Em dia com o Machado 12 (jlo)
Uns
beatos riem, outros beatos choram. É da Lei, rir ou chorar faz parte de nossa
natureza.
O
Supremo Poder do Universo, em seus desígnios insondáveis, assentara dar a esta
Capital, além da sede dos Três Poderes, algo que agradasse seu povo; e nada
mais lhe pareceu maior ou melhor do que o desfrute superfino, espiritual privilégio
dos defensores e amigos dos animais: deu-nos os cães.
Provavelmente,
poucos cidadãos sabem que, nunca na
história deste País, houve tantos pombos, cachorros, gatos e mesmo cavalos,
em Brasília, como na época atual.
Outro
dia, foi filmada até uma onça rondando o Supremo Tribunal Federal; ou foi o
Superior Tribunal de Justiça? Talvez tenham sido ambos. Só a onça poderá dizer
ao certo...
É
um tal de miar para cá, latir para lá e relinchar acolá que dá gosto. E os
pássaros, então? Que coisa linda é o voo e, principalmente, o canto das mais
variadas aves: pardaizinhos, quero-queros, bem-te-vis, beija-flores e até
tucanos eu já vi perto de onde moro. Isso sem falar nos pombos. Ah, pombos... Ah,
pombas...
Mas
de todos os animais, o mais querido e o mais vistoso aqui é o cachorro.
Há
cães das mais diversificadas raças, facilmente encontrados em seu passeio
matinal, vesperal e noturno. Alguns poucos, quando cruzam por nós, estando
desacompanhados, só faltam pedir: — Me adotem, pelo amor de Deus, fui
desprezado por meus donos, pois estou velho e desdentado. Não tenho uma pedra
onde repousar a cabeça.
E
eu fico a refletir sobre o que disse uma amiga; amiga dos cães: — Se eu vir um
cachorrinho abandonado, junto com uma criança também desprezada; se ambos
estiverem morrendo de fome e frio, chorando de dar dó; e se tiver que escolher
entre salvar um ou outro, não terei a menor dúvida, salvo o cachorro.
—
Mas por que não salvar o ser de seu gênero, animal,
ou seja, a criança? Perguntei-lhe, perplexo. E a resposta foi a coisa mais singela que poderia ouvir de uma cristã:
—
O cachorro nada fez para padecer daquele modo; mas a criança, com certeza, é
uma devedora das Leis Divinas.
Então
comecei a duvidar do bom-senso das criaturas ditas racionais e me lembrei de
que esse amor aos animais vem de longa data. Pois não é que um imperador romano
condecorou seu cavalo e lhe concedeu o título de senador?
Outra
história que talvez a amiga que me lê deve lembrar é a da rica dona de um lindo
gatinho. Antes de ela morrer, deixou toda a sua herança para o felino. Quanta
alma humana animal...
Na
África, milhões dos nossos irmãos morrem de fome e maus tratos. Se ao menos ela
destinasse uma dúzia deles para cuidar do seu bichano a troco de um bom prato
de comida, com certeza, até o gato faria uma prece em intenção de sua alma.
Agora,
ao contrário desse ser superior, a nossa amiga leitora, mais emotiva que
racional; o amigo leitor, mais racional que emotivo dirá: — Gastam-se bilhões
de dólares para enviar artefatos a Marte, em busca de micro-organismos que
comprovem a possibilidade de vida nesse planeta; outros bilhões são gastos em
armamento para o extermínio dos nossos irmãos de humanidade, e você me vem
falar de privilégios humanos em relação aos animais? Eles também sentem dor,
passam fome e choram...
Antes
que você me diga que eles não têm defensores, replico:
—
Agora já têm quem os defendam...
Caso
eu insista com minhas alegações, dirá o leitor: — Esqueceu-se do que disse
aquele ministro? Cachorro também é gente;
merece, pois, ser bem tratado.
E
eu lhe responderei que nada tenho contra os animais, em especial, contra os
cachorros...
É
certo que, na adolescência, estando de costas para a escada, já no andar do
sótão de uma vizinha, junto com um irmão três anos mais novo, de repente, olho
para ele e o vejo pálido, olho para sua perna e vejo um belo cão Hottweiler dependurado em sua
panturrilha.
—
Coitadinho do cachorro, estava tão velho... Nem latir mais latia; disse sua
proprietária. (Se é que posso chamá-la assim, pois algumas preferem o título de
mãe.)
Isso
custou ao mano várias seções de vacinas antirrábicas. Nada muito sério...
De
outra feita, estagiando num hospital, vi entrar uma senhora com a mão quase
decepada e totalmente desfigurada. Os cirurgiões que a atenderam precisaram
religar os tendões do dorso da mão e dos dedos, um a um; além de juntar-lhe as
carnes despedaçadas e suturá-las. Era o seu Pitbull de estimação, a quem diariamente dava
de comer.
Naquele
dia, o pobrezinho confundiu a mão da dona com a comida.
Não
pense, porém, amiga(o) que eu não goste de animais. Adoro-os. Acho mesmo que
deveríamos domesticar não apenas cachorros e gatos, hamsters e outros bichinhos. O papagaio, segundo pesquisa recente,
tem a idade mental de uma criança de três anos. E o macaco, então? Darwin não
afirmou que descendemos de um dos seus ancestrais?
Pobre
macaco! Pobre macaco!
Continuemos
a falar, em especial sobre as espécies caninas, felinas e equídeas. Vejam que
gracinhas de raças de gatos: Bengal, Angorá, Ragdoll. Imagino a(o) leitor(a)
sonhando com um Ragdoll cheio de carinho e maciez em sua cama, mais
precisamente, enroscado em seu lençol. Quanta ternura, quanto afago... Angorá lembra
gato preto, mas não sei se é. Já Bengal, parece ser um gato tão velho que só
anda de bengal...
Já
não é a mesma coisa ter um Puro Sangue Inglês, um Mangalarga Marchador, um
Bretão... Quem sabe um Brasileiro de Hipismo? Nesse caso, o melhor é ir a um
hipódromo. No Country Club há umas
aras legais, onde costuma haver exposição de cavalos.
Entretanto,
pobre equino, o cavalo que costumamos ver, de ordinário está puxando uma
carroça velha com seu(s) proprietário(s) em cima. Não é, pois, nenhum dos
elencados. Dá um dó...
Agora,
cachorro, que maravilha! Quanta saudade se tem quando se perde um. Eu
entendo... Transferimos nossos sentimentos ao nosso “melhor amigo” e sentimos
por demais sua falta, quando ele ao pó retorna, como nós o faremos um dia.
Aqui
em Brasília, é muito comum nos depararmos com um cachorrinho da raça Yorkshire
Terrier, um Bichon Frisé ou mesmo um Chow Chow. Por vezes, damos de cara também
com um Dálmata. Outras vezes, com um Boxer, um Perdigueiro, um Doberman, um
American Pitbull.
Isso
sem falar em outras raças do nosso imenso Brasil, que vêm passar uns anos
conosco e tanto enxovalham a imagem da Capital do paisagista Burle Marx e do projetista
Niemeyer. O pior é quando gostam muito daqui e vão ficando, ficando... até dar
zebra, um animal que costuma ser mais visto em nosso Zoológico.
Assim
como o cachorro, todos os animais domésticos são o reflexo de sua/seu dona(o).
Pense nisso...
Mas
cá para nós, salvar a vida de um animal e deixar morrer um ser humano... Eu
fico imaginando Jesus dizendo: — Entra naquela vara!
Dá
até vontade de acreditar na metempsicose e propor a essa pessoa para renascer
cachorra... Ou...
Uma
boa semana a todos!
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