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segunda-feira, 6 de agosto de 2012


Em dia com o Machado - 10 (jlo)


          Vou contar uma novidade aos meus seletos leitores e leitoras.
          Lembra o amigo que lhe falei sobre os trinta por cento de brasileiros que leem razoavelmente? Pois bem, outro dia, um meu velho conhecido, o Conselheiro Aires, contou-me que, na época de suas viagens à Europa, foi convidado a lecionar literatura em Marseille, essa simpática cidade francesa fundada seiscentos anos a. C. pelos gregos.
            — Até aqui, tudo bem, mas aonde você quer chegar, ó amado mestre?!
            Calma, amiga, não te inquietes. Faz como teu colega acima, que ouve calado, pois em boca fechada não entra moscas. Chegaremos a um acordo, antes que digas: “— Você fala demais, Machado!”.
            Vai daí que, um belo dia, dando sua aulinha sobre literatura francesa, Aires escolheu um texto curto, como esta breve crônica, e pediu a um aluno para lê-lo em voz alta. Qual não foi sua surpresa, ao ouvir o rapaz reclamar:
            — Mais professer, est pour lire tout ceci?
            Perplexo, o Conselheiro matutou consigo mesmo: — Se esta anta acha um absurdo ler uma simples página de literatura francesa, como poderei despertar-lhe o gosto pela leitura?
            Aconselhou, então, à an..., digo, ao aluno, o então professor conselheiro ou conselheiro professor, controlando-se para não lhe dar um piparote:
             — Lisez ao moins le premier paragraphe.
          Gaguejando, praguejando e outros “andos” após, o aluno terminou a leitura do parágrafo de... duas linhas. Na realidade, uma ideia central que seria desenvolvida no parágrafo seguinte.
         Finda a leitura, perguntou-lhe Aires:
— Então, o que você entendeu?
— Eu tinha que entender? Você me pediu só para ler e não para interpretar...
         E eram aulas para alunos universitários!
         Foi então que o Conselheiro resolveu abandonar o sacerdócio de professor de literatura. Ato contínuo, aposentou-se do cargo diplomático que exercia, voltou definitivamente para a Pátria do Cruzeiro e aqui escreveu sua última obra: Memorial de Aires.
            Ainda bem que cá no Brasil as universidades, sejam elas públicas ou particulares, não têm esse problema com seus alunos, não é mesmo, estimad@ leitor@?
        Em nossas salas de aula, é uma festa! Todo o mundo lendo Arthur Schopenhauer, Charles Dickens, François-Marie Voltaire, Gustave Flaubert, Jean Jacques Rousseau, Sidney Sheldon, William Shakespeare, Agatha Christie, Barbara Cartland, Jackie Collins, Virginia Woolf...
              Só não lhes peça para lê-los em português...
              Mas aí já é exigir demais, não é mesmo, amad@ leitor(a)?

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