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segunda-feira, 30 de julho de 2012


Em dia com o Machado 9 (jlo)

             O carnaval, a música e o futebol são as nossas três grandes paixões, não é mesmo, amig@ leitor/a? Há algo de semelhante entre ambos: aquele deveria durar três dias em cada ano; mas, para muitos, dura o ano inteiro. A segunda, em geral, não leva mais tempo do que uns três minutos, embora ouçamo-la, assobiemo-la ou sussurremo-la durante anos, quando é boa...
            O futebol, por sua vez, apesar de cada partida durar pouco mais de noventa minutos, consome a nossa atenção, alegria ou tristeza durante o ano todo. Mal inicia o ano novo, os jogos e a torcida recomeçam... E quando o juiz é “ladrão”? Ai que bronca dá na gente, não é mesmo? Passamos horas falando sobre essa bobagem e até violando o VIII Mandamento Divino ao nos referirmos à mãe do juiz...
            Que o digam os torcedores do Flusão, no jogo de ontem, contra o líder Atlético. Fredão marcou um gol legítimo e, após grande hesitação do bandeirinha, que acabou por levantar sua bandeira, o juiz, que correra para o meio do campo validando, desvalidou o validado gol.
            Mísera, tivesse eu aquela enorme, aquela/ Claridade imortal, que toda a luz resume! Quisera eu nascer... um simples vaga-lume. Para alumiar a mente desses árbitros arbitrários! Grrrr:# >=[
            Casmurro, constato que tudo isso virou um “círculo vicioso”. E já não faço poemas como pensei fazê-los. Quem sabe a prosa...
            No meu tempo, lembra? Comentei sobre o alto preço dos ingressos e dos lucros de empresários e cantores. Lucro muito justo no que se refere a estes últimos, pois não é todo mundo que nasce com um canário na garganta ou canta que nem sabiá...
            Por isso é que eu dizia, em meu século, que um bom tenor “tem uma voz de oito contos e oitocentos”; uns oitenta e oito mil reais no seu tempo, amig@ leitor/a. Devemos, pois, continuar aplaudindo @ bom/boa cantor/a como nos velhos tempos. E nem é preciso ter olhos azuis e cabelos loiros para ter sucesso; basta ter bela voz. Hoje, esse último valor é recusado por qualquer razoável cantor/a...
            Ó tempos! Ó tempos!
            Vamos agora ao carnaval. Imaginei que essa festa não iria além de 1877, quando, eufórico, bradei: “O carnaval morreu, viva a quaresma!”. Nec plus ultra!
            Ledo engano, amad@ leitor/a. Ledo engano. Na época, também lhe informei a data da origem dessa festa pagã: 1854. Há controvérsias, mas o que não é controverso neste mundo de Deus?
            Está vendo? Nem tudo é ficção na literatura. Literatura é também história e história é literatura. O resto é outra história...
            Já lá se vão 158 anos! E o carnaval não só não morreu, como até se tornou uma fonte de renda maravilhosa e a menina dos olhos do turismo carioca.
            Pois o carnaval mudou muito, do meu tempo ao seu, amig@. No século XIX , a música dançada nos bailes carnavalescos eram polcas e maxixes. Inexistia letra a ser cantada. O carnaval de rua era animado por instrumentos de percussão; e, em 1877, estava tão descolorido, que o julguei extinto sem necrológio, sem acompanhamento.
            O tempo passou, o carnaval sobreviveu, como se pode hoje constatar. Já em 1899, Chiquinha Gonzaga compôs, sob encomenda dos dirigentes do cordão Rosa de Ouro, uma música especificamente carnavalesca. Compositora e musicista já consagrada, Chiquinha registrou a primeira e a mais antiga marcha-rancho do carnaval brasileiro. E, como de praxe, recebeu, como direitos autorais, os seus ricos oito contos e oitocentos.
            “Quanto riso, ó, quanta alegria!...” Diria ela mais tarde... Ou não...
            A marcha “Ó abre alas”, da Chiquinha, possui estrutura semelhante à das músicas compostas por todos os ranchos carnavalescos posteriores. Aí vai sua letra:
Ó abre alas
Que eu quero passar (2x)

Eu sou da Lira
Não posso negar (2x)
 
 
Ó abre alas
Que eu quero passar (2x)

Rosa de Ouro
É que vai ganhar (2x)
            Empós isso, já no século XX, amig@, tínhamos o “Cordão do Bola Preta”, o “Bafo da onça” e outros cordões mais, nos quais o povo se agarrava e pulava que dava gosto; mas também cantava, candidamente, suas marchas famosas.
            Ainda não levitei até o local para saber como estão esses clubes e outros, pois, como você sabe, tenho mais o que fazer; porém tudo são festas que o carioca merece e o Brasil também.
             Agora temos, aqui no Rio, o Sambódromo. As marchas transformaram-se em sambas, as letras ficaram ricas de narrativas carregadas de pleonasmos, metáforas, anacolutos, hipérboles, metonímias... Os temas folclóricos, históricos e políticos, quando bem explorados, e de ordinário o são, levam seu autor à glória.
            Não ao bairro da Glória, é verdade, mas à glória literária, enfeitada por alguns milhões de fãs... e de reais. Fãs reais e reais fãs. Até as rainhas e os reis das escolas são mais reais e belos do que os que se foram na turbulência das revoluções transatas.
            A música de Chiquinha, tempo depois, foi enriquecida por outros versos. No meu entender, o mais precioso é o seguinte: “Peço licença pra poder desabafar”...
            Você quer ganhar até... não “um conto de réis”, como foi oferecido pela virgem da novela Gabriela, mas um milhão de reais, ou mais, por mês como alguns entes famosos percebem? Peça a São Pedro para, na próxima encarnação, nascer com o dom da bola; não com o cordão do “Bola Preta”, mas sim com o condão da bola de futebol.
            Basquete ou voleibol também servem, desde que você esteja entre os melhores. Também tem uma bolinha que é fantástica, a do tênis. Guga que o diga.
            Ah, não gosta de correr atrás da bola, chutar a bola, lançar a bola, bater com a mão na bola? Não pisa na bola, nem chuta o balde! Há opções... Ser empresário de jogador é uma delas...
            Você pode até não dar bola para esses jogos, mas pode gostar de cantar. Então, como o Michel Teló, com sorte, apenas uma musiquinha como “Ai se eu te pego” pode render-lhe milhões. Mas aí tem que ter também a garganta do sabiá supra.
            Para quem acha que futebol nada tem a ver com música ou carnaval, lembro que, durante esta festa, vários jogadores cantam e dançam em cima dos carros de sons.
            Balançou a rede? Dança, garotinho! Por fim, a Globo estipulou: três gols numa mesma partida, pede música.          
            Imagina você, amig@, se alguns parlamentares atuais, nos três dias da festa de Baco, pedirem uma música para cada três furadas de bola que cometeram no jogo político. Será um carnaval cantado por “mais de mil palhaços no salão”... Ou não?
            Até a próxima crônica, amig@!

Um comentário:

  1. Tio, fechou com chave de ouro!
    Parabéns, vou compartilhar com meus alunos.

    Lu

    P.S. Acho que algumas pessoas não conseguem comentar aqui por não existir a opção anônimo na hora de escolher com que conta vai comentar...

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