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quarta-feira, 31 de janeiro de 2024

 

EM DIA COM O MACHADO 612:
Do materialismo ao Espiritismo
(carta de um leitor, publicada na Revista Espírita) Irmão Jó

 


Alma irmã, segundo o Espírito André Luiz (Opinião Espírita, capítulo 1), “Espírita que não progride durante três anos sucessivos permanece estacionário”. Essa frase veio-me à lembrança quando li a carta do leitor Michel remetida, ao fim de seis meses de seu estudo da então recente Doutrina Espírita, a Allan Kardec.

O documento foi publicado por Kardec na Revista Espírita de abril de 1863. A missiva é longa, mas  em vista da profundidade do conteúdo, reproduzirei seus pontos principais.

Primeiro ponto: “O advento do Espiritismo no século dezenove, numa época em que o egoísmo e o materialismo parecem dividir o império do mundo, é um fato muito importante e muito extraordinário para não provocar a admiração ou o espanto das pessoas sérias e dos espíritos observadores”.

Segundo ponto: “Mas um fato não menos surpreendente é que se tenha encontrado nesta mesma época de incredulidade um homem bastante crente, bastante corajoso, para sair da multidão, abandonar a corrente e anunciar uma doutrina que devia pô-lo em desacordo com o maior número, pois seu objetivo é combater e destruir os preconceitos, os abusos e os erros do povo, e, enfim, pregar a fé aos materialistas, a caridade aos egoístas, a moderação aos fanáticos, a verdade a todos”.

Terceiro ponto: “Sem vos preocupar com o número e a força dos vossos adversários, descestes sozinho à arena e, aos gracejos injuriosos, opusestes uma inalterável serenidade; aos ataques e calúnias respondestes com a moderação”.

Quarto ponto: “Para o adepto fervoroso o fato não pode ser posto em dúvida, e o Espiritismo não pode ser obra de alguns cérebros dementes, como seus detratores tentaram demonstrar. É impossível que o Espiritismo seja uma obra humana; deve ser e é, com efeito, uma revelação divina (destaquei).

Quinto ponto: “Depois de dezoito séculos de existência, a doutrina do Cristo nos parece tão luminosa quanto na época de seu nascimento [...]. Sendo o Espiritismo a confirmação, o complemento dessa doutrina é justo dizer-se que se transformará num monumento indestrutível, visto ter Deus por princípio e a verdade por base”.

Sexto ponto: “[...] cheguei à conclusão de que o homem deve evitar cuidadosamente tudo quanto possa perturbar a sua consciência”.

Sétimo ponto: “Durante dois anos ouvi falar do Espiritismo sem lhe prestar uma atenção séria. Como diziam seus adversários, eu julgava que um novo charlatanismo se havia infiltrado entre os outros. Mas, enfim, cansado de ouvir falar de uma coisa, da qual não conhecia senão o nome, resolvi instruir-me. Então adquiri O Livro dos Espíritos e O Livro dos Médiuns. Li, ou melhor, devorei essas duas obras com tal avidez e satisfação que é impossível definir. Qual não foi minha surpresa, lançando os olhos sobre as primeiras páginas, ao ver que se tratava de filosofia moral e religiosa, quando eu esperava ler um tratado de magia, acompanhado de histórias maravilhosas! Logo a surpresa deu lugar à convicção e ao reconhecimento”.

Michel explica, por fim, que sendo médium intuitivo, assistiu a algumas sessões espíritas nas quais comparou sua mediunidade com a doutros médiuns. Então compreendeu a recomendação de Kardec sobre a importância de “ler, antes de ver, se se quiser ficar convencido”, tendo em vista que o que vira até então não seria suficiente para o convencimento de um incrédulo.

Desejava provas mais palpáveis, como as que Kardec obtivera na Sociedade Espírita de Paris. Então, convidou “médiuns escreventes, videntes e desenhistas” para um trabalho em conjunto. Só aí, diz com grande alegria, testemunhou os mais surpreendentes fatos e obteve as provas que o convenceram definitivamente sobre a “excelência e a sinceridade” do Espiritismo.

Durante mais de onze anos (janeiro de 1858 a março de 1869), Allan Kardec recebeu centenas de cartas, das quais selecionou e publicou muitas, como essa, na Revista Espírita. São testemunhos de pessoas antes descrentes, simples ou cultas que, superando preconceitos e intolerância cega, estudaram, observaram e creram nas manifestações dos espíritos conforme proposto pelo Codificador do Espiritismo.

Cabe a nós, que temos um pouco mais de seis meses de estudo do Espiritismo, aliado à prática, divulgá-lo intensamente, nesta época em que o materialismo volta com sua saga destruidora da fé, da esperança e da caridade. Então, o Espírito Cruz e Souza incentiva- nos com seu soneto intitulado: 

Aos trabalhadores do Evangelho
 
Há uma falange de trabalhadores,
Espalhada nas sendas do Infinito,
Desde as sombras do mundo amargo e aflito
Aos espaços de eternos resplendores.
 
É a caravana de batalhadores
Que, no esforço do amor puro e bendito,
Rompe algemas de trevas e granito,
Aliviando os seres sofredores.
 
Vós que sois, sobre a Terra, os companheiros
Dessa falange lúcida de obreiros,
Guardai-lhe a sacrossanta claridade;
 
Não vos importe o espinho ingrato e acerbo,
Na palavra e nos atos, sede o Verbo
De afirmações da Luz e da Verdade.
 
(SOUZA, Cruz e – Espírito. In: Parnaso de Além-Túmulo. Psicografado por Chico Xavier.)

sexta-feira, 26 de janeiro de 2024

  

EM DIA COM O MACHADO 611:

O Agricultor  e sua lavra II (Irmão Jó)

 


Sucederá nos últimos dias, diz Deus, que derramarei do meu Espírito sobre toda a carne. Vossos filhos e vossas filhas profetizarão, vossos jovens terão visões e vossos velhos sonharão (BÍBLIA de Jerusalém. Atos dos Apóstolos, 2:17).

 

Alma amiga, na última crônica, falei-lhe ainda sobre meu amigo Agricultor, mas ainda tenho algo a narrar do que ouvi ele dizer, não como lisonja ao seu ego, mas como demonstração a você sobre a incansável obra do meu amigo septuagenário.

É autor de meia dúzia de livros, dedica-se à edição semanal de crônica, faz pesquisas, elabora artigos para periódicos, realiza palestras e outros trabalhos literários e técnicos. Está agora aguardando a conclusão de sua nova obra, a ser publicada pela Editora Vozes, de Petrópolis, RJ.  

Caso isso ocorra antes, ou no início, do próximo semestre letivo, pensa propor à editora o lançamento do livro em sua terra natal, pois também, como eu, é carioca. Título da obra? Técnicas de redação e de pesquisa científica. Pretensioso, não?

Se convidado, estarei lá, com certeza.

Durante alguns anos, Agricultor foi contratado pelo CESPE/UnB para a correção de milhares de redações. Além disso, redigiu recursos para diversos candidatos, em concursos públicos. Segundo me informou, alguns desses candidatos, após obterem sucessos em seus pleitos, até hoje lhe são agradecidos.

Ele pediu-me que não me esquecesse de lhe dizer, alma amiga, que também é poeta e que aprendeu a gostar de poesia quando frequentava, em Rocha Miranda, Rio de Janeiro, a Mocidade Espírita Irmão Isaac. Morou dois anos em Salvador e aprendeu muito com André Luís Peixinho, Nílson de Sousa, Divaldo Franco, além de outras pessoas amigas do Centro Espírita Caminho da Redenção e outros amigos soteropolitanos.

Ah!, o Agricultor é também advogado, embora não atue na área... Sua lavoura é a literatura.

É tricolor de coração! Além de se ter tornado esforçado mesatenista, no Iate Clube de Brasília, onde já conquistou honroso terceiro lugar na faixa etária que ocupa atualmente: a dos septuagenários. Agora, pensa pedir ali a ampliação da faixa para quando ele for octogenário. Animado com a conquista anterior, obteve na Fit Pong, academia de mesatenistas de Brasília, o segundo lugar, após disputa com jovens bem mais novos...

Casado, sua família, como a minha, é formada pela esposa, há 45 anos, três filhos e seis netos. Muita coincidência comigo, não é mesmo?

Já ia concluir, quando soube de algo incrível ocorrido com meu amigo após seu relato, em crônica anterior, postada há duas semanas, quando disse ter sonhado que dois andares de um shopping o aplaudiram e ele conquistara a amizade dum magistrado. Uma jovem que ele não via há alguns anos, amiga de sua filha, perguntou à aniversariante: — Você já contou a seu pai o sonho que tive com ele?

Cris, a filha citada no primeiro parágrafo desta crônica, disse-lhe que não. Então sua amiga narrou ao pai da aniversariante seu sonho: Ela presenciava homenagem na escola onde Agricultor trabalhara durante 22 anos. Ali, a festa era para ele, e todos os alunos de diversos cursos o aplaudiam. Fora dali, muitos carros desfilavam em carreata que prosseguia homenageando o emérito professor.

Pode ser que você, alma irmã, diga que meu amigo enlouqueceu ou foi vítima de algum Espírito obsessor, para testar-lhe a humildade. Entretanto, pergunto-lhe se você também não sentiria vaidade e gratidão ante tal demonstração de carinho...

Como dizia um sábio professor na UnB, onde também Agricultor cursou francês durante algum tempo: “— A vida só é dura para quem é mole!”. Ao que completo: Ninguém é tão ignorante que não nos possa algo ensinar, nem tão idoso que nada mais possa aprender.

 

 

 

 

 

sexta-feira, 19 de janeiro de 2024

 

EM DIA COM O MACHADO 610 -

O Agricultor  e sua lavra I

Irmão Jó

 


Meu amigo Agricultor, citado na última crônica, compareceu com sua família a uma festa familiar, no último fim de semana. Comemoravam-se os aniversários de alguns membros da família, dentre os quais estava sua filha Cris.

Durante o evento, nosso personagem conheceu um senhor septuagenário, como ele, muito simpático, chamado Elias, com quem conversou sobre diversos assuntos. Em dado momento, enveredaram para o tema cultura. Então, ambos concordaram que sabedoria, por vezes, nada tem a ver com conhecimento escolar.

— Machado de Assis — disse Agricultor — ao que se sabe, não concluiu o antigo primário, e é um dos gênios da literatura brasileira.

— Jesus — respondeu Elias, adepto da Igreja Batista — não frequentou escola, no entanto é o filho unigênito de Deus e o ser mais sábio de todas as épocas da humanidade.

Embora Agricultor discorde da ideia de “filho unigênito de Deus”, como creem os evangélicos ser o Cristo filho único de quem ele nos ensinou ser nosso Pai, até aí a conversa fluiu sem oposição. Em dado momento, porém, Elias saiu-se com esta:

— É preciso começar cedo, no estudo, pois depois de velho não adianta mais...

Agricultor, modesto como sempre, concordou em parte, mas adiantou a seu interlocutor que nunca é tarde para aprender algo, ainda mesmo nos bancos escolares.

Não sei se Elias ficou satisfeito com o que ouviu, mas, como é muito educado e respeitoso, mudou de assuntos, tais como futebol e outras amenidades. Então, alma amiga, vou repetir-lhe a história ouvida do Agricultor, parecida com a minha, neste breve espaço.

Órfão de pai aos 11 anos de idade, tal como outros seis irmãos, desde então, ele percebeu quanto sua família precisava unir-se em torno da sobrevivência. Desse modo, assim como seus irmãos, começou a trabalhar aos 13 anos.

Chegado à idade do serviço militar, imaginou fazer carreira e engajou-se no Exército, como soldado, após sua aprovação em primeiro lugar no curso de cabo, sem que nunca o tenham promovido nessa graduação. Ele que, sem conhecimento da carreira militar, pensava alcançar ali altos postos, foi depois selecionado para o curso de sargento. E só. Passados dois anos, como aluno do curso, mas recebendo o soldo de soldado há três anos, ciente e desiludido com aquela realidade, foi promovido a sargento na área de “auxiliar de saúde”. A partir disso, sabia que suas novas promoções jamais dependeriam doutros cursos.

Transferido de estado, morou na Bahia durante três anos. Então, como eu, mudou-se da Bahia para Brasília, agora já casado, e replanejou seu futuro. Aqui, retomou seus estudos escolares interrompidos no segundo ano do ensino médio, no Rio de Janeiro, por força das atividades militares como soldado.

Estava com 32 anos de idade, quando se formou em letras. Durante o dia, atuava em sua especialidade militar. À noite, lecionava no centro de ensino, hoje extinto, chamado Compacto. A diretora dessa instituição, admirada com a dedicação de nosso amigo, admitiu sua inscrição em curso de especialização em língua portuguesa na mesma instituição em que ele se formara. Então, alma boníssima, ela adaptou os dias dele no magistério aos de aluno na especialização.

Concluído o curso do meu amigo, um professor que lhe fora colega na instituição em que aquele acabara de se especializar, optou por cursar mestrado noutro país. Então, Agricultor ocupou sua vaga, cheio de emoção, ao lembrar-se, no primeiro dia de aula, de seu falecido pai, semianalfabeto, que sonhara proporcionar boa educação, no lar e na escola, para seus filhos...

Nosso amigo já estava com 40 anos, quando foi aprovado na seleção para o cargo de professor de língua portuguesa na Secretaria de Educação do Distrito Federal. Aos 42 anos de idade, foi empossado no cargo efetivo de consultor da Câmara Distrital. Aos 52, concluiu a especialização; aos 55, terminou o mestrado, aos  62, concluiu seu doutorado, todos na Universidade de Brasília (UnB). Não satisfeito, cinco anos depois, concluiu o estágio cultural pós-doutoral na Universidade Estadual da Bahia (UNEB).

Por fim, lembra ao novo amigo Elias que tudo isso começou quando Agricultor já estava com 30 anos de idade, continuou nas décadas seguintes e não quer parar nem mesmo após a desencarnação, por sua certeza de que “a morte não existe”. Apenas trocará temporariamente a roupa física pela espiritual.

Na próxima crônica, relatarei um acontecimento extraordinário narrado pelo Agricultor durante a festa de aniversário de sua filha, citada no início desta narração. Apenas concluo que nunca é tarde para aprender, pois o corpo envelhece, mas a alma proativa e reativa está sempre em busca de novidades.


quinta-feira, 11 de janeiro de 2024

 

EM DIA COM O MACHADO 609 -

O Sonho do Agricultor (Irmão Jó)

 

         Meu amigo Agricultor costuma devanear acordado, por isso já foi também chamado de Voador. Na última madrugada, adormeceu quando o relógio marcava 1h. Antes de dormir, refletiu sobre obra que reputa da máxima importância nos dias atuais. Como lavra também as letras, o Agricultor propusera a uma notável editora seu trabalho de alguns anos na língua portuguesa atual, como ocorre com as bíblias contemporâneas. Entretanto, em virtude de tal obra provocar suscetibilidades, antes de dormir, refletiu que talvez sua proposta fosse mal compreendida.  

Nessa noite, o Agricultor teve o sonho mais lindo de toda as sua vida. Viu-se no segundo andar de um shopping e dirigindo-se a um balcão para solicitar um documento importante. Havia, porém, uma razoável fila com outros postulantes a documento semelhante, e nosso amigo dirigia-se para o final da fila, quando ouviu a moça do atendimento chamá-lo: — Sr. Agricultor, Sr. Agricultor!

Ainda sem entender bem o motivo de ser convidado a fura-fila, meu amigo foi conferir se o chamado era ele mesmo. Aproximou-se da moça do balcão de atendimento, sem que ninguém reclamasse de seu gesto, e viu um papel na mão dela com um bilhete de juiz com a ordem de entregar, prioritariamente, a nosso amigo algumas cópias do documento. Quando recebeu as cópias, ainda foi informado de que o documento original lhe seria entregue no prazo de dez dias.

O Agricultor, tratado como amigo do juiz, observou, ao se afastar, que as folhas recebidas cortavam um pedaço da informação, mas considerou isso desprezível em relação ao conteúdo, que já conhecia. Ao se afastar, foi recebido pelo magistrado, que estava mais adiante, com um abraço e a despedida de até breve.

        Enquanto caminhava para descer ao andar abaixo, nosso amigo viu todo o piso de cima aplaudi-lo. Com naturalidade, ele também bateu palmas, até alcançar, pela escada, o andar inferior. Para sua surpresa, também todas as pessoas que ali estavam aplaudiam-no freneticamente, ao que ele também correspondeu.

        Despertou, por momentos, antes de adormecer novamente e entrar noutros sonhos, e pensou: — Este sonho eu não posso esquecer. E, de fato, ao acordar no raiar do dia, após ter sonhado novamente, o sonho anterior manteve-se vivo em sua memória.

        Antes de levantar-se da cama, outra lembrança aflorou-lhe à mente. E se eu propusesse ao meu amigo diretor submeter meu livro aos demais diretores, além de seu conselho consultivo, mas não como obra pessoal, e sim como um trabalho da equipe da casa? Como não gosta de perder tempo, entrou em contato com o diretor e reiterou-lhe sua proposta para que, no tempo certo, fosse tomada uma decisão sobre o importante livro, cuja autoria, se aprovada constará como: Equipe da Casa X.

        Como somos muito amigos, encontrei o Agricultor em conhecida livraria e dele ouvi esta linda história que agora lhe repasso, alma querida. Quem sabe os dez dias sonhados para o recebimento do documento original não significam dez meses, ou dez anos que terá de aguardar até que a obra proposta à editora, citada no início desta crônica, seja editada? De uma coisa, ele disse-me que tem certeza: um dia a obra ainda será publicada. Então não mais para satisfazer à sua vaidade, mas a um trabalho em equipe, que simbolicamente pode significar os pedaços cortados nas cópias recebidas durante seu sonho.

        Paz e luz!

         

  Propriedade Intelectual (Irmão Jó) Houve época em que produzir Obra de arte legal Era incerto garantir Direito intelectual.   Mas com tant...