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quinta-feira, 31 de março de 2022

 

A SUBLIME POESIA DE MARIA DOLORES

A LIÇÃO DO DINHEIRO
 
Ele era salteador pela primeira vez.
O cofre agora aberto estava à mão.
E, lá dentro, ele viu, ante a casa vazia,
Um pacote mostrando que trazia
A soma respeitável de um milhão.
 
Dispunha-se a empalmar toda a quantia...
Quando o dinheiro lhe falou
Em forma de conselhos e queixumes:
 
— Pensa, amigo,
Na obrigação que assumes,
Ao levar-me daqui, nas condições de um louco,
Já que podes buscar-me em compromisso
Entre a força da fé e a bênção do serviço
Retirando-me em paz, lidando pouco a pouco,
Não quero ser motivo
Para que sejas preso como eu vivo.
Fui criado por Deus para fazer o bem,
Não desejo aumentar as lutas de ninguém
Quero sair daqui para ser agasalho
Aos que gemem sem teto e sem trabalho.
Anseio consolar as mães que padecem na estrada,
De alma aflita e cansada,
Ante a dor dos filhinhos
A esmolarem socorro em remotos caminhos;
Espero ser o apoio do homem triste
Que de tanto sofrer necessidade,
Já não sabe se resiste
À tentação da morte que o invade.
Sonho doar auxílio ao doente sem nome
A fim de que suporte
Ao duro sofrimento que o consome
Livrando-se, por fim, das lâminas da morte,
Quero sair daqui para que alguém me aceite
De modo a ser o amigo sorridente,
Que ofereça uma xícara de leite
À criança doente.
Quero ser cobertor para quem sente frio,
Prato que nutra, força que refaça,
Algo que plante amor no coração vazio,
Instrumento do bem que ajuda, serve e passa.
Mas ouve, amigo meu, não me faças razão
De largar este cofre e levar-te à prisão.
Trabalha e vem buscar-me
Sem calúnia, sem crime, sem alarme,
Quero ser luz e ação em tudo o que progrida
E seiva a circular nas árvores da vida
Vê onde a sovinice me prendeu,
Não te desejo o cárcere em que moro
Na prova rude que me aconteceu.
Quero ser livre e forte, assim como és,
Caminhar com teus pés
Aspiro a ser-te amigo e companheiro...
Calara-se o Dinheiro
E o pobre salteador inexperiente,
Recuando, atingiu grande portão à frente.
 
Nisso, o dono da casa, envolto em grande escolta,
Veio à mansão de volta;
Vendo o lar violentado e o cofre aberto
Com o dinheiro intocado,
Saudou o salteador que via perto
E acreditando nele a presença de alguém
Que lhe guardara a casa para o bem,
Agradeceu-lhe o gesto
De homem leal e honesto...
 
Sustentando o silêncio e a tristeza no olhar,
O pobre sem vintém começou a chorar...
 
Ali mesmo, porém, começou vida nova,
Transformado por dentro, alterou-se lhe a prova;
Passando a servidor da mansão que arrombara,
Agia com firmeza, nobre e rara...
Trabalhou a formar, de tostão a tostão,
Os bens com que sabia socorrer
Quem achasse a sofrer...
E quando auxiliava aos semelhantes
Em provações alucinantes
Nos quais dizia ver os próprios irmãos seus,
Rememorava a fala do milhão
E clamava, em voz alta, ao lembrar-lhe a lição:
— Obrigado, meu Deus!...

MARIA DOLORES (Espírito). Maria Dolores. Psicografado por Chico Xavier. São Paulo: IDEAL.
 

terça-feira, 29 de março de 2022

 

EM DIA COM O MACHADO 516:
A FAMÍLIA E O AMOR (Jó)


            Hoje tratarei sobre o amor familiar com base no contido em artigo meu, publicado em Reformador deste mês de março de 2022. Após tecer diversas considerações iniciais sobre o tema, cito pequeno trecho lido na belíssima obra Memórias do Padre Germano, psicografada pela médium espanhola Amalia Domingo y Soler, do qual destaco o último parágrafo: "Tudo ama, tudo se encadeia na vida; não há fato isolado nem homem solitário, tudo forma família; o crime cria a sua atmosfera asfixiante, e a virtude o seu puríssimo ambiente" (capítulo intitulado Quarenta e cinco anos).

            Comento, então, que nosso primeiro amor, como está n'Os Dez Mandamentos, recebidos por Moisés, deve ser a Deus, nosso Pai, como afirma Jesus; portanto, somos todos irmãos, que precisam amar-se uns aos outros como a si mesmos. Concluo que, em nossa família, nossos pais são os que estão mais próximos de nós, pois estão presentes em nossas vidas até mesmo antes da fecundação do óvulo que dará origem ao nosso corpo.

            É no lar que deve principiar nossa educação. A preocupação da escola é com nossos conhecimentos teóricos principalmente. Quando a educação não nos é transmitida, desde os primeiros momentos da existência, a família não terá cumprido, diante de Deus, sua missão.

            Logo a seguir, cito um trecho de mensagem do Espírito Emmanuel, que pode ser lida no Livro da Esperança, psicografado pelo inesquecível médium Chico Xavier:

 

Ainda mesmo ao preço de todos os valores da existência física, refaze milhares de vezes, as tuas demonstrações de humildade e serviço, perante as criaturas que te cercam, ostentando os títulos de pai ou mãe, esposo ou esposa, filhos ou irmãos, porque é de tua vitória moral junto deles que depende a tua admissão definitiva, ante os amados que te esperam, nas vanguardas de luz, em perpetuidade de regozijo na Família Maior (cap. 39).

 

            Reforço que não nos devemos esquecer de que o núcleo familiar é o laboratório principal de nossos pensamentos, palavras e atos. Por ser no lar que exercitamos primeiramente o amor, o perdão, a caridade, a tolerância, deduzo que somente assim demonstraremos ter entendido o poder das virtudes cristãs em nossas vidas, como Jesus Cristo nos deu exemplo. Por fim, recomendo o estudo das obras espíritas, em família, para não apenas recebermos, como também transmitirmos o que em nós haja de melhor.

            Não sou o melhor dos sete filhos de dona Cely, viúva aos quarenta anos. Entretanto, por mais trabalho que eu pudesse ter dado aos meus pais, sempre achei um absurdo um filho "ficar de mal" e maldizer seus pais... Então, deixo aqui meu pedido: peça sempre desculpas a seus pais, quando os aborrecer. Se chegar ao ponto de discutir com um deles, por mais razão que você tenha, lembre-se de que foram eles os responsáveis pela formação de seu corpo, que perderam noites de sono, quando ignoravam o motivo do seu choro, que o alimentaram, medicaram, que lhe ensinaram a andar, a falar e que se empenharam com o melhor que podiam na sua educação e formação escolar. Os pais que amam dão a vida na defesa de seus filhos.

            Se temos irmãos, devemos dedicar-lhes todo o nosso cuidado. Evitar bullyings, ainda que isso nos pareça apenas brincadeira. Defendê-los contra as agressões de outras crianças e jovens, sem apelar para atos violentos, mas não cruzar os braços quando qualquer membro de nossa família for agredido. Por fim, em família, devemos conversar com educação e não com gritaria, quando algo não esteja bem, para que, com o devido respeito entre todos, sejamos também respeitados e cheguemos a um acordo e perdão mútuo.

            É isto que entendo como "honrar pai e mãe": o amor em família.

segunda-feira, 28 de março de 2022

 

A SUBLIME POESIA DO ESPÍRITO MARIA DOLORES




            ATO DE GRATIDÃO
 
 
A minha gratidão franca e profunda
É tudo o que te oferto, alma querida,
No doce regozijo que me inunda,
Por todo o amparo que me deste à vida.
 
Notaste a provação em meus caminhos
E estendeste-me as mãos ternas e generosas,
Como quem faz do chavascal de espinhos
Um tapete de rosas.
 
Nada olvidaste para o meu alento...
Seguindo a minha dor de cada dia,
Trouxeste, com grandeza, à penúria que enfrento,
Proteção e agasalho, assistência e alegria.
 
Enxugaste-me o pranto da tristeza,
Em tua própria fé que me avigora,
Recordando em minh’alma a luz acesa,
Quando a sombra se esvai ao contato da aurora.
 
Fizeste mais... Quiseste, junto a mim,
O júbilo constante em presença dourada,
Com carícias de fonte e encantos de jardim
Para quem me partilhe as fadigas da estrada.
 
A fim de renovar-me o pensamento imerso
No turbilhão de fel que tanta vez me alcança,
Falaste-me de amor, ante as Leis do Universo,
Elevando-me o ser às bênçãos da esperança.
 
Por tudo te agradeço, alma formosa e amiga,
Nos empeços e pedras que transponho,
Encontro em ti o apoio que me abriga,
A bondade em resposta às ânsias de meu sonho...
 
Mas acima de tudo, a ti me entrego,
Na extrema gratidão, por onde vou,
Porque entendes as lutas que carrego
E aceitaste-me a vida como eu sou.

domingo, 27 de março de 2022

 

20.1 Instruções dos espíritos - os últimos serão os primeiros

 



20.1.1 Constantino - Espírito Protetor, Bordeaux, 1863

 

         O trabalhador da última hora tem direito ao salário. Mas é necessário que sua boa vontade atenda à disposição do Senhor que o devia empregar, e que seu atraso não seja fruto da sua preguiça ou da sua má vontade. Tem direito ao salário porque, desde o alvorecer, esperava impacientemente aquele que por fim o chamaria para a obra. Ele era trabalhador, só lhe faltava trabalho.

         Mas se ele houvesse recusado o trabalho a qualquer hora de dia; se houvesse dito: Sejam pacientes; o repouso é doce para mim; quando soar a última hora, pensarei no salário do dia. Que me importa esse patrão que não conheço e não estimo? Quanto mais tarde, melhor. Esse tal, meus amigos, não receberia o salário do trabalho, mas o da preguiça.

         Que será daquele que, em vez de ficar  simplesmente inativo, houvesse empregado as suas horas de trabalho diário para cometer atos culpáveis? Que tivesse blasfemado contra Deus, derramado o sangue de seus irmãos, perturbado as famílias, arruinado homens de boa fé, abusado da inocência? Que tivesse, enfim, se lançado a todas as ignomínias da humanidade? Que será dele? Será suficiente dizer à última hora: Senhor, usei mal meu tempo; empregue-me até o fim do dia, para que eu faça um pouco, um pouquinho que seja da minha tarefa, e pague-me o salário do trabalhador de boa vontade?  Não, não! O Senhor lhe dirá: Não tenho agora nenhum trabalha para você. Esperdiçou seu tempo, esqueceu o que havias aprendido, não sabe mais trabalhar na minha vinha. Recomece, pois, a aprender, e quando se sentir bem disposto, venha procurar-me e lhe abrirei meu vasto campo, onde poderá trabalhar a qualquer hora do dia.

         Bons espíritas, meus bem-amados, todos vocês são trabalhadores da última hora. Bem orgulhoso seria o que dissesse: Comecei o trabalho de madrugada e só o terminarei ao anoitecer. Todos vieram quando chamados, um pouco mais cedo, um pouco mais tarde, para a encarnação cujas correntes arrastam. Mas há quantos séculos o Senhor os chamava para sua vinha, sem que quisessem entrar nela? Eis chegado o momento de receberem o salário. Empreguem bem esta hora que lhes resta. E não se esqueçam de que sua existência, por mais longa que lhes pareça, não é mais do que um momento muito breve, na imensidade dos tempos que formam para vocês a eternidade.

            Tradução livre do prof. dr. Jorge Leite de Oliveira

sexta-feira, 25 de março de 2022

 

A SUBLIME POESIA DO ESPÍRITO MARIA DOLORES


A LENDA DA ROSA
 

Dizem que quando a Terra começava
A ser habitação de forças vivas,
Nas telas primitivas,

Tudo passara a ser agitação de festa;
As cidades nasciam
Em singelas aldeias na floresta...
A beleza imperava,
O verde resplendia,
Toda a vegetação se espalhava e crescia,
Dando refúgio e proteção
Aos animais,
Do mais fraco ao mais forte...
O progresso ganhava as marcas de alto porte.
 
No campo, as plantas todas
Respiravam felizes,
Da folhagem no vento à calma das raízes;
Era um mundo de belos resplendores,
Adornado de flores,
Com uma estranha exceção.
Tão somente, o espinheiro,
Era triste e sozinho
Uma espécie de monstro no caminho,
De que ninguém se aproximava,
Todo feito de pontas agressivas,
Recordando punhais de traiçoeiro corte,
Que anunciavam dor e feridas de morte.
 
De tanto padecer desprezo e solidão,
Um dia, o espinheiral
Fitou o Azul Imenso e disse em oração:
— Senhor, que fiz de mal
Para ser espancado e escarnecido,
Todos me evitam cautelosamente
Como se eu não devesse haver nascido...
Compadece-te, oh! Pai, da penúria que trago,
Terei culpa das garras que me deste?
Acendes astros mil para a noite celeste,
Vestes a madrugada em mantilhas vermelhas,
Dás lã para as ovelhas,
Inteligência aos cães, cântico às neves,
Estendeste no chão a bondade das fontes
Que deslizam suaves
Na força universal com que desdobras,
A amplitude sem fim dos horizontes,
Em cujo místico esplendor
Falas de majestade, paz e amor...
Não me abandones, Pai, às pedras dos caminhos,
Se posso, não desejo
Oferecer somente espinhos...
Quero servir-te à obra, aspiro a ser perfume,
Inspiração e cor, harmonia e beleza,
Para falar de ti nas leis da Natureza.
 
Dizem que Deus ouviu a inesperada prece
E notando a humildade e a contrição do espinheiral,
Mandou que, à noite, o orvalho lhe trouxesse
Um prodígio imortal.
Na seguinte manhã, logo após a alvorada,
Por entre exalações maravilhosas,
O homem descobriu, de alma encantada,
Que Deus para mostrar-se o Pai e o Companheiro,
Atendendo à oração pusera no espinheiro
A primeira das rosas.
 
MARIA DOLORES (Espírito). Maria Dolores.
Psicografado por Chico Xavier. São Paulo: IDEAL.

quarta-feira, 23 de março de 2022

 A SUBLIME POESIA DO ESPÍRITO MARIA DOLORES

A promoção
 
Resplendia o jardim celeste em pleno Espaço.
Era o maravilhoso dia
De alto deslumbramento
Do encontro de união e de alegria
Dos que haviam servido, passo a passo,
Nas tarefas do amor sem recompensa
Na Terra, onde o egoísmo
Tanta vez se condensa.
 
Era uma nesga azul de solo rarefeito
Matizada de flores
Bordadas de arabescos multicores
Onde podia respirar apenas
quem já pudesse irradiar
As vibrações serenas
Da fé sublime alçada ao bem perfeito.
 
Não eram muitos os conquistadores
Daquela posição de excelsos resplendores;
Quarenta e dois Espíritos somente,
Todos eles modelos de bondade,
Eram ali o escol da Humanidade,
Em atitude calma e reverente
Esperando a sonhada promoção
Que constaria do poder
de elevar-se à próxima ascensão.
 
Na luminosa e ilustre confraria
Estavam sacerdotes de renome,
Filósofos, notáveis pensadores,
Nobres mulheres, santas heroínas,
Monges mostrando frontes peregrinas,
Jovens que haviam sido vencedores
De tentações terríveis...
Todos trocavam frases de altos níveis...
Somente alguém, ali, em meio a tudo,
Que era festa de brilho e de beleza,
Parecia um mendigo triste e mudo,
Era o irmão Jonaquim,
Desconhecido entre os demais...
Vestia-se com peles de animais,
Remarcadas de lama...
Na expressão rude e feia,
Exibia sinais de sangue, lodo e areia;
Jazia ele a um canto, humilde e pensativo,
Enquanto o grupo conversava em festa.
 
Chegando o instante, enfim,
Da nobre promoção;
Aquele dos presentes que tivesse
O menor peso espiritual
Seria alçado à frente
Do caminho esplendente
Para mansões mais altas e mais belas
Da Vida Universal.
 
Vieram ao recinto os dois encarregados,
Ambos chamados Anjos da Balança,
E os candidatos sem qualquer despeito,
deixaram-se pesar num instrumento perfeito
Que lhes patenteava
A evolução imensa...
E o peso de cada um
Era leve, tão leve,
Que não se via quase
Uma pequena base
Para que se notasse a diferença...
 
O recatado Jonaquim
Ficou de longe, muito ao longe,
E sendo o último no exame
foi chamado por fim.
Ele veio acanhado,
Pés descalços no apoio de um bordão,
E um dos dois mensageiros perguntou:
— Jonaquim, meu irmão,
Dizei: qual foi na Terra a vossa religião?
Precisamos aqui de vossos dados
Para serem por nós
Devidamente revisados.
 
No entanto, Jonaquim, humilde, respondeu:
— Anjo bom, sou sincero... Crede!...
Eu Não tive sobre a Terra a fé pregada,
Acreditei, como acredito agora
Na presença de Deus que nos guarda e aprimora,
Entretanto,
Por mais que eu desejasse procurar
Um templo ou algum lugar
Para aprender como se adora a Deus,
Nunca pude sair
Da choça em que morei, ao pé de antiga estrada,
Onde os que sofrem eram irmãos meus...
Era um deserto a terra em que vivi...
Despendi muito tempo
A transportar crianças e doentes
Que ansiavam por água em solos diferentes...
Minha estreita choupana
Era uma porta aberta à desventura humana...
Ouvi a confissão de míseros velhinhos
Que clamavam, em vão, pelos parentes,
Agonizando, desvalidos,
E aguardando, debalde, os próprios descendentes...
De quantos eu cerrei, na morte, os olhos baços
Não saberei o número por certo...
Só Deus sabe os que vi morrendo nos meus braços
E os que enterrei, a sós, na penúria sem nome,
E as crianças sem apoio que me buscavam,
Sentindo sede e fome...
Deus me perdoe se nunca fui às crenças
Para estudar a fé e entender diferenças...
Ouvi dizer, na Terra, que houve um homem
Que nunca descansou, fazendo o bem,
Que amou aos bons e aos maus sem ferir a ninguém!...
Ah! Como desejava tê-lo visto!...
Dizem que se chamava Jesus Cristo;
Nunca lhe ouvi, no mundo, os lúcidos ensinos
E ouvi também dizer que por serem divinos
Ele morreu na cruz...
 
A pequena assembleia
Escutava expectante e enternecida
Aquele que soubera amenizar a vida.
E os Anjos da Balança
Puseram Jonaquim, sob exame preciso,
Em nome de Jesus...
Depois anunciaram num sorriso
Que o velho Jonaquim tinha o peso da luz.
 
MARIA DOLORES (Espírito). Coração e Vida. Psicog. Chico Xavier. São Paulo, SP: IDEAL, 1978, cap. 8.

terça-feira, 22 de março de 2022

 

EM DIA COM O MACHADO 515:
entrevista com Kardec sobre a guerra (Jó)



Salve, leitores!

Em novo devaneio, vejo-me sentado em confortável cadeira da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas. À minha frente, está Allan Kardec, o Codificador do Espiritismo, sorridente e afável. Eu faço-lhe algumas perguntas, que ele responde gentilmente:

— Existe vida fora da matéria, mestre?

Fora do mundo corporal visível existem seres invisíveis, que constituem o mundo dos Espíritos, meu caro Jó.

— Esses Espíritos são seres à parte na criação de Deus?

— Jó, os Espíritos não são seres à parte, mas as próprias almas dos que viveram na Terra ou noutras esferas, e que se despojaram de seus invólucros materiais.

— Quando libertos da matéria, por certo, passamos a ter conhecimento de tudo, não é mesmo, Allan?

— Negativo. Os Espíritos apresentam os mais diversos graus de desenvolvimento intelectual e moral.

— E como podemos discernir o que nos é transmitido por um Espírito bom daquilo que nos diz um mau, Kardec?

— Os bons só lhes dizem coisas importantes, elevadas, que visem sempre o bem. Nunca se contradizem. São humildes, simples e sua linguagem é de grande elevação moral e intelectual. Os maus são intrigantes, ambiciosos, pretensiosos, orgulhosos e egoístas. Para uma boa distinção sobre o nível moral e intelectual dos Espíritos, Jó, recomendo-lhe a releitura dos itens 100 a 113 d'O Livro dos Espíritos.

— Os Espíritos realizam ações que possamos perceber?

— Amigo Jó, nós os acompanhamos incessantemente. Sem que vocês saibam, dirigimos seus pensamentos e suas ações, assim influindo nos fatos e nos destinos da humanidade. Um exemplo disso acaba de ocorrer com você. Tudo que, até aqui, me perguntou está respondido, na carta que publiquei, na Revista Espírita de janeiro de 1859, dirigida ao Príncipe G. Agora lhe sugeri, mentalmente, mudar o tema para guerra.

— E não é que essa ideia acaba de me ocorrer? Qual é a causa da guerra, Kardec?

— Jó, segundo o que está no item 742 d'O Livro dos Espíritos, a guerra é causada pela predominância da natureza animal sobre a natureza espiritual e satisfação das paixões. No estado de barbárie, os povos só conhecem o direito do mais forte, daí por que, para eles, a guerra é um estado normal. À medida que o homem progride, a guerra se torna menos frequente, porque ele evita suas causas...

— Mestre, segundo o item 745, que encerra o assunto no citado livro, que devemos pensar de quem promove a guerra em benefício próprio?

Esse é o verdadeiro culpado. Precisará de muitas existências para expiar todos os assassínios dos quais foi a causa, pois responderá por cada pessoa cuja morte tenha causado para satisfazer sua ambição.

— Obrigado, Kardec. Fica aqui seu registro.

— Paz e luz, irmão Jó. Au revoir!

Merci, cher maître. Au revoir!

segunda-feira, 21 de março de 2022

 


20 OS TRABALHADORES DA ÚLTIMA HORA

 

Instruções dos Espíritos: Os últimos serão os primeiros. Missão dos espíritas. Os trabalhadores do Senhor.


O Reino dos Céus é semelhante a um pai de família que saiu de madrugada  a fim de assalariar trabalhadores para a sua vinha. E tendo convencionado com os trabalhadores que eles receberiam um denário por dia, mandou-os para a sua vinha. Saiu novamente à terceira hora do dia e, vendo outros que se conservavam na praça sem nada fazer,  disse-lhes: Vão vocês também para a minha vinha e lhes darei o que for razoável. E eles foram. Saiu novamente à hora sexta e à hora nona e fez o mesmo. Saindo mais uma vez à hora undécima, encontrou ainda outros que lá estavam desocupados, aos quais disse: Por que vocês estão aí o dia inteiro sem trabalhar? Responderam-lhe eles: Porque ninguém nos assalariou. Ele lhes disse: Vão vocês também para a minha vinha. 

Ao cair da tarde, disse o senhor da vinha àquele que cuidava de seus negócios: Chama os trabalhadores e paga-lhes, começando pelos últimos e indo até os primeiros. Aqueles que começaram seu trabalho na vinha na décima primeira hora se aproximaram, e cada um recebeu um denário. E chegando também os que tinham ido primeiro, julgaram que haviam de receber mais; porém, também receberam um denário cada um. E ao recebê-lo, murmuravam contra o pai de família, dizendo: Estes últimos não trabalharam senão uma hora, e você lhes pagou tanto quanto nós, que suportamos o peso do dia e do calor. 

Mas como resposta ele disse a um deles: Meu amigo, não lhe causo dano algum; você não combinou comigo receber um denário por seu dia? Tome o que lhe pertence, e vá embora, pois quero dar, também a este último, tanto quanto a você. Seu olho é mau, porque eu sou bom?

Assim, os últimos serão os primeiros, e os primeiros serão os últimos, porque são muitos os chamados e poucos os escolhidos (Mateus, 20:1- 16. Ver também cap. 18, item 1, Parábola do Festim das Bodas).

Tradução livre do prof. dr.  Jorge Leite de Oliveira.

                

sexta-feira, 18 de março de 2022

 

A SUBLIME POESIA DO ESPÍRITO MARIA DOLORES
Em 18 de março de 2022.
 


ANSEIO DE AMOR
 
Quando me vi, depois da morte,
Em sublime transporte,
E reclamei contra a fogueira
Que me havia calcinado a vida inteira
Pela sede de amor ...
 
Quando aleguei que fora, em toda estrada,
Folha ao vento,
Andorinha esmagada
Sob o trator do sofrimento....
 
Quando exaltei a minha dor,
Mágoa de quem amara sempre em vão,
Farta de incompreensão...
 
Alguém chegou, junto de mim,
E disse assim:
— Maria Dolores,
Você que vem do mundo,
E se diz
Tão cansada e infeliz,
Que notícias me dá do vale fundo
De provação,
Onde a criatura de tanto padecer
Não consegue saber
Se sofre ou não?
 
Você que diz trazer o seio morto,
Que me pode falar
Dos meninos sem pão e sem conforto,
Das mulheres sem lar,
Dos enfermos sozinhos,
Que a febre e a fome esmagam nos caminhos,
Sem sequer um lençol ou a bênção de uma prece,
Dando graças a Deus, quando a morte aparece?!..
 
Você, Maria Dolores,
Que afirma haver amado tanto
E que deve ter visto
O sacrifício e o pranto
De quem clama por Cristo,
Suplicando o carinho que não tem,
Que me pode contar daquelas outras dores,
Daquelas outras aflições
Dos que choram trancados em manicômios e prisões,
Buscando amor, pedindo amor,
Exaustos de tristeza e de amargura,
Como feras na grade,
Morrendo de secura,
De solidão, de angústia e de saudade?!...
 
....................................................................................
Bem-querer!... Bem-querer!...
Ai de mim, que nada pude responder!
Que tortura, meu Deus, a verdade, no Além!...
Calei-me, envergonhada...
 
Eu apenas quisera ser amada,
Não amara ninguém...

MARIA DOLORES (Espírito). Antologia da espiritualidade.
Psicografado por Chico Xavier. 6. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2011.

quarta-feira, 16 de março de 2022

 

A SUBLIME POESIA DO ESPÍRITO MARIA DOLORES

 


ALGUÉM CONVIDA

 

A fim de não descermos, alma boa,
A considerações frias e cegas,
Lembra, no culto da beneficência,
O tesouro de bênçãos que carregas.
 
Usando as mãos tão ágeis quanto livres,
Sem quaisquer embaraços,
Pensa na provação dos companheiros
Que caminham sem braços.
 
Em contemplando céus, estrelas, flores,
Sem notar que a visão é um dom de luz que levas,
Fita os irmãos que trazem sobre os olhos
Duas vendas de trevas.
 
Manejando a palavra que te exprime
E com que prendes tanto quanto estudas,
Medita na extensão das outras vozes
Inibidas ou mudas.
 
Ante os seres queridos
Que te ofertam amor e que estimas amar,
Anota, coração, os que varam a vida
Sem um pouso por lar.
 
Envolvendo em conforto um filho amado
Que recolhes por laço predileto,
Reflete nos pequenos desprezados
Que padecem na rua a carência de afeto.
 
Enquanto a fé te ampara e abençoa a alegria,
Lutes, de estrada a estrada, muito embora,
Encontres tanta gente arrasada de angústia,
Tanta gente que chora!...
 
Enumera as vantagens que desfrutas
E escuta, alma querida, o convite de alguém
É o Cristo que aguarda o concurso fraterno
Para estender no Mundo a construção do Bem.
 
MARIA DOLORES (Espírito). Maria Dolores.
Psicografado por Chico Xavier. São Paulo: IDEAL.

terça-feira, 15 de março de 2022

 

EM DIA COM O MACHADO 514:

Sobre a dúvida - "entrevista" com Raul e amigos espirituais (Jó)

 


Bom dia, amigos!

Hoje resolvi "consultar" o amigo Raul e alguns dos seus benfeitores espirituais, em meus devaneios inspirados por algumas mensagens lidas numa de suas belas obras: Ante o Vigor do Espiritismo. Psicografias e entrevistas de Raul Teixeira. 3. ed. Niterói, RJ, Fráter Livros Espíritas, 2012. Daqui sairão as respostas abaixo. Se quiser saber mais, compre o livro. Com isso, estará ajudando na manutenção do Remanso Fraterno, departamento social da Sociedade Espírita Fraternidade, em Niterói, RJ. Começo pelo bondoso Espírito Camilo:

— Camilo, por que tanta dúvida sobre nossa origem espiritual no mundo?

— Ainda são escassas as almas, na Terra, que refletem com lógica sobre o assunto, meu amigo. A maioria dos espíritos encarnados indaga "sem efetuar o mínimo esforço por encontrar uma luz perante as dúvidas que lhes incomodam a mente". Daí surgir a incerteza, característica própria "dos mundos pouco evoluídos".

— De que necessitamos para não mais duvidar da realidade do mundo espiritual?

— Precisamos "de muito estudo, de muita reflexão, de amadurecimento", que são algumas das bases do "progresso", aliadas ao amor. Devotamento ao estudo e abnegação para com o próximo em tudo o que formos chamados a realizar em seu benefício são os primeiros passos de nossa própria felicidade. Sem caridade, rodopiaremos sempre, sem sair do lugar...

— E como podemos entender a caridade em seu sentido crístico?

— Já vi que você acabou de ler e parafrasear essa pergunta, que está no item 886 d'O Livro dos Espíritos, mas para os amigos que nos leem, repito a resposta a ela: "Benevolência para com todos, indulgência para as imperfeições dos outros, perdão das ofensas". Isso é caridade.

— Onde encontrar respostas a todas as nossas dúvidas, amigo Camilo?

— Leia, reflita, estude as obras espíritas, a começar da citada acima. Observe atentamente os fenômenos naturais ocorridos cotidianamente em sua vida e na do próximo, que não têm explicação pelas leis puramente materiais, persevere nesses estudos e em sua prática, de modo a que sua consciência jamais o censure e você estará no caminho certo. Se cair, levante-se e prossiga... Desanimar, jamais.

— Obrigado, Camilo. Tenho-me esforçado em fazer assim, amigo! Abraço espiritual.

Terminada a "entrevista" com Camilo, passo agora a falar com o Espírito Rosângela.

— Veneranda Rosângela, que fazer quando a dúvida nos invade o pensamento?

— Irmão Jó, "Diante das coisas para as quais ainda não encontre a buscada explicação, não se impaciente, aprenda a aguardar no tempo, sem estagnar, sem amolentar-se; aproveite valorosamente a oportunidade que Deus lhe empresta".

— Obrigado, Rosângela, que a luz divina continue clareando seu bondoso coração. Peço, agora, sua licença para entrevistar o elevado Espírito Anália Franco, destacada educadora na Terra.

— Anália, qual é a causa do fracasso da educação escolar dedicada à cultura intelectual?

— É o foco exclusivo na "cultura horizontal". Não há ênfase na educação moral. Nesse sentido, a escola que enfoca o "ensino moral à luz do Espiritismo segue adiante, conscientizada de que se está construindo os pilares do Reino de Deus no interior das almas humanas".

         — E que sugere nossa mui querida irmã às escolas, de modo geral?

         — Recomendo que se invista na edificação de um mundo melhor, a começar pelos ensinos de Jesus que, na aprendizagem "por meio da interpretação do Espiritismo, tornam-se portentoso curso, através do qual os pequeninos e os moços lograrão obter benfazeja educação e consequente libertação [...]. Educai para salvar."

— Muito obrigado, querida irmã. Até a vista!

Passo agora à pergunta final ao amigo Raul.

— Raul, de que necessita cada pessoa para adquirir total convicção de que continuará viva após a desencarnação?

— Meu caro Jó, repito-lhe o que respondi na questão 54 da obra Ante o Vigor do Espiritismo, na qual você se baseou para criar estas imaginárias entrevistas: "Ao lado dos indispensáveis estudos, que nos dão as bases teórico-filosóficas, creio que [falta] um processo de meditação sobre a existência, o hábito de refletir sobre a vida na Terra, com seus feitos, suas ocorrências e consequências".

Com tão sábias palavras, despeço-me de todos, mas recomendo também a leitura, na obra citada, das belas mensagens dos elevados Espíritos Yvon Costa, Francisco de Paula Vítor, Emílio Manso Vieira, Djalma Monteiro de Farias, Sebastião Affonso de Leão, e os poemas de Belmiro Braga (Jamais o aborto) e de Sebastião Lasneau (No estudo).

Quando se estuda, se reflete e se pratica cada mensagem de Jesus, revivida pela Doutrina Espírita, todas as dúvidas se esvaem e a vida se torna maravilhosa. Nada supera a força do amor, pois Deus é Amor, e somos seus filhos.

Filhos do Amor, nascemos para amar, aprender e servir com proveito, indubitavelmente!

segunda-feira, 14 de março de 2022

 

A SUBLIME POESIA DE MARIA DOLORES



ANSEIO E PRECE

 

Senhor!...
Sei que nos deste a todos
Um encargo ou missão.
Nada promoves sem objetivo,
Nada fazes em vão.
 
À estrela conferiste
A bênção de aguentar-se e refulgir sem véu,
Tal qual sucede ao Sol que nos conduz
Pelas vias do Céu.
 
Atribuíste à Terra
A função de compor e recompor
A forma em que o trabalho nos confere
A ciência do amor.
 
Colocaste no mar a investidura imensa
De externar-te o poder
E a fonte o privilégio de ensinar-nos
A humildade por norma e o perdão por dever.
 
Comissionaste as árvores amigas,
Em que a lição do bem se exprime e se condensa,
Para a tarefa de guardar-te a vida
E auxiliar sem recompensa.
 
Doaste à flor o dom de perfumar
E puseste na estrada o dom de conduzir,
Deste música às aves, deste ao vento
O doce ministério de servir.
 
Tudo te filtra a glória soberana,
Tudo te exalta a Lei,
Em razão disso, eu própria reconheço
Que quase nada sou e quase nada sei.
 
Mas se posso pedir-te alguma coisa,
Converte-me, Senhor, a própria imperfeição
Num canal pequenino que te mostre
A força da bondade e a luz da compaixão.
 
MARIA DOLORES (Espírito). Coração e Vida.
Psicografado por Chico Xavier. São Paulo, SP: IDEAL, 1978.

domingo, 13 de março de 2022

 

19.4.2 A fé divina e a fé humana - Um Espírito protetor - Paris, 1863

 


         A fé é o sentimento inato, no homem, de seus destinos futuros. É a consciência que ele tem das imensas faculdades depositadas em seu íntimo, em estado latente, e que ele deve fazer germinar e crescer, através da sua vontade ativa.

         Até o presente, a fé só foi compreendida no seu sentido religioso, porque o Cristo a revelou como poderosa alavanca, e porque nele só viram o chefe duma religião. Mas o Cristo, que realizou milagres, mostrou, por esses mesmos milagres, quanto pode o homem que tem fé, isto é, a vontade de querer e a certeza de que essa vontade pode obter satisfação. Os apóstolos, com seu exemplo, também não fizeram milagres? Ora, que eram esses milagres, senão os efeitos naturais cujas causas eram desconhecidas dos homens de então, mas que hoje, em grande parte, se explicam e que serão completamente compreendida pelo estudo do Espiritismo e do Magnetismo?

         A fé é humana ou divina, conforme o homem aplique suas faculdades, à satisfação das necessidades terrenas ou das suas aspirações celestes e futuras. O homem de gênio, que se lança na realização de um grande empreendimento, triunfa se tem fé, porque sente em si que pode e deve triunfar, e essa certeza íntima lhe dá uma extraordinária força. O homem de bem que, crendo no seu futuro celeste, quer preencher a sua vida com nobres e belas ações, tira da sua fé, da certeza da felicidade que o espera, a força necessária, e ainda nesse caso se realizam os milagres da caridade, do sacrifício e da abnegação. Enfim,  com a fé, não há maus pendores que não possam ser vencidos.

         O magnetismo é uma das maiores provas do poder da fé posta em ação. É pela fé que ele cura e produz esses fenômenos estranhos que, antigamente, foram qualificados de milagres.

         Eu lhes repito: a fé é humana e divina. Se todos os encarnadas estivessem bem convencidos da força que trazem consigo, e se quisessem pôr sua vontade a serviço dessa força, seriam capazes de realizar o que até hoje eles chamam de prodígios, e que, entretanto, nada mais é simplesmente que um desenvolvimento das faculdades humanas.

             Tradução livre de Jorge L. de Oliveira - http://lattes.cnpq.br/0494890808150275.

 

 

  Propriedade Intelectual (Irmão Jó) Houve época em que produzir Obra de arte legal Era incerto garantir Direito intelectual.   Mas com tant...