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quarta-feira, 28 de maio de 2014


COMUNICAR É PRECISO XII (jlo)

A linguagem e seu estilo espacial

III - Figuras de pensamento

Ocorre a figura de pensamento quando o entendimento completo da mensagem é diferente do que está expresso. A modificação é de sentido e, portanto, ocorre no significado não literal da frase. Publicaremos hoje as cinco primeiras de um total de quatorze figuras de pensamento.

1. Antífrase: muito comum na ironia machadiana, a intenção é fazer com que o ouvinte ou leitor perceba no que foi dito ou escrito o contrário do que se expressa. Exemplo:

“— Escrevi algum tempo num jornal de Lisboa, e dizem que não inteiramente mal.” (MA*, 4/8/1888). Frase pronunciada por Tristão quando conversava com o conselheiro Aires. O que Tristão queria dizer, em sua modéstia, era que o consideravam um bom articulista do jornal de Lisboa.

 2. Antítese: é a oposição de palavras ou de enunciados expressos na frase. Exemplo:

“Última flor do Lácio, inculta e bela, / És, a um tempo, esplendor e sepultura.” (Olavo Bilac)

 3. Enálage: é a atribuição de uma aplicação diversa do que lhe é própria a uma palavra. Exemplo: Se entrega a livro, não teria remorso (entrega = entregasse).

 4. Eufemismo: é o uso de palavra ou expressão menos desagradável, para suavizar um fato. Exemplo: Fagundes partiu desta para melhor (morreu).

 5. Disfemismo: ao contrário do eufemismo, é o uso de palavra grosseira, desagradável, em substituição a outra, mais agradável. Exemplo: Delani pisou em merda tão fedida que horas depois ainda sentíamos o fedor no corredor da casa por onde ele passou.

 MA*Memorial de Aires.

QUESTÕES VERNÁCULAS

ASTOLFO O. DE OLIVEIRA FILHO
aoofilho@oconsolador.com.br
Londrina, Paraná (Brasil)

Edição nº 10

 
A pronúncia de determinados vocábulos apresenta dificuldades, especialmente quando em sua formação aparecem prefixos. Veja estes casos e, entre parênteses, a pronúncia e separação corretas:

1.            subalimentação (su-ba-li-men-ta-ção)

2.            subalterno (su-bal-ter-no)

3.            subaluguel (su-ba-lu-guel)

4.            subaquático (su-ba-quá-ti-co)

5.            subarrendamento (su-bar-ren-da-men-to)

6.            subatômico (su-ba-tô-mi-co)

7.            subemenda (su-be-men-da)

8.            subentender (su-ben-ten-der)

9.            subespecie (su-bes-pe-cie)

10.         sublegenda (sub-le-gen-da)

11.         sublevação (su-ble-va-ção  ou sub-le-va-ção)

12.         sublinhar  (sub-li-nhar)

13.         sublocar (sub-lo-car)

14.         sub-rogar (sub-ro-gar)

15.         sub-reptício (furtivo; feito às ocultas) (sub-rep-tí-cio)

16.         abrupto (ab-rup-to)

17.         ab-rogar  (anular, suprimir, revogar) (ab-ro-gar)

18.         ablegar (mandar para longe; afastar; exilar) (ab-le-gar)

19.         ablação  (tirar por força; remover) (a-bla-ção)

20.         druida (drui-da)

21.         fluido (flui-do)

22.         subsídio (sub-sí-dio)

23.         subsistência (sub-sis-tên-cia)

24.         à (pronuncia-se a)

domingo, 25 de maio de 2014


Em dia com o Machado 105 (jlo)

 
Pensava no que escrever, quando vi, ce matin,velha carta de um ilustre hóspede de minha casa da rua de Mata-cavalos. Não vou traduzir o francês de meu amigo, para não lhe tirar a beleza da expressão. Ei-la:
“Monsieur Machado,
Je suis à mon compte et actuellement je fais de la recherche au journal Gazette de Notice et mes responsabilités c’est écrire en toutes lettres chroniques artistiques.
Je voudrais travailler pour votre compagnie, afin  publier votres chroniques en moi blog.
Même sous pression, je produis toujours un travail de qualité.
Appelez-moi quand vous voulez.
Prends soin de toi.
Mes meilleures salutations,
Lula”.

Como se pode entender, o homem quer publicar minhas crônicas. E, no meio de alguns reparos crus, há muita simpatia e viva observação. Quanto ao estilo, é do mais puro, é da escola de França, desde as doutrinas do século XIX.

Entretanto, liguei-lhe, como solicitado, para dizer-lhe que desses meus escritos, somente uma meia dúzia tem algum valor literário. Tanto é assim que os utilizei em alguns dos meus romances.
 
A maioria faz alusão a fatos do cotidiano, que, no máximo servem para embrulhar o pão do dia seguinte à sua publicação em jornal.
 
— Meu caro Machado, hoje em dia, raramente se publica crônica em jornal ou mesmo em revista. Elas estão aí, às centenas, milhares, publicadas em blogs ou sites.

— Ora, Joteli, isso não tem a menor importância, o que escrevi alhures do idioma macauense, expressando o progresso de Copacabana, repito-te agora: “pacatu, pacatu, pacatu”.
 
— Mas isso faz parte de uma letra musical moderna, Bruxo, que num de seus versos diz assim: “Minha eguinha pacatu... pacatu, pacatu, pacatu”.
 
— Ô seu burro, é “Minha eguinha pocotó... pocotó, pocotó, pocotó. Em suma, é um documento honroso para o autor e para nós”.
 

quarta-feira, 21 de maio de 2014


COMUNICAR É PRECISO XI (Jorge Leite)                      
                                                                             Eduquemos a criança
                                                                             moral e intelectual
                                                                             e estaremos investindo
                                                                             no mundo celestial. (JLO)

 
A linguagem e seu estilo espacial II

 
Antes de abordarmos as figuras de linguagem intituladas figuras de pensamentos e figuras fônicas, trataremos ainda de outras sete figuras de sintaxe ou de construção, além das dez publicadas em Comunicar é preciso IX.

 II- Figuras de construção ou de sintaxe

É na estrutura sintática que ocorrem as figuras de sintaxe ou construção.

1. Anáfora: essa figura decorre da repetição de palavra no início de cada verso, frase ou expressão frasal. Exemplo: “E lá foi, e lá andou, e lá descobriu o padre, dentro de uma casinha — baixa.” (ASSIS, 1971, MA, 31/7/1888).

 2. Anadiplose: ocorre quando há a repetição de palavras ou sequências de palavras no fim e no início de dois versos ou duas frases. Exemplos:

a) “Relendo o capítulo passado, acode-me uma ideia e um escrúpulo. O escrúpulo é justamente escrever a ideia.” (ASSIS, 1971. DC, LXIV);

b) “Entre outras coisas, estive a rasgar cartas velhas. As cartas velhas são boas.” (ASSIS, 1971. MA, 25/2/1888).
 
3. Anástrofe: é o deslocamento pouco normal de algum termo da frase ou do verso. Exemplo:

"SE A ALMA que sente e faz conhece
porque lembra o que esqueceu,
Vivemos, raça, porque houvesse
Memória em nós do instincto teu." (PESSOA, 1983, p. 6).
 
Ordem normal do último verso: Memória do teu instinto em nós.

 4. Epizeuxe: nessa figura, ocorre a repetição da sequência imediata de palavras. Exemplo: “Examinando bem, não quisera ter ouvido um desengano que eu reputava certo, ainda que demorado. Capitu refletia, refletia, refletia...” (ASSIS, 1971. DC, XLII). A repetição da palavra “refletia” passa ao leitor a ideia de uma reflexão profunda, sem fim, de Capitu em sua preocupação de livrar Bentinho da ida para o seminário.

5. Hipálage: ocorre quando o termo determinado não se associa ao seu determinante. Exemplos:

a) “José Dias [...] contava-me tudo isso cheio de uma admiração lacrimosa.” (ASSIS, 1971. DC, LXI). Quem estava lacrimoso era José Dias e não a admiração;

b) “E Batista conversaria com o Imperador, a um canto, diante dos olhos invejosos que tentariam ouvir o diálogo.” (ASSIS, 1971. EJ, XLVIII). Nessa passagem, D. Cláudia fantasiava a volta de seu marido Batista ao poder. Quem tinha inveja eram os donos dos olhos e não estes. Nesse caso, há também uma metonímia em que a parte, os olhos, representa o todo, as pessoas que olhavam.

6. Hipérbato: é a inversão da ordem normal de um termo de um verso, vocábulo da  oração ou de uma oração do período. Exemplo:

“Mudaria o Natal ou mudei eu?” (ASSIS, 1973, vol. 3, Soneto de Natal, p. 167).

7. Quiasmo: é a inversão da simetria dos termos, conforme o esquema AB X BA. Exemplo:

“Não era tanta a política que os fizesse esquecer Flora, nem tanta Flora que os fizesse esquecer a política.” (ASSIS, 1971. EJ, XXXV).

REFERÊNCIAS
ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS. Vocabulário ortográfico da língua portuguesa. 5. ed. São Paulo: Global, 2009.

ASSIS, Machado de. Machado de Assis. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1971. Obra completa, vol. I. (Brás Cubas - BC; Dom CasmurroDC, Esaú e JacóEJ, Memorial de Aires — MA)

ASSIS, Machado de. Machado de Assis. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1973. Obra completa, vol. 3.

ASSIS, Machado de. Páginas Recolhidas. Rio de Janeiro: Livraria Garnier, 1990.

AZEREDO, José Carlos de. Gramática Houaiss da Língua Portuguesa. 2. ed. São Paulo: Publifolha, 2008. Redigida de acordo com a nova ortografia.

CARVALHO, Castelar de. Dicionário de Machado de Assis: língua, estilo, temas. Rio de Janeiro: Lexikon, 2010.

CEGALLA, Domingos Paschoal. Novíssima gramática da língua portuguesa. 26. ed. São Paulo: Nacional, 1985.

CUNHA, Celso; CINTRA, Lindley. Nova gramática do português contemporâneo. 5. ed. Rio de Janeiro: Lexikon, 2008. De acordo com a nova ortografia.

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário Aurélio da língua portuguesa. 5. ed. Curitiba: Positivo, 2010.

HOUAISS, Antônio. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.

PESSOA, Fernando. Obra poética. II. Os Castelos: Segundo / Viriato. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1983.

SOUSA, Cruz e. Missal e broquéis. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

QUESTÕES VERNÁCULAS
Edição 9

13/6/2007 -
ASTOLFO O. DE OLIVEIRA FILHO
aoofilho@oconsolador.com.br
Londrina, Paraná (Brasil)
 

[...] Descriminalização ou discriminalização? O que, afinal, pretendem os que defendem o aborto no Brasil?


É claro que descriminalização é o vocábulo correto, conforme registram Francisco Fernandes em seu Dicionário de Verbos e Regimes e também os dicionários Houaiss, Aurélio e Caldas Aulete.

Eis o que a respeito informa o dicionário Houaiss:


Descriminalização
substantivo feminino
Rubrica: direito penal.
Ato legal de excluir da criminalização fato abstrato antes considerado crime.
O mesmo ensinamento lê-se no dicionário Aurélio:

Descriminalização. S. m. Ato ou efeito de descriminalizar
Descriminalizar ou descriminar. V. t. d.

1. Absolver de crime; tirar a culpa de; inocentar.
2. Jur. Excluir a criminalidade ou antijuridicidade de (um fato).

O exemplo citado no Aurélio não nos deixa margem a qualquer dúvida:
“O candidato a governador Fernando Gabeira (PT-PV) explicou que defende a descriminalização, e não a liberação da maconha” (Jornal do Brasil, 18.9.1986).


 

domingo, 18 de maio de 2014


Em dia com o Machado 104 (jlo)

  

— Meu caro Joteli, pensas escrever sobre os vícios e leste “A Igreja do Diabo”, de nossa autoria. Descobriste, nesse conto, que o ser humano é incoerente; mas tudo é contraditório, na Terra, Jo, menos Deus e seu Filho unigênito, que, porém, ainda não são deste mundo.

Houve um tempo, em que o Governo estava nas mãos dos legítimos representantes do povo e de Deus. Quem não estivesse alinhado com esses representantes fazia parte dos “eleitos do demo”. Como “na natureza, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”, segundo Lavoisier, os detentores provisórios do poder também “não se criam”, se transformam.

Só há um porém: nessa mutação, algo se ganha, algo se perde.

— Exemplifique, meu caro Machado.

— Pois não, o que o brasileiro está ganhando, atualmente, é uma “liberdade” que “nunca na história deste país” foi vista. Como consequência, cito sete conquistas:

a) o direito de manifestação pacífica tem levado às ruas milhares de pessoas;

b) no carnaval, milhões de camisinhas são distribuídas aos interessados gratuitamente;

c) foi proposta por uma sexóloga política de São Paulo a abolição do casamento;

d) também, insistentemente, vem-se incentivando a liberdade de escolha sexual;

e) há forte apelo feminista pela legalização incondicional do aborto;

f) já está sendo proposta, também, a prática legal da eutanásia;

g) o Supremo Tribunal Federal acaba de autorizar a realização da “marcha da maconha” em Brasília, sob a alegação de que, constitucionalmente, todos têm direito à liberdade de expressão.

Então, os manifestantes saíram às ruas com faixas como estas: “Descriminaliza”; “Maconha: cultive esta ideia”; “Legaliza a maconha”; “Legalizar o cultivo caseiro é combater o tráfico”.

— Meu bom Bruxo, afirma-se que “uma mentira repetida mil vezes torna-se uma verdade”...

— “Bombruxo” é a...  

— Você falou sobre o que se ganha, mas o que se perde?

— Caro Jo, o que se perde resulta do que se ganha, afinal, como já te disse, o ser humano é a contradição em pessoa. Consequentemente:

a) ainda não houve sequer uma manifestação “pacífica” que não resultasse em enormes danos patrimoniais públicos e privados;

b) como é mais prazeroso transar sem camisinha, milhares de pessoas, de todas as idades, contraem Aids e diversas doenças venéreas; outras, jovens, engravidam sem o desejarem;

c) os adeptos da abolição do casamento recrudesceram ao estado de bárbaros sociais;

d) a liberdade de escolha sexual rebaixa o homem a um estágio evolutivo inferior ao da maioria dos animais, que ainda optam pelo acasalamento macho e fêmea; consequentemente, é negada, com essa prática, a lei de evolução humana;

e) a legalização do aborto dá à mulher poderes superiores aos da Divindade, proporcionando-lhe o direito de matar o ser que é gerado em seu ventre por Vontade de Deus; com isso, ela nega o “seja feita a Vossa Vontade” da prece “Pai Nosso” ensinada pelo Cristo, nosso modelo e guia de aperfeiçoamento espiritual;

f) a prática da eutanásia é semelhante ao homicídio legal, o que viola o mandamento divino do “não matarás”;

g) autorizar a realização da “marcha da maconha” é incentivar a propaganda ao comércio e consumo da droga.

— É por isso, Machado, que três quartas partes da humanidade acende uma vela para Deus e outra para o diabo.

— Falta-lhes coerência, meu caro Joteli.

— O que se percebe, atualmente, Bruxo, é que o vício e as paixões atingiram tal grau de devastação nas consciências humanas, que os pervertidos são considerados normais e os normais são considerados pervertidos.

— Pois o que parecia pior ainda pode piorar. Com a permissividade dos costumes do jeito que está, o que é bem vai virar mal e o que é mal vai virar bem. Nesse dia, o demo terá concluído a sua obra e a Igreja de Deus será substituída pela Igreja do diabo.

quinta-feira, 15 de maio de 2014


COMUNICAR É PRECISO X (Jorge Leite)                          

 

“Educação nunca foi despesa. Sempre foi investimento com retorno garantido.” (Sir Arthur Lewis)

 
 
A linguagem e seu estilo espacial

 
Entendemos por estilo espacial da linguagem a forma criativa utilizada pelos bons escritores para se expressarem textualmente na narrativa de suas produções literárias. Passaremos, a seguir, a utilizar a expressão figuras de linguagem, que se classificam por figuras de palavras, figuras de construção ou de sintaxe, figuras de pensamento e figuras fônicas.

 
I- Figuras de palavras (ou tropos): são aquelas que se caracterizam pelo desvio da significação, considerada normal das palavras. Na comunicação anterior, vimos algumas dessas figuras. A seguir enumeramos outras delas, tais como:

 
1. Antonomásia: ver “Comunicar é preciso IX”.

 
2. Catacrese: é a metáfora que já foi incorporada à nossa língua, de tal modo que consta dos dicionários, em geral. Segundo Azeredo (2008, p. 487), a catacrese é semelhante às “expressões idiomáticas”.

Exemplos:

a) “Voltei-me para ela; Capitu tinha os olhos no chão.” (ASSIS, 1971, p. 823);

b) “Contaria os meus botes e os dela, a graça de um e a prontidão de outro, e o sangue correndo, e o furor na alma [...].” (ASSIS, 1971, p. 857);

c) “— Diga-me uma cousa, mas fale verdade, não quero disfarce; há de responder com o coração na mão.” (ASSIS, 1971, p. 856).

 
3. Diáfora ou antanáclase: esses nomes que assustam, na realidade representam o chamado trocadilho no qual se emprega a mesma palavra com o sentido ambíguo, o chamado duplo sentido. Exemplos:

a) “Um deles, ouvindo apregoar sete ações do Banco Pontual, disse que tal banco foi realmene pontual até o dia em que passou do ponto à reticência.” (ASSIS, 1990, p. 156);
b) Tenho muita pena de quem pena num hospital.

 
4. Metáfora: é a substituição de um termo por outro, devido a uma relação de semelhança entre ambos (associação semântica). Costuma ser uma comparação sem o uso da palavra como. Exemplos:

a) “[...] a minha imaginação era uma grande égua ibera; a menor brisa lhe dava um potro, que saía logo cavalo de Alexandre; mas deixemos metáforas atrevidas e impróprias dos meus quinze anos.” (ASSIS, 1971, p. 852).
Obs.: nesses exemplos da letra a), que contém uma “sucessão de metáforas”, temos a chamada alegoria;

 b) “Tinha a mesma sensação que ora lhe dava aquela cesta de luzes no meio da escuridão tranquila do mar.” (ASSIS, 1971, cap. XLVIII, p. 1008).

A linda metáfora, com o emprego do gradiente visual, expressa a ilha fiscal, situada no meio da baía da Guanabara, plenamente iluminada, quando se realizara o baile, em 9 de novembro de 1889. Conclui Carvalho que “Machado transmite, de forma impressionista, a imagem que D. Cláudia tem da ilha nessa noite que ficaria famosa, por simbolizar o canto de cisne da Monarquia agonizante, às vésperas do golpe militar que implantou a República, no dia 15 de novembro de 1889” (CARVALHO, 2010, p. 195).

  
5. Metonímia: ocorre quando se transfere o significado de um termo para o outro, que não lhe equivale, mas que, na contiguidade das ideias, se lhe associa semanticamente. A relação de contiguidade pode ocorrer de diversos modos, como, por exemplo:

a) do nome do autor pela sua obra: gosto de ler Machado de Assis (a obra de Machado); "Conversamos de coisas várias, até que Tristão tocou um pouco de Mozart." (ASSIS, 1971, MA, 31 de agosto, p. 1.143). Machado era grande apreciador do músico austríaco Wolfgang Amadeus Mozart (1756- 1791), que aqui é substituído por sua música.
 
b) do continente pelo conteúdo: “José Dias dividia-se agora entre mim e minha mãe, alternando os jantares da Glória com os almoços de Matacavalos.(ASSIS, 1971, DC, cap. CIV, p. 909.). O bairro foi citado no lugar da pessoa que ali reside, ou seja, D. Glória, mãe de Bentinho;

c) do efeito pela causa: "Ganharás o pão de cada dia com o suor do teu rosto." (Gênese)

d) do abstrato pelo concreto: O bicho viveu os seus dez ou onze anos da raça; a doença achou enfermeira, e a morte teve lágrimas;" (ASSIS, 1971, MA, 4 de agosto, p. 1.137). A doença e a morte = o cachorro.

e) do instrumento pela pessoa que o utiliza: "Nisto, aparece-me à porta um chapéu, e logo um homem, o Cotrim, nada menos que o Cotrim." (ASSIS, 1971, BC, cap. LXXXI, p. 591). Chapéu representa, na frase, seu dono, o Cotrim;

f) do indivíduo pela espécie ou classe: Ele foi o judas dos colegas de classe. Judas = traidor; Os mecenas das artes patrocinaram a Copa do Mundo no Brasil. Mecenas = protetores; Os vândalos queimaram quinhentos veículos em São Paulo. Vândalos = marginais;

g) do singular para o plural: O homem é um ser mortal. (homem = seres humanos).

h) do traje pela classe social: "Rezei ainda, persignei-me, fechei o livro de missa e caminhei para a porta. [...] Havia homens e mulheres, velhos e moços, sedas e chitas, e provavelmente olhos feios e belos, mas eu não vi uns nem outros." (ASSIS, 1971, DC, cap. LXX, p. 881). Na expressão "sedas e chitas", temos também uma metonímia que distingue ricos e pobres.

Obs.: Não se esgotam aqui as possibilidades da metonímia. Toda vez que um termo transferir seu significado para outro, numa relação de contiguidade, temos aí a metonímia.


Referências

 ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS. Vocabulário ortográfico da língua portuguesa. 5. ed. São Paulo: Global, 2009.

ASSIS, Machado de. Machado de Assis. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1971. Obra completa, vol. I. (Brás Cubas - BC; Dom Casmurro – DC, Esaú e Jacó — EJ, Memorial de Aires — MA)

ASSIS, Machado de. Machado de Assis. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1973. Obra completa, vol. 3.

ASSIS, Machado de. Páginas Recolhidas. Rio de Janeiro: Livraria Garnier, 1990.

AZEREDO, José Carlos de. Gramática Houaiss da Língua Portuguesa. 2. ed. São Paulo: Publifolha, 2008. Redigida de acordo com a nova ortografia.

CARVALHO, Castelar de. Dicionário de Machado de Assis: língua, estilo, temas. Rio de Janeiro: Lexikon, 2010.

CEGALLA, Domingos Paschoal. Novíssima gramática da língua portuguesa. 26. ed. São Paulo: Nacional, 1985.

CUNHA, Celso; CINTRA, Lindley. Nova gramática do português contemporâneo. 5. ed. Rio de Janeiro: Lexikon, 2008. De acordo com a nova ortografia.

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário Aurélio da língua portuguesa. 5. ed. Curitiba: Positivo, 2010.

HOUAISS, Antônio. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.

SOUSA, Cruz e. Missal e broquéis. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

 

QUESTÕES VERNÁCULAS
Edição 8

ASTOLFO O. DE OLIVEIRA FILHO
aoofilho@oconsolador.com.br
Londrina, Paraná (Brasil)
A pronúncia das sílabas formadas com a letra “x” apresenta, não raro, dificuldades porque o “x” às vezes tem o som de ch, como em xerife, de z, como na palavra exame, ou de ks, como no vocábulo sexo.
Nas palavras que se seguem, o “x” tem som de z:
1.    exame
2.    exagero
3.    exato
4.    exegese
5.    êxodo
6.    exonerar
7.    exorar
8.    exotérico
9.    êxul
10. exultar
11. inexaurível
12. inexorável.
 
Nestes outros vocábulos, o “x” tem som de ks:
1.    sexo
2.    afluxo
3.    anexo
4.    clímax
5.    ex-libris
6.    fluxo
7.    hexacampeão
8.    índex
9.    intoxicar
10. léxico
11. máxime
12. ônix.
 

sábado, 10 de maio de 2014


Em dia com o Machado 103 (jlo)
 

Caro leitor, há milhares de anos, o ser humano vem sendo assassinado por nefastos animais. Perguntará você se essas feras seriam os leões, os jacarés, a cobra cascavel, a sucuri, os enormes elefantes ou os tubarões. Ante nossa resposta negativa, imaginará ferozes cães (Nenhuma intenção de rimar com tubarões, é claro.). E eu lhe responderei: “Não, não e não”.

Para tirá-lo do suspense, meu caro, dir-lhe-ei que as feras assassinas são de tal modo subestimadas por nós que as chamamos de insetos, mais precisamente, mosquitos da dengue, da malária, da febre amarela... Não há piquenique que não seja atrapalhado por eles. Também, por analogia, denominamos assim as pessoas desprezíveis, insignificantes, como este mísero escrivão que lhe tenta transmitir minhas luminosas ideias, com pífio sucesso.

Pois bem, tentando controlar a proliferação de insetos, inventamos o DDT, cujos efeitos colaterais têm sido devastadores para a natureza e para a saúde humana. Na busca de uma alternativa ao combate da multiplicação das moscas, cientistas analisaram, no laboratório da Universidade Rockefeller, os processos sensoriais por meio dos quais os mosquitos escolhem suas vítimas.

Agora vem a parte científica da coisa (Que coisa!): para estudar o modo de pousar, picar e alimentar desses insetos, os pesquisadores enfiam o braço na toca dos mosquitos e se deixam picar. As picaduras vão depender de dois quesitos: genética do mosquito e característica da pele do cientista.

A new chapter in our life. Tão logo descubram o que leva os mosquitos a nos picar ou deixar em paz, as soluções irão de pulseiras repelentes a armadilhas para reduzir drasticamente as populações desses insetos. Quando isso acontecer, muita coceira e muitas mortes serão evitadas. Ainda bem que as cobaias têm como se prevenir desses efeitos colaterais, não é mesmo, leitora paciente?

Curiosamente, os machos não são hematófagos; só as fêmeas se alimentam do nosso sangue. Os machos são hematófobos. Na civilização atual, a inversão de gostos sexuais tem sido uma verdadeira epidemia. Será por que o número de picados pelas moscas tem provocado uma mutação genética entre os humanos? Não sei, nem quero saber. Afasta-te de mim, satanás.

É por isso que nosso orgulho é perda de tempo. Um simples inseto mata mais gente no mundo do que todos os grandes animais reunidos. Com todo o respeito aos cientistas que se expõem às picadas, eu é que não dou meu braço à picadura de mosca alguma. Prefiro picar as moças.

sexta-feira, 9 de maio de 2014


O SEMEADOR DAS ESTRELAS

(Por: Jorge Leite)

 
O semeador saiu a semear,
Mas das sementes que ele semeou
Umas vão certamente prosperar
E florescer quando Jesus chegar.

 
Quando Jesus chegar aos corações,
Quando Jesus chegar às consciências,
Quando Jesus chegar às orações,
Quando Jesus chegar às vãs ciências.

 
Semeará nos corações sofridos,
Semeará na terra fértil e boa,
Semeará também a endurecidos
Que o verão fazer o que apregoa.

 
Quando Jesus chegar aos nossos lares,
Quando Jesus chegar na primavera,
Quando Jesus chegar dos patamares
Onde reside a luz de altas esferas.

 
E tanto o bom Divaldo semeará
Que um dia, como Elias, vai aos céus
E mesmo dos espaços estará
Amando e semeando junto a Deus.

 

 Homenagem a Divaldo Pereira Franco, "o semeador de estrelas", extraordinário orador espírita e médium psicógrafo de mais de duzentas obras espíritas, que completou 87 anos no dia 5 de maio de 2014.

 

 

 

  Contador e ciência contábil (Irmão Jó)   Contador, tu não contas dor, Mas no balanço das contas O crédito há que ser superior.   Teu saldo...