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sexta-feira, 30 de março de 2018




Em dia com o Machado 308 [jÓ)

— Boas noites! Conforme combinado na última crônica, comentaremos a situação dos Espíritos puros, com ênfase em Jesus, começando pela revelação do Espírito Georges.
— E que Georges revelou, caro Jó?
— Amigo Machado, esse nobre Espírito, responsável por algumas mensagens de cunho elevado, na obra de Kardec, disse o seguinte:

Falemos das últimas espirais da glória, habitadas pelos Espíritos puros. Ninguém as atinge antes de haver atravessado os ciclos dos Espíritos errantes. Júpiter está no mais alto grau da escala. Quando um Espírito, longamente purificado por sua estada nesse planeta, é julgado digno da suprema felicidade, é disso advertido por um redobramento de ardor. Um fogo sutil anima todas as partes delicadas de sua inteligência, que parece irradiar e tornar-se visível. Deslumbrante, transfigurado, ele clareia a luz que parecia tão radiosa aos olhos dos habitantes de Júpiter. Seus irmãos reconhecem o eleito do Senhor e, trêmulos, ajoelham-se ante a sua vontade. Entretanto, o Espírito escolhido eleva-se, e os céus, na sua suprema harmonia, lhe revelam belezas indescritíveis.
À medida que sobe, compreende, não mais como na erraticidade, não mais vendo o conjunto das coisas criadas, como em Júpiter, mas abarcando o infinito. Sua inteligência transfigurada eleva-se como uma flecha até Deus, sem tremor e sem terror, como num foco imenso alimentado por mil objetos diversos. O amor, nesses diversos Espíritos, reveste a cor de sua personalidade. Eles se reconhecem e se regozijam. Refletidas, suas virtudes repercutem, por assim dizer, as delícias da visão de Deus e aumentam incessantemente com a felicidade de cada eleito. Mar de amor que cada afluente aumenta, essas forças puras não ficam mais inativas que as forças de outras esferas. Logo investidos do dom da ubiquidade, abrangem ao mesmo tempo os detalhes infinitos da vida humana, desde a sua eclosão até as últimas etapas. Irresistível como a luz, sua vista penetra por toda parte simultaneamente e, ativos como a força que os move, espalham a vontade do Senhor. Como de uma urna cheia escapa a onda benfazeja, sua bondade universal aquece os mundos e confunde o mal. (KARDEC. Revista Espírita, out. 1860).

— Interessante, Jó, o que ocorre com Espíritos tão elevados a ponto de se destacarem de mundos felizes, como é o caso de Júpiter, o mais puro dentre os do nosso Sistema Solar.
— É verdade, Machado, pelo que lemos na mensagem de Georges, percebemos que esses são Espíritos que alcançaram a ventura de estar junto de Deus, por já transcenderem a Erraticidade, estado dos Espíritos sujeitos à encarnação.
— Isso mesmo, Emmanuel. Enquanto sujeita à encarnação, a alma é considerada “Espírito errante”, como lemos na questão 224 d’O Livro dos Espíritos.
— Deduz-se disso logicamente, Jó, que saindo desse estado o Espírito não mais está sujeito a reencarnar, pois terá atingido seu objetivo, que supera essa necessidade mesmo em mundos superiores como Júpiter. Pois, como lemos na questão 226, “Não são errantes os Espíritos puros, os que chegaram à perfeição. Esses se encontram no seu estado definitivo” e, portanto, não mais têm de reencarnar em qualquer globo material. É o caso de Nosso Senhor Jesus Cristo. Quem tem olhos que veja!
— Obrigado, nobre Emmanuel. Seus esclarecimentos, somados aos dos Espíritos superiores, n’O Livro dos Espíritos vêm ao encontro do que entendemos ser o Espírito Crístico ou Messiânico, como é o caso de Nosso Senhor.
— O qual é reverenciado humildemente, Machado, por Allan Kardec, nestas palavras sobre a “Superioridade da Natureza de Jesus”:

Sem nada prejulgar quanto à natureza do Cristo, natureza cujo exame não entra no quadro desta obra, considerando-o apenas um Espírito superior, não podemos deixar de reconhecê-lo um dos de ordem mais elevada e colocado, por suas virtudes, muitíssimo acima da humanidade terrestre. Pelos imensos resultados que produziu, a sua encarnação neste mundo forçosamente há de ter sido uma dessas missões que a Divindade somente a seus mensageiros diretos confia, para cumprimento de seus desígnios. Mesmo sem supor que Ele fosse o próprio Deus, mas unicamente um enviado de Deus para transmitir sua palavra aos homens, seria mais do que um profeta, porquanto seria um Messias divino (KARDEC. A Gênese. Trad. Guillon Ribeiro. Rio de Janeiro: FEB, 1995, cap. 15, it. 2).
— Nobre Emmanuel, isso está impresso desde a primeira edição d’A Gênese. Assim, fica bem claro que o Codificador do Espiritismo, em sua última obra, ainda se absteve de examinar a questão da natureza do Cristo, não é mesmo?
— Certamente, Jó. Esse era assunto para posterior estudo kardequiano, mais aprofundado e menos precipitado, como ocorre com os que se esquecem de que o Espiritismo é Doutrina dos Espíritos. Se ainda estivesse na Terra, certamente Kardec, com toda a modéstia que o caracteriza, diria aos que o idolatram:
Irmãos espíritas, uni-vos e respeitai as ideias dos que não pensam como vós. Há coisas, neste mundo, que ainda não vos é dado conhecer. Não discutais a natureza do Cristo, Governador espiritual da Terra, quando em Júpiter, mundo purificado, ao qual transcendeu, caberiam 1.200 globos como o vosso, e no Sol, onde se reúnem Espíritos puros como Ele[1], caberiam mais de mil Júpiteres...
E Flammarion completaria: 
Há coisas mais profundas a discutir. A Terra não passa de mundículo, que pode ser mal comparado, num átomo, semelhante a um dos seus elétrons, cujo núcleo seria o Sol. Ambos invisíveis, no corpo do Universo, ante a grandeza de estrelas, muitas delas já extintas, outras sendo criadas. Tais estrelas deram origem a outros corpos celestes há bilhões de anos. Uma delas foi a supernova descoberta em 2015, cuja energia era equivalente a 570 bilhões de sóis. (FOLHA de São Paulo, 08 fev. 2016. A maior Supernova do Universo).
Reflitamos, por fim, nestas palavras de Davi, antes de encerrarmos, por hoje, nosso humilde diálogo:

Quando vejo o céu, obra dos teus dedos, a lua e as estrelas que fixaste; que é o homem, para dele te lembrares, e um filho de Adão, para vires visitá-lo? E o fizeste pouco menos do que um deus, coroando-o de glória e beleza. Para que domine as obras de tuas mãos, sob seus pés tudo colocaste (BÍBLIA de Jerusalém. Salmos, 8: 4- 7).


[1] Nota de Allan Kardec à questão 188 d’O Livro dos Espíritos.

segunda-feira, 19 de março de 2018



Em dia com o Machado 307 [jÓ}

— Boa noite, nobre Emmanuel. Estive refletindo nas palavras dos espíritos a Kardec e, após ter ficado com uma pulga atrás da orelha, resolvi submeter o amigo a um novo pinga-fogo.
— Boa noite, Machado, que a paz, a tolerância e o amor excelsos do Cristo permaneçam conosco. Não sou o Chico, para ser submetido a pinga-fogo, mas, em que posso servi-lo?
— É certo que os espíritos puros já passaram pela fieira das reencarnações, por isso mesmo é que se purificaram; porém tais espíritos não descem aos mundos inferiores em missão, conforme nos foi informado na questão 233 d’O Livro dos Espíritos?
— Com licença, iluminado Emmanuel, eu mesmo responderei ao Machado. “Descer em missão” não significa reencarnar ali... Relembre a questão 113 da obra citada por nós na última crônica. Dissemos ali que os espíritos puros, “Não estando mais sujeitos à reencarnação em corpos perecíveis, realizam a vida eterna no seio de Deus”.
— Mas, Jó, excepcionalmente, em missão, como é o caso de Jesus...
— Missão, sim, reencarnação, não. Onde já se viu isso?
— Na questão 178 d’O Livro dos Espíritos, meu caro Jó...
— Observe, Machado, que tais missões só são destinadas a espíritos que “[...] aceitam alegres as tribulações de tal existência, por lhes proporcionar meio de se adiantarem”. Não é o caso do espírito puro de um Messias como o Cristo, que já superou o estágio encarnatório até mesmo em mundos felizes, como Júpiter, morada de espíritos purificados. Por que Jesus teria que sofrer “tribulações” de uma existência encarnatória em mundo de “provas e expiações” que Ele mesmo presidiu à formação? Releia a informação dada por Ele aos que o consideravam ser descendente de Davi: “Como dizem os escribas que o Cristo é Filho de Davi? [...] Pois, se Davi mesmo lhe chama Senhor, como é logo seu filho?” (Marcos, 12: 35- 37). E esta outra afirmação: “Vós sois de baixo, eu sou de cima; vós sois deste mundo, eu não sou deste mundo” (João, 8: 23). E ainda esta: “Em verdade, em verdade vos digo que, antes que Abraão existisse, eu sou” (João, 8: 58). Leia mais as Escrituras Sagradas, estimado Assis...
— Caro Jó, vejo que você possui boas leituras das Escrituras. Kardec, entretanto, alega que

Se as condições de Jesus, durante a sua vida, fossem as dos seres fluídicos, Ele não teria experimentado nem a dor, nem qualquer das necessidades do corpo. Supor que assim haja sido é tirar-lhe o mérito da vida de privações e de sofrimentos que escolhera, como exemplo de resignação. Se tudo nele não passasse de aparência, todos os atos de sua vida, a reiterada predição e sua morte, a cena dolorosa do Jardim das Oliveiras, sua prece a Deus para que lhe afastasse o cálice dos lábios, sua paixão, sua agonia, tudo, até o último brado, no momento de entregar o Espírito, não teria sido mais que um vão simulacro para enganar com relação à sua natureza e fazer crer num sacrifício ilusório de sua vida, numa comédia indigna de um homem simplesmente honesto, e, com mais forte razão, indigna de um ser tão superior. Numa palavra, ele teria abusado da boa-fé dos seus contemporâneos e da posteridade. Tais as consequências lógicas desse sistema, consequências inadmissíveis, porque o rebaixariam moralmente, em vez de o elevarem. (A gênese, cap. XV, item 66, trad. Evandro Noleto Bezerra. Federação Espírita Brasileira — FEB, 2013).

Logo abaixo, o Codificador conclui: “Como todo homem, Jesus teve, pois, um corpo carnal e um corpo fluídico, o que é atestado pelos fenômenos materiais e pelos fenômenos psíquicos que lhe assinalaram a existência” (idem). O que acha disso, Jó?
— Pois é, Machado, e ainda acusam a FEB de adulterar essa obra para defender a teoria do corpo espiritual de Jesus...
Apenas os espíritos ainda no estado de erraticidade estão sujeitos a reencarnar, como vemos exposto na questão 226 do LE. Espíritos como o Cristo já transcenderam as influências perispirituais mesmo de mundos celestes ou divinos, como é o caso de Júpiter, citado acima. Não é mesmo, Emmanuel?
— Sim, Jó. Em obra ditada por mim ao irmão Chico Xavier, em 1940, na questão 286 (O Consolador), esclareço o seguinte:

O Calvário representa o coroamento da obra do Senhor, mas o sacrifício na sua exemplificação se verificou em todos os dias da sua passagem pelo planeta. E o cristão deve buscar, antes de tudo, o modelo nos exemplos do Mestre, porque o Cristo ensinou com amor e humildade o segredo da felicidade espiritual, sendo imprescindível que todos os discípulos edifiquem no íntimo essas virtudes, com as quais saberão remontar ao calvário de suas dores, no momento oportuno.

E, logo em seguida (q. 287), quando me foi perguntado sobre a questão da necessidade do “máximo de dor material para o Mestre Divino”, a fim de que este complementasse o sofrimento moral da cruz, respondi que “A dor material é um fenômeno como o dos fogos de artifício, em face dos legítimos valores espirituais”, porquanto

Homens do mundo que morreram por uma ideia muitas vezes não chegaram a experimentar a dor física, sentindo apenas a amargura da incompreensão do seu ideal.
Imaginai, pois, o Cristo, que se sacrificou pela Humanidade inteira, e chegareis a contemplá-lo na imensidão da sua dor espiritual, augusta e indefinível para a nossa apreciação restrita e singela.
De modo algum poderíamos fazer um estudo psicológico de Jesus, estabelecendo dados comparativos entre o Senhor e o homem.
Em sua exemplificação divina, faz-se mister considerar, antes de tudo, o seu amor, a sua humildade, a sua renúncia por toda a Humanidade.
Examinados esses fatores, a dor material teria significação especial para que a obra cristã ficasse consagrada? A dor espiritual, grande demais para ser compreendida, não constituiu o ponto essencial da sua perfeita renúncia pelos homens?
Nesse particular, contudo, as criaturas humanas prosseguirão discutindo, como as crianças que somente admitem as realidades da vida de um adulto, quando se lhes fornece o conhecimento tomando para imagens o cabedal imediato dos seus brinquedos.

— Obrigado, nobre Emmanuel, mas paremos por aqui, com seus iluminados esclarecimentos, para não irmos além de duas páginas.
— Isso mesmo, irmão Machado, não cansemos demais a paciência de nosso leitor. Que o Cristo de Deus nos guarde em sua paz.
— Na próxima semana, comentaremos mensagem do espírito Georges, publicada na Revista Espírita, sobre a situação dos espíritos puros, como nosso amado Mestre Jesus (Jó).

domingo, 11 de março de 2018




EM DIA COM O MACHADO 306 [jó}



— Boa noite! Que a paz do Cristo esteja conosco. Desejava você, Machado, saber, na crônica passada, sobre as condições da encarnação e da reencarnação do espírito nos mundos superiores. Como esclarecimento prévio da resposta a essa questão, conforme foi dito na crônica nº 300, relembro-lhe que nossos modestos estudos têm o objetivo de informar o leitor sobre a personalidade de Jesus, o qual faz parte da “comunidade de espíritos puros e eleitos pelo Senhor Supremo do Universo, em cujas mãos se conservam as rédeas diretoras da vida de todas as coletividades planetárias”.[1]
—Boa noite, Emmanuel. Desse modo, todos os planetas que compõem o sistema solar estão sob a direção de espíritos puros, como Jesus, o Cristo de Deus.[2] Podemos concluir que cada orbe do sistema solar está sob a responsabilidade de um Cristo, como Jesus?
— Não apenas isso, Machado. A responsabilidade geral é de todos os Cristos, mas a cada um deles é destinada a formação, vida e governadoria de um planeta. A Jesus, coube a Terra. Aqui,

o fio da luz e da vida está nas suas mãos. É Ele quem sustenta todos os elementos ativos e passivos da existência planetária. No seu coração augusto e misericordioso está o Verbo do princípio. Um sopro de sua vontade pode renovar todas as coisas, e um gesto seu pode transformar a fisionomia de todos os horizontes terrestres.[3]

— Caramba, Emmanuel! não é à toa que Jesus Cristo é considerado Deus pelos cristãos...
— Sim, Machado, mas Ele nos lembra a citação do salmista de que também nós somos deuses, embora faça a distinção entre si e Deus, em diversas passagens evangélicas, e se mostre como nosso Irmão Maior, por já se ter tornado puro antes que a Terra existisse e, nessa condição, se haver associado aos espíritos purificados, dirigentes das comunidades planetárias.
— Essa direção geral dos espíritos crísticos explica a possibilidade de um de nós ser transferidos de um planeta a outro, não é mesmo, Emmanuel?
— Com certeza, Machado. E é por isso que, na época de sua missão entre nós, Kardec recebeu notícias de espíritos que diziam ter-se reencarnado em outros mundos de nosso sistema solar. Como a Terra ainda está entre os mundos de “expiação e provas”, criaturas rebeldes podem ser atraídas para mundos ainda inferiores, como os primitivos.
De acordo com Allan Kardec, de modo geral, os mundos podem ser classificados em: “primitivos, destinados às primeiras encarnações da alma humana”; “de expiação e de provas”, como ocorre com o nosso; “de regeneração, nos quais as almas que ainda têm que expiar haurem novas forças”; “felizes, onde o bem sobrepuja o mal”; e “celestes ou divinos, morada dos espíritos depurados, no qual reina exclusivamente o bem”.[4]
— Haverá algum desses mundos celestes dentre os que fazem parte do nosso sistema planetário?
— Um, com certeza, há, irmão Machado: o que conhecemos como planeta Júpiter. E é sobre ele que desejo falar-lhe, antes de fazê-lo compreender, com seu exemplo, o modo como ocorre a encarnação e reencarnação em um mundo superior. Júpiter é um planeta gasoso, entretanto, calcula-se que se ele fosse oco caberiam cerca de mil e duzentas Terras dentro dele. Para que o leitor tenha uma noção sobre características dos habitantes de Júpiter, relaciono aqui algumas delas:
a) ali o mal não mais existe; b) é morada dos bem-aventurados, que só se manifestam na Terra na condição de espíritos purificados, cujo objetivo é incentivar seus habitantes a alcançarem sua pureza; c) ninguém em Júpiter está submetido a provas, mas sim a missões; d) as uniões ali ocorrem com base nos laços do amor; e) lá não há outra lei a não ser a da própria consciência, ou seja, a Lei de Deus; f) a matéria é bem menos condensada do que a dos que estão na Terra, ou seja, os terrícolas não a identificam com seus sentidos e instrumentos. Ainda assim, esses espíritos estão muito distantes da perfeição divina, e o que os distingue já não é o aspecto moral, no qual se nivelam, e, sim, o conhecimento e a experiência.[5]
A encarnação em um mundo superior como Júpiter é a do espírito purificado, que se aproxima da sua natureza espiritual. A existência é muito mais longa, podendo alcançar vários séculos, nesse planeta da segunda ordem na escala espírita (O Livro dos EspíritosLE, itens 107 a 111), onde a encarnação alcança quinhentos anos ou mais. A infância ali é muito curta e não é limitada como a da criança terrena. A morte do corpo físico não possui a degradação dos corpos terrenos, e o espírito não sente o horror da decomposição da matéria, como ocorre na Terra.
Há mundos ainda mais elevados do que Júpiter, que poderíamos dizer de primeira grandeza. Neles, a vida é quase completamente espiritual. Isso decorre do fato de que, nesses orbes, o corpo que reveste o espírito é o próprio perispírito, o qual se  torna tão etéreo que, para os reencarnados da Terra, é como se não existisse. “Esse, o estado dos Espíritos puros”.[6]
— Obrigado pelos esclarecimentos, Emmanuel.
Meu caro amigo, na questão 188 do LE, lemos que os espíritos puros não estão "presos" a um determinado mundo (estão no seio de Deus, q. 113 LE), o que, no meu modesto entendimento, é confirmado em A Caminho da Luz, no cap. 1 dessa obra, quando você fala da comunidade de espíritos puros, da qual Jesus faz parte.
Sendo a encarnação destinada aos espíritos em expiações e provas, e os espíritos de primeira ordem "já tendo percorrido todos os graus da escala" e estando despojados "de todas as impurezas da matéria", como nos informa a questão 113 do LE, além de só terem por envoltório o perispírito, como lemos na questão 186 do LE, não faz sentido que um Messias ou Cristo, que já nem possua esse envoltório mais grosseiro (it. 257 LE, p. 160) e nem se fixe a um mundo em particular, precise encarnar aqui.
— Desse modo, Machado, respondo também às suas outras duas questões. A encarnação e reencarnação de um espírito habitante de mundo eterizado ocorrem apenas com base no perispírito (q. 186 LE). Caso esse espírito precisasse ir a mundo mais grosseiro, teria de submeter seu corpo espiritual às condições desse planeta...
— O que não é a mesma coisa que encarnar nele... Imaginemos, então, Emmanuel, um espírito puro, como é o caso do Cristo, já não sujeito à encarnação[7]. Se Ele domina as leis naturais, se abrange todo um orbe com sua visão crística, como não o faria com um simples corpo perispiritual, ao qual não se prenderia, uma vez que seu dom da onipresença é extremo, não é mesmo?
— Meu caro Bruxo, creio que temos bastante matéria para reflexões do espírito. Mas, por enquanto, paremos por aqui, pois esta crônica já vai longe, e o leitor precisa descansar. Na próxima semana, falaremos sobre o sacrifício e a dor em Jesus. Que a paz e o amor sublimes do Cristo nos envolvam no clima de tolerância, humildade e respeito. Até breve!




[1] XAVIER, F. C. A Caminho da Luz. Pelo Espírito Emmanuel. 38. ed. Brasília: FEB, 2013, cap. 1, p. 13.
[2] KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. 4. ed. Brasília: FEB, 2017, q. 113 e 170.
[3] XAVIER, F. C. A Caminho da Luz. Pelo Espírito Emmanuel. 38. ed. Brasília: FEB, 2013, cap. 1, p. 11.
[4] KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. 2. ed., 4. impr. Brasília: FEB, 2017.
[5] KARDEC, Allan. Revista Espírita. Tradução de Evandro Noleto Bezerra, set. 1864.
[6] KARDEC, A. O Livro dos Espíritos. Tradução de Evandro Noleto Bezerra.4. ed. Brasília: FEB, 2017, q. 186.
[7] Id, q. 170.


quarta-feira, 7 de março de 2018





EM DIA COM O MACHADO 305 {jÓ]

— Boa noite, amigos. Que a paz do Senhor Jesus esteja conosco. Hoje, falar-lhes-ei do corpo espiritual, também chamado perispírito, por Allan Kardec.
— Fique à vontade, Emmanuel...
— Obrigado, Machado, que nosso Mestre amado nos inspire as palavras, como sempre, a fim de lhe sermos o mais possível fiel.
Conforme informado a Kardec, na questão número 93 e seguintes d’O Livro dos Espíritos, todos nós, espíritos imortais, somos envolvidos por uma substância invisível ao olhar humano, mas suficientemente grosseira para os que estamos libertos da influência da carne. Essa substância, tirada do fluido universal de cada globo, e que dá forma ao espírito, é o citado perispírito. Este é, em feliz comparação, como se fosse a roupagem do espírito, veste que se modifica “de um mundo a outro” (op. cit., q. 94).
— Isso significa que, se um espírito habitante de um mundo superior à Terra aqui vier, ele terá de utilizar-se de um perispírito mais denso?
— Exatamente, meu caro Bruxo. E você sabe disso tão bem quanto eu. Já foi dito que, nesse caso, o espírito precisa revestir-se de um corpo espiritual mais grosseiro. Algo parecido acontece quando alguém mergulha no fundo do mar ou eleva-se ao espaço, onde não há oxigênio suficiente para sua respiração. A pessoa precisará utilizar-se de escafandro, roupagem especial, capacete, cilindro de ar etc. Sua movimentação, em consequência disso, ficará dificultosa, e a criatura precisará adaptar-se ao novo ambiente.
Assim como o espírito pode modificar as propriedades do seu perispírito e dar-lhe a forma que deseje (op. cit., q. 95), alguém que mude do ambiente atmosférico para o submerso, ou deste para aquele, precisará utilizar a roupa adequada ao novo espaço. Desse modo, dependendo de seu aperfeiçoamento e objetivo, o espírito pode fazer-se mesmo visível com essa roupagem espiritual, e mostrar-se, na forma de uma criança ou de um adulto, a alguém encarnado, sem que o espírito manifestante deixe de possuir controle total de seus movimentos e pensamentos.
— Agora entendi por que alguns espíritos, desencarnados ainda na infância, manifestam-se a nós como crianças.
— Perfeitamente, Bruxo. A diferença é que os espíritos elevados tomam essa forma conscientemente, e os de menos elevação a assumem mecanicamente durante um certo tempo, até que possam recobrar sua plena lucidez como adultos. Há exceções, baseadas em seres de elevada condição moral, cuja lucidez torna-se quase imediata. Leia, em Ave Cristo!, na 2ª parte, cap. 5- 7 dessa obra, narrada por mim a Chico Xavier, o caso do menino de 11 anos que, ao desencarnar com o pai adotivo, ambos martirizados, imediatamente reassumiu sua personalidade da última desencarnação na idade adulta. A surpresa e emoção daquele momento fica para o leitor curioso dessa obra, que vale a pena ler na íntegra.
— Isso mesmo, Emmanuel, vamos ler mais. A literatura espírita é riquíssima. Na obra Nosso Lar, psicografada pelo Chico, o espírito André Luiz informa-nos da importância dos cuidados dispensados a esses espíritos falecidos em tenra idade. Veja o que diz a mãe de Lísias a André: “— Quando o Ministério do Auxílio me confia crianças ao lar, minhas horas de serviço são contadas em dobro [...]” (op. cit., cap. 20).
— Vejo que você estudou as obras de André e as minhas, psicografadas pelo médium mineiro, Machado. Obrigado. O conhecimento do perispírito é fundamental ao nosso discernimento sobre o processo de encarnação e reencarnação, na Terra.
— Era sobre isso que eu estava pensando, Emmanuel. Suas explicações suscitaram-me três perguntas: 1ª) Nos mundos superiores à Terra, como se dá a encarnação e a reencarnação do espírito? 2ª) A encarnação de um espírito provindo de mundo eterizado, cujo perispírito é muitíssimo menos denso do que o nosso, teria de submeter-se às leis da Natureza de nosso orbe? 3ª) E se essas leis estivessem previamente submetidas à sua própria vontade e direção superior, ele poderia ou não modificá-las, quando encarnasse, por vez primeira, nesse mundo formado por ele?
— Boas perguntas, amigo Bruxo do Cosme Velho, mas o espaço não mais nos permite divagações. Deixemos as respostas às suas indagações para futura crônica.
Que o Senhor da Vida continue abençoando nossos humildes esforços no aprendizado e no exercício do amor.
Oui, merci. A bientôt, mon monsieur Emmanuel.

sexta-feira, 2 de março de 2018




Em dia com o Machado 304 {Jó]

Bonne nuit, monsieur Emmanuel. Ça va?
— Boa noite, Machado. Eu vou bem, e você?
— Je vais bien, merci. Agora falando o português claro, amigo Emmanuel, que pensa você sobre as informações relativas a universos paralelos, confirmados pelos estudiosos da física quântica, como, por exemplo, o Dr. Michio Kaku?
— Penso que “O espaço está cheio de incógnitas para todos os Espíritos. Se os encarnados sentem a existência de fluidos imponderáveis, que ainda não podem compreender, os desencarnados estão marchando igualmente para a descoberta de outros segredos divinos que lhes preocupam a mente”.[1]
— O ser humano já pode dizer que alcançou o mais alto grau de conhecimento na Terra, e já possui plena condição de entender a natureza crística, Emmanuel?
— Meu caro Machado, como ousa o homem atual, que tudo pretende rebaixar às propriedades da matéria, compreender a natureza de “Jesus, cuja perfeição se perde na noite imperscrutável das eras, personificando a sabedoria e o amor?”[2] Ao ser humano, em cada época, somente é revelado o que está à altura de sua compreensão.
— Podemos, então, considerar Cristo como o maior profeta enviado por Deus à Terra, não é mesmo?
— Meu caro Bruxo — permita-me chamá-lo, assim, carinhosamente — os profetas, cientistas, sábios, filósofos e artistas de todos os tempos, no Mundo, estiveram e estão a serviço do Cristo. Os que se desviaram da rota traçada terão de a ela retornar, para refazer seu percurso de evolução infinita, destino reservado a todas as criaturas, por mais singelas que sejam suas existências.
— Por que, atualmente, alguns adeptos do Espiritismo criticam seu aspecto religioso, e outros tentam transmitir a ideia de que Jesus foi um homem normal, um visionário fracassado no cumprimento de sua missão entre nós?
— Por ignorância do que lhes expliquei, nas crônicas 301 e 302, sobre o anúncio dos profetas relativos a sua vinda e os testemunhos que Jesus daria ao mundo, renovando a concepção equivocada que se tinha de Deus, como implacável justiceiro a ser temido, e substituindo-a pela noção de Pai amoroso e bom, que não deseja ver perdida nenhuma das ovelhas confiadas ao aprisco do Senhor.
Por ignorarem o Evangelho de amor e humildade pregado e praticado pelo Messias divino, que não veio modificar as leis perfeitas de Deus, ao qual nos ensinou tratar como Pai.
Por olvidarem a resposta da questão 625 d’O Livro dos Espíritos, anotada por Allan Kardec, sobre ser Jesus o ser mais perfeito que Deus nos concedeu como modelo e guia.
Por não estudarem com o coração posto ao lado da razão os ensinamentos do Cristo, que nos recomenda amar os próprios inimigos e retribuir o mal com o bem.
Por julgarem ser mais fácil continuar com suas paixões e tendências inferiores, apenas admirando a bela teoria do Cristianismo, que o Espiritismo reaviva, e utilizando-a como instrumento de poder e dominação sobre seus irmãos.
Enfim, por preservarem o espírito belicoso e intolerante, que vê um cisco no olho do seu irmão, mas não retira a trave dos seus próprios olhos, como advertiu Jesus.
— Obrigado, Emmanuel, mas o tempo urge, assim como o espaço desta crônica. E a querida esposa de Jó aguarda, ansiosamente, a presença deste junto dela, para que tenham uma noite de sono sereno...
— Guardemos, então, a paz de nosso amado Mestre e tenhamos uma boa semana, amigos. Até nosso próximo encontro.



[1] XAVIER, Chico. Emmanuel. Pelo Espírito Emmanuel. 27. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2008, p. 15.
[2] Id., p. 25.

  Quando o texto é escorreito (Irmão Jó)   Atento à escrita correta É o olho do revisor, Mas pôr tudo em linha certa É com o diagramador.   ...