-vontade e nos animam a perseverar no bem e no esforço por extirpar de nosso íntimos todas as mazelas que nos impeçam a ascensão ao Reino de Deus. Para tal, precisamos ter “ouvidos para ouvir”, “olhos para ver”, “palavras para consolar e dar ânimo” e “mãos para socorrer”. Neste soneto do Espírito Cruz e Souza, tais apelos estão magistralmente sintetizados:

Aos trabalhadores do Evangelho

Há uma falange de trabalhadores
Espalhada nas sendas do Infinito,
Desde as sombras do mundo amargo e aflito
Aos espaços de eternos resplendores.

É a caravana de batalhadores
Que, no esforço do amor puro e bendito,
Rompe algemas de trevas e granito,
Aliviando os seres sofredores.

Vós que sois, sobre a Terra, os companheiros
Dessa falange lúcida de obreiros,
Guardai-lhe a sacrossanta claridade;

Não vos importe o espinho ingrato e acerbo,
Na palavra e nos atos, sede o Verbo
De afirmações da Luz e da Verdade. (XAVIER, 2002, p. 252)

Referências

KARDEC, Allan. O evangelho segundo o espiritismo. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. 4. imp. Brasília: FEB, 2017.
______. Obras póstumas. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. 1. imp. Brasília: FEB, 2016.
______. Revista Espírita.  Ano I, nº 11, nov. 1858. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 5. ed. 1. imp. Brasília: FEB, 2014.
______. Revista Espírita.  Ano III, nº 11, fev. 1860. Trad. Evandro Noleto Bezerra. Ed. on line. Brasília: FEB.
______. Revista Espírita, Ano V, set. 1862. Trad. Evandro Noleto Bezerra. Ed. on line. Brasília: FEB.
______. Obras póstumas. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. 1. imp. Brasília: FEB, 2016.
SOUZA, Juvanir Borges de. (Coord.); XAVIER, Francisco Cândido. Bezerra de Menezes: ontem e hoje. Pelo Espírito Bezerra de Menezes. 4. ed. 4. imp. Brasília: FEB, 2013.
XAVIER, Francisco Cândido. Parnaso de além-túmulo. Pelo Espírito Cruz e Souza. 16. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2002.
WANTUIL; THIESEN. Allan Kardec: o educador e o codificador. 2. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2004, v. I.


 (Pub. Reformador em nov. 2018.)


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