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terça-feira, 30 de maio de 2023


 

VIDA

 

Não digas, coração, que a vida é triste,
Porque a vida é grandeza permanente
E a Natureza, em tudo, é um cântico de glória,
Desde o Sol à semente.
 
Mágoas? Dizes que as mágoas lembram trevas,
Que nem de longe sabes entendê-las...
Contempla o céu noturno, revelando
Avalanches de estrelas.
 
Asseveras que os sonhos são feridas,
Quais picadas de espinhos agressores...
Fita o verde das árvores podadas,
Recobertas de flores.
 
Nos dias de aflição, ante a força das provas,
Recorda, na amargura que te oprime,
Que a ostra faz nascer do próprio seio em chaga
A pérola sublime.
 
Assim também, nas trilhas da existência,
Se choras sem apoio e caminhas sem paz,
Não te queixes do mundo... Serve, ama,
Espera e vencerás.
 
A vida!... Toda vida é luz eterna,
Escalando amplidões e buscando apogeus...
E a presença da dor, em qualquer parte,
É uma bênção de Deus.
 
DOLORES, Maria (Espírito). Antologia da espiritualidade. Psicografado por: Francisco Cândido Xavier. 6. ed. 2. imp. Brasília: FEB, 2014.


sábado, 27 de maio de 2023

EM DIA COM O MACHADO 577:
TEMPO E TRABALHO (Irmão Jó)

 


       

     Alma amiga, houve época, na humanidade, em que o trabalho era considerado uma punição de Deus. Na Bíblia, encontramos a maldição divina a Adão de conquistar o pão com o suor do seu rosto. Durante alguns milênios, os homens escravizaram e puseram em trabalhos forçados seus inimigos vencidos em combates sangrentos. O trabalho, entretanto, ainda que seja considerado como expiação, é também instrumento de aperfeiçoamento.

        Olavo Bilac foi cognominado Príncipe dos Poetas Brasileiros, em concurso realizado pela revista Fon-Fon, de 1.º de março de 1913. É dele este belo soneto intitulado O Tempo:

 

Sou o tempo que passa, que passa,
Sem princípio, sem fim, sem medida!
Vou levando a Ventura e a Desgraça,
Vou levando as vaidades da vida!
 
A correr de segundo em segundo,
Vou formando os minutos que correm...
Formo as horas que passam no mundo,
Formo os anos que nascem e morrem.
 
Ninguém pode evitar os meus danos...
Vou correndo sereno e constante:
Desse modo, de cem em cem anos
Formo um século, e passo adiante.
 
Trabalhai, porque a vida é pequena,
E não há para o tempo demoras!
Não gasteis os minutos sem pena!
Não façais pouco caso das horas!
 

 

Refletindo, porém, no que o poeta diz sobre o tempo, calculado em segundos, minutos, horas, anos e séculos, concluímos que esse tempo proposto para bom aproveitamento no trabalho é o tempo do homem na Terra. Nesse caso, pensamos, como seria o tempo de Deus com bom proveito por nós? Então, em nossos devaneios literários, inspirado no poema de Bilac, escrevemos o poema abaixo, que intitulamos como o Tempo de Deus: 

 

Eu sou tempo divino da graça,
Que jamais teve início, nem fim...
E no espaço da hora que passa,
Muita história já passou por mim.
 
Nos poetas, filósofos, santos
O que passa são seus pensamentos.
Eu registro essas vozes, no entanto,
Muitas delas se vão como ventos...
 
Sou eterno presente no espaço,
Tanto quanto o passado e o futuro,
Vou além do espaço que traço,
Tudo vejo do verde ao maduro...
 
Vive em mim o eterno devir,
Antevisto, por dentro e por fora,
Como tempo de amar e servir
No trabalho da obra de agora.

 

        Finalizo com esta bela frase do Espírito Abel Gomes, publicada na obra Falando à Terra, psicografada por Chico Xavier, sob o título: Notícias: “À maneira que nos desenvolvemos em sabedoria e amor, consideramos a perda dos minutos como sendo a mais lastimável e ruinosa de todas”.

sexta-feira, 26 de maio de 2023

 


DÁDIVAS DE AMOR
 
Uma carta...Um olhar, uma palavra boa;
Uma frase de paz que asserena e abençoa;
 
 Leve prato de sopra ou simples pão
 Podem livrar alguém de cair na exaustão;
 
 Antigo cobertor, atirado ao vazio,
 Aquece o enfermo pobre esquecido no frio;
 
 Uma peça de roupa remendada
 Talvez seja o agasalho ao viajor da estrada;
 
 Meio litro de leite à viúva sem nome
 Ampara-lhe o filhinho, a esmorecer da fome.
 
 Todas essas doações supostas pequeninas
 São serviços do Bem, nas paragens divinas;
 
 São flores da fé viva, a derramarem luz,
 Revelando o fulgor do Reino de Jesus.
 
 Aqui, nós saudamos Gonçalves, nosso irmão,
 Que ontem foi conduzido à Celeste Mansão.
 
 Que o Céu do Amor o guarde, ante a nossa saudade,
 Apóstolo do Bem e Herói da Caridade.
 
DOLORES, Maria (Espírito). Dádivas de amor. Psicog. Chico Xavier. 1. ed. Brasília: FEB: São Paulo, SP: IDEAL, 2022.

 


quinta-feira, 25 de maio de 2023

 



SÚPLICA DE MULHER
 
E disseste Senhor: “Ide e pregai”.
Aqui estou
Para ouvir-te a palavra e dar-lhe desempenho,
Muito embora os defeitos que ainda tenho,
Para estender às criaturas
As notícias do amor de Nosso Pai...
 
Que dizer, entretanto,
Ao coração que se encharcou de pranto
Pelo extremo cansaço?
Ao companheiro que se entrega ao crime,
Sem que eu consiga desarmar-lhe o braço?
Ao homem sem apoio a que se arrime,
Vendo um filhinho enfermo,
Entre a penúria e a morte?
E ao outro que se rende a desmando profundo,
Criando chagas vivas para o mundo
Sem mão que as reconforte?
Que falarei, Senhor,
À criança que vaga sem amor,
Ao coração de Mãe com um filho ao colo,
A estirar-se no solo,
Em aflição tremenda,
Com febre e inanição,
Sem qualquer agasalho que as defenda,
Sem qualquer proteção?
Que palavras direi, Senhor Jesus,
Aos que andam sem luz.
E anseiam por fugir, num derradeiro aceno,
Entornando na boca a dose de veneno?
 
Que frases tecerei, Amado Amigo,
Aos que vão, em saber, entre a sombra e o perigo,
Nas trilhas da descrença
Sobre as quais se conjuga
A droga utilizada para a fuga?
Aos que caem, por fim, no desespero inglório,
Buscando apoio e luz, na paz de um sanatório?
Que falarei, Senhor,
Aos que perderam corações queridos
E esquadrinham na lousa
O conforto que tarda,
Procurando na cinza o que a cinza não guarda?
Que direi aos doentes
Que acordam sobre a mesa
De abençoada cirurgia,
Ao se verem sem mãos
Ou reclamando as pernas amputadas?
 
Que direi, meu Jesus,
Aos pais que viram mortos
Filhos queridos nas estradas
Ou nas pedras da rua,
Através de terríveis acidentes,
Sem saberem que a vida continua
Em planos diferentes?
 
Ah! sim, Jesus, já sei o que dizer...
Direi que sempre existes
E que reanimarás todos os tristes,
Que pela fé que nos alcança
Temos contigo a fonte da esperança;
Que a ninguém deixarás, de espírito sozinho,
Que nos socorrerás de caminho em caminho,
Na proteção com que nos agasalhas,
Que embora as nossas falhas,
Nós todos somos teus
Tutelados que levas para Deus!...
 
E se alguém estranhar
Seja eu a singela mensageira
A proclamar o brilho de teu nome,
Dentro da imperfeição que me consome
E nas fraquezas de que me assinalo,
Direi aos companheiros de quem falo
Dos amados amigos que me deste,
Que te espalham no mundo a Bondade Celeste,
Trabalhando e servindo, em qualquer parte,
Ao seguir-te e ao louvar-te...
 
E, quanto a mim, Senhor,
Que me entrego, de todo e sem reservas,
Ao teu apostolado redentor,
Explicarei que me conservas,
Em minha ignorância e pequenez,
Tão só para levar,
Seja aonde for,
O meu simples cartaz
Enfeitado de amor,
Entre flores de paz,
Sobre o qual escrevi
Com tua permissão,
Estas sete palavras de oração,
De fé, respeito e luz:
— “Confiamos em Deus na bênção de Jesus”.
 
DOLORES, Maria (Espírito). Maria Dolores. Psicografado por Chico Xavier. 1. ed. Imp. pequenas tiragens. Brasília: FEB; São Paulo: IDEAL, 2022.


terça-feira, 23 de maio de 2023

 


ORAÇÕES CONCRETAS
 
Com as próprias ações que fazes e arquitetas,
Tens o ensejo feliz das orações concretas.
 
 Muitas preces verbais, com a justa exceção,
 Caem no campo extenso e frio da ilusão...
 
 O pão que destinaste ao pobre sem ninguém,
 É a força que te traz o conforto do Além.
 
 O amparo que ofereces aos recém-nascidos,
 É proteção e amor para os entes queridos.
 
 Roupa usada que dês ao filho da indigência,
 É auxílio aos teus conflitos na existência.
 
 Perdão sem condições à ofensa recebida,
 É o socorro do Céu que te garante a vida.
 
 Em toda parte estão os agentes da Luz,
 Acrescentando paz às bênçãos de Jesus.
 
 Todo o bem que se faz e do qual não se cansa,
 É bondade, paciência, alegria e esperança.
 
 Desde o homem mais nobre aos últimos plebeus,
 A caridade, em si, é a Presença de Deus.
 
DOLORES, Maria (Espírito). Dádivas de amor. Psicog. Chico Xavier. 1. ed. Brasília: FEB: São Paulo, SP: IDEAL, 2022.

 


segunda-feira, 22 de maio de 2023

 

PROMESSA DA VIDA

 
No caminho terrestre, alma fraterna e boa,
Não afirmes que o mundo te constringe,
Que a dor, em toda parte, é a mesma esfinge,
Enigma cruel que te aflige e atordoa.


Trabalho para o bem é paz e disciplina,
Sofrimento é esmeril que refaz e aprimora,
Qualquer tribulação é sempre a grande escora,
Contra a força do mal que nos chama ou fascina.
 
Torvas humilhações na aspiração vencida,
Pedrada, incompreensão, sarcasmo, insulto,
Tempestades de pranto amargo e oculto.
São recursos do Céu, enaltecendo a vida.
 
Lutas e provações? Silencia ao vencê-las,
Humilha–te servindo, ama, eleva e confia!...
Segue a trilha da fé e encontrarás, um dia,
As moradas do amor, no País das Estrelas!...
 
DOLORES, Maria (Espírito). Estrelas no chão. In: ESPÍRITOS Diversos. 3. ed. São Bernardo do Campo, SP: Grupo Espírita Emmanuel — GEEM, 2010.

 

domingo, 21 de maio de 2023

 


PERDOA E SERVE
 
A mágoa não te aborreça
Nem te conturbe a alma aflita,
A frase que seja dita
Destacando a sombra e o mal.
A Terra é uma grande escola
De beleza indefinida,
Mas, por vezes, tem na vida
A importância do hospital.
 
Quantos amigos encontras
De cabeça erguida à frente,
Sem mostrar a alma doente
Sob a forma juvenil,
Esse transporta consigo
As trevas de ódio violento,
Outro guarda o sofrimento
Que vem de amarguras mil.
 
Aquela mulher vistosa
De porte belo e perfeito
Exibe uma cruz no peito
Por adorno de eleição;
Mas, embora vive em festa,
Carrega junto a quem ama
Uma cruz de pedra e lama
Por dentro do coração.
 
Alma querida, não deixes
Que a mágoa te busque ou vença,
Perdoa qualquer ofensa,
Seja essa ofensa qual for;
Na luta entre o bem e o mal
Na construção do porvir,
Triunfa quem sabe agir
Usando a bênção do amor.
 
DOLORES, Maria (Espírito). Alma e vida. Psicografado por: Francisco Cândido Xavier. São Paulo: Cultura Espírita União, 1984.


sábado, 20 de maio de 2023

 

EM DIA COM O MACHADO 576:
O ESPIRITISMO E O EVANGELHO DE JESUS (Jó)

 

    Allan Kardec, no item 8 da conclusão d’O Livro dos Espíritos, informa-nos que o Espiritismo confirma a moral do Cristo, como também esclarece o sentido de suas verdades ensinadas de modo alegórico. Deixa claro que, assim como Jesus veio revelar-nos o “caminho do verdadeiro bem” e relembrar a Lei Divina, o Espiritismo veio recordar-nos, mais precisamente, essa Lei, o que agora ocorre pela voz dos espíritos superiores, sob a coordenação do Cristo.
    Um desses inumeráveis espíritos que se manifestaram por diversos médiuns, em especial por Chico Xavier, é João de Deus, grande poeta, em vida física, da Literatura Portuguesa. A seguir, compartilho um dos seus poemas, publicado na obra Lira Imortal, cujo título é Espiritismo:
 
O Espiritismo é a ilha da bonança,
No oceano de lágrimas e de dor,
Onde o homem cansado e sofredor
Encontra o porto amigo da esperança.
 
Porto claro e feliz, onde a alma alcança
Os tesouros de fé, crença e amor,
Sob as bênçãos divinas do Senhor,
E onde a vida decorre calma e mansa.
 
É na doutrina da fraternidade
Que o coração de toda a humanidade
Há de alcançar mais vida, paz e luz.
 
Somente o seu ensino verdadeiro
Pode reunir na Terra o mundo inteiro
No Evangelho sublime de Jesus.
 
    E o Espírito Emmanuel, guia espiritual de Chico, no fim de sua mensagem intitulada Jesus e César, publicada na obra Coletânea do Além, deixa-nos as seguintes frases para nossa reflexão e atitudes no mundo físico, breve escola da vida, e no mundo espiritual, onde será aferida cada uma de nossas ações:
 
Na atualidade do mundo, o Espiritismo é aquele Consolador prometido, enfeixando nova e bendita oportunidade de redenção. Em seu campo doutrinário, a verdade de Deus não está algemada, seus felizes estudantes e seguidores podem aquecer o coração ao sol da liberdade íntima, sem obstáculos na marcha da consciência para a realização divina (op. cit.).
 
    Conclusão: assim como todos os emissários espirituais do Cristo, Emmanuel confirma o Espiritismo como Consolador prometido e presidido por Jesus, como lemos em João, 14:16 a 18. Nele, o Evangelho de Jesus é explicado sem alegorias, para quem deseje pô-lo em prática, com o objetivo de aperfeiçoar-se espiritualmente.


sexta-feira, 19 de maio de 2023

 

ALIMENTO E VIDA

 
Disse Jesus na Terra: "Eu sou o pão da vida".
E ansiando seguir os passos do Senhor,
Quis ser, de minha parte, a migalha sem nome
De algo que alimentasse a estranha fome
Dos que morrem no mundo à carência de amor.
 
Indaguei do mentor que me assistia,
Quanto a ideia de que me via presa
E ele apenas me disse: "Se procuras
Nutrir o coração das criaturas,
Ouve as informações da Natureza".
 
Interroguei a Terra e a Terra falou calma:
"Para a manutenção dos seres que acalanto,
Preciso tolerar enxadas e tratores
E abrir-me em golpes dilaceradores
Sem que ninguém me veja o sofrimento".
 
Velho tronco explicou-me: "Vivo ao tempo,
Trabalhando sem perda de minutos,
Renovo o ar, produzo fartamente,
Mas padeço agressões de muita gente,
Sem que eu possa contar meus próprios frutos".
 
Entrevistando o trigo, ei-lo a dizer-me:
"Devo entregar-me sem explicação
À mó que me constringe e me tritura,
Fazendo-me farinha clara e pura,
Que assegure na mesa o júbilo do pão".
 
Em tudo achei no alento para a vida
O extremo sacrifício em constante processo...
Plantas gemendo em todos os instantes
E óleo a queimar-me em máquinas gigantes,
Sustentando a energia do progresso.
 
Reconheci então ser preciso esquecer-me,
Apagar-me ao servir, alegrar-me na dor,
Aprender humildade, aparar sem barulho
E despojar-me, enfim, de todo o humano orgulho
Para ser luz e paz, auxílio e amor.
 
DOLORES, Maria; MEIMEI. (Espíritos). Somente amor. 1. ed. – Impressão pequenas tiragens. Brasília: FEB; São Paulo: IDEAL, 2022, cap. 4.


segunda-feira, 15 de maio de 2023

 EM FAMÍLIA (15 de maio, Dia Internacional da Família)

 


"A família consanguínea é a lavoura de luz da alma, dentro da qual triunfam somente aqueles que se revestem de paciência, renúncia e boa vontade. 

De quando a quando, o amor nos congrega, em pleno campo da vida, regenerando-nos a sementeira do destino. 

Geralmente, não se reúnem a nós os companheiros que já demandaram à esfera superior, dignamente areolados por vencedores, e sim afeiçoados menos estimáveis de outras épocas, para restaurarmos o tecido da fraternidade, indispensável ao agasalho de nossa alma, na jornada para os cimos da vida. 

Muitas vezes, na condição de pais e filhos, cônjuges ou parentes, não passamos de devedores em resgate de antigos compromissos. 

Se és pai, não abandones teus filhos aos processos evolutivos da natureza animal, qual se fora menos digno de atenção que a hortaliça da tua casa. 

A criança é um "trato de terra espiritual " que devolverá o que aprende, invariavelmente, de acordo com a sementeira recebida. 

Se és filho, não desprezes teus pais, relegando-os ao esquecimento e subestimando-lhes os corações, como se estivessem em desacordo com os teus ideais de elevação e nobreza, porque também, um dia, precisarás da alheia compreensão para que se te aperfeiçoe na individualidade a região presentemente menos burilada e menos atendida. 

A criatura no acaso da existência é o espelho do teu próprio futuro na Terra. 

Aprende a usar a bondade, em doses intensivas, ajustando-a ao entendimento e à vigilância para que a tua experiência em família não desapareça no tempo, sem proveito para o caminho a trilhar. 

Quem não auxilia a alguns, não se acha habilitado ao socorro de muitos. 

Quem não tolera o pequeno desgosto doméstico, sabendo sacrificar-se com espontaneidade e alegria, a benefício do companheiro de tarefa ou de lar, debalde se erguerá por salvador de criaturas e situações que ele mesmo desconhece. 

Cultiva o trabalho constante, o silêncio oportuno, a generosidade sadia e conquistarás o respeito dos outros, sem o qual ninguém consegue ausentar-se do mundo em paz consigo mesmo. 

Se não praticas no grupo familiar ou no esforço isolado a comunhão com Jesus, não te demores a buscar-lhe a vizinhança. a inspiração e a diretriz.* 

Não percas o tesouro das horas em reclamações improfícua ou destrutivas. 

Procura entender e auxiliar a todos em casa, para que todos em casa te entendam e auxiliem na luta cotidiana, tanto quanto lhes seja possível. 

O lar é o porto de onde a alma se retira para o mar alto do mundo, e quem não transporta no coração o lastro da experiência dificilmente escapará ao naufrágio parcial ou total. 

Procura a paz com os outros ou a sós. 

Recorda que todo dia é dia de começar." 

Emmanuel (Psicografado por Chico Xavier. Livro: Família. São Paulo: Cultura Espírita União, 1981.                               

* Referência à importância do culto do evangelho no lar.

 


PÁGINA DE GRATIDÃO
 
Agradeço, alma querida e boa,
A presença e o carinho
Com que vens partilhar a festa da amizade,
Espargindo esperança ao longo do caminho.
 
Sei que deixastes obrigações ao longe
Para colaborar
No alívio aos companheiros que carregam
Solidão, abandono, infortúnio, pesar...


Trocaste as horas de refazimento,
De alegria e lazer,
Para aceitar conosco o amparo aos semelhantes
Por sublime dever.
 
A ternura fraterna que nos trazes
Lembra clarão de renascente aurora,
Dissipando, de chofre, a sombra que domina,
A dor que se tresmalha e a penúria que chora.
 
Por mais rebusque o mundo das palavras,
Não consigo compor
A frase que enalteça ou que defina
O teu gesto de amor.
 

Por isso, digo apenas,
Ante a luz da oração que nos bendiz:
 Deus te guarde, alma irmã, Deus te compense,
Deus te faça feliz!...  

 
Psicografia em Reunião Pública. Data – 29-8-1971.
Local – Chá Beneficente, em favor das obras assistenciais da Comunhão Espírita Cristã, em São Paulo – Capital.
ESPÍRITOS Diversos. Taça de luz. Psicografado por Francisco Cândido Xavier, Uberaba, 1972.


 


MÃE, DEUS TE ABENÇOE!... 


Quero, mãezinha, agradecer-te, em festa, por tudo o que me dás ao coração, entretecer-te uma canção modesta, mas todo esforço é vão...

Se pudesse dizer a gratidão que sinto por teu santo carinho protetor, precisaria conhecer na essência toda a glória do Amor.

Tens o segredo da Bondade Eterna, Deus me acena e sorri por tua face... Não há sábio no mundo que defina o Sol quando aparece, o lírio quando nasce!...

Falar de ti, mostrar-te? Isso seria como explicar da Terra, olhando a Altura, a doce maravilha de uma estrela a guiar o viajor em noite escura.

Converto em prece o reconhecimento, que em meu peito humilde se extravasa, rogando ao Céu te envolva em rosas de ventura, anjo sustentador de nossa casa!...

Deus te guarde, mãezinha, pelo berço, descuidado e risonho, em que me acalentaste para a vida, como flor de teu sonho.

Deus te engrandeça pelos sacrifícios e pelos sofrimentos que te impus, quando em pranto escondido te arrasavas para ser minha Luz.

Deus te compense pelas noites tristes de aflição que te dei, pelo perdão de tantas vezes, tantas!... Quantas foram, não sei...

Deus te enalteça a fonte de ternura, que nunca se enodoa e nem se cansa, pelo cuidado com que me restauras, ante o dom do trabalho e a forca da esperança! 

Perdoa se te oferto unicamente, na minha devoção de todo dia, o meu ramo de flores orvalhadas nas lágrimas que choro de alegria! 

Com júbilos divinos, Mãe querida, que a celeste bondade te coroe!... Por tudo o que nos dá nos caminhos da vida, Deus te exalte e abençoe!... 

DOLORES, Maria (Espírito). In: ESPÍRITOS Diversos. Luz no lar. Psicografado por Francisco Cândido Xavier. Rio de Janeiro: FEB, 1968, cap. 65.


domingo, 14 de maio de 2023

 


AMOR PARA SEMPRE 

A senhora viúva, dia a dia,
Sob os efeitos de uma hemiplegia,
Trazia a própria vida concentrada
Na cadeira de rodas, manejada
Por amiga enfermeira.
 
Dos parentes mais íntimos
Um filho lhe restava, um filho só,
O filho que ela amava enternecidamente...
Marido, pais, irmãos, chamados pela morte,
Deixaram-lhe na vida
Muita emoção frustrada
E aquele moço forte
Que não lhe confortava a existência dorida,
Muito embora abastada.

Achando-nos na véspera do dia
Que marcaria o enlace do rapaz,
A mãezinha doente
Num misto de alegria,
De esperança e de paz
Entregou-lhe, feliz, tudo quanto possuía:
A fazenda, as ações de grande companhia,
Os créditos de banco e a linda moradia,
 A dizer-lhe, contente:
 — Filho, tudo o que tenho é seu...
 De amanhã para a frente,
 Passo a morar no estreito pavilhão
 Que seu pai construiu ao fundo da mansão.
 Desejo ver você e a jovem companheira
 Sempre felizes, sem cuidados...
 Toda alegria agora para mim
 Será sabê-los sossegados,
 Ante a bênção de Deus, na visão do futuro...
 
 O filho comovido
 Beijou-lhe as mãos num gesto de amor puro
 E agradeceu a doação materna,
 Prometendo-lhe em voz macia e terna,
 Pela jovem com quem se casaria
 Segurança, carinho, convivência
 Para todas as horas da existência
 Que desejava fossem
 Adornadas de paz e de alegria.
 
Depois do enlace, a enferma recebia
Cartões lindos da Europa...O casal de viajores
Via a lua-de-mel por um mundo de flores...
Ambos davam notícias da beleza
De Lisboa e Paris, de Florença e Veneza...
 
 Mas de retorno ao lar, após a festa
 De comemoração do regresso feliz
 A dama recebeu na vivenda modesta
 O jovem par... E a nora exigente lhe diz:
 — Minha sogra, ouça bem!...
 Seu filho e eu
 Pensando em seu descanso,
 Resolvemos agora transferi-la
 Para um lar de repouso, um abrigo claro e manso
 Onde a senhora viva mais tranquila.
 Precisamos aqui viver a sós,
 Não pretendemos tê-la junto a nós.


 Porque a pobre espantada procurasse
 O olhar do filho amado para ver
 A atitude interior que lhe viesse à face,
 Ele mesmo aduziu:
 — É um pouso geriátrico, mãezinha,
 A senhora, por lá, não estará sozinha.


 Nada disse a velhinha, posta a um canto,
 Tão somente mostrou silêncio e pranto...
 
 No dia imediato,
 Mudara-se-lhe o trato...
 Internada num belo casarão,
 Apesar da gentil acompanhante,
 Eis que saudade enorme a domina e consome...
 O recinto de luxo para ela,
 Alma nobre e singela,
 Tinha apenas um nome:
 "Exílio e solidão".
 
 Seis meses transcorreram, lentamente,
 Não mais tornou a ver o filho ausente
 E sem que a pompa, em torno, a reconforte,
 A velhinha mais triste e mais doente,
 De mágoa em mágoa, vagarosamente,
 Entregou-se, de todo, às mãos da morte...

 Ante as indagações do verniz social,
 Deu-se-lhe sobre a Terra um lindo funeral...
 
 A pobre repousou num sono longo e raro;
 Mais tarde, despertou solicitando amparo.
 Junto dela, um Emissário de Vigia,
 Descortinou-lhe os Céus, comentando a alegria
 Que a esperava na Altura...

 A pobre mãe, porém, perguntou com ternura:
 — E meu filho onde está?

 — Sem dúvidas quaisquer – falou-lhe o mensageiro –
 Tanto quanto ficou, seu filho ficará
 Por muito tempo ainda em franco cativeiro,
 Tem muito que lutar, nos encargos que leva,
 Entre as forças da Luz e as tentações da treva...
 Mas você, minha irmã, pode elevar-se agora,
 Pelo sacrifício e devoção ao Bem,
 Mundos da Eterna Aurora
 Esperam-na no Além...
 
 A senhora, porém,
 Expressando respeito àquelas diretrizes,
 Disse, calma e sincera:
 — Não aspiro a viver entre os mundos felizes!...
 Voltar a ver e acompanhar meu filho,
 Sem qualquer empecilho,
 É todo o Céu de minha longa espera.
 
 O Mensageiro que lhe conhecia
 Os tempos de doença e de agonia
 Anotou com brandura:
 — Irmã, descer da Altura Imensa
 A fim de trabalhar sem recompensa
 Em favor dessa ou daquela criatura
 É conquistar maior merecimento...
 Para estar com seu filho, em constante união,
 Precisará viver
 Sob o regime da reencarnação...
 E, acaso, aceitará por mãe a própria nora?
 
 — Como não, anjo bom? – replicou a senhora –
 Se Deus me consentir, assim regressarei,
 Creio que a luz do amor é o princípio da Lei;
 Se tenho no meu filho a bênção que procuro,
 Como menosprezar a jovem que ele adora?
 Amá-lo-ei melhor por minha nora
 De quem devo ser filha no futuro...
 Hei de amá-la também, voltando a ser criança,
 Sempre encontrei no amor divina maravilha,
 Minha nora no lar me acolherá por filha,
 Serei nos braços dela uma nova esperança...
 Envolverei meu filho e ela em meu sorriso,
 Todo berço na Terra aponta o Paraíso...
 
 Cinco anos passaram sobre o Tempo...
 Hoje anotei um trio encantador:
 Ante a filhinha: - luz recém-nascida –
 Disse o pai ao beijá-la: "Minha vida!"...
 A criança sorriu no berço cor-de-rosa
 E a mãezinha, a enfeitar-lhe o corpinho de flor,
 Exclamou comovida e venturosa:
 — "Deus te abençoe, meu anjo, meu amor!..."


sábado, 13 de maio de 2023


 

DESPEDIDA MATERNA 

Recordo, filho meu... A tarde se enovela.
Quase noite... Nós dois e a dor indefinida...
Os soluços de mãe, na extrema despedida...
Os soluços do filho ao separar-se dela.
 
Crisântemos no chão e vozes na capela...
Abraças-me na sombra... Abraço-te vencida,
Arrasada de pranto... É a hora da partida...
Sinto os braços de alguém, rente à cova singela.
 
Quanto tempo se foi!... Hoje, volto a beijar-te,
Filho do coração que vejo em toda parte...
Não te lamentes mais!... Ama, espera, confia!
 
Finda a saudade atroz, na jornada insegura,
Deus nos envolverá na suprema ventura,
De um novo lar de luz na celeste alegria!...
 
DOLORES, Maria (Espírito). Estrelas no chão. In: ESPÍRITOS Diversos. 3. ed. São Bernardo do Campo, SP: Grupo Espírita Emmanuel — GEEM, 2010, p. 37.

 


 

EM DIA COM O MACHADO 575
O TRABALHO MOVE O MUNDO (Jó)

 


 

 

        Alma irmã, vinha eu caminhando por uma  pista de entrequadras de Brasília, quando de repente, não mais que de repente, como diria o poeta Vinicius de Morais em seu Soneto de Separação, vi uma cena maravilhosa: pequena formiga transportava folha 20 vezes maior e mais pesada que ela.

        Evitei esmagá-la com o pé, quando a formiga já atravessava meio metro da pista de cerca de dois metros de largura. Em seguida, refleti na grandeza de Deus, que “faz nascer o sol e cair a chuva sobre  justos e injustos”, como disse Jesus. Retrocedi vários passos, almejando (palavra rebuscada em troca de desejando) fotografá-la. Tudo inútil, a formiga já desaparecera do outro lado da pista com sua gigantesca folha verde.

        Mais tarde, lembrei-me da fábula da cigarra e da formiga. Sabe por quê? Ambas trabalhavam, mas só uma cantava, embora a lição que por décadas nos tenha sido passada fosse a de que o canto da cigarra representaria pura preguiça de obrar.

        Negativo! A cigarra canta com dois propósitos: amar para procriar e “anunciar a chegada da primavera”. A pobrezinha inda paga caro pelo seu encantador canto, ao atrair pássaro que a devora.

        Ai do mundo sem a sublimidade das canções!

        Voltando ao trabalho da formiga, também refleti numa frase muito falada como incentivo a certas pessoas: “Deus não escolhe os capacitados, capacita os escolhidos”, o que se parece com a “doutrina da graça”. Tremenda injustiça, se visto pelo crivo de existência única e de diferentes aptidões na mesma existência.

        Albert Einstein, a quem é atribuída a frase, diria mais: “Fazer ou não fazer algo só depende de nossa vontade e perseverança”. Agora, sim, dá para perceber que é de nosso esforço que vem a ajuda divina. Se nos acomodarmos na lamentação e preguiça, invejando os que, a nosso ver, são  mais capazes que nós, é porque não perseveramos como tais pessoas e não por um privilégio divino.

        A resposta da questão 133 d’O Livro dos Espíritos mostra-nos, claramente, a inexistência de privilégios e sim merecimento baseado nos esforços individuais: “Todos são criados simples e ignorantes e se instruem nas lutas e tribulações da vida corpórea. Deus, que é justo, não podia fazer felizes a uns, sem fadigas e sem trabalho e, por conseguinte, sem mérito”.

        Como vimos, no início, desde suas mínimas criaturas, é por meio do trabalho que Deus impulsiona a vida. Tendo essa certeza foi que Machado de Assis, “o Bruxo do Cosme Velho”, afirmou numa de suas crônicas: “O trabalho move o mundo”.

sexta-feira, 12 de maio de 2023

 


MÃE
 
Procurei ansiosamente
Um símbolo do amor de Deus no mundo,
Carinho permanente,
Amor que nada mais pedisse à vida,
A fim de estar contente,
Que o dom de ser amor sublimado e profundo...
 
Vi o Sol trabalhando sem cansaço
Doando-se sem pausa, alto e bendito,
O astro imenso, porém, pedia espaço,
De maneira a brilhar nas telas do Infinito.
Julguei achar na fonte esse traço perfeito,
Fitando-lhe a corrente a servir sem parar,
Mas a fonte exigia a hospedagem do leito
A fim de prosseguir à procura do mar.
Fui à árvore amiga e anotei-lhe a lição:
Conquanto a se entregar tanto aos bons quanto aos brutos,
Precisava defesa e vínculos nos chão
Ao fornecer, sem paga, a riqueza dos frutos.
Vi a abelha no favo a pedir mel às flores,
Nuvens para servir solicitando alturas,
Escolas em função buscando professores
E o lar para ser lar exigindo estruturas.
Toda força do bem que ao bem se entregue
Em bondade constante e em contínua grandeza,
Assegura-se, vive, auxilia e prossegue,
Algo requisitando ao Mundo e à Natureza.
 
Em ti, unicamente, Mãe querida,
Encontro o amor que nasce e cresce, em suma,
No sacrifício puro, acalentando a vida,
Sem reclamar da Terra cousa alguma.
 
Eis porque sobre todo amor que existe
As Mães são guias, anjos, cireneus,
Cujo brilho por si nos protege e persiste
Em ser somente amor, no excelso amor de Deus.
 
Estrela, Deus te guarde em teu fulgor celeste!...
Agradeço-te a luz, o carinho e o perdão...
Bendita sejas, Mãe, porque me deste
A presença de Deus no coração.
 
DOLORES, Maria; MEIMEI. (Espíritos). Somente amor. 1. ed. – Impressão pequenas tiragens. Brasília: FEB; São Paulo: IDEAL, 2022.


  Propriedade Intelectual (Irmão Jó) Houve época em que produzir Obra de arte legal Era incerto garantir Direito intelectual.   Mas com tant...