EM DIA COM O MACHADO 474:
A VIDA É JUSTA (Jó)
Fiquei curioso em assistir a um programa de TV, há poucos dias, intitulado A vida não é justa, que também é o título do livro duma juíza de direito. Disse esta que muitas pessoas, mesmo se esforçando na prática do bem, se dão mal na vida; e, muitas vezes, quem faz o mal se dá bem. Visão unilateral da vida, como veremos mais adiante...
Os
três comentaristas do programa defenderam a ideia dum professor de Direito da
Fundação Getúlio Vargas, situada no Rio de Janeiro, de que as instituições,
entre as quais o Judiciário, discriminam os negros, os pobres e as mulheres. Então,
disseram que é preciso haver mais
heterogeneidade na ocupação das funções socioeconômicas.
Num
dado momento, foi informado o resultado da seguinte pergunta feita a populares:
Que é justiça para você?
Uma
das pessoas entrevistadas disse que a pergunta é interessante, mas é difícil
encontrar uma só resposta para ela.
A
autora do livro temático discutido no programa, consultada novamente, refletiu
sobre a difícil questão do fim do amor entre duas pessoas e da dificuldade em decidir
o que seja justo ou injusto nesses casos, quando um relacionamento, que já fora
baseado no amor, acaba em separação judicial. Em nosso juízo, o motivo disso é que
ainda não aprendemos a distinguir paixão de amor, pois, quando este prevalece,
o prazer de estar junto doutrem sempre se renova.
Também
foram mostradas cenas dum filme intitulado Luta por justiça, em que
cinco garotos negros foram condenados por estupro que não praticaram. A ideia
aí era criticar o preconceito racial como base duma das maiores injustiças no
mundo.
Perguntou-se
novamente ao professor: — Como o Estado ou as pessoas podem tornar a sociedade
mais justa? Sua resposta foi lembrar o
que está contido na Constituição brasileira: direitos iguais para todos à
educação, à saúde, ao acesso à justiça. Moradia, saneamento básico...
Sou
carioca e morei no Rio de Janeiro até os 22 anos de idade. Na época, 1974, pude
assistir in loco ao que Machado de Assis, um século antes, via e
ironizava: a política servindo como cabide de empregos e favorecimento aos
"donos do poder". Nesse tempo, ainda havia um certo respeito pelo
policial. Com o passar dos anos, tudo piorou muito. Haja vista o aumento da migração de pessoas pobres para os morros, a
facilidade na aquisição de drogas e armas, acrescida do descaso do poder
público com as classes vulneráveis economicamente. Com isso, cresceram a revolta
e a violência...
Outra
proposta do trio televisivo foi a de analisar bem em quem votar e também pensar
no papel que a pessoa vai exercer na sociedade. Por fim, foi recomendado
assistir ao filme Luta por justiça e a ler outro livro, intitulado Justiça,
além da obra que foi tema do programa. Como vemos, "receitas prontas"
não nos faltam...
Não
será a chamada "velha política" do "toma lá, dá cá" que
resolverá os problemas das injustiças sociais, mas sim o entendimento de que
tudo o que nos acontece, de bom ou de mau, é proveniente de nossos pensamentos,
palavras e atos, como espíritos eternos que somos. Daí entendermos que, como
"o amor cobre a multidão de pecados", nas palavras do Apóstolo Pedro
(I Pedro, 4:8), somente quando nos libertarmos da prisão do eu
e nos vincularmos à ideia do nós, buscando o bem do próximo e não os
seus bens, estaremos quites com a Justiça Divina.
Os
Espíritos ensinam-nos que a Lei de Deus está em nossa consciência. Nada do que
sofremos deixa de ter sua razão de ser e função educativa. Não é, pois, somente
a aplicação das penas da justiça mundana que corrigirá nossos erros.
Nesse
sentido, o conhecimento da reencarnação é fundamental, como lemos no capítulo 4
d'O Livro dos Espíritos (LE), intitulado Pluralidade das existências.
Esse conhecimento é útil, tanto à nossa conformação com os nossos sofrimentos
ou venturas, como também à nossa necessidade de agir, cotidianamente, no autoconhecimento
e no empenho em estudar, trabalhar e servir com o objetivo da conquista do
justo bem-estar.
A
causa dos nossos sofrimentos está em nosso afastamento voluntário das Leis Divinas, em especial a de
"justiça, amor e caridade" (LE, cap. 11), pois o amor caminha lado a
lado com a Justiça Divina. Não à toa, disse Jó, 34:11, repetiu Jesus, em
Mateus, 16:27, o que Paulo diria aos Romanos, 2:6: "A cada
um segundo as suas obras". Quando bem entendermos isso e passarmos a viver
em prol da felicidade de nosso semelhante, a alegria cotidiana nos permitirá
sentir quanto a vida é justa,
pois não há quem faça o bem e não se
sinta bem.
Verdade,A Lei Divina, que nos possibilita a evolução por meio do instrumento da Reencarnação é igual para todos e recorre sempre aos meios do amor e da misericórdia para nós fazer progredir, meu amigo. Quando entendermos que semeadura é também colheita, quem sabe viveremos de modo melhor. Excelente texto.
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