Em
dia com o Machado - 10 (jlo)
Vou contar uma novidade aos meus seletos leitores e leitoras.
Lembra o amigo que lhe falei sobre os trinta por cento de brasileiros que leem razoavelmente? Pois bem, outro dia, um meu velho conhecido, o Conselheiro Aires, contou-me que, na época de suas viagens à Europa, foi convidado a lecionar literatura em Marseille, essa simpática cidade francesa fundada seiscentos anos a. C. pelos gregos.
— Até aqui, tudo bem, mas aonde você
quer chegar, ó amado mestre?!
Calma, amiga, não te inquietes. Faz
como teu colega acima, que ouve calado, pois em boca fechada não entra moscas.
Chegaremos a um acordo, antes que digas: “— Você fala demais, Machado!”.
Vai daí que, um belo dia, dando sua
aulinha sobre literatura francesa, Aires escolheu um texto curto, como esta
breve crônica, e pediu a um aluno para lê-lo em voz alta. Qual não foi sua
surpresa, ao ouvir o rapaz reclamar:
— Mais professer, est pour lire tout ceci?
Perplexo, o Conselheiro matutou
consigo mesmo: — Se esta anta acha um absurdo ler uma simples página de
literatura francesa, como poderei despertar-lhe o gosto pela leitura?
Aconselhou, então, à an..., digo, ao
aluno, o então professor conselheiro ou conselheiro professor, controlando-se para não lhe dar um piparote:
— Lisez ao moins le premier paragraphe.
Gaguejando, praguejando e outros
“andos” após, o aluno terminou a leitura do parágrafo de... duas linhas. Na
realidade, uma ideia central que seria desenvolvida no parágrafo seguinte.
Finda a leitura, perguntou-lhe
Aires:
— Então, o que você
entendeu?
— Eu tinha que
entender? Você me pediu só para ler e não para interpretar...
E eram aulas para alunos
universitários!
Foi então que o Conselheiro resolveu
abandonar o sacerdócio de professor de literatura. Ato contínuo, aposentou-se
do cargo diplomático que exercia, voltou definitivamente para a Pátria do
Cruzeiro e aqui escreveu sua última obra: Memorial
de Aires.
Ainda bem que cá no Brasil as
universidades, sejam elas públicas ou particulares, não têm esse problema com
seus alunos, não é mesmo, estimad@ leitor@?
Em nossas salas de aula, é uma
festa! Todo o mundo lendo Arthur Schopenhauer, Charles
Dickens, François-Marie Voltaire, Gustave Flaubert, Jean Jacques Rousseau, Sidney
Sheldon, William Shakespeare, Agatha Christie, Barbara Cartland, Jackie
Collins, Virginia Woolf...
Só não lhes peça para lê-los em português...
Mas aí já é exigir demais, não é
mesmo, amad@ leitor(a)?
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