COMUNICAR É PRECISO X (Jorge
Leite)
“Educação nunca foi despesa. Sempre foi investimento
com retorno garantido.” (Sir Arthur Lewis)
A linguagem
e seu estilo espacial
Entendemos por estilo espacial da linguagem a forma
criativa utilizada pelos bons escritores para se expressarem textualmente na
narrativa de suas produções literárias. Passaremos, a seguir, a utilizar a
expressão figuras de linguagem, que
se classificam por figuras de palavras, figuras de construção ou de sintaxe,
figuras de pensamento e figuras fônicas.
I- Figuras
de palavras (ou tropos): são aquelas que se caracterizam pelo desvio da
significação, considerada normal das palavras. Na comunicação anterior, vimos
algumas dessas figuras. A seguir enumeramos outras delas, tais como:
1. Antonomásia:
ver “Comunicar é preciso IX”.
2. Catacrese: é a metáfora que já foi
incorporada à nossa língua, de tal modo que consta dos dicionários, em geral.
Segundo Azeredo (2008, p. 487), a catacrese é semelhante às “expressões
idiomáticas”.
Exemplos:
a) “Voltei-me para ela; Capitu tinha os olhos no
chão.” (ASSIS, 1971, p. 823);
b) “Contaria os meus botes e os dela,
a graça de um e a prontidão de outro, e o sangue correndo, e o furor na
alma [...].” (ASSIS, 1971, p. 857);
c) “— Diga-me uma cousa, mas fale verdade, não
quero disfarce; há de responder com o coração na mão.” (ASSIS, 1971, p.
856).
3. Diáfora
ou antanáclase: esses nomes que assustam, na realidade representam o
chamado trocadilho no qual se emprega a mesma palavra com o sentido ambíguo, o
chamado duplo sentido. Exemplos:
a) “Um deles, ouvindo apregoar sete ações do Banco Pontual,
disse que tal banco foi realmene pontual até o dia em que passou do ponto
à reticência.” (ASSIS, 1990, p. 156);
b) Tenho muita pena de quem pena num hospital.
4. Metáfora:
é a substituição de um termo por outro, devido a uma relação de semelhança
entre ambos (associação semântica). Costuma ser uma comparação sem o uso da
palavra como. Exemplos:
a) “[...] a minha imaginação era uma grande égua
ibera; a menor brisa lhe dava um potro, que saía logo cavalo de
Alexandre; mas deixemos metáforas atrevidas e impróprias dos meus quinze
anos.” (ASSIS, 1971, p. 852).
Obs.: nesses exemplos da letra a), que contém uma “sucessão
de metáforas”, temos a chamada alegoria;
b) “Tinha a mesma sensação que ora lhe dava aquela cesta
de luzes no meio da escuridão tranquila do mar.” (ASSIS, 1971, cap. XLVIII, p. 1008).
A linda metáfora, com o emprego do gradiente
visual, expressa a ilha fiscal, situada no meio da baía da Guanabara,
plenamente iluminada, quando se realizara o baile, em 9 de novembro de 1889.
Conclui Carvalho que “Machado transmite, de forma impressionista, a imagem que
D. Cláudia tem da ilha nessa noite que ficaria famosa, por simbolizar o canto
de cisne da Monarquia agonizante, às vésperas do golpe militar que implantou a
República, no dia 15 de novembro de 1889” (CARVALHO, 2010, p. 195).
5. Metonímia:
ocorre quando se transfere o significado de um termo para o outro, que não lhe
equivale, mas que, na contiguidade das ideias, se lhe associa semanticamente. A
relação de contiguidade pode ocorrer de diversos modos, como, por exemplo:
a) do nome do autor pela sua obra: gosto de ler
Machado de Assis (a obra de Machado); "Conversamos de coisas várias, até que Tristão tocou um pouco de Mozart." (ASSIS, 1971, MA, 31 de agosto, p. 1.143). Machado era grande apreciador do músico austríaco Wolfgang Amadeus Mozart (1756- 1791), que aqui é substituído por sua música.
b) do continente pelo conteúdo: “José Dias
dividia-se agora entre mim e minha mãe, alternando os jantares da Glória com os
almoços de Matacavalos.(ASSIS, 1971, DC, cap. CIV, p. 909.). O
bairro foi citado no lugar da pessoa que ali reside, ou seja, D. Glória, mãe de
Bentinho;
c) do efeito pela causa: "Ganharás o pão de cada dia com o suor do teu rosto." (Gênese)
d) do abstrato pelo concreto: O bicho viveu os seus dez ou onze anos da raça; a doença achou enfermeira, e a morte teve lágrimas;" (ASSIS, 1971, MA, 4 de agosto, p. 1.137). A doença e a morte = o cachorro.
e) do instrumento pela pessoa que o utiliza: "Nisto, aparece-me à porta um chapéu, e logo um homem, o Cotrim, nada menos que o Cotrim." (ASSIS, 1971, BC, cap. LXXXI, p. 591). Chapéu representa, na frase, seu dono, o Cotrim;
f) do indivíduo pela espécie ou classe: Ele foi o judas dos colegas de classe. Judas = traidor; Os mecenas das artes patrocinaram a Copa do Mundo no Brasil. Mecenas = protetores; Os vândalos queimaram quinhentos veículos em São Paulo. Vândalos = marginais;
g) do singular para o plural: O homem é um ser mortal. (homem = seres humanos).
h) do traje pela classe social: "Rezei ainda, persignei-me, fechei o livro de missa e caminhei para a porta. [...] Havia homens e mulheres, velhos e moços, sedas e chitas, e provavelmente olhos feios e belos, mas eu não vi uns nem outros." (ASSIS, 1971, DC, cap. LXX, p. 881). Na expressão "sedas e chitas", temos também uma metonímia que distingue ricos e pobres.
Obs.: Não se esgotam aqui as possibilidades da metonímia. Toda vez que um
termo transferir seu significado para outro, numa relação de contiguidade,
temos aí a metonímia.
Referências
ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS. Vocabulário
ortográfico da língua portuguesa. 5. ed. São Paulo: Global, 2009.
ASSIS, Machado de. Machado de Assis. Rio de
Janeiro: José Aguilar, 1971. Obra completa, vol. I. (Brás Cubas - BC; Dom Casmurro – DC, Esaú
e Jacó — EJ, Memorial de Aires — MA)
ASSIS, Machado de. Machado de Assis. Rio de
Janeiro: José Aguilar, 1973. Obra completa, vol. 3.
ASSIS, Machado de. Páginas Recolhidas. Rio de
Janeiro: Livraria Garnier, 1990.
AZEREDO, José Carlos de. Gramática Houaiss da
Língua Portuguesa. 2. ed. São Paulo: Publifolha, 2008. Redigida de acordo
com a nova ortografia.
CARVALHO, Castelar de. Dicionário de Machado de
Assis: língua, estilo, temas. Rio de Janeiro: Lexikon, 2010.
CEGALLA, Domingos Paschoal. Novíssima gramática
da língua portuguesa. 26. ed. São Paulo: Nacional, 1985.
CUNHA, Celso; CINTRA, Lindley. Nova gramática do
português contemporâneo. 5. ed. Rio de Janeiro: Lexikon, 2008. De acordo
com a nova ortografia.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário
Aurélio da língua portuguesa. 5. ed. Curitiba: Positivo, 2010.
HOUAISS, Antônio. Dicionário Houaiss da língua
portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.
SOUSA, Cruz e. Missal e broquéis. 2. ed. São
Paulo: Martins Fontes, 2001.
QUESTÕES
VERNÁCULAS
Edição 8
ASTOLFO O. DE OLIVEIRA FILHO
aoofilho@oconsolador.com.br
Londrina, Paraná (Brasil)
A pronúncia das sílabas formadas com a letra “x”
apresenta, não raro, dificuldades porque o “x” às vezes tem o som de ch, como em xerife, de z, como
na palavra exame, ou de ks, como no vocábulo sexo.
Nas palavras que se seguem, o “x” tem som de z:
1.
exame
2.
exagero
3.
exato
4.
exegese
5.
êxodo
6.
exonerar
7.
exorar
8.
exotérico
9.
êxul
10. exultar
11. inexaurível
12. inexorável.
Nestes outros vocábulos, o “x” tem som de ks:
1.
sexo
2.
afluxo
3.
anexo
4.
clímax
5.
ex-libris
6.
fluxo
7.
hexacampeão
8.
índex
9.
intoxicar
10. léxico
11. máxime
12. ônix.
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