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quarta-feira, 30 de setembro de 2015



Em dia com o Machado 177 (jlo)


Amiga leitora, o brasileiro continua sofrendo do complexo de vira-lata. Se alguém joga um osso para ele, eis que abana o rabo, abocanha a dádiva e sai com ela na boca, feliz da vida. Hélio Bicudo ajudou a fundar o canil, mas viu que um dos vira-latas, que morava num barraco de 40m² e que dizia detestar ler, por um misterioso poder dos deuses do Olimpo, tinha um extraordinário poder de persuasão a seus caninos camaradas, com um objetivo nada altruístico: o poder. Ficou milionário e, com apoio das empreiteiras, desviou bilhões para o exterior. Dizem que é para manter-se no poder até o fim dos tempos, pois, com essa fortuna, além de continuar utilizando-se de atos espúrios para continuar dominando o país, finge-se de bom moço e tenta proibir os demais partidos políticos de receberem doações empresariais.
Esqueçamos um pouco a política e voltemos ao povo brasileiro. Em especial, ao seu linguajar. Brasileiro adora falar inglês e capricha na pronúncia da língua falada pelo Tio Sam. Mas desconhece a própria língua, e, por isso mesmo, o cachorro mor da República, mesmo sem exercer, atualmente, qualquer cargo público, faz até manifestos televisivos passando-se por uma nova espécie de messias (com m), do pobre povo tupiniquim, que adora uma esmola, mas não gosta de trabalhar.
Outro dia, fiquei sabendo que um só trabalhador americano produz o equivalente a quatro operários brasileiros. E ainda tem gente pregando a revolução do proletariado... Aqui? Só se for para 200 milhões voltarem a viver da caça e da pesca. Mas caçar o quê? Pescar só se for com a vara do vizinho, com o braço alheio e com a isca colhida por outrem. Só tem um problema: todos terão a mesma ideia. Então... Pobre país.
Eu pedi aos deuses, outrora, para não deixarem o Brasil se tornar uma República. Eles não me ouviram, e vejam no que deu...
Conforme dizia, acima, vamos à linguagem.
Comentarista de futebol, técnico e jogador, que também, salvo raras exceções, não gostam de ler, adoram "falar difícil”. Desse modo, é comum ouvirmos, numa entrevista, o seguinte:
— Como você se sente, jogando pelo time A?
— Sinto-me muito venturoso e almejo fazer muitos gols, para enaltecer o nome desse clube no porvir...
O jogador ouviu do "professor" que venturoso é o mesmo que bem, almejo é sinônimo de desejo, quero e porvir significa futuro. Então, "gasta o verbo"...
O apresentador de esportes lê uma mensagem não muito confiável, em seu notebook e diz que vai deletá-la. O vocábulo apagar, aos poucos, vai sendo trocado pelo inglês deletar... "Chic no último"... Ops!
Ao tomar o elevador, leio o seguinte alerta: “Antes de entrar no elevador, verifique se o mesmo encontra-se neste andar”. E eu pergunto: Por que o mesmo? Por que não ele? Corrigindo: "Antes de entrar no elevador, verifique se ele está neste andar".
Eu escreveria assim: “Ao abrir a porta do elevador, cuidado para não cair no fosso”.
O susto de quem ler isso será tão grande que você, leitor amigo, antes de entrar, sempre vai conferir se vai para o fosso ou para o elevador.
Entro no mercadinho da rua do meu bloco, para comprar pães, e vejo, acima destes, a placa com o seguinte aviso: "Por favor!! Não deguste".            
Primeira pergunta: Por que razão duas exclamações? A gramática criou esse sinal já com a finalidade de expressar grande, enoooooorme espanto! E o sinal de interrogação serve para exprimir pergunta direta... Quanto ao "deguste", por que não dizer "Não coma"? Não há quem não entenda. Já o "deguste"... 
Isso me lembra um cartaz que li na simpática Lisboa portuguesa em frente a um estacionamento: "Proibido estacionar". E acima, estava escrito: "Obrigatório ler".
Vai entender...                                                                                                          
Acaba de chegar o simpático espírito Casimiro Cunha, poeta que tantos poemas publicou, desta nossa dimensão, pela mão abençoada de Chico Xavier. Pede para deixar um recado ao leitor amigo e à bela leitora.
Ah, sim, é uma nova versão do seu poema intitulado Simplifica, publicado na obra Antologia dos imortais, psicografada por Chico Xavier e Waldo Vieira e editada pela FEB.
Com a palavra final, Casimiro Cunha.
— Amigos, ante a imensa dificuldade de nós, os defuntos escritores, escrevermos para os mortos-vivos da Terra, pois as ideias são nossas, mas os formatos são deles, peço-lhes desculpas, antecipadamente, se este esforçado Joteli não conseguir sintonizar a sua com a minha mente, nestas ondas hertzianas que cruzam nossas distintas dimensões. O título do atual poema amplia um pouco aquele, psicografado pelo Chico Xavier, uma das criaturas mais doces que conheci, tanto aí como aqui. 
Eis o poema:
Simplifica... simplisfica...

Quer esclarecer alguém
Sobre a dúvida que fica
Ante um ponto literário?
Quem explica simplifica.

O que escreve, quando é lido,
Quase nada significa
Em sua língua erudita?
Não inventa, simplisfica...

O que fala não entendem
Se você não lhes explica?
Use, então, palavras fáceis,
Não complica, simplifica.

Não tenha mágoa de quem
De você sempre futrica,
O Cristo sempre exaltou
Quem perdoa e simplisfica...

Seu desejo é ensinar
E até nisso se complica,
Por lhe faltar a clareza?
Quem ensina simplifica.

Diz você que quer um tempo
Para seguir minha dica,
Então repito o brocardo:
Vive mais quem simplifica.

Não gaste tudo o que tem
No armazém da dona Chica,
Pois quem pensa no futuro
É quem sempre simplisfica.

Não corra atrás do supérfluo
Nos excessos da botica,
Quem só pensa na matéria
Morre, mas não simplifica...

Se você já aprendeu
Uma parte do que explica
Não procure resultados,
Faz o bem e simplisfica.

Após existência inútil,
A alma que prevarica
Implora ao Cristo por luz
E Jesus diz: simplifica.

terça-feira, 22 de setembro de 2015

Em dia com o Machado 176 (jlo)

Algo de muito grave está ocorrendo naquela republiqueta: a tesoureira mor do partido dominante foi condenada a 30 anos de prisão. Mais de milhão de assinaturas pedem o impeachment do presidente, o que deixou em polvorosa a cúpula governamental, e, em conclusão da operação “leva jeito”, o FTS aceitou a denúncia do PM contra o desvio de bilhões para as contas de dezenas de políticos e seus cúmplices, de todos os partidos, entre os quais: Dirce Joseph, Sincero Soares, Edu do Cunho, Alfonsinho Hanneman, João das Vaccas, Raro Canalha, Iuri Selfie e Jerônimo, o herói do sertão, este, o mais perigoso, pois faz-se passar por defensor dos pobres, mas tem mansão até nos EUA...
Nessa operação foram desviados vinte vezes mais dinheiro que o existente em todo o meu Rio de Janeiro.
Dizem que tudo foi planejado na casa do civil Jerônimo...
Na maior cidade da republiqueta está sendo realizado um show de rock, e aqui está a notícia bomba: não há rock e sim um barulho infernal de um milhão de vozes que gritam mais do que os roqueiros, dia e noite, noite e dia:

— Nosso país está desgovernado,
esses políticos que aqui estão
roubaram muito mais que o mensalão,
fora governo desavergonhado!

E a multidão repete o refrão:
— Fora governo desavergonhado! Fora governo desavergonhado!...
Ouvi dizer que Jerônimo, o herói do sertão, saiu novamente a campo e articula o governo para que tudo vire pizza. Uma de suas frases preferidas é a seguinte: “Jamais na história desta republiqueta houve um governo tão popular como o meu”.
Há controvérsias, porém. Nos EUA, estão pedindo 40 milhões para libertar um ex-presidente da Confederação Boêmia de Futebol (CBFu). Já na republiqueta, um dos condenados que desviou 40 milhões foi multado em 40 mil... E isso não é nada popular.
— Minha conclusão, Machado, é que o problema não é o criminoso, mas sim o crime... Ou será o contrário? Estou tão confuso...
— Deixemos essa dúvida filosófica para lá e vamos ao que nos interessa. Em razão dos graves acontecimentos atuais da dita nação, também Lampião desceu do inferno e tem acionado seus jagunços para criar mais confusão. Logicamente, ele não se furtou em convidar Maria Bonita para trabalharem juntos nessa barafunda que se tornou a república Boêmia. Quanto mais confusa ficar a população, mais tempo se ganha e mais dinheiro se rouba, com o louvável intuito de melhorar a vida política dessa inocente nação.
 — Alguém mais foi convidado, ó Machado?
— Antônio Conselheiro... mas seus conselhos não estão sendo levados muito a sério, pois sua ideia maluca é a de que “o sertão virou mar e o mar virou sertão”.
— Bem... se pensarmos na má gestão da Cantareira em São Paulo, é provável que...
— Calma aí, Joteli, estamos falando da republiqueta Boêmia. Não mude de assunto!
— Ok, amigo. Mas diga-me uma coisa: esse tal Jerônimo é de Pernambuco?
— Mais exatamente de Garanhuns. E, embora tenha doze irmãos, um deles, ao ser perguntado se todos são vivos, respondeu que só um é vivo: Jerônimo... Os outros são normais... Disse ele.
— É, Machado, estás ficando velho... Já não consegues distinguir a ficção com a realidade. Afinal, quem é que mudou de assunto, eu ou você?
— Sei lá... Agora me aparece Nélson Rodrigues, trazendo pelo braço Nélson Gonçalves, que canta A volta do boêmio, pode?
— Pode. Clique aqui, leitor amigo, e ouça a bela interpretação do barítono Nélson Gonçalves: http://letras.mus.br/nelson-goncalves/47650/

domingo, 13 de setembro de 2015

Em dia com o Machado 175 (jlo)

Você deve estar lembrada, leitora amiga, da conversa que tive com as pombas, no Rio de Janeiro, no dia 23 de agosto de 1896. Há poucos dias, portanto... Saiu n’A Semana.
Passara num banco onde estivera para obter notícias do câmbio e... para encurtar a história, relatei-lhe que o câmbio oscilava, mas não subia dos nove réis. Repentinamente, fui informado que o câmbio baixara à casa dos oito, o que, para os especuladores era mau agouro, principalmente pela possibilidade desse fato ocorrer avant la lettre[1].
O que poderia suceder quando o estado definitivo fosse definido para baixo? O preço das minhas calças, na Rua Primeiro de Março subiria aos céus.
Fui andando e vi a igreja da Cruz dos Militares... Cruz! Deus me livre de nova intervenção... Já basta o Ministério Público, o juiz Sérgio Moro, o STF... Ops, esqueci-me de que estou no século XIX, embora as coincidências com o século XXI... Pause!
De repente, o que vejo hoje? Não três pombas, mas sete corvos. Lembrei-me, então, de um dos versos do soneto “Budismo moderno”, de Augusto dos Anjos: “Ah! um urubu pousou na minha sorte”. Foi quando pensei: Que são os devaneios bachelardianos ante tais aves?  Também a elas se referiu, entretanto, Jesus, quando nos pediu para olhar “as aves do céu”.
Sim, amigo leitor, “elas não semeiam, não segam, não ajuntam nos celeiros os provimentos”... antes, observam do espaço os seres que aqui embaixo jazem sem vida e insepultos para se banquetearem de suas carcaças. Já imaginou se todos agissem com a sabedoria dos urubus? Ninguém precisaria se preocupar com a alta do dólar, pois não comemos dólar.
Foi quando ouvi a proposta de um dos sete urubus que “pousaram em minha sorte”:
— Propomos ao povo brasileiro que não mais trabalhe. Basta-lhe observar a natureza e suas sábias leis. No momento oportuno, pegue uma mandioca, nos vastos campos da nação e alimente-se dela. Ou melhor, com os conhecimentos inúteis que a civilização atual alcançou, reproduza seus alimentos, em três dimensões, num dos modernos computadores que o Estado colocará, por minha sugestão, à disposição de todo o povo brasileiro e... bom apetite.
Outro corvo falou:
— Quanto aos estudos, “ó gente incrédula, até quando te suportarei?” Atém-te àquilo que te proporcione ser mais esperto que teu semelhante. Não haverá mais escolas, pois o real sumiu do país, os preços das mensalidades estão exorbitantes e o Estado aboliu a escola pública. Deixemos os 30 ou 40 bilhões desviados (versão oficial) nos bancos dos “paraísos fiscais”. Ninguém mais aqui precisará de papel moeda. Afinal, cá, em se plantando, tudo dá.
— Hospital para quê, criatura de Deus? Disse uma terceira ave preta. Se é que você acredita nesse Ser que nos enviou um Messias em que quase ninguém mais crê. Ora, já se viu! andar sobre águas, ressuscitar mortos, multiplicar quatro pães e dois peixes e, com eles, alimentar cerca de 4 ou 5 mil pessoas? Absurdo! Isso são histórias... A não ser que os pães e peixes fossem de Itu, onde tudo é gigantesco... Adoeceu, trate-se com ervas. Morreu, enterre em qualquer buraco, para adubar esta terra que já existia e era povoada por seus antepassados muito antes de Cabral aqui chegar.
Foi então que percebi haver ali urubus de outras cores: um era branco; outro, amarelo; outro mais era azul e o último... vermelho. O branco trazia no pescoço uma fita onde se lia paz; o amarelo ostentava uma espiga de milho descascada em seu bico; o azul estava de costas para os demais (Crocitaram seus colegas que era devido à sua mania de grandeza.); e, por fim, o vermelho liderava todos os demais. Fora ele quem passara as instruções a seus colegas para acalmarem o nosso povo. Suas últimas palavras foram as seguintes:
— Povo tupiniquim! a partir de hoje, nossa bandeira terá uma só cor: a minha. Tudo será de todos e todos serão de tudo...
Foi quando resolvi pegar meu jatinho e me mudar para a Suíça. Mas, então, me lembrei: que jatinho?!




[1] Avant la lettre: antes do seu tempo.

terça-feira, 8 de setembro de 2015

Em dia com o Machado 174 (jlo)

— Fiquei lisonjeada por você ter vindo prestigiar este desfile comigo. É bom que esta data fique na memória do povo: 7 de setembro de 2015.
— Indubitavelmente, amiga Ratuína. Convoquei todos os ratos para prestigiarem este inolvidável evento... Hummmmm... hummmm... hummm... Acabo de ter uma ideia genial. A partir deste dia, a burguesia será substituída, no controle da nação, não pelos proletários, como sonhou Marx, mas sim pelos ratos.
Eu sempre disse que a verdadeira revolução não seria a do proletariado e, sim, a dos ratos. Não há um esgoto, nesta cidade, em que não estejamos presentes, com nossa numerosa família. Somos capazes de subir, pela tubulação de esgotos, dezenas de andares dos mais altos edifícios do mundo. E já se disse que, se houver uma guerra nuclear mundial, só escapam os ratos e os espíritos de porcos. Nem baratas sobreviverão...
C’est vrai... Por isso é importante ser rato e porco. O sangue de barata é próprio de puxa-sacos pagos pelo regime e dos omissos, por ora úteis...
— Companheiro Ratón, nosso regime não admite fraquezas nem pieguices...
— Então, tomemos-lhes as riquezas, a flora e a fauna... Extingamos a raça humana, que se autodevora nas guerras fratricidas, ó Ratuína, e o mundo será nosso!
— Sim, amigo Ratón... Para começar, impinjamos o ateísmo ao povo, que, em nada crendo, além do que vê, sente, cheira, ouve ou degusta, acaba por crer só no que o Estado deseja que se creia.
— E nós somos o Estado, Ratuína. Inventamos o voto eletrônico, único no mundo, que manteve no poder todos os companheiros que nos apoiam, nomeados para postos-chave nas milhares de repartições públicas; criamos as bolsas famílias, que iludem os pobretões, além de garantir aportes financeiros aos nossos municípios e milhões de votos; superfaturamos milhares de obras...
— Isso é muito mais seguro e prático do que investir em educação... Tudo pelo poder!
— Mudando de assunto... Você notou, Ratuína, como é feio o estádio de futebol de Brasília? É raro ver ali as multidões, parece imensa boca de fogão. Não vai além de duzentos milhões ... mas dizem que custou mais de um bilhão... Rimou!
— É mesmo? Ainda bem que, logo, logo, vai começar a dar lucro, companheiro...
— Já deu, com seu superfaturamento, Ratuína. Agora disputa a série D...
— E os discursos religiosos, dom Ratón, você não acha que são um atraso de vida?
— Com certeza, companheira. O povo precisa é de “pão e circo”, como Nero já o dissera há dois mil anos.
— Depois, quando o circo pegar fogo, nós assamos os cristãos ali e comemos torradinhos! Não é mesmo, dom?... Podemos aproveitar o estádio como boca de forno.
C’est vrai... Afinal, não creem que vão para o céu? Em Cuba, por exemplo, o paraíso terreno só foi alcançado após terem sido mortos mais de 17.000 crentes, que se opunham ao regime socialista do companheiro Fidel...Que a terra nos seja leve!
— O que sugere em prol do nosso eterno controle desta nação, dom Ratón?
— Precisamos da ajuda dos amigos de um porco, vilmente assassinado, de uma anta e de um sapo, além de milhões de cupins, que faremos invadir terras produtivas, empresas multinacionais de pesquisa, etc. Então, substituiremos a “consciência individual” pela do “politicamente correto”. Por fim, implantaremos o “relativismo moral” nesta terra prometida aos ratos, porque “o fim justifica os meios”...
Ouviu-se, então, de dentro da cerca de alumínio, onde estavam Ratuína e Ratón, um só grito de seus asseclas,  patrocinados pelo BNDES:
— Salve, 7 de setembro, dia da desordem e do retrocesso!
Amigo leitor: “Entendeu, ou quer que eu desenhe?”

terça-feira, 1 de setembro de 2015


Em dia com o Machado 173 (jlo)

5 ¹ E o profeta, vendo a multidão que se manifestava pacificamente, nas grandes cidades brasileiras, subiu ao palanque em Brasília. E, sem se sentar, aproximou-se de estranho boneco com roupa de presidiário e dois números desconhecidos:13 e 171;
² E, abrindo a sua boca, dizia, em alto e bom som, de um alto-falante:
³ Mal-aventurados os que tentam enganar o povo, porque deles é o fogo do inferno;
Mal-aventurados os que riem da desgraça popular causada por eles, porque serão desgraçados;
Mal-aventurados os raivosos e enfurecidos, porque eles serão expulsos da terra que não lhes pertence;
6 Mal-aventurados os que são corruptos e roubam nossas riquezas, porque eles serão presos;
7 Mal-aventurados os ímpios, porque eles serão tratados com impiedade;
8 Mal-aventurados os sujos de coração, porque eles verão os espíritos das trevas;
9 Mal-aventurados os que incentivam a guerra, porque eles serão trucidados;
10 Mal-aventurados os que tentam torcer a justiça, porque eles ficarão tortos;
11 Mal-aventurados sois vós, quando vos desmascararem e lançarem nas celas pútridas das prisões brasileiras e, dizendo a verdade, vos responsabilizarem por todo o mal que fizestes contra a causa do bem, da justiça e da honestidade;
12 Chorai e entristecei-vos, porque é pequena a vossa alma, e nada vale a pena, quando a alma é pequena.
E nada mais disse o profeta, mas o povo passou a gritar:
— Fora, bandidos, abaixo a corrupção do 13 e o estelionato do 171! Queremos um país livre de ladrões, criminosos, estelionatários, aliciadores e exploradores do povo!
Nesse instante, uma bandeira gigante foi estendida e carregada pelos manifestantes, que diziam em voz alta:
— Nossa bandeira não possui a cor do sangue e, sim, o verde da esperança, o azul do céu, o amarelo dos nossos ricos minérios e o branco da paz.
Por fim, o povaréu gritou:
— Somos mansos e pacíficos, mas não somos covardes! Esses políticos que aí estão não nos representam. Queremos a intervenção constitucional pelo poder constituinte do povo!
Depois disso, lentamente, e em silêncio, a população voltou para suas casas...
Só sobrou o profeta, que sacou de sua viola, tocou e cantou:

E agora, José?

E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?

e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?


Está sem mulher,
está sem carinho,
está sem discurso,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?


Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio – e agora?

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...
Mas você não morre,
você é duro, José!

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia, 
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope
você marcha, José!
José, para onde?

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