EM DIA COM O MACHADO
575
O TRABALHO MOVE O
MUNDO (Jó)
Alma irmã, vinha eu caminhando por
uma pista de entrequadras de Brasília,
quando de repente, não mais que de repente, como diria o poeta Vinicius
de Morais em seu Soneto de Separação, vi uma cena maravilhosa: pequena
formiga transportava folha 20 vezes maior e mais pesada que ela.
Evitei esmagá-la com o pé, quando a
formiga já atravessava meio metro da pista de cerca de dois metros de largura.
Em seguida, refleti na grandeza de Deus, que “faz nascer o sol e cair a chuva
sobre justos e injustos”, como disse
Jesus. Retrocedi vários passos, almejando (palavra rebuscada em troca de desejando)
fotografá-la. Tudo inútil, a formiga já desaparecera do outro lado da pista com
sua gigantesca folha verde.
Mais tarde, lembrei-me da fábula da
cigarra e da formiga. Sabe por quê? Ambas trabalhavam, mas só uma cantava,
embora a lição que por décadas nos tenha sido passada fosse a de que o canto da
cigarra representaria pura preguiça de obrar.
Negativo! A cigarra canta com dois
propósitos: amar para procriar e “anunciar a chegada da primavera”. A
pobrezinha inda paga caro pelo seu encantador canto, ao atrair pássaro que a
devora.
Ai do mundo sem a sublimidade das
canções!
Voltando ao trabalho da formiga, também
refleti numa frase muito falada como incentivo a certas pessoas: “Deus não
escolhe os capacitados, capacita os escolhidos”, o que se parece com a
“doutrina da graça”. Tremenda injustiça, se visto pelo crivo de existência
única e de diferentes aptidões na mesma existência.
Albert Einstein, a quem é atribuída a
frase, diria mais: “Fazer ou não fazer algo só depende de nossa vontade e
perseverança”. Agora, sim, dá para perceber que é de nosso esforço que vem a
ajuda divina. Se nos acomodarmos na lamentação e preguiça, invejando os que, a
nosso ver, são mais capazes que nós, é
porque não perseveramos como tais pessoas e não por um privilégio divino.
A resposta da questão 133 d’O Livro
dos Espíritos mostra-nos, claramente, a inexistência de privilégios e sim
merecimento baseado nos esforços individuais: “Todos são criados simples e
ignorantes e se instruem nas lutas e tribulações da vida corpórea. Deus, que é
justo, não podia fazer felizes a uns, sem fadigas e sem trabalho e, por
conseguinte, sem mérito”.
Como vimos, no início, desde suas
mínimas criaturas, é por meio do trabalho que Deus impulsiona a vida. Tendo
essa certeza foi que Machado de Assis, “o Bruxo do Cosme Velho”, afirmou numa
de suas crônicas: “O trabalho move o mundo”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário