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segunda-feira, 30 de julho de 2012


Em dia com o Machado 9 (jlo)

             O carnaval, a música e o futebol são as nossas três grandes paixões, não é mesmo, amig@ leitor/a? Há algo de semelhante entre ambos: aquele deveria durar três dias em cada ano; mas, para muitos, dura o ano inteiro. A segunda, em geral, não leva mais tempo do que uns três minutos, embora ouçamo-la, assobiemo-la ou sussurremo-la durante anos, quando é boa...
            O futebol, por sua vez, apesar de cada partida durar pouco mais de noventa minutos, consome a nossa atenção, alegria ou tristeza durante o ano todo. Mal inicia o ano novo, os jogos e a torcida recomeçam... E quando o juiz é “ladrão”? Ai que bronca dá na gente, não é mesmo? Passamos horas falando sobre essa bobagem e até violando o VIII Mandamento Divino ao nos referirmos à mãe do juiz...
            Que o digam os torcedores do Flusão, no jogo de ontem, contra o líder Atlético. Fredão marcou um gol legítimo e, após grande hesitação do bandeirinha, que acabou por levantar sua bandeira, o juiz, que correra para o meio do campo validando, desvalidou o validado gol.
            Mísera, tivesse eu aquela enorme, aquela/ Claridade imortal, que toda a luz resume! Quisera eu nascer... um simples vaga-lume. Para alumiar a mente desses árbitros arbitrários! Grrrr:# >=[
            Casmurro, constato que tudo isso virou um “círculo vicioso”. E já não faço poemas como pensei fazê-los. Quem sabe a prosa...
            No meu tempo, lembra? Comentei sobre o alto preço dos ingressos e dos lucros de empresários e cantores. Lucro muito justo no que se refere a estes últimos, pois não é todo mundo que nasce com um canário na garganta ou canta que nem sabiá...
            Por isso é que eu dizia, em meu século, que um bom tenor “tem uma voz de oito contos e oitocentos”; uns oitenta e oito mil reais no seu tempo, amig@ leitor/a. Devemos, pois, continuar aplaudindo @ bom/boa cantor/a como nos velhos tempos. E nem é preciso ter olhos azuis e cabelos loiros para ter sucesso; basta ter bela voz. Hoje, esse último valor é recusado por qualquer razoável cantor/a...
            Ó tempos! Ó tempos!
            Vamos agora ao carnaval. Imaginei que essa festa não iria além de 1877, quando, eufórico, bradei: “O carnaval morreu, viva a quaresma!”. Nec plus ultra!
            Ledo engano, amad@ leitor/a. Ledo engano. Na época, também lhe informei a data da origem dessa festa pagã: 1854. Há controvérsias, mas o que não é controverso neste mundo de Deus?
            Está vendo? Nem tudo é ficção na literatura. Literatura é também história e história é literatura. O resto é outra história...
            Já lá se vão 158 anos! E o carnaval não só não morreu, como até se tornou uma fonte de renda maravilhosa e a menina dos olhos do turismo carioca.
            Pois o carnaval mudou muito, do meu tempo ao seu, amig@. No século XIX , a música dançada nos bailes carnavalescos eram polcas e maxixes. Inexistia letra a ser cantada. O carnaval de rua era animado por instrumentos de percussão; e, em 1877, estava tão descolorido, que o julguei extinto sem necrológio, sem acompanhamento.
            O tempo passou, o carnaval sobreviveu, como se pode hoje constatar. Já em 1899, Chiquinha Gonzaga compôs, sob encomenda dos dirigentes do cordão Rosa de Ouro, uma música especificamente carnavalesca. Compositora e musicista já consagrada, Chiquinha registrou a primeira e a mais antiga marcha-rancho do carnaval brasileiro. E, como de praxe, recebeu, como direitos autorais, os seus ricos oito contos e oitocentos.
            “Quanto riso, ó, quanta alegria!...” Diria ela mais tarde... Ou não...
            A marcha “Ó abre alas”, da Chiquinha, possui estrutura semelhante à das músicas compostas por todos os ranchos carnavalescos posteriores. Aí vai sua letra:
Ó abre alas
Que eu quero passar (2x)

Eu sou da Lira
Não posso negar (2x)
 
 
Ó abre alas
Que eu quero passar (2x)

Rosa de Ouro
É que vai ganhar (2x)
            Empós isso, já no século XX, amig@, tínhamos o “Cordão do Bola Preta”, o “Bafo da onça” e outros cordões mais, nos quais o povo se agarrava e pulava que dava gosto; mas também cantava, candidamente, suas marchas famosas.
            Ainda não levitei até o local para saber como estão esses clubes e outros, pois, como você sabe, tenho mais o que fazer; porém tudo são festas que o carioca merece e o Brasil também.
             Agora temos, aqui no Rio, o Sambódromo. As marchas transformaram-se em sambas, as letras ficaram ricas de narrativas carregadas de pleonasmos, metáforas, anacolutos, hipérboles, metonímias... Os temas folclóricos, históricos e políticos, quando bem explorados, e de ordinário o são, levam seu autor à glória.
            Não ao bairro da Glória, é verdade, mas à glória literária, enfeitada por alguns milhões de fãs... e de reais. Fãs reais e reais fãs. Até as rainhas e os reis das escolas são mais reais e belos do que os que se foram na turbulência das revoluções transatas.
            A música de Chiquinha, tempo depois, foi enriquecida por outros versos. No meu entender, o mais precioso é o seguinte: “Peço licença pra poder desabafar”...
            Você quer ganhar até... não “um conto de réis”, como foi oferecido pela virgem da novela Gabriela, mas um milhão de reais, ou mais, por mês como alguns entes famosos percebem? Peça a São Pedro para, na próxima encarnação, nascer com o dom da bola; não com o cordão do “Bola Preta”, mas sim com o condão da bola de futebol.
            Basquete ou voleibol também servem, desde que você esteja entre os melhores. Também tem uma bolinha que é fantástica, a do tênis. Guga que o diga.
            Ah, não gosta de correr atrás da bola, chutar a bola, lançar a bola, bater com a mão na bola? Não pisa na bola, nem chuta o balde! Há opções... Ser empresário de jogador é uma delas...
            Você pode até não dar bola para esses jogos, mas pode gostar de cantar. Então, como o Michel Teló, com sorte, apenas uma musiquinha como “Ai se eu te pego” pode render-lhe milhões. Mas aí tem que ter também a garganta do sabiá supra.
            Para quem acha que futebol nada tem a ver com música ou carnaval, lembro que, durante esta festa, vários jogadores cantam e dançam em cima dos carros de sons.
            Balançou a rede? Dança, garotinho! Por fim, a Globo estipulou: três gols numa mesma partida, pede música.          
            Imagina você, amig@, se alguns parlamentares atuais, nos três dias da festa de Baco, pedirem uma música para cada três furadas de bola que cometeram no jogo político. Será um carnaval cantado por “mais de mil palhaços no salão”... Ou não?
            Até a próxima crônica, amig@!

terça-feira, 24 de julho de 2012


Em dia com o Machado - 8 (jlo)

            Obrigado, Senhor! Graças te dou porque atendeste ao nosso apelo. Andávamos calundúticos com a panaceia... Ah! o(a) leitor(a) não sabe o que isso significa? Não devia, mas vou explicar: calundútico é adjetivo e panaceia, substantivo.     Ainda está na mesma? Calundútico é o estado de irritabilidade ou de mau humor de alguém; já panaceia é remédio para todos os males.
            — E existe?...
            — Pois, como dizia, amiga(o), não há remédio para o mau humor, a não ser o de seu contraditório: o bom humor. Mas, como consegui-lo? Muito fácil: acorde bem cedo, abra bem as janelas para o sol entrar; se não tiver sol, abaixe as persianas para ver a chuva cair ou o vento zunir no vidro de las  ventanas, faça uns exercícios, higienize-se convenientemente, deguste um bom lanche...
            — E o que é um bom lanche matinal para você?
            — É um lanche tipo assim: duas frutas, café com pouco ou nenhum açúcar, três ou quatro torradas sem manteiga, um copo de leite de soja, um danoninho ligth e pronto! Já terás começado o dia cuidando do corpo.
            — Vou tentar sua dieta, mas que é difícil abrir mão de um bom pão com manteiga e queijo, lá isso é...
           — Tenha força de vontade, mané! Agora vamos à alma: pegue o livro de sua preferência e leia de uma a cinco páginas (se tiver tempo, leia mais), leia também uma página de mensagem otimista e escreva um comentário de um parágrafo no seu canto direito... Ah! não dá para escrever no canto direito? Escreva acima, abaixo, onde ficar melhor sua reflexão.
            Mas atenção! Escreva um comentário tipo assim: “Hoje nada vai tirar de mim o bom humor”. E procure lembrar dele o dia inteiro, ok, colega?
            Agora, academia! Iebaaa! Ah! você tem de ir cedo para o trabalho? Academia para quê, se você já se exercitou, conforme sugeri no meu segundo parágrafo? Dá uma corridinha, mané.
— Não gosto de correr!
— Dá uma caminhadinha!
— Detesto caminhar!
— Ouve uma musiquinha e saltite bastante, sem incomodar a vizinha.
— Não suporto música!
— Cruzes!... Então salte sem canção. Canção e não calção, viu?
— É, você não tem jeito mesmo, só rindo. Mas para mim, tudo é difícil, sou gordo(a) que nem uma... Deixa para lá. Como vou saltar, assim?
— Coma menos.
— Engordo até com o vento...
— É verdade, outro dia, no clube, ventava muito e fiquei com vergonha do meu prato de churrasco perto do seu. O meu mal pesava meio quilo... E quando ventava, as alfaces iam todas para o seu, pleno de linguiça, coxinha de frango, muito macarrão e bastante picanha mal passada... Não chegava nem a dois quilinhos, não é mesmo? Só vento... Só vendo... I'm seen you food winds.
— E qual a sugestão que você me dá?...
— Sugiro-lhe um SPA.
— Nem pensar, quero ser livre.
— Então use outro tipo de SPA, tão discreto que cobre sua boquinha: o SPAradrapo...
— Gaiato!

terça-feira, 17 de julho de 2012

Em dia com o Machado 7 (jlo)

            A S. Exª Revmª Sr. Arcebispo de...

            Conceda V. Exª Revma. que lhe peça a atenção para um grave fato um dos mais singelos admiradores de sua Arquidiocese. Foi há pouco tempo, está lembrado? Há dias, reclamei a V. Exª, que desejavam tornar o dobre do sino em cantata musical...
            Ao que tudo indica, fui atendido. Música, ópera, agora, só nos festivais, nos clubes ou nos teatros; quanto aos sinos, badalam dolentes e plangentes nas torres das capelas ou das catedrais.             
            Mas... ouve! Há sinos tocando... Estarão augurando uma nova noite de São Bartolomeu, como ocorreu em Saint Germains l’Auxerrois, ao anunciarem a morte de milhares de huguenotes franceses?
            Estarão rememorando a morte de milhares de crianças, a pedido de Herodes, para que o Salvador em tenra idade não sobreviva? Ou será pela morte dos ímpios, cujas cidades foram avassaladas pelos judeus, que passaram à espada viúvas, velhos e criancinhas em nome de Deus?
            Pois já não são estes os sinos que dobram pelos vivos e finados, como ocorria em 1º de janeiro de 1877, conforme relatei em minha passada crônica. Há pouco tempo, não é mesmo?
            Os finados agora ainda nem passaram para o lado de cá...
            Não, Exª Revma., agora, as vítimas ainda nem saíram do ventre de suas mães, cada vez mais belas em face da evolução dos corpos (evolução que cheguei a negar em meu século; a do espírito, não a dos corpos, é bem verdade). Agora, o grito é mudo, dentro da barriga materna. É mudo e prisioneiro de um templo que deveria ser mais sagrado que os de pedra abençoados por V. Exª Revma: o ventre materno.
            Não pode gritar o(a)  pequenino(a), pois, onde se encontra, o som não se propaga; não pode correr, pois suas perninhas ainda não lhes permitem engatinhar, quanto mais correr. E é ali, indefeso, que poderia estar V. Exª Revma., ou eu, se nossas belas mães (a minha pariu oito crianças) nos houvessem renegado o direito à vida física (porque a espiritual ninguém nos tira).
            Desconheço se o Sr. Arcebispo terá lido algumas obras interessantes, publicadas recentemente sobre o aborto e suas consequências. É bem verdade que, versado em teologia, profundo conhecedor das escrituras, V. Exª Revma. conhece a Lei Maior de Deus, inserta no 5º Mandamento: “Não matarás.”.
            Por certo, também conhece as opiniões abalizadas dos mais renomados obstetras sobre o dano proporcionado ao organismo feminino pelo aborto...
            Por meio das leituras de obras científicas irrepreensíveis, com exposição de fotos e vídeos, já observou a existência de um lindo ser formado no ventre materno desde as primeiras semanas de vida. E não desconhece estudos que comprovam que esse(a) menino(a) já manifesta sentimentos de alegria, expectativa, ansiedade  e medo ainda na barriga de sua mãezinha.
            Sabe sobejamente que a vida é dom de Deus, não cabendo a qualquer de nós decidir quem deve nascer ou não.
           Por fim, como poucos, conhece as recomendações do Espírito mais puro, que Deus há de ter concedido a nós, para nos servir de guia e de modelo: “Veja, não despreze um destes pequeninos, porque eu lhe digo que os seus anjos nos céus sempre veem a face de meu Pai que está nos céus. (...) Assim também não é vontade de seu Pai que está nos céus que um destes pequeninos se perca.” (S. Mateus, cap. 18, vers. 10 e 14).
            Mas ainda há mais, Exª Revma., há outras palavras do Filho de Deus, nosso irmão maior que nos alerta sobre as consequências de nossos atos, enquanto vivos neste corpo perecível que, em média, dura 77 anos (alguns privilegiados chegam a passar dos cem, como o nosso amigo Oscar Niemeyer, mas aos seiscentos ou mais, só Adão, Matusalém e outros primogênitos de Deus chegaram. Ainda assim, na contagem dos anos de seu tempo...). 
            E aduzo mais estas recomendações daquele a quem prestaremos contas de nossos atos, talvez mais cedo do que esperamos:
“— Portanto, tudo o que quiser que os homens lhe façam, faça-lhes também, porque esta é a lei e os profetas.” (S. Mateus, cap. 7, vers. 12). Essa lei é por nós conhecida como de “ação e reação”, ou “causa e consequência”, ou “causa e efeito”. E V. Exª Revma. a conhece como poucos, não é mesmo? Consequente a ela, há o livre-arbítrio.
            Vamos ao contraditório dos abortistas: "A Neurociência evolutiva e parte da Psicologia contemporânea negam veementemente o livre-arbítrio. Dizem que  resultamos de nossa carga genética associada ao meio em que vivemos. Vão  além. Afirmam que não existe consciência, apenas a ilusão dela, criada por nossos genes para se reproduzirem Ou seja, negam até a ideia de termos vida própria. Então, vamos aproveitar, já que tudo é ilusão mesmo... Viva a vida, goze até a exaustão e quem se opuser, morra... Ou não nasça..." 
           Mais uma teoria para confundir, em vez de provar. É de se admirar que com uma pseudociência assim o mundo esteja como está?
            Tais cientistas nem se comparecerem a uma sessão de materialização, como as provocadas por Anna Prado, no Pará, ou Peixotinho, no Rio de Janeiro, Florence Cook, na Inglaterra, Eusápia Paladino, na Itália, Elizabeth d’Esperance, na França, e muitos outros que materializaram espíritos de pessoas comprovadamente tidas como mortas e enterradas, nem assim, creriam na individualidade e na imortalidade da alma.
            Eu também duvidei, mas também passei para o lado de cá. Agora, peço a pai Abraão uma nova chance de alertar meus irmãos, familiares, amigo(as) leitores(as) e V. Exª Revma. sobre a realidade em que vivo. É bem verdade que pai Abraão continua dizendo que eles têm a lei e os profetas. Reinsisto com o apelo; ele diz que nem se um dos profetas se materializar entre os tais eles crerão.
           O que posso fazer, Exº Revmº Sr. Arcebispo, ante tais alegações? Mas, como bom casmurro, insisto com as alegações a seguir.
            O que seria do mundo, se a mãe de Beethoven pudesse ter conhecimento de que teria um filho fadado à surdez e o abortasse antes mesmo de dar à luz? Nada de Symphony number five e outras sinfonias maravilhosas.
            O que seria do Brasil, se a mãe de Martha Rocha a tivesse impedido de nascer? Nada de miss. E o Pelé? E Jairzinho, o “furacão da Copa de 70”? Roberto Carlos, Ari Barroso, Chico Anysio, Caetano, Chico Buarque...
            Ísis Valverde? Nem pensar... Menos uma obra prima de Deus no mundo...
            E René Descartes, Nietzche, Karl Marx, Schopenhauer, Voltaire, Walter Benjamin, Mikhail Bakhtin, Michel Foucault? Todos fora…
            E Sua Santidade, Bento XVI? Seria menos um representante do Cristo entre nós.
            E, por fim, o que seria da bela mãe que, trocando alguns anos (segundos na eternidade) de prazer pelo prazer de ter um filho, o abortasse e depois descobrisse que seria, por sua vez, abortada alhures, em novo corpo em formação? Será que, ainda assim, teria coragem de cometer o infanticídio? Não creio...
            Apelando, pois, a V. Exª Revma., tenho a finalidade de solicitar sua atenção para o suposto direito ao corpo, alegado por essas mulheres desinformadas e iludidas, a fim de que repensem sua atitude e leiam atentamente os Quatro Evangelhos de Jesus antes de deliberarem contra a vida que nelas está sendo gerada.
            Peço ainda mais a V. Exª Revma, ofereça-lhes mais opções. Sugira-lhes ler os livros que citei no início desta missiva e que agora elenco: O Livro dos Espíritos, questões 357 a 360; todo o Evangelho Segundo o Espiritismo, ambos de Allan Kardec, Ed. FEB: Rio de Janeiro; e Esta: A Vida Contra o Aborto, de Marlene Nobre, autoridade médica, publicado pela Ed. Fé: São Paulo .
            Existem muitos outros livros, mas peça-lhes que leiam e reflitam no que dizem estes e aqueles, depois nos digam se ainda têm certeza de que o corpo é seu, de que é ou não seu direito o de matar um ser indefeso.
            Quem sabe, atendendo a um pedido seu, ó Exª Revma., essas candidatas a mães não repensem suas atitudes? Nesse caso, bem que poderia ser aberta uma exceção e, em vez de os sinos dobrarem plangentemente, algumas sonatas de Mozart, outros sublimes compositores clássicos e o Ângelus poderiam ser ouvidos, por toda a parte, com o coro dos anjos esvoaçantes e felizes acompanhando-os com suas vozes sagradas.
            Quem sabe, naquele momento, Castro Alves não se manifestaria, pela voz de um profeta (médium) atual, para clamar aos céus seu poema adaptado aos tempos contemporâneos:

Senhor Deus dos enjeitados!
Dize-me Tu, Senhor Deus!
Se é loucura... se é verdade
Tanto horror perante os céus?


Quem são estes belos fetos
Que não encontram nas mães
Mais que o rir inconsciente
Do  sofrimento inocente?
Quem são? Se a estrela emudece,
Se o ventre à pressa resvala
Como um cúmplice sem fala
Perante a mente confusa...
Dize-o tu, severa Musa,
Musa libérrima, audaz!...


 
São os filhos renegados,
Onde a terra esposa a luz.
Onde vive em campo aberto
A tribo dos fetos nus...
São os pequenos ousados,
Pernas, braços amputados
Chorando e clamando em vão.
Ontem simples, fortes, sãos.
Hoje tristes enjeitados,
Sem luz, sem ar, sem razão...

 
Senhor Deus dos enjeitados!
Dize-me Tu, Senhor Deus!
Se Tu criaste teus filhos
Para exterminar os seus...
             Quem sabe, atendendo a um pedido seu, ó Exª Revma., todas as mães cristãs do nosso país, independentemente de serem desta ou daquela igreja, todos os cidadãos espiritualistas do Brasil não se resolvam a fazer a passeata pela vida, seguidos pelos arcebispos, bispos, padres, pastores, budistas, muçulmanos, umbandistas, crentes sinceros, espíritas... Cada qual com uma frase de advertência escrita em cartazes de letras garrafais:

Com que direito tentas impedir o direito a uma vida,

se a tua não foi impedida?


            Era o que tinha não a dizer, mas a suplicar a Vossa Excelência Reverendíssima.
           


sexta-feira, 13 de julho de 2012


Em dia com o Machado 6  ( jlo )

            Doravante, o mais grave de tudo é a eleição, que a este tempo se começa a manipular em todo este vasto continente chamado Brasil.
            Em todo, é um jeito novo de falar. Quase não há lacunas expostas nas composições partidárias. No Planalto, por exemplo, haverá desta vez uma festa nupcial coletiva. Isso significa uma abertura ampla e irrestrita a todos os partidos e não para um ou dois. Afinal, a ditadura morreu; viva ditadura!
            Tal como o Rio, que também se travaille sans relâche, os espetáculos midiáticos recrudescem. Dezenas de espetáculos no país inteiro. São os cantos da sereia tentando iludir os marinheiros incautos...
            Não sei se a(o) leitor(a) consome algum tempo com las cosas públicas, e nem que pone de manifiesto suas preferências eletivas. Ignoro se (a)o leitor(a) fará coro com o grito de  heureca proferido pelos políticos vitoriosos nas urnas. Mas certamente que as retóricas sobre saúde, educação e segurança (não necessariamente nessa ordem) serão, como sempre, vitoriosas.
            Agora os morros do Rio estão mais seguros... Nas outras capitais também... afinal, não somente as eleições... a Copa do Mundo vem aí...
            E depois?
            No meu tempo também era assim, cara(o) leitor(a); mas não se preocupe, após a posse da coligação perene, os recursos da saúde vão para Cuba, os da educação vão para a Finlândia e os da segurança serão investidos nos EUA.
            São as contradições da democracia...  não, porém, de uma grande coligação. Prá Frente Brasil! É assim que se exerce a soberania nacional.
            Ou você ainda duvida disso, amiga(o) leitor(a)? Duvidar é demonstrar ignorância. Ser ignorante é ser doente e ser doente é um perigo para a segurança nacional. Vai que a(o) psicopata resolve investir contra o Congresso?...
            Cá no Planalto não se admite uma voz dissonante. Por isso, os diletantes migram maciçamente para esta província, na qual se prepara um grande banquete com música e aplausos para a retórica eloquente dos amigos da soberania....
            A soberania nacional é algo mais grandioso do universo, desde que ela seja nacional. Se não for soberania e não for nacional, nada feito...

*
 
Ps.: Percebeu a intenção de colocá-la em destaque, amiga? Se não a viu, perdeu-se, acima, talvez, mais um dos meus devaneios...
            Que pena! Mas por que duvidar da inteligência feminina? Quando nós estamos indo, as mulheres estão vindo. Viva elas!
            Somente elas e uns poucos inteligentes, como você, terão ainda suficiente indignação para perguntar a este articulista:
— Mas o que é mesmo da educação na Finlândia? Por que lá e não aqui o modelo tem dado tão certo? 
— Mas o que é mesmo da saúde em Cuba? Por que lá e não cá o modelo tem sido aplaudido?
— Mas o que é mesmo da segurança americana? Por que lá e não aqui?...

terça-feira, 10 de julho de 2012


Em dia com o Machado (5 - jlo)

 Bom-dia!

Começam a dar flores as pessoas honestas como você, amigo(a) leitor(a).

No Rio, aparece um casal que catava papelão para sobreviver e vivia na rua. Não por prazer, é claro, mas por necessidade.  A mulher dizia que os dois juntos ganhavam cem reais... por mês.
Eis que um dia, um restaurante é assaltado, e o ladrão leva vinte mil reais numa bolsa: dezessete mil em cédulas, três mil em moedas. O alarme toca, a polícia é chamada. O ladrão desesperado joga a bolsa no mato e foge.
Alarmado com o barulho da sirene, o casal deixa a ponte onde se abrigava e, ao passar pelo mato, acha a bolsa com o dinheiro. E agora, o que fazer? É muita grana, diz ela. Mas não é nossa, responde ele... Vamos devolver ao dono. Ela concorda, e ambos vão à procura da polícia para entregar o dinheiro achado.
Encontrado o policial, este recebe a bolsa com o dinheiro intacto, então chama o dono do restaurante, que lhe confirma o roubo. Enfim, devolve-lhe a pequena fortuna, que teria dado para resolver, por um bom tempo, o problema de falta de moradia e de alimentação do casal de rua.
 — Por que devolveu o dinheiro? Pergunta-lhes o guarda. Vocês jamais seriam suspeitos de terem ficado com o roubo, pois ninguém viu o ladrão desfazer-se da bolsa que vocês acharam.
— Minha mãe adotiva sempre me ensinou a ser honesto, disse o rapaz...
— É preferível passar fome a roubar alguém, completa a mulher.
— É verdade, há dias que não comemos um bom prato... Confirma o marido.
Pobre senhora! Pobre senhor! Há quem diga que esse casal é santo.
— Meu filho é abençoado por Deus, diz a mãe do rapaz em programa evangélico de TV.  Desde pequeno, levava-o para assistir ao culto na minha igreja. Aleluia! Aleluia, irmão!
— Deus seja louvado, irmã - responde o pastor entrevistador -. E você, telespectador, assista todo o domingo ao culto do Senhor Jesus neste canal. Doe os dízimos à sua igreja e será salvo!... Doravante!
(Mistura, apoteótico, “de agora em diante” com “avante”; mas isso não tem a menor importância, amigo(a) leitor(a); o importante é impressionar o(a) telespectador(a), contribuinte em potencial...)
Entanto, a honestidade também contagia. O dono do restaurante, comovido com a grandeza do casal, ofereceu-lhes, de imediato, emprego em seu estabelecimento. Não sem antes fornecer  um belo prato de comida com arroz, feijão e bife a cavalo a cada um.
Enquanto comia o PF[1], José, o honesto, sentado à mesa com ela, dizia à honesta Maria:
— Hoje estou até me sentindo gente, comendo esta comida tão gostosa.
— Sinto-me transformada, disse também Maria.
Vendo a cena, todos choramos.
A honestidade comove... E floresce... 
Quanto aos dízimos...



[1] PF, para quem não sabe, leitor(a) amigo(a), é o nome do popular “prato feito”.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Em dia com o Machado (jlo - 4)

Bom-dia!
Não cantaram só as vozes cheias de charme de Chayene e das empreguetes nesta semana, o boi também mugiu que foi uma beleza.
Sim, o boi, esse ruminante que sustenta a humanidade terrestre há milênios e foi apascentado por Abraão, por Jacó e por Moisés. O boi, pai da picanha e do rosbife, criatura de Deus que sente, chora  e muge de dor, como qualquer de nós, é injusto que seja sacrificado em matadouro, sem direito à defesa de sua vida. Nós o comemos. É justo que o comentemos.
Um dia, o boi apareceu em cena e se pôs a ouvir atentamente, ao lado de Chayene, o canto das empreguetes. Estacou as patas, abanou a cauda e fixou, com um olhar percuciente, a opinião pública novelística.
A opinião pública adora o boi, desde que seja cozido com tempero e acompanhado de batata palha (ah, a palha, quanta saudade dá ao boi). Olhando o boi a fixá-las, as empreguetes indagaram a Chayene por que ele ali estava.
Chayene olhou para as empreguetes, as empreguetes olharam para o boi, o boi pensou na vaca, que ali não estava, a vaca olhou para o bezerro, o bezerro deu um pulo, quando viu que sua mãe seria transformada em bife, e resolveu falar, pois a verdade é santa na boca dos pequeninos.
A fala do bezerro foi transmitida pelo ipod dependurado no pescoço do boi e foi veiculada via Embratel aos quatro cantos do Brasil.
— Muuu! Espécimen humanóide! Li há dias, num site da internet, um discurso ecologista que fala sobre os danos ambientais resultantes da matança do boi para satisfazer a ânsia canibalística dos animais carnívoros que são vocês.
— Muuu! Agora não falta mais falar do interesse do boi, que igualmente deve pesar na balança comercial.
— Muuu! O interesse do matadouro é transformar o boi comercialmente em postas de carne, horror dos horrores, para serem vendidas e devoradas por vocês, sem o mínimo respeito aos nossos sentimentos. Vejam! agora somos defendidos, ainda que timidamente, por uma minoria de vegetarianos.
— Muuu! Mas ainda há os que defendem que o homem é carne e, como tal, deve ser alimentado pela carne. Credo quia absurdum!
E o bezerro desesperado culminou sua peroração aos mugidos:
- Muuu! Muuu!  Ao produtor interessa vendê-lo; ao consumidor, comprá-lo; ao intermediário, ganhar por fora; somente o boi não é consultado nessa negociata absurda e desumana. Afinal, não é só cachorro que é gente, boi também é gente!
— Muuu! E digo mais, como defensor dos bois, se eu visse uma criancinha com frio, fome e sede, abandonada na estrada erma, ao lado de um bezerro, e tivesse que escolher quem salvaria, não tenham dúvida, escolheria o bezerro.
— Muuu! Quer saber por quê? O Bezerro não tem livre-arbítrio para estar ali sofrendo, a criança tem, se não o dela, o de seus responsáveis. Falei, digo, mugi!
Ao que Chayene, cheia de charme, balançou a cabeça aprovativamente e pediu uma salva de palmas para o bezerro.  
Ouviu-se um estrondo... Mil gritos de viva o boi e palmas, palmas e mais palmas. Alguém teve a ideia de cantar a música “Admirável gado novo”, interpretada por Zé Ramalho, que foi acompanhada pelo mugir do boi emocionado e feliz, em seu belo estribilho:

Eh, ôô, vida de gado.
Povo marcado, ê
Povo feliz!

Por fim, após enxugar uma lágrima que teimava em cair de seu olho esquerdo, Chay convocou as empreguetes a participar de uma festa musical, em sua casa, para homenagear o boi, regada a vinho português e... churrasco de gato!

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Em dia com o Machado (jlo - 3)

Bom-dia! 

Publicou-se há dias um comentário de um grande escritor brasileiro sobre a constatação de que, desde a época de Machado de Assis até os dias atuais, os 70% de nossa população que não sabiam ler continuam com este pequeno probleminha. Mas isso não tem a menor importância, pois a Copa do Mundo será aqui, a população vestir-se-á (se vestirá ficaria melhor, não é mesmo?) de verde-amarelo, os bairros estarão enfeitados com as cores brasileiras e, antes do término deste governo, tudo ficará como dantes no quartel de Abrantes (que nem conheço).
Gosto dos números, mas meus professores de matemática substituíram as contas de cabeça pela maquininha de calcular, depois pelo celular e, pobre aritmética... preferi trocá-la pelas letras, embora haja milhões de bons calculistas que desprezam a "última flor do Lácio inculta e bela", pois pensar dá trabalho e criar então nem se fala. Os números não têm metáforas, não têm frases, não têm retórica, não admitem controvérsia. Então, é ou não é melhor calcular do que escrever? Somar, diminuir, multiplicar, dividir é bem mais prático no ipode do que tentar entender o que se lê ou o que se escreve, não é mesmo? Nesse momento, vem-me à mente a frase de um humorista: "Freud, pode?"
Nada contra os matemáticos, contadores, economistas, alguns deles mais letrados do que eu, e todos imprescindíveis à economia de nosso país.
Desse modo, por exemplo, um político, ou seja, o leitor ou eu, almejando (mais chique do que desejando) falar do Brasil, falará:
- No dia em que houver uma Carta Magna (ou Lex Magna, ou Carta Maior, ou Lex Constitucional, Lei Maior, ou até mesmo Constituição) que puser nas mãos do povo, legítimo representante da democracia de todos os países, o seu destino, a ordem e o progresso caminharão de mãos dadas, pois "a voz do povo é a voz de Deus" (Há controvérsias, mas o que não é controverso neste mundo?). A opinião popular nacional (OPN - já há quem imagine aqui a sigla de um novo partido político) é o juiz supremo, o magistrado superior de todas as coisas e de toda a população nacional. Em face do exposto, suplico (Político não pede, amada leitora, implora, suplica.) à nação que vote em mim, para o bem da educação, e não nesses políticos corruptos que aí estão (Ão, ão, ão, nosso voto é do Julião, já imagina o parlamentar ouvir o povo gritar.).
A isso, retrucará o Número, com a maior singeleza:
- O Brasil é um país de iletrados. Somente 30% dos cidadãos brasileiros podem ler; ainda assim, dez por cento deles não leem letra de mão e outros 70% deles estupidificam-se no mais profundo alheamento literário e cultural. Não dominar a leitura é desprezar o Sr. Julião Tempesta dos Arrazoados; é ignorar o que ele cogita, o que ele almeja, o que ele significa, e mesmo se ele possui o direito de querer ou de pensar.
Setenta por cento vão, votam e voltam sem a mínima noção de quem elegeram para seu representante no Congresso ou na Câmara Municipal. Dão seu voto como se estivessem participando da Festa da Penha, por entretenimento. (Que saudades, Machado velho! Morei no pé do morro da igreja da Penha; ali, em nome de Nossa Senhora, fazia-se uma festa bonita, com bebidas a rodo, comidas a mancheias, fogos... Ah! os fogos da igreja da Penha faziam inveja aos de Copacabana.). Estão alheios a tudo, seja um golpe de Estado, seja uma revolução.
Respondo indignado:
- Todavia, entretanto, porém, contudo, Sr. Número, as nobres organizações governamentais...
- As OG são reais para somente trinta por cento da população nacional, e olhe lá... Rogo uma reforma de nossa política. Não se deve dizer: "educar a nação, representar o país, e, sim, investir nos 30%, representar os 30%, defender 30%, pois somente há no Brasil 30% de cabeças pensantes (algumas delas de rocinantes). A opinião popular é metonímica, toma-se a parte pelo todo. Ainda assim, somente uns 8 a 10% desses 30% estão razoavelmente informados. Um parlamentar que proferir o sensato discurso de que representa 10% de seus eleitores dirá uma grande verdade.
E eu ficarei com minha indignação e o Número com comprovação científica e matemática do IPOBE, que confirma racionalmente seus argumentos, com base em 2.000 eleitores consultados na última pesquisa; todos legítimos representantes desta nação de 200 milhões de cidadãos.

  O livro   (Irmão Jó)   D esde cedo é importante I ncentivar a leitura A os nossos filhos infantes.   M ais tarde, na juventude, U ma vont...