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sábado, 24 de dezembro de 2016



Em dia com o Machado 243 (jlo)

Arthur Conan Doyle foi o genial autor de Sherlock Holmes, famoso mundialmente, que se tornou espírita e recusou a maior distinção que alguém poderia receber do Império Britânico: “Par do Reino Unido da Grã-Bretanha”. O motivo? Não aceitou a condição que lhe foi imposta de “renunciar ao Espiritismo”. Seus testemunhos, até o fim de sua vida, podem ser lidos em obras como História do Espiritismo e A Nova Revelação, entre outras. Era médico, mas destacou-se na literatura mundial como poucos escritores.
Escreveu ele, em A Nova Revelação: “As religiões se mostram em grande parte petrificadas e decadentes, abafadas pelas fórmulas e sufocadas pelos mistérios. Podemos provar que não há necessidade nem de uma coisa nem de outra” (DOYLE, 1980, p. 115).
Ainda dele é a seguinte frase: “[...] se um homem é bondoso e humilde, não há porque temer pelo destino de sua alma, seja ou não membro de uma igreja organizada na Terra” (Id., introd.).
Neste fim de ano, em que tantas infelicidades terrenas vem provocando as ideias materialistas, é importante refletir no exemplo de almas de escol como a de Doyle. Por isso, propomos ao leitor de nossas singelas linhas mais duas frases, agora psicografadas pelo maior médium do século XX, Chico Xavier, que lhe foram ditadas pelo Espírito André Luiz:
A primeira é esta: “Melhore tudo dentro de você, para que tudo melhore ao redor dos seus passos” (XAVIER, 1990, p. 74).
A segunda, não menos importante, é a seguinte: “A obra de Jesus pede amor e colaboração, bondade e devotamento” (Id., p. 77).
Conan Doyle foi um exemplo de cristão-espírita ou neoespiritualista, como era vista a mensagem da “nova revelação” nos países anglo-saxões. Dedicou todo o seu amor e todo o seu empenho na divulgação dessa revelação pelos Espíritos enviados por Jesus, em sua terceira revelação. Exercitou a bondade, a humildade e o devotamento a essa causa até o fim de sua última encarnação, com renúncia a qualquer distinção, por mais alta que fosse, para se manter fiel à sua nova crença. Manteve-se firme na defesa e divulgação deste que é o maior legado que o Cristo nos proporcionou, como antídoto ao Materialismo: o Espiritismo, ou Nova Revelação, ou Consolador Divino que veio para nos livrar da ignorância, do fanatismo religioso e instaurar, definitivamente, o Reino do Cristo na Terra.
Com essas palavras, renovo aos meus leitores os votos de paz e saúde neste Natal e no próximo ano. E que se concretizem as nossas esperanças de um Novo Ano repleto de realizações no campo do bem, o nosso elevado entusiasmo, incansável devotamento e muita força de vontade para superar todos os novos desafios.
Até 2017!

Referências
DOYLE, Arthur Conan. A Nova Revelação. 3. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1980.
______. História do Espiritismo. Tradução de Júlio Abreu Filho. São Paulo: Pensamento, 1994.
XAVIER, F. C. A Verdade Responde. Pelos Espíritos Emmanuel e André Luiz. São Paulo: Instituto Divulgação Editora André Luiz, 1990.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2016



Em dia com o Machado 242 (jlo)

Perguntas que todo filósofo faz e muitos de nós também fazemos são as seguintes: Por que Deus permite que o mal sobressaia na Terra? Por que os homens são tão cruéis que tentam impor pela força suas ideias e ideologias, desrespeitando a fé alheia e praticando todo o tipo de atrocidade em nome de Deus, Alá, Jeová, Krishna ou seja lá o que considera seu deus? Em cada mensagem divina não impera o Amor? Se o objetivo da fé é nos fazer crer numa Entidade que nos criou para que nos amemos e não pratiquemos o mal, como explicar que alguns se considerem diferentes dos demais por crerem em um deus particular, que desejam impor a todos como o único verdadeiro e em quem se deve acreditar, sob pena de morrer brutalmente assassinado quem nele não crer?
Por se rebelarem contra tais deturpações da Lei Divina é que muitos filósofos concluíram, erradamente, que Deus não existe. Como não existe algo que desconhecemos? Procuremo-Lo em nossas consciências e perceberemos que Ele existe, sim. Observemos a perfeição da Natureza, sua beleza incomparável, que não é obra nossa e, pelo efeito, remontaremos à Causa, pois se todo efeito possui uma causa, um efeito inteligente só pode ter uma Causa inteligente, como deduziu, sabiamente, Hippolyte Léon Denizard Rivail, que muitos ainda desconhecem.
Um grande número de poetas, filósofos e cientistas desertaram da vida por considerá-la sem sentido. Puro equívoco, o sentido da vida é o de nos submeter às provas materiais para que, transcendendo-as, nos espiritualizemos. Por isso, o profeta galileu nos recomendou: “Brilhe a vossa luz”. Por isso, deixou-se pregar numa cruz: para nos provar que o Espírito sobrevive à matéria. Desse modo, três dias após sua “morte desumana” ressurgiu do sepulcro e mostrou-se, não somente a seus discípulos, como também, tempo depois, a quinhentas pessoas, na Galileia. Ali, subiu novamente à montanha para renovar suas sublimes palavras:
— Bem-aventurados os que creem e mesmo os que duvidam, pois o reino de Deus não é somente para aqueles, mas para todos os que vivem para o bem sem qualquer outro objetivo a não ser o da alegria em ajudar o próximo, reflexo de si mesmos.
Reflitamos nisso e tenhamos um Natal sem ódio, sem ressentimento, mas com tolerância a todos os nossos irmãos em Humanidade, qualquer que seja a sua crença e mesmo que não a tenham.
Que em 2017 possamos contribuir com a melhoria do mundo, começando pelo esforço em sermos os primeiros a nos tornar melhores.
Concluamos nossas reflexões com o belo soneto de Auta de Sousa (psicografia de Chico Xavier em Parnaso de além-túmulo): O Senhor vem...

E eis que Ele chega sempre de mansinho.
Haja sol, faça frio ou tempestade;
Veste o manto do amor e da verdade,
E percorre o silêncio do caminho.

Vem ao nosso amargoso torvelinho,
Traz às sombras da vida a claridade,
E os próprios sofrimentos da impiedade
São as bênçãos de luz do seu carinho.

Como o Sol que dá vida sem alarde,
Vem o Senhor que nunca chega tarde,
E protege a miséria mais sombria.

Ele chega. E o amor se perpetua...
É por isso que o homem continua
Ressurgindo da treva a cada dia.
  
Ah, sim, Rivail, para quem não sabe, foi Allan Kardec... O Senhor é Jesus Cristo.
Boas Festas! 

quarta-feira, 14 de dezembro de 2016


Em dia com o Machado 241 (jlo)

Júlia publicou sua história e três verdades da vida, na revista Seleções deste mês, que desejo compartilhar consigo, leitora amiga. A primeira é a , a segunda é a família e a terceira é o amor.
Ela disse que contraíra câncer de ovário, embora fosse saudável, até então, praticante de natação diária e de ioga. Tem um casal de filhos pequenos, trabalha como apresentadora de TV e escritora.
Descobriu-se portadora de uma massa do tamanho de uma “bola de basquete”, que se encaixava entre o seu umbigo e a coluna, como se estivesse grávida. Naturalmente, passou pelas fases normais de pessoas em sua situação “terminal”: perplexidade, revolta e aceitação.
Ficou perplexa por perceber que, embora sendo pessoa de hábitos saudáveis, contraíra uma forma rara de câncer, com possibilidade de não viver até o Natal deste ano. Foi tomada de revolta quando refletiu na existência de seu casal de filhos, que, diariamente, arrumava com carinho e levava para a escola. O que seria deles sem ela? Por fim, isolou-se dos meios de comunicação, nos dias que antecederam à cirurgia para retirada dos tumores: um em cada ovário, aceitou...  
O sentimento inicial era de horror, mas a fé entrou em ação e, após muito orar, seguiu serena para a operação. A fé consolou-a, pois percebera que nossas vidas estão nas mãos de Deus, que, sendo Pai Amoroso, tudo faz em nosso benefício. A segunda verdade surgira no apoio recebido de toda a família, incluindo-se nela os fãs e amigos, com quem aprendeu a terceira verdade, a do amor.
Superou, assim, cinco horas de cirurgia, com complicações, e mais oito dias na UTI, quando teve visões como a de um músico de reggae, que se sentara calado em sua cama, a de seu irmão mais velho entrando na sala hospitalar ostentando três cabeças e, finalmente, vendo e ouvindo o barulho de chuva intermitente em torno de sua cama da enfermaria.
Por fim, no momento da alta hospitalar, a má e a boa notícia. A primeira foi a de que ela tivera um raro tipo de câncer que poderia reaparecer a qualquer tempo de sua vida. A segunda foi a de que a taxa de sobrevida, para quem tem esse câncer, é muito alta.
Durante todo esse período de luta contra a indesejada das gentes, o apoio de sua família foi maravilhoso, aliado à força da fé. Alguns parentes vieram de longe, prestar-lhe solidariedade e apoio, como a da pessoa que viajara 20 horas “só para lhe trazer um abraço”. E Júlia percebeu que “família é tudo”.
Por fim, a dinâmica e otimista mãe e profissional da mídia descobriu que o exercício do amor é fundamental para que nos sintamos bem conosco, com a nossa “tribo e família” e com Deus. Quando amamos e somos amados, podemos enfrentar todas as tempestades da vida sem temor pois, como diz este versículo do rei Davi:

“O Senhor é meu Pastor, e nada me faltará” (Salmo 23).

quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Em dia com o Machado 240 (jlo)

Ao ser acordado, às 6h da manhã, por sua esposa, com a informação de que o avião que transportava todo o time da Chapecoense havia caído, disse Joteli: — Isso é triste demais! E não mais conseguiu dormir naquele dia.
Depois, emocionou-se até as lágrimas quando soube que apenas três jogadores do time haviam sobrevivido e um deles ainda ficaria sem a perna direita, além de correr o risco de perder o pé esquerdo, o goleiro Jackson Follmann, reserva do Marcos Danilo, herói do jogo anterior, que ainda fora salvo com vida, mas falecera a caminho do hospital.
Os outros dois são o zagueiro Neto, em estado crítico, no hospital, e o lateral Allan Ruschel, que não mais corre perigo de morte.
Também saudamos outro herói da sobrevivência, o jornalista Rafael Henzel.
Além desses brasileiros, somente se salvaram o técnico da aeronave Erwin Tumiri e a comissária de bordo Ximena Suárez, ambos bolivianos. De todos, Erwin é o que está em melhor condição física. Parece ter caído de uma bicicleta e não de um avião destroçado.
O acidente repercutiu em todo o mundo, mas a homenagem dos colombianos, que, imediatamente, pediram à CONMEBOL para concederem o título de campeão sul-americano ao time da Chapecoense foi comovente. É o que se chama, no esporte, de far play. Bela demonstração de respeito e desprendimento em favor do outro, que é tratado como amigo e não como adversário.
Na quarta-feira, que seria o dia da decisão, a torcida colombiana encheu o estádio com mais de 40.000 torcedores, que traziam na mão uma vela branca acessa e faixas, nas quais se lia: “Somos todos Chapecoense”, “Força Chape”, “Chape, campeã sul-americana”.
Os muros do estádio Atanásio Girardot, em Medellín, foram adornados de flores e iluminados por velas e faixas de encorajamento e solidariedade ao time dos bravos jogadores da Chape, juntamente com toda a tripulação, jornalistas, dirigentes... Balões verdes elevaram-se aos céus!
Jamais se viu coisa igual!
Na última segunda-feira, atendendo ao desejo unânime do time colombiano, a Chapecoense foi considerada campeã sul-americana de futebol, e o Atlético Nacional de Medelín recebeu o troféu do centenário da CONMEBOL pelo fair play concedido, numa demonstração de “espírito de paz, compreensão e jogo limpo”.
Aqui no Brasil, o que parecia impossível aconteceu: as torcidas de São Paulo, Corinthians, Santos e Palmeiras se reuniram em linda e pacífica homenagem à Chapecoense e seus atletas mortos segundo a carne.
Que bom seria se não somente essas, mas todas as torcidas esportivas fizessem um pacto de não agressão e repúdio a qualquer tipo de violência, antes, durante e após as competições, a partir dessas manifestações comoventes e sinceras, que nos fazem lembrar as palavras de Jesus: amai-vos uns aos outros!
E que, numa partida de futebol, vença o melhor, mas respeite-se o vencido, competindo-se sempre com lealdade e verdadeiro espírito esportivo, como tão bem soube demonstrar o Clube Atlético Nacional da Colômbia, país irmão a quem devemos eternamente nossa gratidão pela lição de solidariedade que nos prestou, repercutindo no mundo inteiro.
Fica aqui a sensação de que, nas tragédias, percebemos quanto somos frágeis, mas também quanto podemos nos fortalecer com os gestos de solidariedade e de amor recebidos. Isso acontece porque, nesses momentos, o sentido da palavra humanidade torna-se sinônimo de irmandade.



terça-feira, 29 de novembro de 2016


Em dia com o Machado 239 (jlo)

Nos momentos de tragédia, quando muitas pessoas sucumbem a um grave acidente o mundo fica perplexo e se pergunta: Por quê?  A vida, porém, de mais de seis bilhões de humanos impermanentes na Terra, que se julgam permanentes, continua. E, dentre estes, surgem mesmo os que fazem chacota com a situação dos que vêm para o lado de cá.
Se as vítimas são cantores, dizem que vieram cantar no coral de São Pedro; se são pedreiros, terão vindo construir catedrais para os anjos; se escritores, ocupar-se-ão de obras literárias relacionadas aos sexos dos anjos; se jogadores desencarnam, os que ficam no corpo físico são capazes até mesmo de formar alguns times com os atletas do passado para disputarem partidas memoráveis, no céu, com os novos companheiros recém-ingressos no campo dos pés juntos.
Ressalta-se de todas essas manifestações, até mesmo otimistas, mas pouco  crédulas, entre os que se consideram “vivos”, que a grande maioria dos que assim agem não crê, efetivamente no que dizem e acreditam mesmo é que essas vítimas se perderam no nada.
Nunca mais! A religião é o “ópio do povo”, serve apenas para dar uma esperança absurda. Morreu, acabou...
Do lado de cá, outros cerca de 20 bilhões aguardam o momento de sua transmutação. Alguns em curtíssimo tempo, após seu retorno; outros em algumas décadas; outros mais depois de séculos ou mesmo milênios...Todos, entretanto, voltarão mais cedo ou mais tarde, salvo aqueles que já não estão subjugados pelas paixões humanas.
As experiências evolutivas, entretanto, também sofrem mutações. Do lado de cá, o ex-jogador tanto pode integrar a seleção dos sonhos, quanto o pesadelo das batalhas cruéis, quando optou por agredir, em vez de competir; o ex-cantor pode deparar-se com a afasia, em virtude das drogas que consumiu; mas o pedreiro responsável pode ser o grande engenheiro ou o arquiteto de um mundo melhor, desde que seja dócil às orientações dos técnicos do Além.
Ou seja, para os bons, a morte do corpo é sempre uma viagem espiritual que nada tem a ver com os horrores da decomposição cadavérica ou o choque das grandes tragédias humanas. Para no menos bons, uma oportunidade de aprender, refletir, aprender e recomeçar...
A vida é um eterno recomeço e um permanente aprendizado.
Por que será que grandes ditadores, criminosos do presente ou do passado, antes de passarem para o lado de cá buscam o socorro das religiões, em especial a consulta espiritual aos “pais da Igreja”? É a consciência, esse implacável “dedo de Deus”, que lhes cobra, incessantemente, por seu irmão, como a Voz Divina que Caim ouvia, após assassinar seu irmão Abel: “Caim, Caim, que fizeste de teu irmão?”
Todavia, perguntará a leitora, e essas vítimas inocentes, o que fizeram para passar por prova tão rude? Por que motivo sofreram separação tão brutal?
Ao que lhe respondo: “Não há morte, cara leitora. Apenas a “veste física” é entregue aos vermes. A alma é imortal. Creia nisso, você não morrerá jamais. O que morre são as ilusões do mundo, que aqui ficam. No plano espiritual, a vida estua abundante, e o refrão de que “quem não deve não teme” se aplica como a luva dos melhores goleiros nas cidades do Além.
“Mas e os que ficam? Os órfãos, as viúvas ou viúvos dessas pessoas: jornalistas com promessa de futuro brilhante, dirigentes probos, jogadores alegres e amigos, o que será da saudade, do sentimento de profundo pesar de todos aqueles que, direta ou indiretamente, se vinculavam a eles?” Tudo passa, neste mundo, mas tudo retorna, o que lhe parece uma eterna separação não passa de um até breve. Os que ficam, assim como os que vão, continuam aprendendo e na companhia de quem nunca nos abandona: nosso Pai Eterno, na feliz expressão de Jesus: Deus.
Quem sabe se em poucos anos todos não estaremos juntos, novamente, dizendo: “Vai, Chape, vai, campeão!?”
É a roda da vida, incessante e surpreendente! Você pode até não acreditar, amigo leitor, mas, como diz meu amigo André Luiz, aqui do meu lado:
“[...] Uma existência é um ato.
Um corpo, uma veste.
Um serviço, uma experiência.
Um triunfo, uma aquisição.
Uma morte, um sopro renovador.
[...] Ai, por toda parte, os cultos em doutrina e os analfabetos do espírito!”
E eu repito, com esse amigo espiritual, suas palavras iniciais da obra Nosso lar que expressam uma pálida ideia do que seja o mundo espiritual:
“Que o Senhor nos abençoe”, assim como a todos esses nossos irmãos, viajores da eternidade, que ora são recebidos de braços abertos no deslumbrante e permanente campo do espírito.

Paz a todos nós! aos que aqui estamos e aos que ainda jazem sob o guante da veste temporária.

quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Em dia com o Machado 238 (jlo)


Tentei pagar conta telefônica pelo meu i-Phone, no ícone do BB e, em resposta, li a seguinte mensagem: “Desbloquear usando o Touch ID”. Bati com o dedo ali, para atender o pedido de desbloqueio e não abriu. Quando dedei em cancelar, fui atendido. Após meia dúzia de tentativas de desbloqueio sem resultado e cancelamento com êxito, resolvi ligar para o número de atendimento aos clientes da agência. Então, teve início nova saga. A secretária eletrônica pediu tudo, de 1 a 10, sem que nenhuma dessas opções fosse a que eu queria.
— E o que querias, Joteli?
— Ah, mestre Machado, desejava simplesmente que alguém e não somente uma gravação eletrônica me dissesse o que fazer para desbloquear aquele ícone e acessar o tal de Touch ID. Se ao menos o Touch, que até sobrenome tem, me dissesse o que fazer, poupar-me ia a perda de meia hora do meu precioso tempo...Ide para os quintos... ID.
— É, meu caro, atualmente, tudo está sendo informatizado. Andam dizendo que já há crianças que pouco após seu nascimento são capazes de dizer: “— Só paro de chorar se mamãe prometer que vai comprar um i-Phone 7 para mim!”
— É verdade, Machado, mas já sou idoso e só na próxima encarnação terei um cérebro limpinho para cutucar com o dedo todos os botões que aparecerem em minha frente.
— Nisso eu concordo contigo, Jo, CPU e cérebro têm que estar limpos para produzirem muito...
— Agora ocorreu-me que eu bem podia ter lembrado de consultar meu neto de 4 anos, ao invés de digitar cada número do código de barras pelo computador, para pagar a malfadada conta telefônica. Ó, céus, ó lua, ó mar... Por que não me sugeriste tal ideia antes, Bruxo!?
 — E a coisa ainda vai melhorar, meu caro secretário. Estamos nos primórdios do tempo em que as máquinas vão resolver tudo para nós, sem qualquer intromissão humana. Imagino o dia em que a pessoa liga para uma clínica médica e...
— Fufufufufil... fufufufufil... fufufufufil...
Após o terceiro fufufufufil, responde a/o secretária/o eletrônica/o:
— Bom dia! (Quanta educação!) — ou: Boa tarde!. Ou: Boa noite! Conforme a hora. (Quanta sofisticação!) — Aqui quem fala é Touch ID às suas ordens.
Para consulta à clínica geral com robô masculino, digite 1; para consulta a robô feminino, digite 2 [...]; para voltar ao robô anterior, digite 5.
— ....
— Dois! Se você está gripado, digite 1; se está com pneumonia, digite 2; se é gastroenterite, digite 3; hipo ou hipertensão, digite 4; outras doenças, digite 5.
— ...
— Um!... para cefaleia, digite 1; para tosse, digite 2; para espirro, digite 3; para coriza, digite 4, para hipertermia, digite 5..., para falar com outro robô, digite 0.
— ...
— Um!... Tome um paracetamol de oito em oito horas.
— ...
— [...]. Entendi o seu problema. Procure um/a robô psiquiatra.

E pensar que não era para bater com o dedo no Touch ID, e sim apertar o botão do i-Phone...
Depois disso, mais duas horas perdidas... Alteraram o meu blog e, por fim, fiquei sem sinal de internet!

E hoje nem sexta-feira treze é...

terça-feira, 15 de novembro de 2016



Em dia com o Machado 237 (jlo)

Em conversa rápida com seu filho, Joteli lhe disse que faz questão de viver, no mínimo, até os 89 anos, como ocorreu com a mãe de meu secretário. Em resposta, Leinad, o filho, disse-lhe, filosoficamente, que a vida terrena está nos desígnios de Deus. Como exemplo, citou o caso de um jovem de trinta e poucos anos, namorado de sua amiga, que morreu de infarto aos 32 anos.
É leitor, a vida é um sopro. Por isso Jesus afirmou que “O vento sopra onde quer e ouves a sua voz, mas não sabes donde vem, nem para aonde vai; assim é todo aquele que é nascido do Espírito” (João, 3:8).
Um pé de vento soprou, então, em meu ouvido: — O amigo fala sobre mim?
— É exatamente a seu respeito que acabei de falar, meu caro sopro.
— Não confundais as coisas, meu filho, o sopro é a minha voz... Eu sou o vento que sopra sobre vós, mas não sabeis de onde venho, ó alma dura. Pois agora dir-vos-ei quem sou, de onde venho e para onde vou.
— Quem é você?
— Já vos disse, e se tivésseis olhos de ver e ouvidos de ouvir saberíeis quem sou. Eu sou manifestação de quem sempre foi, é e será: puro Espírito, a quem importa adoreis “em espírito e em verdade” (João, 4:24).
— Ah, já sei! Você é o sopro da vida, manifestação de Deus.
— Exatamente, vosso servo e vosso senhor.
— Mas isso é um contrassenso, onde já se viu alguém ser servo e senhor ao mesmo tempo?
— Isso dependerá do que fizerdes de mim. Como estou em toda a parte e, por conseguinte, dentro, como também fora de vós, se fizerdes bom uso de mim, ter-me-ás como vosso servo. Caso contrário, ser-vos-ei implacável senhor dos destinos. Vede os moinhos, quanta utilidade nas grandes fazendas. Observai o ventilador, que, ainda hoje, refresca muita gente do calor. O deslocamento dos veículos... Em toda a parte eu me faço presente, a todos servindo, inclusive no ato de respirar, refrescar... Inspirai, porém, gás carbônico e morrereis. Obedecei aos meus impulsos salutares, na respiração e em todos os instrumentos úteis que, mercê de minha força e poder, vós construís e tereis vida gloriosa. Vosso servo, pois, mas também senhor de vossa vida.
— E de onde você vem?
— Venho do Universo, como parte do hálito Divino, de sua Vontade e de seu Poder.
— E para onde vai?
— Vou a toda parte, pois onde estou e aonde sopro, a vida se manifesta como parte de mim. De mim saístes, portanto, e para mim voltareis. Mas é preciso que a vossa luz adquira o brilho próprio destinado por mim a todos os meus filhos.
— É verdade... “Brilhe a vossa luz”, disse-nos o Cristo (Mateus, 5:16).
— Sim, filho meu, a luz também está no ar, éter quintessenciado, que sopro em cada ser. Entretanto, somente quando este se libertar de todas as impurezas da matéria, como as bactérias, assim como as larvas mentais, estará em condição de ascender aos meus braços. Sair da horizontalidade da animalidade e entrar na verticalidade do Espírito é a meta de todos vós.
Então concluí, leitor amigo, que a vida está nos desígnios de Deus, mas somente quem a alimenta com os textos sagrados e se esforça para colocá-los em prática está a caminho de ter vida em abundância, seja no corpo físico ou no espiritual. Comece pela leitura d’O Evangelho Segundo o Espiritismo para respirar o mesmo ar calmo do jovem galileu, nosso Mestre Jesus.

“Examinai tudo e retende o bem” (Paulo, I Tessalonicenses, 5:21).

quarta-feira, 9 de novembro de 2016

Em dia com o Machado 236 (jlo)

Amiga leitora, hoje vamos falar um pouco sobre biologia.
Os organismos vivos possuem três funções vitais: nutrição, reprodução e relação. A primeira função que nos mantém vivos é a nutrição, que absorve matéria e a transforma em energia. 
A nutrição tem por base os seguintes elementos: alimentação, circulação, excreção e respiração.
A alimentação pode ser heterotrófica ou autotrófica A primeira tem por base a matéria orgânica, animal ou vegetal, que nosso organismo transforma em “matéria própria”, ou seja, moléculas simples, obtidas por nosso sistema digestivo. A segunda, baseia-se na formação de matéria orgânica criada a partir da matéria inorgânica, como o dióxido de carbono, água e sais minerais, pelo fenômeno chamado fotossíntese, próprio dos vegetais.
A circulação nutre nosso corpo fazendo viajar nele, pelo sangue, todas as moléculas nutrientes.
A excreção é a eliminação, pela urina e fezes, de todas as substâncias inúteis ou nocivas ao nosso organismo; no caso dos vegetais, a excreção resulta da fotossíntese.
A respiração é a absorção do oxigênio e eliminação do dióxido de carbono no momento de nossa inspiração e expiração. É o metabolismo proveniente da respiração que nos proporciona a energia adquirida via alimentação. Sem ela, adeus, leitor; au revoir, lecteur.
A relação é a base do amor. É por seu intermédio que agimos e reagimos ante algo ou alguém.
Ela nos estimula uma resposta, positiva ou negativa. Isso tanto ocorre com as células quanto com os seres vivos. Se o movimento vai na mesma direção, a resposta é positiva; se caminha em via contrária, a resposta é negativa. Por trás dela está a vontade: de comer, de caçar, de amar, etc. Os estímulos variam com o meio, como também suas respostas, que podem ser internas, como a sensação de frio ou de calor, por exemplo; ou externas, como a amizade, o medo, a dor. O meio ambiente proporciona a todos os seres vivos a sobrevivência, quando seu relacionamento é positivo e equilibrado. Se houver um desequilíbrio no meio ambiente, os seres vivos poderão se destruir, como, por exemplo, a quantidade exagerada de ratos em local de escassa alimentação. Nesse caso, eles se devoram...
Deixei para la fin la reproduction, cara leitora, em vista de sua importância na sobrevivência de todos os seres. Se os seres vivos não se reproduzissem, a vida seria extinta no planeta. Por isso, é citada esta famosa frase de Jeová a Adão e Eva: — Crescei-vos e multiplicai-vos.
Há dois tipos de reprodução: a assexuada e a sexuada. A primeira ocorre em seres unicelulares. Ela pode ocorrer por bipartição, como no caso das algas e dos protozoários; pode dar-se por fragmentação, como acontece com as estrelas do mar e pode resultar da gemação, quando é o pai que dá origem a um novo ser, como ocorre com as esponjas do mar. Nesse caso, ocorre uma divisão desigual de uma das células paternas e a menor é atraída por uma das gemas da membrana plasmática paterna e desenvolve outro organismo igual.
Quanto à reprodução sexuada, a Natureza, bilhões de anos antes que o homem inventasse o pino e a tomada, criou os sexos opostos: masculino e feminino. É essa reprodução que permite o cumprimento, na Terra, do mandamento divino: “Amai vosso pai e vossa mãe”. O resto é “invenção” humana, quando se trata de reprodução sexual, cuja consequência, caso fosse abolida a forma macho/fêmea, seria a extinção da vida em nosso orbe. Nunca vi um pino dar à luz com outro pino, e nem tomada com tomada gerarem energia luminosa.
Para finalizar, leitor(a), curta esta bela música do padre Zezinho, melhor cantor cristão de nossos tempos, indubitavelmente, cuja música é um verdadeiro hino de amor, seja ela cantada por católicos, evangélicos, espíritas... Clique aqui: Oração Pela Família - Padre Zezinho - LETRAS.MUS.BR.



quarta-feira, 2 de novembro de 2016



Em dia com o Machado 235 (jlo)

Amigo leitor, Manoel Bandeira afirmou sobre mim que “Machado poeta foi vítima do Machado prosador”[1] e, com o rigor dos poetas consagrados, somente elencou uma dúzia de poemas, nas Ocidentais, “que têm a mesma excelente qualidade que têm os seus melhores contos e romances”. Senti-me por demais honrado com a opinião desse grande poeta pernambucano, pois não esperava mais que cinco leitores para Memórias Póstumas de Brás Cubas e eis que doze, nem mais, nem menos... doze poemas meus foram exaltados por ele, o que me faz deduzir que ao menos uma dúzia de leitores consagraram minha poesia. Aceito.
Um poeta de meu tempo pouco reconhecido à época, mas que Roger Bastide, crítico francês do século XX, considerou que era uma das três maiores penas do soneto simbolista mundial, junto com Mallarmé e Stefan George, é o Cisne Negro Cruz e Sousa.
Sinta a sinfonia de seus versos, embriague-se com o ritmo de suas rimas e emocione-se com a mensagem sublime de suas estrofes, amiga leitora, em mais de uma grosa de sonetos, como este, intitulado Piedade:

O coração de todo ser humano
Foi concebido para ter piedade.
Para olhar e sentir com caridade,
Ficar mais doce o eterno desengano.

Para da vida, em cada rude oceano
Arrojar, através da imensidade,
Tábuas de salvação, de suavidade,
De consolo e de afeto soberano.

Sim, que não ter um coração profundo
É os olhos fechar à dor do mundo,
Ficar inútil nos amargos trilhos.

É como se meu ser compadecido
Não tivesse um soluço comovido
Para sentir e para amar meus filhos[2].

Segundo Um Espírito Protetor, em mensagem d’O Evangelho Segundo o Espiritismo (cap. 17, it. 10),

Um sentimento de piedade deve sempre animar o coração dos que se reúnem sob as vistas do Senhor e imploram a assistência dos bons Espíritos. Purificai, pois, os vossos corações; não consintais que neles demore qualquer pensamento mundano ou fútil. Elevai o vosso espírito àqueles por quem chamais, a fim de que, encontrando em vós as necessárias disposições, possam lançar em profusão a semente que é preciso germine em vossas almas e dê frutos de caridade e justiça [...].

Por fim, esclarece-nos esse Espírito Protetor que

A perfeição está toda, como disse o Cristo, na prática da caridade absoluta; os deveres da caridade alcançam todas as posições sociais, desde o menor até o maior. Nenhuma caridade teria a praticar o homem que vivesse insulado. Unicamente no contato com os seus semelhantes, nas lutas mais árduas é que ele encontra ensejo de praticá-la. Aquele, pois, que se isola priva-se voluntariamente do mais poderoso meio de aperfeiçoar-se; não tendo de pensar senão em si, sua vida é a de um egoísta [...].
Não imagineis, portanto, que, para viverdes em comunicação constante conosco, para viverdes sob as vistas do Senhor, seja preciso vos cilicieis e cubrais de cinzas. Não, não, ainda uma vez vos dizemos. Ditosos sede, segundo as necessidades da Humanidade; mas que jamais na vossa felicidade entre um pensamento ou um ato que o possa ofender, ou fazer se vele o semblante dos que vos amam e dirigem. Deus é amor, e aqueles que amam santamente Ele os abençoa. – Um Espírito protetor (Bordeaux, 1863).

Pois bem, amigos leitores de meus doze poemas, o brilhante Cruz e Sousa[3], agora deste Plano invisível para vós, salvo se sois médium vidente, conclui com a receita final, à sua miríade de leitores com este poema psicografado por Chico Xavier, intitulado Alma do Amor:

Alma do Amor, cansada, erma e fremente,
Arrastando o grilhão das próprias dores,
Sustenta a luz da fé por onde fores,
Torturada, ferida, descontente...

Nebulosas, estrelas, mundos, flores
Rasgam, vibrando, excelso trilho à frente...
Tudo sonha, buscando o lume ardente
Do eterno amor de todos os amores!

Alma, de pés sangrando senda afora,
Humilha-te, padece, chora, chora,
Mas bendize o teu santo cativeiro...

Não esperes ninguém para ajudar-te,
Ama apenas, que Deus, em toda a parte,
É o sol do amor para o Universo inteiro.


Por fim, amigos, neste dia em que se comemora Finados, volto para assegurar-vos, como o fez meu personagem Brás Cubas, que não existe morte para quem ama. Amai e sede feliz. Mas amai como o Cristo amou, sonhai como Jesus sonhou, pensai como o Cristo pensou e vivei como Jesus viveu. Somente assim vencereis a morte e sereis felizes onde quer que estejais.
Feliz dia dos vivos!










[1] BANDEIRA, M. O poeta. In: ASSIS, M. Machado de Assis: obra completa, v. I, Rio de Janeiro: Aguilar, 1973.
[2] SOUSA, C. Poesias completas de Cruz e Sousa. Rio de Janeiro: Tecnoprint Ltda. Edições de Ouro, s. d.
[3] SOUSA, C. Espírito. In: XAVIER, F. C.; VIEIRA, W. Antologia dos Imortais. 4. ed.  Rio de Janeiro: FEB, 2002, parte III.

quarta-feira, 26 de outubro de 2016




Em dia com o Machado 234 (jlo)


Acompanhei meu secretário e esposa em passeio que fizeram ao Rio de Janeiro. No centro da cidade, eles resolveram fazer umas compras na Av. Nossa Senhora de Copacabana.
Como de praxe, viram deitados ou sentados nas calçadas diversos mendigos. Um deles era Simão, idoso e enfermo, cujo cajado estava encostado na porta fechada de uma loja.
Vagara, incerto, após fugir da seca no Piauí e fora despejado do pardieiro onde se hospedara, após acabar-se o pouco dinheiro que trouxera, resultante da venda de seu pequeno sítio a parentes que prometeram ajudá-lo, mas o deixaram desamparado. Agora, não lhe restava outra opção a não ser a de ser mais um dentre tantos seres humanos (ser, ser, seres, notou, leitor?) sem lar, sem cama, sem pão (sem, sem, sem, leitora, você viu isso?) e maltrapilho a vagar incerto, pelas longas e, por vezes, tumultuadas avenidas cariocas (as, as, as... isso é coisa da carioca Cecília Malan, rs).
Os cabelos alvos, a face enrugada, as mãos encarquilhadas de Simão muito pouco comoviam os transeuntes, que não se importavam em saber de onde viera e por que ali se encontrava. Os que o viam, apenas sabiam que se tratava de um mendigo. Não lhe conheciam o passado e nem lhes interessava seu futuro.
Com o passar dos dias, sem condições de comprar remédios para as feridas que surgiam em seu corpo encarquilhado, em virtude da desidratação e quedas, muitos pedestres o tratavam mal. Diversas pessoas afastavam-se enojadas. Alguns diziam que era “leproso”, outros alegavam que se fazia de doente e necessitado, mas que era farsante explorador da bolsa alheia.
Muitas vezes, Simão refletia em como fora difícil sua vida na caatinga nordestina; todavia, quando moço, possuía corpo robusto e boa saúde, a tudo superando, até chegar ali, na esperança de encontrar ao menos um biscate, um pequeno quarto onde repousar da velhice, alguma roupa limpa para vestir e o pão de cada dia. O tempo foi passando e Simão foi ficando cada vez mais fraco, mais desiludido, mais enfermo e cansado. Já não tinha forças nem mesmo para tentar localizar seus parentes no Piauí. Muito menos coragem para tal, pois sabia que seus três “filhos homens” e suas “cinco filhas mulheres” viviam em situação de penúria material e sua viagem para a “Cidade Maravilhosa” fora, para todos, uma boca a menos para comer a mandioca ralada com o pouco feijão da cuia; mais caldo do que feijão.
Um dia, porém, quando Joteli e esposa já não mais caminhavam pela avenida Nossa Senhora de Copacabana, após uma noite de chuva e de frio, o velho sofredor tentou levantar-se do seu canto na calçada onde dormira e caiu. Perdeu os sentidos e... horas depois, um rabecão que por ali passava recolheu seu corpo sem vida e o enterrou como indigente.
Assim é o destino de milhões de seres humanos.
Esta e outras cenas, vistas por meu amigo, o poeta português João de Deus, inspirou-lhe o seguinte poema, que compartilho com meus trinta ou quarenta fiéis leitores semanais:

Simão, o mendigo

Doente, pobre, velhinho,
O desditoso Simão,
Arrimado a seu bordão,
Andava devagarinho...

Pés e mãos em chaga aberta,
Lá ia o velho, coitado!
Enfermo, desamparado
E humilde na estrada incerta.

Cabelo todo branquinho,
Rugosa a face morena,
O pobre metia pena
A vagar pelo caminho...

De onde viera? Ora, quem
Buscava saber ao certo?
Vinha de longe ou de perto?
Ninguém sabia, ninguém.

Só lhe sabiam do nome,
E que, em miséria, sem nada,
Ele esmolava na estrada,
A fim de matar a fome.

Estendendo seu chapéu,
Pedia, cheio de dor:
— Uma esmola, meu senhor,
Por amor ao Pai do Céu!...

Mas, oh! Deus, que desalento
Neste mundo de aflição!
Ninguém ouvia Simão
Nas horas do sofrimento.

— Passai de largo! é leproso!... 
Diziam homens cruéis
— Oh! não vos   aproximeis
Deste  ancião  perigoso!...

— Ah! que graça! Põe-te à brisa! —
Exclamava outro passante —
— Nada de esmola ao tratante,
Que este  velho não precisa!...

O mendigo, nos seus ais,
Dizia: — Viva a saúde!
Trabalhei enquanto pude,
Agora, não posso mais...

Toda a gente lhe fugia,
Ninguém lhe dava uma sopa,
Nem um trapinho de roupa
Para a noite da agonia.

Muito tempo era passado,
E o desditoso velhinho
Sentia-se mais sozinho,
Mais doente, mais cansado...

Chegou, enfim, um  momento
Em que o velho sofredor
Caiu de frio e de  dor
Na estrada do sofrimento.

Caiu e sonhou, contente,
Embora a sede e o cansaço,
Que Jesus vinha do Espaço
Dizendo-lhe, docemente:

— Escuta, meu bom Simão,
Não temas, querido amigo!
Sê forte! Eu estou contigo.
Chegaste à ressurreição.

Não chores. Estou aqui!...
Terminou tua aflição,
Estás em meu coração!
Pensavas que te esqueci?

Enquanto o mundo enganado
Atormentava-te ao peso
De zombaria e desprezo,
Eu sempre estive ao teu lado.

Teus prantos e tuas dores
São, hoje, a luz que te veste
No campo do amor celeste,
Repleto de eternas flores.

E Jesus, em voz mais terna,
Concluía: — Vem, Simão,
À doce consolação
Do mundo de luz eterna!...

E Simão, chorando e rindo,
A seguir, ditoso, o Mestre,
Esqueceu a dor terrestre,
No céu venturoso e lindo.

O caminho era de   estrelas
De tão sublime matiz
Que o pobre ria,                feliz,
Sem saber como entendê-las.

No outro dia, ao reconforto
Do Sol de coroa erguida,
Acharam Simão sem vida...
O mendigo estava morto.

Amiga leitora, você que é sensível e gosta de poesia poderá ler este e outros belos poemas na obra Antologia Mediúnica do Natal, psicografada por Chico Xavier e publicada pela FEB.
O livro também possui belas mensagens de Emmanuel, Humberto de Campos e outros escritores e poetas que já atravessaram o Campo da Esperança e me fazem companhia no Clube Beethoven ou na Academia Celestial de Letras de cidade vizinha a Nosso Lar. Ótimo presente de Natal! que poderá ser adquirido em dezembro nas livrarias espíritas ou na livraria da FEB, em Brasília, na Av. L2 Norte, ou no Rio de Janeiro, Centro, na Av. Passos, número 30.

  Quando o texto é escorreito (Irmão Jó)   Atento à escrita correta É o olho do revisor, Mas pôr tudo em linha certa É com o diagramador.   ...