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terça-feira, 29 de junho de 2021

 

Em dia com o Machado 477

Os poetas "mortos" estão vivos (Jó)

 


       Estive pensando sobre o que escrever e encontrei em minha modesta estante de livros espíritas a inspiração para escrever esta crônica. Ela está na obra de Lamartine Palhano Júnior e Dalva Silva Souza: A imortalidade dos poetas "mortos".

       A obra é tese que foi aprovada para publicação pela Fundação Espírito-Santense de Pesquisa Espírita. Sua "contribuição ao estudo da sobrevivência da alma após a morte", assim como a possibilidade da "comunicabilidade dos Espíritos com o mundo corpóreo", é "evidente", de acordo com o que é informado por essa instituição na folha de rosto do livro.

       Os sonetos atribuídos ao Espírito Cruz e Sousa, já publicados por mim em análises passadas, estão contidos nas páginas 155 a 170 do livro. Todos eles foram psicografados por oito médiuns: Chico Xavier, Waldo Vieira, Dolores Bacelar, Ismael Gomes Braga, Porto Carreiro Neto, Hernani T. Sant'Ana, Gilberto Campista Guarino e Dora Incontri. Sucinta biografia desses médiuns, que atesta sua idoneidade moral e altíssima formação intelectual, é colocada antes de cada produção mediúnica.

       Revendo a obra, percebo que o estudo feito pelo prof. dr. Palhano Júnior e pela professora Dalva, ambos com destacada atuação no magistério e em instituições espíritas, é digno de ser lido e discutido no ensino da literatura, quando se trata de estudar a literatura espírita, nas instituições religiosas e científico-culturais.

       Além de Cruz e Sousa, a obra contém produções poéticas de alguns espíritos de nacionalidade brasileira e portuguesa. Alguns são pouco conhecidos e outros têm renome internacional, tais como: Antero de Quental, Augusto dos Anjos, Castro Alves, João de Deus e Olavo Bilac.

       Como bem esclarecem os organizadores da obra, os estilos individuais, com suas particularidades a identificarem a autoria dos poemas, estão neles manifestos. Como não poderia deixar de ser, também podemos identificar nos poemas as características próprias do estilo de época. Os autores fazem uma análise lúcida e bem fundamentada da obra, tanto da teoria espírita quanto da não espírita.

       Pelo seu estilo inconfundível, concluo com a citação de um poema atribuído ao Espírito Augusto dos Anjos, recebido pela médium Dolores Bacelar. Entretanto, ainda se encontram no livro sonetos desse poeta psicografados por Chico Xavier, Waldo Vieira, Jorge Rizzini, Hernani Sant'Ana, Gilberto Campista Guarino e Dora Incontri. Vamos ao soneto transmitido a Bacelar por Augusto dos Anjos:

Fui

Fui o absconso ser de alma escravizada

Aos distúrbios mentais da hipocondria,

Que desde a espermatose, a embriogenia,

Sentia a ânsia da carne já tarada.

 

Que ao devolver o escasso corpo ao nada,

Resto podre de nata idiopatia,

Viu que a Flama da vida persistia

Independente da carne estagnada.

 

Que essa Flama aspirando à Luz sidérea,

Desce à lama, à carne deletéria,

Sofre o espasmo da morte transitória.

 

Para do Eu extirpar todo o excremento,

E após divinizado o Sentimento,

Atingir a Perfeição, o Céu, a Glória.

 

      

domingo, 27 de junho de 2021

 O Céu e o Inferno

 

Allan Kardec

Por Astolfo Olegário Oliveira Filho 

Parte 9

 

Continuamos o estudo metódico do livro “O Céu e o Inferno ou A Justiça Divina segundo o Espiritismo”, de Allan Kardec, com base na 1ª edição da tradução de João Teixeira de Paula publicada pela Lake.

Caso o leitor queira ter em mãos o texto consolidado dos estudos relativos à presente obra, para acompanhar, pari passu, o presente estudo, basta clicar em http://www.oconsolador.com.br/linkfixo/estudosespiritas/principal.html#ALLAN e, em seguida, no verbete "O Céu e o Inferno”.

Eis as questões de hoje:

 

65. Como devemos encarar a prova da riqueza?

Segundo informação transmitida pelo Espírito da condessa Paula, a prova da riqueza é realmente muito perigosa. É preciso ser assaz forte para não sucumbir ante essa prova. Eis um trecho da mensagem que ela transmitiu: "Trabalhadores! estou nas vossas fileiras: eu, a dama nobre, ganhei como vós o pão com o suor do meu rosto; saturei-me de privações, sofri reveses e foi isso que me retemperou as forças da alma; do contrário eu teria falido na última prova, o que me teria deixado para trás, na minha carreira. Como eu, também vós tereis a vossa prova da riqueza, mas não vos apresseis em pedi-la muito cedo. E vós outros, ricos, tende sempre em mente que a verdadeira fortuna, a fortuna imorredoura, não existe na Terra; procurai antes saber o preço pelo qual podeis alcançar os benefícios do Todo-Poderoso”. (O Céu e o Inferno, Segunda Parte, cap. II, A condessa Paula.)

66. O corpo estorva as faculdades do Espírito?

Sim. O corpo é um estorvo às faculdades espirituais e, por maiores que sejam as luzes pelo Espírito conservadas, elas são mais ou menos empanadas ao contacto da matéria. (Obra citada, Segunda Parte, cap. II, João Reynaud, comunicação dada em Bordéus.)

67. Existe diferença entre professar e praticar?

Sim. Há uma grande diferença entre professar e praticar. Muita gente professa uma doutrina, que não pratica. E há quem a pratica, mas não a professa. Foi o que ocorreu com João Reynaud, segundo ele próprio revelou: “Assim como cristão é todo homem que segue as leis do Cristo, mesmo sem conhecê-lo, assim também podemos ser espíritas, acreditando na imortalidade da alma, nas reencarnações, no progresso incessante, nas provações terrenas – abluções necessárias ao melhoramento. Acreditando em tudo isso, eu era, portanto, espírita”. Reynaud compreendia a erraticidade, laço intermediário das reencarnações e purgatório no qual o Espírito culposo se despoja das vestes impuras para revestir nova toga, e onde o Espírito, em evolução, tece cuidadosamente essa toga que há de carregar no intuito de conservá-la pura. “Compreendi tudo isso, e, sem professar, continuei a praticar” – afirmou o Espírito de João Reynaud. (Obra citada, Segunda Parte, cap. II, João Reynaud, comunicação dada em Bordéus.)

68. Qual é a marcha que vem sendo seguida pelo Espiritismo?

O Espírito de João Reynaud referiu-se ao assunto em sua segunda mensagem. Disse ele: "Notastes, meu amigo, a marcha que segue o progresso, a direção que toma a crença espírita? Primeiro que tudo, deu-lhe Deus as provas materiais: movimento de mesas, pancadas e toda sorte de fenômenos, para despertar a atenção. Era um como prefácio divertido. Os homens precisam de provas tangíveis para crer. Agora é muito diferente o caso. Depois dos fatos materiais, Deus fala à inteligência, ao bom senso, à razão fria; não são mais efeitos físicos, porém coisas racionais que devem convencer e congregar todos os incrédulos, mesmo os mais teimosos. E isto é apenas o começo: Tomai bem nota do que vos digo: - toda uma série de fenômenos inteligentes, irrefutáveis, vão seguir-se, e o número já tão grande dos adeptos da crença espírita vai aumentar ainda. Deus vai insinuar-se às inteligências de escol, às sumidades do espírito, do talento e do saber. Será como um raio de luz a expandir-se, a derramar-se por sobre a Terra inteira, qual fluido magnético irresistível, arrastando os mais recalcitrantes à investigação do infinito, ao estudo dessa admirável ciência que tão sublimes máximas nos ensina”. (Obra citada, Segunda Parte, cap. II, João Reynaud, segunda mensagem.)

69. O peso da velhice também atinge os Espíritos?

Não. No caso de Van Durst, falecido aos 80 anos de idade, passados os primeiros momentos, nem velhice, nem entraves de qualquer espécie – nada havia que o constrangesse. Eis suas palavras: “Aqui se vive às claras, caminhando com desassombro, tendo ante os olhos horizontes tão belos que a gente se torna impaciente por abrangê-los”. (Obra citada, Segunda Parte, cap. II, Van Durst.)

70. Como atenuar a maldade que reside em nós? O bem é recompensado por Deus?

O perdão das ofensas é, de tantas, uma das mais poderosas atenuantes do mal. O exercício do perdão e a prática do bem são fundamentais no processo de nosso aprimoramento moral. Quem faz o bem e segue fielmente a lei de Deus recebe, sim, justa recompensa, que irá muito além dos sofrimentos e dos méritos que porventura pensamos haver adquirido. (Obra citada, Segunda Parte, cap. II, Um médico russo, última pergunta, e Victor Lebufle.)

71. Os sofrimentos decorrem sempre de expiação?

Não. Nem sempre os sofrimentos amargados na Terra constituem uma expiação. Há Espíritos que, cumprindo a vontade do Senhor, baixam à Terra e são felizes em provar males que para outros seriam uma expiação, mas para eles apenas provas. (Obra citada, Segunda Parte, cap. II, Victor Lebufle, nota do Guia do médium.)

72. Os amigos nos recebem no além-túmulo?

Sim. Maurício Gontran, cujos pais ainda se encontravam encarnados, diz ter sido recebido por seu avô, que lhe estendeu os braços, estreitando-o efusivamente ao coração. Segundo ele, multidão de outras pessoas, de risonhos semblantes, o acompanhavam, acolhendo-o todos com benevolência e doçura. (Obra citada, Segunda Parte, cap. II, Maurício Gontran.)

 

Observação: Para acessar a Parte 8 deste estudo, publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2021/05/blog-post_20.html


Acesse quando quiser:

1.  blog Espiritismo Século XXI – http://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com.br/

2.  revista O Consolador - http://www.oconsolador.com  

3.  editora EVOC - http://www.oconsolador.com.br/editora/evoc.htm  

4.  jornal O IMORTAL - http://www.jornaloimortal.com.br/Home

5.  perfil no Facebook - https://www.facebook.com/astolfoolegario.oliveirafilho

sábado, 26 de junho de 2021

 


16.5 Parábola dos talentos

 

O Senhor age como um homem que, devendo fazer uma longa viagem fora do seu país, chamou os seus servos e lhes entregou seus bens. E tendo dado a um cinco talentos, a outro dois, e a outro um, a cada um segundo a sua capacidade, logo partiu.

Então, o que recebeu cinco talentos foi-se, negociou com eles e ganhou outros cinco. Da mesma sorte, também o que recebeu dois ganhou outros dois. Mas o que havia recebido um, indo-se com ele, cavou na terra e escondeu ali o dinheiro de seu senhor.

Passado longo tempo, o senhor daqueles servos voltou e chamou-os à prestação de contas. E aquele que havia recebido cinco talentos apresentou-lhe outros cinco e lhe disse: — Senhor, você entregou-me cinco talentos; eis aqui outros cinco mais que lucrei.

Seu senhor lhe respondeu: Muito bem, servo bom e fiel; já que você foi fiel nas coisas pequenas, lhe confiarei muitas outras. Entre na alegria do seu senhor.

Aquele que havia recebido dois talentos apresentou-se também e lhe disse: — Senhor, você me entregou dois talentos, e eis aqui outros dois que ganhei com eles. Seu senhor lhe respondeu: — Bem está, servo bom e fiel; já que você foi fiel nas coisas pequenas, lhe confiarei muitas outras; entre na alegria de seu senhor.

O que havia recebido um talento veio também e lhe disse: — Senhor, sei que você é homem duro; que colhe onde não semeou e recolhe onde não espalhou; por isso, como o temia, escondi seu talento na terra; eis aqui o que é seu.

Então seu senhor lhe respondeu: — Servo mau e preguiçoso, se sabia que colho onde não semeei e que recolho onde não tenho espalhado, logo devia dar o meu dinheiro aos banqueiros, e vindo eu, teria recebido com juros o que me pertence.

Tirem-lhe, pois, o talento, e deem-no ao que tem dez talentos. Porque a todos o que têm lhes será dado, e eles terão em abundância; quanto ao que nada tem, será tirado até o que parece ter. E seja esse servo inútil, lançado nas trevas exteriores onde haverá choro e ranger de dentes (Mateus, 25:14- 30).

 

16.6 Utilidade providencial da fortuna

 

Se a riqueza tivesse que ser um obstáculo absoluto à salvação dos que a possuem, como se poderia inferir de certas expressões de Jesus, interpretadas segundo a letra e não conforme o espírito, Deus, que a distribui, teria posto nas mãos de alguns um instrumento de perdição, sem recursos, o que repugna à razão. A riqueza é, sem dúvida, uma prova muito arriscada, mais perigosa que a miséria, em virtude das excitações e das tentações que gera, da fascinação que exerce. É o supremo excitante do orgulho, do egoísmo e da vida sensual. É o que mais poderosamente liga o homem à Terra e desvia seus pensamentos do Céu. Produz tal vertigem que vemos quase sempre quem passa da miséria à fortuna esquecer-se rapidamente da sua antiga posição, bem como dos seus companheiros, dos que o ajudaram, tornando-se insensível, egoísta e vão. Mas, por tornar o caminho mais difícil, não se segue que o torne impossível, e não possa vir a ser um meio de salvação nas mãos de quem a sabe utilizar, como certos venenos que restabelecem a saúde, quando empregados a propósito e com discernimento.

Quando Jesus disse ao jovem que o interrogava sobre os meios de ganhar a vida eterna: "Desfaça-se de todos os bens, e siga-me", não pretendia estabelecer como princípio absoluto que cada um devesse despojar-se do que possuísse, e que a salvação só se consegue a esse preço, mas mostrar que o apego aos bens terrenos é um obstáculo à salvação.

Aquele jovem, com efeito, julgava-se quite com a lei, porque havia observado certos mandamentos, e no entanto recuava à ideia de abandonar seus bens; seu desejo de obter a vida eterna não ia até esse sacrifício.

O que Jesus lhe propunha era uma prova decisiva, para pôr às claras o fundo do seu pensamento. Ele podia, sem dúvida, ser um padrão de homem honesto, segundo o mundo, não prejudicar a ninguém, não maldizer o próximo, não ser vão nem orgulhoso, honrar a seu pai e a sua mãe. Mas não tinha a verdadeira caridade, pois sua virtude não chegava até à abnegação. Eis o que Jesus quis demonstrar. Era uma aplicação do princípio: Fora da caridade não há salvação.

A consequência dessas palavras, tomadas na sua mais rigorosa acepção, seria a abolição da fortuna, como prejudicial à felicidade futura e como fonte de incontáveis males terrenos; e isso seria também a condenação do trabalho que a pode proporcionar. Consequência absurda, que reconduziria o homem à vida selvagem, e que, por isso mesmo, estaria em contradição com a lei do progresso, que é uma lei de Deus.

Se a riqueza é a fonte de muitos males, se excita tantas más paixões, se provoca mesmo tantos crimes, não é a ela que devemos ater-nos, mas ao homem que dela abusa, como abusa de todos os dons de Deus. Pelo abuso, ele torna pernicioso o que poderia ser-lhe mais útil, o que é uma consequência do estado de inferioridade do mundo terreno. Se a riqueza só tivesse de produzir o mal, Deus não a teria posto na Terra. Cabe ao homem transformá-la em fonte de bem. Se ela não é uma causa imediata do progresso moral, é, sem dúvida, um poderoso elemento do progresso intelectual.

Com efeito, o homem  tem por missão trabalhar pela melhoria material do globo. Deve desbravá-lo, saneá-lo, dispô-lo para um dia receber toda a população que a sua extensão comporta. Para alimentar essa população, que cresce sem cessar, deve aumentar a produção. Se a produção de um país for insuficiente, precisa ir buscá-la fora. Por isso mesmo, as relações de povo a povo tornam-se uma necessidade, e para facilitá-las é forçoso destruir os obstáculos materiais que os separam, tornar mais rápidas as comunicações.

Para trabalhos que são obras dos séculos, o homem teve de extrair materiais das próprias entranhas da terra. Procurou na ciência os meios de executá-los mais rápida e seguramente; mas, para isto, necessita de recursos: a própria necessidade o levou a produzir a riqueza, como o havia feito descobrir a ciência.

A atividade exigida por esses mesmos trabalhos lhe aumenta e desenvolve sua inteligência. Essa inteligência, que ele a princípio concentra na satisfação de suas necessidades materiais, o ajudará mais tarde a compreender as grandes verdades morais. A riqueza, portanto, sendo o primeiro meio de execução, sem ela não haverá grandes trabalhos, nem atividade, nem estímulo, nem pesquisas. É, pois, com razão, que ela é considerada elemento de progresso.

Tradução livre do prof. dr. Jorge Leite de Oliveira - http://lattes.cnpq.br/0494890808150275


quinta-feira, 24 de junho de 2021

Espiritualidade

 

por Alexsandro M. Medeiros

lattes.cnpq.br/6947356140810110

postado em jan. 2019

            

Desde a mais alta antiguidade que a ideia da existência de um princípio espiritual está presente no pensamento humano, seja através das religiões ou através dos mitos. Todas as civilizações são ricas em representações míticas e simbólicas de uma realidade espiritual. A mitologia egípcia, grega, nórdica, indígena. As religiões do ocidente e do oriente. Todas se definem, de alguma forma, em relação a ideia de que existe uma realidade espiritual embora essa realidade possa ser representada de forma bem diversificada de acordo com cada doutrina. Povos de várias culturas e de regiões bem distintas guardam em suas doutrinas algum tipo de conhecimento relativo a ideia de morte, imortalidade e espiritualidade.


Por espiritualidade entendemos aqui qualquer maneira ou modo de relacionar-se com o sagrado, com o divino, com uma realidade extra material, através de orações, cultos, rituais ou sacrifícios. A espiritualidade se baseia na existência do espírito, entendido como uma substância imaterial e nesse sentido vamos encontrar diferentes tipos de representações espirituais da realidade. Vejamos algumas dessas representações.

 

Egito Antigo

            

No Egito Antigo, o Livro dos Mortos contém as indicações que permitirão ao morto dirigir-se ao país das profundezas, onde receberá o julgamento no tribunal de Maat. Possui as fórmulas que despertarão a benevolência dos deuses, prevenindo-se contra a ação dos gênios maléficos. Antes de ser destinado ao inferno ou ao paraíso, o coração do morto, isto é, sua consciência, é pesado na balança dos deuses para aí ser julgado – a célebre cena pintada nos papiros funerários. Na presença de Thoth e Anúbis (Anúbis era filho de Osíris e Néftis, sendo que Osíris teve uma relação com Néftis pensando que era sua esposa Ísis: CORONA, 2016), o morto deve provar que não pecou contra os homens, nunca fez nada que pudesse desagradar os deuses... nem causou sofrimento a ninguém...

 

Enquanto num dos pratos é depositado o coração do falecido, no outro era colocada uma pluma de Maat, que era símbolo da lei, da justiça, da verdade. O nível da balança era examinado pelo deus Anúbis e um animal em forma de macaco, que se encontra acima da balança, avisa ao deus Thoth para registrar o resultado. Caso haja desequilíbrio entre o coração e a pluma de Maat, este coração - ou seja, todo o ser do falecido - é imediatamente devorado por uma criatura com corpo de leão e cabeça de crocodilo chamado de Am-mit (BOVO, 2008, p.16). Caso o coração se equilibre em peso com a pluma de Maat, o deus Thoth registra tal resultado e profere um discurso de reconhecimento da dignidade do morto (CORONA, 2016, p. 50).

 

O Tribunal de Osíris.

Disponível em: Guia de Referência. Acesso em: 30 dez. 2018

 

            

A doutrina dos sacerdotes egípcios, cuidadosamente velada sob os mistérios de Ísis e de Osíris, abordam questões ligadas a alma, a imortalidade,  o segredo da sua vitalidade. Osíris, Ísis, Seth e Néftis, de acordo com a mitologia egípcia, eram filhos de Geb (deus da terra) e Nut (deusa do céu), da descendência do deus-sol Rá. “Osíris era irmão e marido de Ísis, enquanto Seth era irmão e marido de Néftis” (COUTO, 2008, p. 68 apud CORONA, 2016, p. 45). Foi Osíris quem se tornou rei do Egito, governando toda a Terra e deu início a civilização humana, ensinando todas as coisas, inclusive a reverência e o culto aos deuses. A crença na vida após a morte e na ressurreição do homem está baseada no mito do Osíris (para mais detalhes sobre o mito ver: BUDGE, 2004;  CORONA, 2016; COUTO, 2008).

 

Osíris passou a representar para os egípcios a ideia de um homem-deus, que viveu como um homem sofreu os sofrimentos humanos, morreu e ressuscitou, vivendo eternamente em seguida, no outro mundo. Por ter uma personalidade humana, os egípcios se identificaram facilmente com Osíris. Portanto, se Osíris viveu, morreu, passou por rituais de mumificação com palavras e atos mágicos e, por isso ressuscitou, então o egípcio poderia seguir o mesmo caminho (BUDGE, 1993, p.18 apud CORONA, 2016, p. 48).

 

            

Debaixo da pompa dos espetáculos e da cerimônia pública do culto popular de Ísis e Osíris, ocultava-se o verdadeiro ensino dos pequenos e grandes mistérios que tinham como objetivo a ressurreição e a passagem para a vida eterna, através dos rituais funerários de mumificação. À medida que o adepto avançava em seus conhecimentos, descortinavam-se-lhe os véus dos mistérios.

 

Zoroastrismo

            

O Zoroastrismo é uma antiga religião proveniente do mundo irânico e dos ensinamentos de Zaradušt: Zoroastro (em grego Ζωροάστρης) ou Zaratustra. Há pesquisadores que não acreditam na existência física de Zaratustra, mas para aqueles que aceitam a sua existência, ele teria vivido entre 1500-1200 a.C. (PEIXOTO, 2014, p. 234 – sobre a literatura zoroastristas, ver também a Tese de Doutorado de Peixoto, 2017).


O Zoroastrismo tornou-se a religião oficial do império Persa durante a dinastia sassânida, no segundo século da nossa era ou era comum (EC). “Artaxes I, da casa de Sāsān, surgiu de forma meteórica e derrotou o rei parto Artabano V9 na batalha de Hormazǰān, em 224 EC, tomando para si o título de šāhānšāh, Rei dos Reis, e iniciando o período conhecido como “Sassânida” – da dinastia de Sāsān” (WIESEHÖFER, 1986, p. 371- 376 apud VIEIRA PINTO, 2018, p. 8). Com Sapor II (309 – 379 EC), filho de Sapor I e neto de Artaxes, o Zoroastrismo se tornou uma religião estatal.


Fernandes (2016, p. 113-118) ressalta pelo menos três características que conhecemos de Zoroastro, a partir do relato dos gregos como Heródoto, Plutarco, Diógenes Laércio, a narrativa de Crisóstomo Dio Cocceiano: “(I) Profeta ou mago; (II) Astrólogo; (III) Filósofo” (id., ibidem, p. 113).

            

O Zoroastrismo é baseado em um conjunto de textos variados e religiosos chamado Avesta, composto de hinos, que apresenta noções de salvação, recompensa, responsabilidade, expiação, julgamento. “Em termos comparativos, o Avesta está para o zoroastrismo assim como a Bíblia está para o cristianismo, o Corão para o islamismo e a Torá para o judaísmo” (VIEIRA PINTO, 2018, p. 10). Gashti (2017, p. 18) ressalta como está dividido o Avesta:

 

O Avesta está [dividido] em cinco partes. Seu núcleo religioso é uma coleção de canções ou hinos, os Gāthās, que se pensava ser as principais palavras de Zoroastro. Eles formam uma seção do meio da principal parte litúrgica do cânone, o Yasna, que contém o rito da preparação e do sacrifício de haoma. O Visp-rat é uma escritura litúrgica menor, contendo homenagens a vários líderes espirituais zoroastrianos. A Vendidad, ou Vidēvdāt, é a fonte principal da lei zoroastrista, tanto ritual como civil. Também dá conta da criação e do primeiro homem, Yima. Os Yashts são 21 hinos, ricos em mitos, sobre vários yazatas (anjos) e heróis antigos. O KhūrdaAvesta (ou Little Avesta) é um grupo de textos menores, hinos e orações para ocasiões específicas.

 

O Faravahar (ou Ferohar), um dos símbolos do Zoroastrismo, representa a alma humana antes do nascimento e depois da morte

Disponível em: Blog Indi(a)gestão. Acesso em: 30 dez. 2018

 

 

            










                






Com base nos textos sagrados do Zoroastrismo, podemos identificar vários aspectos de sua doutrina. Após a morte, a alma vagueia durante três dias perseguida pela lembrança das boas e más ações, depois se dirige para um lugar onde será julgada segundo suas obras. Peixoto (2014, p. 234) apresenta outros aspectos do zoroastrismo, como sendo “uma religião onde o Bem e o Mal são representados por Ohrmazd (primeiro dos deuses e criador da ordem) e Ahriman (que se apresenta como responsável pela desordem do mundo)”. Foi de Ohrmazd que Zaradušt teria recebido uma visão e “acreditado ser o profeta escolhido para difundir uma nova ordem religiosa. O conjunto de escritos que fala dessas crenças denomina-se de Avesta, composto em sua maioria por hinos, os Gaθas, cujo assunto principal é a divindade criadora, Ohrmazd” (PEIXOTO, 2014, p. 234). O dualismo entre o Bem e o Mal é uma marca característica tanto da vida física quanto daquela que vem depois. Diversas passagens do Yasna, um dos textos sagrados da tradição zoroástrica,

 

demonstram a crença zoroástrica em uma recompensa eterna para os justos e uma correspondente punição eterna para os ímpios [...] a crença em um julgamento individual de cada ser humano baseado em suas atitudes durante a vida eram respectivamente uma prática corrente e uma esperança futura muito bem encadeadas dentro da religiosidade zoroástrica. Resumindo, as esperanças dos zoroástricos quanto ao porvir estavam estritamente ligadas a um forte senso de justiça e recompensa por uma vida dentro dos padrões de Ohrmazd (PEIXOTO, 2014, p. 235).

 

A doutrina de Zaradušt enfatiza a necessidade da devoção, da honestidade, da veracidade, generosidade, justiça, moderação e de como se deve evitar o desvio, os vícios, o engano, a avareza ou a ganância, para que o bem possa triunfar sobre o mal.

 

Grécia Antiga


Os gregos tiveram uma concepção que se modificou através dos tempos, crenças e filosofias. Na Ilíada de Homero, Aquiles se depara durante a noite com o fantasma do amigo Pátrocles e daí conclui que a vida continua sob uma forma imaterial. O Hades é a região dos mortos que reservava para as almas justas um recanto feliz, os Campos Elíseos, enquanto o Tártaro acolhia os ímpios e os malfeitores.

Ilíada é uma narrativa que descreve o cenário da Guerra de Tróia e, por isso, a menção a Hades e as divindades gregas não é tão presente na obra, diferente da Teogonia, de autoria de Hesíodo, que narra a gênese dos deuses.

Na Teogonia temos que Hades

 

é filho de Cronos e Réia. Irmão de Deméter, Hera, Héstia, Posídon e Zeus, foi, como seus irmãos, engolido por seu pai – à exceção de Zeus – e mais tarde vai lutar ao lado dos outros na guerra contra os Titãs. Na partilha do mundo, Hades fica com o mundo subterrâneo, e lá é que vai desempenhar as suas funções de deus dos mortos (BARBOSA, 2012, p. 146-147).



 

Hades & Cerberus in museum of Archeology in Crete

Disponível em: Wikimedia Commons. Acesso em: 30 dez. 2018.

Hades é o deus dos mortos. Seu nome – Άδης – significa “o Invisível” (GRIMAL, 2000, p. 189; KURY, 2009, p. 198). Se Zeus recebeu na partilha do universo após a vitória sobre os Titãs o domínio do céu e Poseidon o domínio do mar, à Hades coube o domínio do mundo subterrâneo, que “era separado do mundo dos vivos pelos rios Aqueronte, Cócito, Piriflegêton (ou Flegêton) e Estige” (KURY, 2009, p. 198).

            

Embora não houvessem rituais e cultos em sua homenagem – à exceção dos mistérios de Elêusis –, ou edifícios em sua honra, tinha um significado importante para os gregos, que consideravam a morte como um rito de passagem. Hades nunca recebeu um templo sagrado, ao contrário de Atenas, Apolo, Zeus, Poseidon..



Todos estes fatos e muitos outros nos são conhecidos através da mitologia grega. Para Grimal (1987, p. 7): “Temos neles [nos mitos gregos] um imenso material, muito dificilmente definível, de origem e características bastante diferenciadas, que desempenhou e ainda desempenha – na história espiritual do mundo – um papel considerável”. Os mitos movimentam forças ou seres considerados superiores aos humanos, se apresentam como um sistema de explicação do mundo e implica consequências sobre todo o Universo (sobre os mitos gregos, veja mais em: Mitologia Grega).


Mas não é só através dos mitos que os gregos antigos tinham profundas noções de espiritualidade. Filósofos como Pitágoras, SócratesPlatão, são conhecidos por suas teorias filosóficas, místicas e até religiosas. Sócrates tinha de Deus uma concepção como uma “inteligência ordenadora” (REALE; ANTISERI, 2007, p. 98), como podemos interpretar a partir da leitura do Fédon de Platão e, também, a partir do testemunho de Xenofonte (em sua obra Memorabilia). Logos, Espírito, Intelecto e Pensamento são alguns termos utilizados pelos gregos para representar o princípio organizador de todo universo. Discípulo de SócratesPlatão nos legou uma das mais belas histórias de todo o pensamento filosófico ocidental: A Alegoria da Caverna. Através desta alegoria o filósofo revela de forma magistral a compreensão que ele tem da realidade, dividida em dois mundos: o mundo sensível, imperfeito, mutável, corruptível; e o mundo das ideias, perfeito, eterno, imutável. Essa ideia revela o caráter profundamente espiritual do seu pensamento. A caverna é o nosso mundo visível. Por meio da filosofia e de um amplo esforço intelectual, o filósofo se liberta do mundo sensível e ascende ao mundo inteligível das ideias e contempla a verdadeira realidade e o Sumo Bem, a Beleza Absoluta, o Bem Absoluto (veja mais em: A Alegoria da Caverna).

 

Os druidas


Os druidas eram sacerdotes pertencentes aos povos Celtas que viveram na região da Gália, onde hoje se encontram a Irlanda, o País de Gales e a Escócia. “Os druidas tinham uma estreita ligação com as árvores, inclusive o nome Druida, dru(u)ides, ou drufd na língua Irlandesa antiga, é associado à árvore do carvalho” (MARTINS, 2015, p. 99).

 

Na sociedade Celta, os druidas e os bardos eram considerados os responsáveis por serem guardiões dos mitos e das lendas ancestrais e por transmitirem, através da tradição oral, os conhecimentos e a memória da cultura de uma geração a outra. Os druidas eram descritos como filósofos, capazes de se comunicar com o divino e eram responsáveis pelos rituais, aponta a arqueóloga Miranda Green (1986) (MARTINS, 2015, p. 97).

 

Sacerdotes Druidas

Disponível em: Blog A Cabana da Feiticeira. Acesso em: 30 dez. 2018

 

            

Os ensinamentos que chegaram até nós sobre os druidas são provenientes de escritores gregos e romanos. Dos historiadores gregos que escreveram sobre os Celtas temos: “Strabo (63 a.C. - 21 d.C.), Diodorus Siculus (escritos por volta de 60-30 a.C.). Acredita-se que os textos escritos por Strabo e Diodorus foram baseados nas obras perdidas do filósofo estóico Posidônio (50 a.C.)” (CUNLIFFE, 2010 apud MARTINS, 2015, p. 97).  Sendo que o “registro mais antigo sobre os druidas é de Júlio Cesar, escrito no ‘Das Guerras na Gália’” (BEZERRA, 2016, p. 92). Citando Estrabão (Geografia IV, 4), Olivieri (2006, p. 138-139) ressalta que, aos druidas também eram confiados “os julgamentos dos conflitos privados e públicos, de tal forma que eles arbitravam as guerras e separavam aqueles que estavam a ponto de se colocar em ordem de batalha. Eles também eram solicitados para as questões envolvendo assassinatos”. Os druidas “vão até as fronteiras dos inimigos, fazem as encantações rituais que equivalem a uma declaração de guerra” (MARKALE, 1985, p 43 apud OLIVIERI, 2006, p. 139)

            

Os druidas acreditavam na imortalidade da alma, na reencarnação e ensinavam que a morte é uma viagem até uma ilha longínqua e misteriosa além dos mares. “Diodoro classifica os druidas como teólogos e filósofos e os associa a Pitágoras: ‘(...) a crença de Pitágoras prevalece entre eles, que as almas dos homens são imortais e que após um número de anos, elas começam uma nova vida, a alma entra em outro corpo’” (DIODORO, V, 28 apud OLIVIERI, 2007, p. 32 – grifo do autor).

 

 

Referências 


BARBOSA, Leandro Mendonça. Hades na Ilíada: a formatação da morte no épico homéricoRevista Trilhas da História, Três Lagoas, v. 2, n. 3, p.146-157, jul./dez., 2012. Acesso em: 30 dez. 2018.

BEZERRA, Karina Oliveira. Wicca, Druidismo e Asatrú: uma breve história. Anais do III Congresso Nordestino Ciências da Religião e Teologia: Devoções Religiosas e Pluralismo Cultural, Recife, 8 a 10 de setembro de 2016.

BOVO, Elisabetta (Org.). História das Religiões: Origem e desenvolvimento das religiões. Trad. Carlos Nougué. Madri: Ediciones Folio, 2008.

BUDGE, Ernest Alfred Thompson Wallis. As Ideias Egípcias sobre a Vida Futura. (Egyptian Religion: Egyptian Ideas of the Future Life, 1900).Trad. Vera Maria de Carvalho. São Paulo: Madras, 2004.

CORONA, George F. O mundo dos mortos no Antigo Egito: interpretação sociológica dos funerais egípcios em perspectiva durkheimiana. UNITAS – Revista Eletrônica de Teologia e Ciências das Religiões, Vitória-ES, v. 4, n 1, p. 43-56, jan./jun., 2016. Acesso em: 27 dez. 2018.

COUTO, Sérgio Pereira. Desvendando o Egito. São Paulo: Universo dos Livros, 2008.

CUNLIFFE, Barry. The druids. New York: Oxford University press, 2010.

FERNANDES, Edrisi. Zoroastro, o Grego: Zaratustra na percepção grega e helenística. In: CORNELLI, Gabriele; FIALHO, Maria do Céu; LEÃO, Delfim (coords.). Cosmópolis: mobilidades culturais às origens do pensamento antigo. Imprensa da Universidade de Coimbra; Annablume, 2016, p. 109-131.

GASHTI, Alice Menezes. A relevância de Zoroastro para as conceituações pós-hegemônicas da ordem mundial. Relatório final de pesquisa de Iniciação Científica. Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais – FAJS, Centro Universitário de Brasília (UniCEUB), Brasília, 2017.

GREEN, Miranda. The gods of the Celts. USA: Gloucester, 1986.

GRIMAL, Pierre. Dicionário de Mitologia Grega e Romana. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2000.

____. A Mitologia Grega. Tradução de Carlos Nelson Coutinha. 4. ed. São Paulo: Brasiliense, 1987.

KURY, Mário da Gama. Dicionário de Mitologia Grega e Romana. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2009.

MARKALE, J. Le druidisme. Paris: Payot, 1985.

MARTINS, Janaina Träsel. A cosmovisão celta e a vocalidade poética: a tradição oral e as narrativas mitológicas da idade média. Boitatá Revista, v. 10, n. 9, p. 96-111, 2015. Acesso em: 29 dez. 2018.

OLIVIERI, Filippo L. Os Druidas e a Religiosidade Celta: os sacrifícios humanos na Gália Pré-RomanaBrathair – Revista de Estudos Celtas e Germânios, edição especial, n. 1, p. 26-37, 2007. Acesso em: 29 dez. 2018.

____. A ritualização da guerra pelos Celtas: sobre uma comitiva Celta descrita por Apiano. Phoînix, vol. 12, n. 1, p. 137-148, 2006. Acesso em: 30 dez. 2018.

PEIXOTO, Raul Vitor R. As interações entre religião e sociedade na tradição Avéstica e na literatura apocalíptica Judaica (um estudo comparado da temática do ordálio universal na Yasna 51 no Livro Etiópico de Enoch, 67). SÆculum – Revista de História, n. 30, p. 233-247, jan./jun. 2014. Acesso em: 28 dez. 2018.

____. As interações de uma tradição apocalíptica nas literaturas Zoroastristas e Judaica: um estudo comparado da temática do ordálio universal na Yasna capítulo 51, Grande Bundahishn capítulo 34 e Livro Etiópico de Enoch, capítulo 67. Tese (doutorado em História). Programa de Pós-Graduação em História, Universidade de Brasília, Brasília, 2017.

REALE, G.; ANTISERI, D. História da Filosofia: Filosofia Pagã Antiga. Tradução Ivo Storniolo. 3. ed. São Paulo: Paulus, 2007. vol. 1, cap. IV, p. 91-120.

VIEIRA PINTO, Otávio Luiz. Um conto tão antigo como o tempo. construção do passado e ideologia imperial na pérsia sassânidaRevista OPSIS, Catalão-GO, v. 18, n. 1, p. 05-20, jan./jun. 2018. Acesso em: 27 dez. 2018.

WIESEHÖFER, J. Ardašīr I. Encyclopaedia Iranica, Nova Iorque, v. II, n. 4, p. 371–376, 1986.



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terça-feira, 22 de junho de 2021

 

EM DIA COM O MACHADO 476:

Até quando os maus farão o mal? (Jó)

 


            — Por que a influência dos maus predomina na Terra sobre a dos bons? — Pergunta Allan Kardec no item 932 d'O Livro dos Espíritos.

            — Pelo silêncio dos bons. Os maus são intrigantes, ousados. Os bons, tímidos. Quando os bons quiserem, haverão de predominar.

            Algumas pessoas, entre as quais alguns filósofos, creem que o ser humano é, por natureza, mau. É o caso do inglês Thomas Hobbes, para quem o ser humano é mau e egoísta por natureza. Ele dizia que "o homem é o lobo do homem".

            O que Hobbes propôs para que a sociedade pudesse resolver seus conflitos não vem ao caso aqui, mas percebemos que a humanidade já deu alguns passos evolutivos, na distinção entre o mal e o bem. Ainda assim, ouvi uma palestra do historiador brasileiro Leandro Karnal que serve para nossa reflexão. Ele disse que não é nos momentos difíceis de nossas vidas que reconhecemos quem é, de fato, nosso amigo. É nos de sucesso.

            Nos momentos difíceis, as pessoas costumam ser solidárias conosco. Nos momentos de sucesso, elas nos invejam. Poucos são os que manifestam verdadeiro sentimento de alegria quando nos veem destacando socialmente. Como exemplo, o historiador citado contou o caso de uma "meio amiga" que, quando o ouviu falar de seu progresso profissional, reconhecido por boa parte da sociedade, demonstrou no olhar profunda inveja antes de lhe dizer:

            — É, Karnal, você está fazendo o maior sucesso, não é mesmo? Não se esqueça, porém, de que isso passa.

            Após algum tempo dando meus pitacos políticos, resolvi abster-me desse assunto em minhas crônicas por constatar que o que move quase todos os interessados em ocupar um cargo político é o desejo do poder, de solucionar definitivamente, sua situação econômica. Quando assumem um mandato, apressam-se em posar para os holofotes. Sua atuação pública, entretanto, quase sempre, tem por fim enriquecer-se com as verbas do erário. Desse modo, alguns deles associam-se a pessoas corruptas e fraudam os contratos dos serviços destinados à melhoria de vida da população.

            A solução para isso existe: investir em segurança, educação, moradia e bem-estar social, mas nenhum político deseja, de fato, isso. A não ser para si e sua família. Agora mesmo, o Brasil assiste estarrecido a fazendeiros e seus empregados fugirem dos próprios lares, enquanto um  doente mental é caçado por mais de duas centenas de policiais, após ter cometido atos de verdadeiro horror, como o da dizimação de uma família e outros.

            Um caso típico da falta de segurança é o de uma família de cinco pessoas, moradora nas proximidades onde o maníaco foi visto. Ela passou a dormir dentro do próprio automóvel, temendo ser visitada à noite pelo psicopata, que já fez outra família de refém e isso só não acabou mal porque a filha, de 16 anos, conseguiu mandar uma mensagem para a polícia, que os libertou, enquanto o maníaco fugia atirando...

            Como perguntar não faz mal, gostaria de saber o que as autoridades governamentais estão fazendo para proporcionar segurança a essa e demais famílias daquela região. Pelo visto, os direitos e garantias fundamentais previstos na Carta Magna do Brasil só se aplicam aos detentores de mandatos políticos.

            Até quando os maus farão o mal, sem que os cidadãos de bem nada possam fazer? Nem quando inúmeras famílias correm perigo de vida, bem maior, as autoridades constituídas asseguram seu direito de usufruir seus bens e de viver? Aqui eu paro e deixo as respostas para meus amáveis leitores.

             

segunda-feira, 21 de junho de 2021

 

Cantinho da poesia

 

A idade (Jorge Leite de Oliveira)

 

Vi-me em corpo pequeno, mas consciente

de que eu era um pequenino ser

que um dia iria se desenvolver,

pois bem maior que o corpo era a mente...

 

E fui sem perceber me transformando,

como também  aquele corpo foi-se...

mas permaneço nele dominando

como o campônio doma sua foice.

 

Sou eu, sempre sou eu quem não esquece

de sua mocidade vigorosa,

mas roga agora a bênção duma prece.

 

Pois vejo que se o corpo envelhece,

a mente permanece em mar de rosas;

a idade é onde a alma permanece.

 

Brasília, 21 de junho de 2021.

domingo, 20 de junho de 2021

 O Céu e o Inferno

 

Allan Kardec

Por: Astolfo Olegário Oliveira Filho 

Parte 8

 

Continuamos o estudo metódico do livro “O Céu e o Inferno ou A Justiça Divina segundo o Espiritismo”, de Allan Kardec, com base na 1ª edição da tradução de João Teixeira de Paula publicada pela Lake.




Caso o leitor queira ter em mãos o texto consolidado dos estudos relativos à presente obra, para acompanhar, pari passu, o presente estudo, clique em: http://www.oconsolador.com.br/linkfixo/estudosespiritas/principal.html#ALLAN e, em seguida, no verbete "O Céu e o Inferno”.

Eis as questões de hoje:

 

57. Como é a morte do incrédulo? 

Os incrédulos experimentam nos últimos instantes as angústias desses pesadelos terríveis em que se veem em escarpas de abismos prestes a tragá-los. Querem fugir e não podem; procuram agarrar-se a qualquer coisa, mas não encontram apoio e sentem precipitar-se; querem clamar, gritar e nem sequer um som podem articular. Então – disse Sanson – vemo-los contorcerem-se, crispar as mãos, dar gritos sufocados, outros tantos sintomas do pesadelo de que são vítimas. (O Céu e o Inferno, Segunda Parte, cap. II, Sanson, item II, perguntas 5 e 6.)

58. O que mais impressionou Sanson ao despertar no mundo espiritual?

Sanson disse que ficou como que ofuscado, sem poder compreender as coisas, porquanto a lucidez não volta repentinamente. Deus, porém, permitiu-lhe recuperar as faculdades, e foi então que ele se viu cercado de numerosos, bons e fiéis amigos. Todos os Espíritos protetores rodeavam-no sorrindo; uma alegria sem par irradiava-lhes do semblante e também ele, forte e animado, podia sem esforço percorrer os espaços. O que viu não tem, disse Sanson, nome na linguagem dos homens. (Obra citada, Segunda Parte, cap. II, Sanson, item II, perguntas 7 e 8.)

59. Sob que forma os Espíritos aparecem aos olhos dos que retornam ao mundo espiritual? 

Eles conservam a forma humana e assim se apresentam. (Obra citada, Segunda Parte, cap. II, Sanson, item III, pergunta 9.)

60. Como os Espíritos se veem no mundo espiritual? Eles sentem em si as mãos, a cabeça, os braços? 

O Espírito, conservando sua forma humana idealizada, pode, sem contradição, possuir todos os membros mencionados. Sanson disse que sentia perfeitamente suas mãos com os dedos, pois podia, à vontade, aparecer e apertar as mãos dos outros, encarnados ou não. (Obra citada, Segunda Parte, cap. II, Sanson, item III, perguntas 10 e 11.)

61. Logo que desencarna, o Espírito se lembra do passado?

Conforme seu grau evolutivo, sim, o Espírito pode lembrar-se com facilidade do passado. Foi o que revelou Jobard, que disse recordar-se das existências anteriores e sentia ter melhorado. Em sua precedente existência, Jobard disse ter sido um operário mecânico acossado pela miséria e pelo desejo de aperfeiçoar sua arte. Como Jobard, ele pôde então realizar os sonhos do pobre operário. (Obra citada, Segunda Parte, cap. II, Jobard, perguntas 6 e 7.)

62. Como é que os Espíritos se manifestam sobre a resignação e a coragem diante das provações?

Samuel Filipe deu, a esse respeito, importante depoimento e revelou que tudo quanto sofrera se anularia caso desfalecesse, tendo de recomeçar novamente as provações. Eis suas palavras: “Oh! meus amigos, compenetrai-vos firmemente desta verdade, pois nela reside a felicidade do vosso futuro. Não é, por certo, comprar muito caro essa felicidade por alguns anos de sofrimento! Ah! Se soubésseis o que são alguns anos comparados ao infinito! Se de fato a minha última existência teve algum mérito aos vossos olhos, outro tanto não diríeis das que a precederam. E não foi senão à força de trabalho sobre mim mesmo que me tornei o que ora sou. Para apagar os últimos traços das faltas anteriores, era-me preciso sofrer as últimas provas que voluntariamente aceitei. Foi na firmeza das minhas resoluções que escudei a resignação, a fim de sofrer sem me queixar. Hoje abençoo essas provações, pois a elas devo o ter rompido com o passado – simples recordação agora que me permite contemplar com legítima alegria o caminho percorrido”. (Obra citada, Segunda Parte, cap. II, Samuel Filipe, pergunta 2.)

63. A morte nos separa ou nos aproxima dos entes queridos que já partiram? E eles, os desencarnados, nos visitam?

A morte não nos separa dos entes queridos que desencarnaram, os quais continuam a visitar-nos sempre que podem. Tanto Samuel Filipe quanto a Sra. Foulon manifestaram-se nesse sentido. Eis o que Samuel Filipe afirmou, a propósito de seus entes queridos: “Se os tivesse esquecido seria indigno da felicidade de que gozo. Deus não recompensa o egoísmo, pune-o. O mundo em que me vejo pode fazer com que desdenhe a Terra, mas não os Espíritos nela encarnados. Somente entre os homens é que a prosperidade faz esquecer os companheiros de infortúnio. Muitas vezes venho visitar os que me são caros, exultando com a recordação que de mim guardaram; assisto às suas diversões, e, atraído por seus pensamentos, gozo se gozam ou sofro se sofrem”. (Obra citada, Segunda Parte, cap. II, Samuel Filipe, última pergunta; e a viúva Foulon, itens II e III.)

64. Os Espíritos continuam trabalhando na vida espiritual?

Sim. Dr. Demeure, Bernardino e condessa Paula falaram sobre o assunto, confirmando o que nos ensina o Espiritismo, ou seja, que as atividades dos Espíritos são constantes e que o trabalho é componente essencial na vida dos desencarnados. (Obra citada, Segunda Parte, cap. II, o doutor Demeure, Bernardino e a condessa Paula.)

 

Acesse quando quiser:  

1. Espiritismo Século XXI – http://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com.br/

2.  revista O Consolador - http://www.oconsolador.com  

3.  Ed. EVOC - http://www.oconsolador.com.br/editora/evoc.htm  


  Contador e ciência contábil (Irmão Jó)   Contador, tu não contas dor, Mas no balanço das contas O crédito há que ser superior.   Teu saldo...