Em dia
com o Machado 9 (jlo)
O
futebol, por sua vez, apesar de cada partida durar pouco mais de noventa
minutos, consome a nossa atenção, alegria ou tristeza durante o ano todo. Mal
inicia o ano novo, os jogos e a torcida recomeçam... E quando o juiz é “ladrão”?
Ai que bronca dá na gente, não é mesmo? Passamos horas falando sobre essa
bobagem e até violando o VIII Mandamento Divino ao nos referirmos à mãe do juiz...
Que
o digam os torcedores do Flusão, no jogo de ontem, contra o líder Atlético.
Fredão marcou um gol legítimo e, após grande hesitação do bandeirinha, que
acabou por levantar sua bandeira, o juiz, que correra para o meio do campo
validando, desvalidou o validado gol.
Mísera, tivesse eu aquela enorme, aquela/
Claridade imortal, que toda a luz resume! Quisera eu nascer... um simples vaga-lume. Para alumiar a
mente desses árbitros arbitrários! Grrrr:#
>=[
Casmurro,
constato que tudo isso virou um “círculo vicioso”. E já não faço poemas como
pensei fazê-los. Quem sabe a prosa...
No
meu tempo, lembra? Comentei sobre o alto preço dos ingressos e dos lucros de
empresários e cantores. Lucro muito justo no que se refere a estes últimos,
pois não é todo mundo que nasce com um canário na garganta ou canta que nem
sabiá...
Por
isso é que eu dizia, em meu século, que um bom tenor “tem uma voz de oito
contos e oitocentos”; uns oitenta e oito mil reais no seu tempo, amig@ leitor/a.
Devemos, pois, continuar aplaudindo @ bom/boa cantor/a como nos velhos tempos.
E nem é preciso ter olhos azuis e cabelos loiros para ter sucesso; basta ter
bela voz. Hoje, esse último valor é recusado por qualquer razoável cantor/a...
Ó
tempos! Ó tempos!
Vamos
agora ao carnaval. Imaginei que essa festa não iria além de 1877, quando,
eufórico, bradei: “O carnaval morreu, viva a quaresma!”. Nec plus ultra!
Ledo
engano, amad@ leitor/a. Ledo engano. Na época, também lhe informei a data da
origem dessa festa pagã: 1854. Há controvérsias, mas o que não é controverso
neste mundo de Deus?
Está
vendo? Nem tudo é ficção na literatura. Literatura é também história e história
é literatura. O resto é outra história...
Já
lá se vão 158 anos! E o carnaval não só não morreu, como até se tornou uma
fonte de renda maravilhosa e a menina dos olhos do turismo carioca.
Pois o carnaval
mudou muito, do meu tempo ao seu, amig@. No século XIX , a música dançada nos bailes
carnavalescos eram polcas e maxixes. Inexistia letra a ser cantada. O carnaval
de rua era animado por instrumentos de percussão; e, em 1877, estava tão
descolorido, que o julguei extinto sem necrológio, sem acompanhamento.
O tempo passou, o carnaval
sobreviveu, como se pode hoje constatar. Já em 1899, Chiquinha Gonzaga compôs,
sob encomenda dos dirigentes do cordão Rosa de Ouro, uma música especificamente
carnavalesca. Compositora e musicista já consagrada, Chiquinha registrou a
primeira e a mais antiga marcha-rancho do carnaval brasileiro. E, como de
praxe, recebeu, como direitos autorais, os seus ricos oito contos e oitocentos.
“Quanto riso, ó, quanta alegria!...”
Diria ela mais tarde... Ou não...
A marcha “Ó abre alas”, da Chiquinha,
possui estrutura semelhante à das músicas compostas por todos os ranchos
carnavalescos posteriores. Aí vai sua letra:
Ó abre alas
Que eu quero passar (2x)
Que eu quero passar (2x)
Eu sou da Lira
Não posso negar (2x)
Ó abre alas
Que eu quero passar (2x)
Que eu quero passar (2x)
Rosa de Ouro
É que vai ganhar (2x)
Empós
isso, já no século XX, amig@, tínhamos o “Cordão do Bola Preta”, o “Bafo da
onça” e outros cordões mais, nos quais o povo se agarrava e pulava que dava
gosto; mas também cantava, candidamente, suas marchas famosas.
Ainda
não levitei até o local para saber como estão esses clubes e outros, pois, como
você sabe, tenho mais o que fazer; porém tudo são festas que o carioca merece e
o Brasil também.
Agora temos, aqui no Rio, o Sambódromo. As
marchas transformaram-se em sambas, as letras ficaram ricas de narrativas
carregadas de pleonasmos, metáforas, anacolutos, hipérboles, metonímias... Os
temas folclóricos, históricos e políticos, quando bem explorados, e de
ordinário o são, levam seu autor à glória.
Não
ao bairro da Glória, é verdade, mas à glória literária, enfeitada por alguns
milhões de fãs... e de reais. Fãs reais e reais fãs. Até as rainhas e os reis
das escolas são mais reais e belos do que os que se foram na turbulência das
revoluções transatas.
A
música de Chiquinha, tempo depois, foi enriquecida por outros versos. No meu
entender, o mais precioso é o seguinte: “Peço licença pra poder desabafar”...
Você
quer ganhar até... não “um conto de réis”, como foi oferecido pela virgem da
novela Gabriela, mas um milhão de reais, ou mais, por mês como alguns entes
famosos percebem? Peça a São Pedro para, na próxima encarnação, nascer com o
dom da bola; não com o cordão do “Bola Preta”, mas sim com o condão da bola de futebol.
Basquete
ou voleibol também servem, desde que você esteja entre os melhores. Também tem
uma bolinha que é fantástica, a do tênis. Guga que o diga.
Ah,
não gosta de correr atrás da bola, chutar a bola, lançar a bola, bater com a
mão na bola? Não pisa na bola, nem chuta o balde! Há opções... Ser empresário
de jogador é uma delas...
Você
pode até não dar bola para esses jogos, mas pode gostar de cantar. Então, como
o Michel Teló, com sorte, apenas uma musiquinha como “Ai se eu te pego” pode
render-lhe milhões. Mas aí tem que ter também a garganta do sabiá supra.
Para
quem acha que futebol nada tem a ver com música ou carnaval, lembro que,
durante esta festa, vários jogadores cantam e dançam em cima dos carros de sons.
Balançou
a rede? Dança, garotinho! Por fim, a Globo estipulou: três gols numa mesma
partida, pede música.
Imagina
você, amig@, se alguns parlamentares atuais, nos três dias da festa de Baco, pedirem uma música para cada três furadas de bola que
cometeram no jogo político. Será um carnaval cantado por “mais de mil palhaços
no salão”... Ou não?
Até
a próxima crônica, amig@!