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terça-feira, 17 de julho de 2012

Em dia com o Machado 7 (jlo)

            A S. Exª Revmª Sr. Arcebispo de...

            Conceda V. Exª Revma. que lhe peça a atenção para um grave fato um dos mais singelos admiradores de sua Arquidiocese. Foi há pouco tempo, está lembrado? Há dias, reclamei a V. Exª, que desejavam tornar o dobre do sino em cantata musical...
            Ao que tudo indica, fui atendido. Música, ópera, agora, só nos festivais, nos clubes ou nos teatros; quanto aos sinos, badalam dolentes e plangentes nas torres das capelas ou das catedrais.             
            Mas... ouve! Há sinos tocando... Estarão augurando uma nova noite de São Bartolomeu, como ocorreu em Saint Germains l’Auxerrois, ao anunciarem a morte de milhares de huguenotes franceses?
            Estarão rememorando a morte de milhares de crianças, a pedido de Herodes, para que o Salvador em tenra idade não sobreviva? Ou será pela morte dos ímpios, cujas cidades foram avassaladas pelos judeus, que passaram à espada viúvas, velhos e criancinhas em nome de Deus?
            Pois já não são estes os sinos que dobram pelos vivos e finados, como ocorria em 1º de janeiro de 1877, conforme relatei em minha passada crônica. Há pouco tempo, não é mesmo?
            Os finados agora ainda nem passaram para o lado de cá...
            Não, Exª Revma., agora, as vítimas ainda nem saíram do ventre de suas mães, cada vez mais belas em face da evolução dos corpos (evolução que cheguei a negar em meu século; a do espírito, não a dos corpos, é bem verdade). Agora, o grito é mudo, dentro da barriga materna. É mudo e prisioneiro de um templo que deveria ser mais sagrado que os de pedra abençoados por V. Exª Revma: o ventre materno.
            Não pode gritar o(a)  pequenino(a), pois, onde se encontra, o som não se propaga; não pode correr, pois suas perninhas ainda não lhes permitem engatinhar, quanto mais correr. E é ali, indefeso, que poderia estar V. Exª Revma., ou eu, se nossas belas mães (a minha pariu oito crianças) nos houvessem renegado o direito à vida física (porque a espiritual ninguém nos tira).
            Desconheço se o Sr. Arcebispo terá lido algumas obras interessantes, publicadas recentemente sobre o aborto e suas consequências. É bem verdade que, versado em teologia, profundo conhecedor das escrituras, V. Exª Revma. conhece a Lei Maior de Deus, inserta no 5º Mandamento: “Não matarás.”.
            Por certo, também conhece as opiniões abalizadas dos mais renomados obstetras sobre o dano proporcionado ao organismo feminino pelo aborto...
            Por meio das leituras de obras científicas irrepreensíveis, com exposição de fotos e vídeos, já observou a existência de um lindo ser formado no ventre materno desde as primeiras semanas de vida. E não desconhece estudos que comprovam que esse(a) menino(a) já manifesta sentimentos de alegria, expectativa, ansiedade  e medo ainda na barriga de sua mãezinha.
            Sabe sobejamente que a vida é dom de Deus, não cabendo a qualquer de nós decidir quem deve nascer ou não.
           Por fim, como poucos, conhece as recomendações do Espírito mais puro, que Deus há de ter concedido a nós, para nos servir de guia e de modelo: “Veja, não despreze um destes pequeninos, porque eu lhe digo que os seus anjos nos céus sempre veem a face de meu Pai que está nos céus. (...) Assim também não é vontade de seu Pai que está nos céus que um destes pequeninos se perca.” (S. Mateus, cap. 18, vers. 10 e 14).
            Mas ainda há mais, Exª Revma., há outras palavras do Filho de Deus, nosso irmão maior que nos alerta sobre as consequências de nossos atos, enquanto vivos neste corpo perecível que, em média, dura 77 anos (alguns privilegiados chegam a passar dos cem, como o nosso amigo Oscar Niemeyer, mas aos seiscentos ou mais, só Adão, Matusalém e outros primogênitos de Deus chegaram. Ainda assim, na contagem dos anos de seu tempo...). 
            E aduzo mais estas recomendações daquele a quem prestaremos contas de nossos atos, talvez mais cedo do que esperamos:
“— Portanto, tudo o que quiser que os homens lhe façam, faça-lhes também, porque esta é a lei e os profetas.” (S. Mateus, cap. 7, vers. 12). Essa lei é por nós conhecida como de “ação e reação”, ou “causa e consequência”, ou “causa e efeito”. E V. Exª Revma. a conhece como poucos, não é mesmo? Consequente a ela, há o livre-arbítrio.
            Vamos ao contraditório dos abortistas: "A Neurociência evolutiva e parte da Psicologia contemporânea negam veementemente o livre-arbítrio. Dizem que  resultamos de nossa carga genética associada ao meio em que vivemos. Vão  além. Afirmam que não existe consciência, apenas a ilusão dela, criada por nossos genes para se reproduzirem Ou seja, negam até a ideia de termos vida própria. Então, vamos aproveitar, já que tudo é ilusão mesmo... Viva a vida, goze até a exaustão e quem se opuser, morra... Ou não nasça..." 
           Mais uma teoria para confundir, em vez de provar. É de se admirar que com uma pseudociência assim o mundo esteja como está?
            Tais cientistas nem se comparecerem a uma sessão de materialização, como as provocadas por Anna Prado, no Pará, ou Peixotinho, no Rio de Janeiro, Florence Cook, na Inglaterra, Eusápia Paladino, na Itália, Elizabeth d’Esperance, na França, e muitos outros que materializaram espíritos de pessoas comprovadamente tidas como mortas e enterradas, nem assim, creriam na individualidade e na imortalidade da alma.
            Eu também duvidei, mas também passei para o lado de cá. Agora, peço a pai Abraão uma nova chance de alertar meus irmãos, familiares, amigo(as) leitores(as) e V. Exª Revma. sobre a realidade em que vivo. É bem verdade que pai Abraão continua dizendo que eles têm a lei e os profetas. Reinsisto com o apelo; ele diz que nem se um dos profetas se materializar entre os tais eles crerão.
           O que posso fazer, Exº Revmº Sr. Arcebispo, ante tais alegações? Mas, como bom casmurro, insisto com as alegações a seguir.
            O que seria do mundo, se a mãe de Beethoven pudesse ter conhecimento de que teria um filho fadado à surdez e o abortasse antes mesmo de dar à luz? Nada de Symphony number five e outras sinfonias maravilhosas.
            O que seria do Brasil, se a mãe de Martha Rocha a tivesse impedido de nascer? Nada de miss. E o Pelé? E Jairzinho, o “furacão da Copa de 70”? Roberto Carlos, Ari Barroso, Chico Anysio, Caetano, Chico Buarque...
            Ísis Valverde? Nem pensar... Menos uma obra prima de Deus no mundo...
            E René Descartes, Nietzche, Karl Marx, Schopenhauer, Voltaire, Walter Benjamin, Mikhail Bakhtin, Michel Foucault? Todos fora…
            E Sua Santidade, Bento XVI? Seria menos um representante do Cristo entre nós.
            E, por fim, o que seria da bela mãe que, trocando alguns anos (segundos na eternidade) de prazer pelo prazer de ter um filho, o abortasse e depois descobrisse que seria, por sua vez, abortada alhures, em novo corpo em formação? Será que, ainda assim, teria coragem de cometer o infanticídio? Não creio...
            Apelando, pois, a V. Exª Revma., tenho a finalidade de solicitar sua atenção para o suposto direito ao corpo, alegado por essas mulheres desinformadas e iludidas, a fim de que repensem sua atitude e leiam atentamente os Quatro Evangelhos de Jesus antes de deliberarem contra a vida que nelas está sendo gerada.
            Peço ainda mais a V. Exª Revma, ofereça-lhes mais opções. Sugira-lhes ler os livros que citei no início desta missiva e que agora elenco: O Livro dos Espíritos, questões 357 a 360; todo o Evangelho Segundo o Espiritismo, ambos de Allan Kardec, Ed. FEB: Rio de Janeiro; e Esta: A Vida Contra o Aborto, de Marlene Nobre, autoridade médica, publicado pela Ed. Fé: São Paulo .
            Existem muitos outros livros, mas peça-lhes que leiam e reflitam no que dizem estes e aqueles, depois nos digam se ainda têm certeza de que o corpo é seu, de que é ou não seu direito o de matar um ser indefeso.
            Quem sabe, atendendo a um pedido seu, ó Exª Revma., essas candidatas a mães não repensem suas atitudes? Nesse caso, bem que poderia ser aberta uma exceção e, em vez de os sinos dobrarem plangentemente, algumas sonatas de Mozart, outros sublimes compositores clássicos e o Ângelus poderiam ser ouvidos, por toda a parte, com o coro dos anjos esvoaçantes e felizes acompanhando-os com suas vozes sagradas.
            Quem sabe, naquele momento, Castro Alves não se manifestaria, pela voz de um profeta (médium) atual, para clamar aos céus seu poema adaptado aos tempos contemporâneos:

Senhor Deus dos enjeitados!
Dize-me Tu, Senhor Deus!
Se é loucura... se é verdade
Tanto horror perante os céus?


Quem são estes belos fetos
Que não encontram nas mães
Mais que o rir inconsciente
Do  sofrimento inocente?
Quem são? Se a estrela emudece,
Se o ventre à pressa resvala
Como um cúmplice sem fala
Perante a mente confusa...
Dize-o tu, severa Musa,
Musa libérrima, audaz!...


 
São os filhos renegados,
Onde a terra esposa a luz.
Onde vive em campo aberto
A tribo dos fetos nus...
São os pequenos ousados,
Pernas, braços amputados
Chorando e clamando em vão.
Ontem simples, fortes, sãos.
Hoje tristes enjeitados,
Sem luz, sem ar, sem razão...

 
Senhor Deus dos enjeitados!
Dize-me Tu, Senhor Deus!
Se Tu criaste teus filhos
Para exterminar os seus...
             Quem sabe, atendendo a um pedido seu, ó Exª Revma., todas as mães cristãs do nosso país, independentemente de serem desta ou daquela igreja, todos os cidadãos espiritualistas do Brasil não se resolvam a fazer a passeata pela vida, seguidos pelos arcebispos, bispos, padres, pastores, budistas, muçulmanos, umbandistas, crentes sinceros, espíritas... Cada qual com uma frase de advertência escrita em cartazes de letras garrafais:

Com que direito tentas impedir o direito a uma vida,

se a tua não foi impedida?


            Era o que tinha não a dizer, mas a suplicar a Vossa Excelência Reverendíssima.
           


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