Páginas

sexta-feira, 31 de julho de 2020


11.3 Instruções dos espíritos: a lei de amor

Lázaro
Paris, 1862

O amor resume toda a doutrina de Jesus, porque é o sentimento por excelência, e os sentimentos são os instintos elevados à altura do progresso realizado. Em sua origem, o homem só tem instintos; mais avançado e corrompido, só tem sensações; mais instruído e purificado, tem sentimentos. E o ponto requintado do sentimento é o amor. Não o amor no sentido vulgar da palavra, mas esse sol interior, que reúne e condensa em seu foco ardente todas as aspirações e todas as revelações sobre-humanas. A lei do amor substitui a personalidade pela fusão dos seres e extingue as misérias sociais.
Feliz aquele que ultrapassando sua humanidade, ama com imenso amor os seus irmãos em sofrimento! Feliz aquele que ama, porque não conhece a miséria da alma, nem a do corpo! Seus pés são ligeiros, e ele vive como transportado fora de si mesmo. Quando Jesus pronunciou a palavra divina: amor, fez estremecerem os povo, e os mártires, ébrios de esperança, desceram ao circo.
O Espiritismo, por sua vez, vem pronunciar a segunda palavra do alfabeto divino. Fiquem atentos, porque essa palavra levanta a lápide dos túmulos vazios, e a reencarnação, triunfando da morte, revela ao homem deslumbrado o seu patrimônio intelectual. Não é mais ao suplício que ela conduz, mas à conquista do seu ser, elevado e transfigurado. O sangue resgatou o Espírito, e o Espírito deve agora resgatar o homem da matéria.
Eu disse que o homem, em sua origem, tem apenas instintos. Aquele, pois, em quem os instintos dominam, está mais próximo do ponto de partida que da meta. Para avançar em direção à meta, é necessário vencer os instintos em proveito dos sentimentos, ou seja, aperfeiçoar estes, sufocando os germes latentes da matéria.
Os instintos são a germinação e os embriões dos sentimentos. Trazem consigo o progresso, como a bolota encerra em si o carvalho, e os seres menos adiantados são os que, libertando-se lentamente de suas crisálidas, permanecem subjugados pelos instintos.
O Espírito deve ser cultivado como um campo. Toda a riqueza futura depende do trabalho atual. E, mais que os bens terrenos, ele os conduzirá à gloriosa elevação. É então que, compreendendo a lei do amor, que une todos os seres, nela buscarão os suaves prazeres da alma, que são o prelúdio das alegrias celestes.

Tradução livre do Prof. Dr. Jorge Leite de Oliveira.



quinta-feira, 30 de julho de 2020


IMPORTÂNCIA DO NOSSO PAPEL NA DIVULGAÇÃO ESPÍRITA
Jorge Leite de Oliveira


[...] estudemos Allan Kardec, ao clarão da mensagem de Jesus Cristo, e, seja no exemplo ou na atitude, na ação ou nas palavras, recordemos que o Espiritismo nos solicita uma espécie permanente de caridade – a caridade da sua própria divulgação. -Pelo Espírito Emmanuel (In: XAVIER, 2008, cap. 40).

A educação humanista, religiosa e positivista de Allan Kardec não é desconhecida. Ele foi educado, a partir dos 10 anos, no Instituto de Yverdon, na Suíça pelo evangélico ecumênico Johann Henrich Pestalozzi, consoante as informações de Wantuil (2004, p. 51). Segundo este autor,

No seu Instituto de Educação, em Yverdon, cidade de cantão protestante, Pestalozzi conviveu com professores calvinistas e luteranos extremados no zelo religioso, mas, apesar disso e não obstante pertencer também à igreja reformada, ele sempre se colocou equidistante do misticismo, dos preconceitos e das paixões religiosas (WANTUIL; THIESEN, 2004, p. 73).

Essa instituição pedagógica, mundialmente conhecida, foi pautada pelo ensino intelecto-moral, e sabe-se que Kardec, o Codificador do Espiritismo, era filho de pais católicos. Desse modo, desde jovem, habituara-se a ler e analisar as Escrituras Sagradas, o que, mais tarde, na elaboração d’O Evangelho Segundo o Espiritismo, o fez refletir nos cinco núcleos cristãos, que comentou na introdução dessa obra: os atos comuns da vida de Jesus; suas predições; suas expressões tomadas como dogmas pela Igreja; seus milagres; e seus ensinamentos morais (2016, introd.). Estes últimos, os únicos que não permitem controvérsias, segundo o Codificador.
Após tomar conhecimento dos fenômenos mediúnicos, em 1854, e comprovar sua veracidade, a partir de maio de 1855, na casa da Sr.ª Roger, sonâmbula, Allan Kardec passa a assistir aos inúmeros fenômenos espirituais e, em 12 de junho de 1856, por intermédio da jovem Aline C..., recebe a informação do Espírito Verdade sobre sua missão, na difusão do Espiritismo, já anunciada antes por outros Espíritos. Nessa comunicação, o Espírito Verdade esclarece a Kardec (2009, p. 368) que este teria de enfrentar uma guerra permanente, na qual sacrificaria seu descanso, seu sossego, sua saúde e até sua existência física, que poderia ser bem mais longa sem esses esforços na codificação e difusão do Espiritismo.
Conclui o Espírito Verdade que Kardec necessitaria de ser prudente, humilde, modesto e desinteressado. Por fim, teria que ter [...] “devotamento, abnegação e disposição a todos os sacrifícios [...]” no sucesso de sua missão (id., ibid.).
A isso, responde o Missionário da Terceira Revelação humildemente:

Espírito Verdade, agradeço os teus sábios conselhos. Aceito tudo, sem restrição e sem ideia preconcebida.
Senhor! já que te dignaste lançar os olhos sobre mim para cumprimento dos teus desígnios, faça-se a tua vontade! A minha vida está nas tuas mãos; dispõe do teu servo. Reconheço a minha fraqueza diante de tão grande tarefa; a minha boa vontade não desfalecerá, mas talvez as forças me traiam. Supre a minha deficiência; dá-me as forças físicas e morais que me forem necessárias. Ampara-me nos momentos difíceis e, com o teu auxílio e o amparo dos teus celestes mensageiros, tudo farei para corresponder aos teus desígnios (KARDEC, 2009, p. 369).

            Assim agem os grandes missionários. Não fogem aos desafios de sua missão, abandonam tudo o que é supérfluo, em prol dela, e dedicam toda a sua vida para bem cumpri-la, sem outro objetivo que não seja o do bem da Humanidade. Allan Kardec foi um desses gigantes escolhido a dedo por Jesus Cristo. Tudo abandonou, quando observou conscienciosamente e pesquisou, sem ideias preconcebidas, os fenômenos mediúnicos. Não receou, mesmo, abandonar o conceito católico que possuía sobre a vida na Terra, acatando, humildemente, as ponderações dos Espíritos superiores sobre a necessidade da reencarnação e sua justiça na explicação de todas as desigualdades existentes no Mundo.
Autor de cursos renomados, de obras didáticas premiadas, nome já consagrado no meio científico, podia fazer fortuna nesse ambiente, mas diante da grandiosidade da tarefa que vislumbrava pela frente, não titubeou em abraçar a causa espírita com todo o ardor de sua alma missionária. Cabe a nós seguir seus passos, como ele seguiu os do Cristo, nosso Irmão Maior e Modelo Divino para toda a Humanidade. Acompanhar Kardec na vivência e divulgação do Espiritismo é doar-nos em prol de um mundo melhor, é combater o materialismo, é praticar o bem incansavelmente, para que possamos, desde já, ser felizes.
Preocupado com o futuro da Doutrina Espírita, e empenhado na produção d’O Livro dos Espíritos, Kardec, na questão 798, deseja saber se o Espiritismo tornar-se-ia crença geral. Então, foi informado de que este não somente se tornará “crença comum”, como “marcará uma Nova Era na História da Humanidade, porque está na Natureza e chegou o tempo em que ocupará lugar entre os conhecimentos humanos [...]”.
Em seguida, esclarecem os Imortais que o Espiritismo haveria ainda que sustentar, por algum tempo,

[...] grandes lutas, mais contra os interesses, do que contra a convicção, pois não se pode dissimular a existência de pessoas interessadas em combatê-lo, umas por amor-próprio, outras, por causas inteiramente materiais. Porém, seus contraditores se tornarão cada vez mais isolados, serão forçados a pensar como os demais, sob pena de se tornarem ridículos (KARDEC, 2006, p. 438).

 Allan Kardec (2014, p. 361) previu quatro períodos distintos na difusão do Espiritismo: o primeiro foi o da curiosidade; o segundo foi o da observação ou fase filosófica da Doutrina Espírita; o terceiro e o quarto períodos ainda dependem muito do nosso esforço para se concretizarem. Com o advento da internet, proporcionando a globalização das comunicações e a aprovação, cada vez maior de dissertações e teses espíritas acadêmicas, o terceiro período, que é o de sua admissão “entre as crenças oficialmente reconhecidas” está em pleno curso.
Cabe-nos, como adeptos, esforçar-nos para que o Espiritismo exerça “sua influência sobre a ordem social”, em seu quarto período, como previu Kardec que ocorrerá. Quando isso acontecer, em sua plenitude, a Humanidade “entrará num novo caminho moral” e, consequentemente, o Mundo será mais feliz.
Em seu período inicial, o Espiritismo foi bastante ridicularizado pelas pessoas supostamente doutas, em especial, pelos adeptos das teorias materialistas. Também o meio religioso via a Doutrina Espírita como concorrente dos seus interesses em dominar as mentes, no que se refere ao sagrado, além de desmistificar os dogmas sem fundamentos reais, como o da doutrina das penas eternas e outros, já bastante conhecidos.
Em nossos relacionamentos sociais, estudos e esforços na divulgação do Espiritismo, temos constatado o acerto das seguintes palavras kardequianas:

 O temor do ridículo entre uns, e noutros o receio de melindrar certas susceptibilidades os impedem de proclamarem alto e bom som as suas opiniões; isso é sem dúvida pueril; entretanto, nós os compreendemos perfeitamente. Não se pode pedir a certos homens aquilo que a Natureza não lhes deu: a coragem de desafiar o “que dirão disso?” Porém, quando o Espiritismo estiver em todas as bocas – e esse tempo não está longe – tal coragem virá aos mais tímidos. Sob esse aspecto uma mudança notável já vem se operando desde algum tempo; fala-se dele mais abertamente; já se arriscam, e isso faz abrir os olhos dos próprios antagonistas, que se interrogam se é prudente, no interesse de sua própria reputação, combater uma crença que, por bem ou por mal, infiltra-se por toda parte e encontra apoio no ápice da sociedade. Assim, o epíteto de loucos, tão largamente prodigalizado aos adeptos, começa a tornar-se ridículo; é um lugar-comum que se torna trivial, pois em breve os loucos serão mais numerosos que as pessoas sensatas, havendo mais de um crítico que já se colocou do seu lado. Finalmente, é o cumprimento do que anunciaram os Espíritos, ao dizerem: os maiores adversários do Espiritismo tornar-se-ão seus mais ardorosos partidários e propagandistas (KARDEC, 2014, p. 362).

            No mundo atual, as ideias materialistas e a falta de uma crença pautada nas eternas leis naturais, junto com outros fatores socioeconômicos e políticos, têm causado muitos distúrbios sociais e levado milhões de pessoas ao crime e ao suicídio. Cabe, então, ao adepto sincero do Espiritismo atuar, com denodo e amor, na divulgação de sua elevada concepção, a fim de que, rapidamente, sua revelação se espalhe por toda a Terra. Sem nossa transformação moral, entretanto, pouco ajudaremos nessa tarefa, pois, como nos informa o Espírito Emmanuel: “Não é tão fácil a conversão do homem, quanto o afirmam os portadores de convicções apressadas. Muitos dizem: ‘eu creio’, mas poucos podem declarar: ‘estou transformado” (XAVIER, 2005, p. 45).
            Segundo Léon Denis, que já entrevia, no início do século XIX, as dificuldades que o sectarismo religioso provoca, na concretização de uma identidade comum com a doutrina do Cristo no mundo, centrada na humildade e no amor,

O que é presentemente necessário à Humanidade não é mais uma crença, uma fé decorrente de um sistema ou de uma religião particular, inspirada em textos respeitáveis, mas de autenticidade duvidosa, em que a verdade e o erro se mesclam e se confundem. O que se impõe é uma crença baseada em provas e em fatos; uma certeza fundada no estudo e na experiência, de que se destacam um ideal de justiça, uma noção positiva do destino, um estímulo de aperfeiçoamento, suscetíveis de regenerar os povos e ligar os homens de todas as raças e de todas as religiões (DENIS, 2016, cap. 8).

            Já na Revista Espírita e nas obras básicas de Kardec, encontramos alertas, como esta síntese: “Para a parte moral do Espiritismo, nenhuma dificuldade na teoria, muita na prática.” Um Espírito. (In: KARDEC, 2004, p. 476). Cabe a nós, os novos cristãos, à luz do Espiritismo, esforçarmo-nos para pôr em prática esses brilhantes ensinamentos que tanto nos emocionam, mas que precisam também ser aplicados no cotidiano de nossas existências físicas. Isso porque, segundo o Espírito Emmanuel, guia espiritual de Chico Xavier (2005, cap. 19): “Os que afirmam apenas na forma verbal que o Mestre se encontra aqui ou ali, arcam com profundas responsabilidades. A preocupação de proselitismo é sempre perigosa para os que se seduzem com as belezas sonoras da palavra sem exemplos edificantes”.
            Somente estaremos em condições de, não somente atrair, como também de convencer a outrem sobre a grandeza de nossas convicções, observando com rigor o que diz Allan Kardec: “Reconhece-se o verdadeiro espírita se pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega para domar suas inclinações más” (KARDEC, 2016, cap. XVII). A  isso, o Espírito Emmanuel acrescenta o seguinte: “Tua mensagem não se constitui apenas do discurso ou do título de cerimônia com que te apresentas no plano convencional; é a essência de tuas próprias ações, a exteriorizar-se de ti, alcançando os outros” (XAVIER, 2008, cap. 2).

REFERÊNCIAS

DENIS, Léon. Cristianismo e espiritismo. Trad. Leopoldo Cirne. 17. ed. 4. imp. Brasília: FEB, 2016.

KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 1ª ed. comemor. Rio de Janeiro: FEB, 2006.

______.Obras póstumas. Trad. Evandro Noleto Bezerra. Rio de Janeiro: FEB, 2009.

______. O evangelho segundo o espiritismo. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. 2. reimp. Brasília: FEB, 2016.

KARDEC, Allan. Revista Espírita: jornal de estudos psicológicos. Ano 1, n. 9,  set. 1858. Trad. Evandro Noleto Bezerra. Brasília: FEB, 2014.

______. _____. Ano 11, n. 11, nov. 1868. Trad. Evandro Noleto Bezerra. Brasília: FEB, 2004.

WANTUIL, Zeus; THIESEN, Francisco. Allan Kardec: o educador e o codificador. 2. ed. Rio de Janeiro: 2004.

XAVIER, Francisco Cândido. Caminho, verdade e vida. Pelo Espírito Emmanuel. 1ª ed. esp. Rio de Janeiro: FEB, 2005.

______; VIEIRA, Waldo. Estude e viva. Pelos Espíritos Emmanuel e André Luiz. 13. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2008.

Publicado no periódico mensal Reformador, da Federação Espírita Brasileira, set. 2017.

terça-feira, 28 de julho de 2020


EM DIA COM O MACHADO 429:
provações, Deus e vida eterna (Jó)
Divaldo Franco e Joanna de Ângelis... - Mansão do Caminho | Facebook

Paz e bem, leitora e leitor amigo.
O mundo atual bombardeia-nos com tantas informações que, em poucas horas, o que era tido como verdade científica é desmentido por novas informações. Isso ocorre, principalmente, na medicina. Então, resolvi entrevistar o Espírito Joanna de Ângelis sobre três temas básicos: provações, Deus e vida eterna. Suas respostas podem ser lidas ampliadas, depois, em sua profunda obra: Lampadário Espírita, nos capítulos 21, 22, 23 e 25.
Eis a primeira pergunta:
— Sendo as provações instrumento de nossa evolução, como consequências do uso do nosso livre-arbítrio, como suportá-las sem desespero? — Resposta de Joanna:
— Aumenta a dosagem de tua paciência. Cada madrugada anuncia nova oportunidade para a tua prática do bem. Pratica-o. Então, o Amor divino abençoará tua vida e conduzir-te-á à felicidade cada vez maior.
— Como podemos evitar as doenças? — E ela responde:
— Embora curando os enfermos do corpo e da alma, Jesus jamais se contaminou com nenhum deles. Não imponha, pois, condições para amar, como Ele amou. Não aflijamos os que nos amam. Sirvamos sem imposições...
O medicamento de nosso corpo e de nossa alma será sempre, primordialmente, a Doutrina de Jesus. Nas horas difíceis de nossa atual existência, oremos e meditemos sem cessar, como Ele nos recomendou.
— Onde podemos identificar a presença de Deus? — E, novamente, Joanna nos socorre com sua sábia orientação:
— Deus está no micro e no macrocosmo. Tudo, em Sua Obra, evolui e se aperfeiçoa. E nós, como Seus filhos, fomos criados para ser felizes e cooperar com Ele, quando, então nos sublimaremos.
— Por que, sendo eternos, tememos tanto a morte, irmã Joanna?
— Medo da mudança de nosso estado vibratório – respondeu-nos ela —. Cada pessoa morre como vive. Ligada às venturas da esperança ou acorrentada às paixões extenuantes dos sentidos físicos.
Temendo ou não a morte, ela é uma fatalidade a todos os que renascem na carne. Sábio é quem cultiva ideias otimistas e se prepara espiritualmente para a continuação da vida aqui e no Além — concluiu.
Satisfeito com a sabedoria e conselhos de Joanna, despedimo-nos com os votos de paz, alegria e muita saúde a todos, ante a certeza de que fomos criados para a felicidade nas bases do Amor maior que está dentro de nós: Nosso Pai Eterno, como nos ensinou Jesus Cristo.
Ao médium Divaldo Franco, desejamos pleno sucesso na cirurgia a que se submeterá nesta quarta-feira. Certamente, Joanna e Jesus estarão a seu lado e seu tratamento será bem-sucedido, com as graças de Deus.

sábado, 25 de julho de 2020



11.2 DÊ A CÉSAR O QUE É DE CÉSAR


Então, retirando-se os fariseus, entenderam entre si para comprometê-lo com suas próprias palavras. E enviaram-lhe seus discípulos, juntamente com os herodianos, que lhe disseram: "Mestre, sabemos que você é verdadeiro e ensina o caminho de Deus pela verdade, sem levar em conta ninguém, porque não faz distinção entre as pessoas. Diga-nos, pois, qual é sua opinião sobre isto: devemos pagar o tributo a César ou não?"
Mas Jesus, conhecendo sua malícia, disse-lhes: "Hipócritas, por que me tentam? Mostrem-me a moeda de prata que dão para pagar o tributo". E quando eles lhe apresentaram um dinheiro, Jesus lhes disse: De quem são esta imagem e esta inscrição? De César, responderam-lhe eles. Então Jesus lhes disse: Pois deem a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus.
Quando ouviram isto, admiraram-se de sua resposta, e deixando-o se retiraram (Mateus, 22: 15-22); (Marcos, 12: 13-17).

A questão proposta a Jesus era motivada pela circunstância de que os judeus, revoltados com o tributo que os romanos lhes impunham, transformaram-no num problema religioso. Numeroso partido se havia formado para rejeitar o imposto. O pagamento do tributo, portanto, era para eles uma questão de irritante atualidade, sem o que, nenhum sentido teria a pergunta feita a Jesus: "Devemos pagar o tributo a César ou não?". Essa questão era uma cilada, pois, segundo a resposta, esperavam excitar contra ele as autoridades romanas ou os judeus dissidentes. Mas "Jesus, conhecendo a sua malícia", escapa à dificuldade, dando-lhes uma lição de ética, ao dizer que dessem a cada um o que lhes era devido. (Ver na Introdução o item intitulado Publicanos.)

Este princípio: "Dê a César o que é de César" não deve ser entendido de maneira restritiva e absoluta. Como todos os ensinamentos de Jesus, é um princípio geral, resumido numa forma prática e usual, e deduzido de uma circunstância particular. Esse princípio é uma consequência daquele que manda agir com os outros como quereríamos que os outros agissem conosco. Condena todo prejuízo moral e material que possa causar a outrem toda violação dos seus interesses. Ele prescreve o respeito aos direitos de cada um, como cada um deseja ver os seus respeitados. Estende-se ao cumprimento dos deveres contraídos para com a família, a sociedade, a autoridade, bem como para os indivíduos.

Tradução livre do Prof. Dr. Jorge Leite de Oliveira.


quinta-feira, 23 de julho de 2020


AKSAKOF E KARDEC: DOIS FILÓSOFOS A SERVIÇO DO ESPIRITISMO
Jorge Leite de Oliveira
jojorgeleite@gmail.com

Blog Espirita Amigo: ALEXANDRE AKSAKOF - BIOGRAFIAAllan Kardec – Wikipédia, a enciclopédia livre


[O Espiritismo] foi a obra de minha vida. Dei-lhe todo o meu tempo, sacrifiquei-lhe o meu repouso, a minha saúde, porque o futuro estava escrito diante de mim em letras irrecusáveis. Allan Kardec (2016, p. 329. Constituição do Espiritismo)

Segundo Godoy e Lucena (2019a), Alexandre Nicolaievitch Aksakof foi um famoso filósofo espírita que nasceu em Repievka (Rússia) em 27 de maio de 1832 e desencarnou em São Petersburgo, (atual cidade de Leningrado), em 4 de janeiro de 1903. Ele foi membro de tradicional família de nobres russos, doutor em Filosofia e conselheiro de Estado, no reinado de Alexandre III, Tzar da Rússia. Destacou-se na investigação e análise dos fenômenos espíritas de 1855 até o final do século XIX sendo, pois, contemporâneo de Allan Kardec nessas investigações e publicação da mais elevada seriedade.
Informa Machado (2019b) que Alexandre Aksakof foi filho de um filósofo religioso da nobreza russa chamado Nikolai T. Aksakov e cunhado do escritor Sergey Aksakov. Sua esposa chamava-se Sophie Aksakov. Estudou no Liceu Imperial de São Petersburgo e, após conclusão de seus estudos básicos, passou a estudar Filosofia e Religião, quando aprendeu o latim e o hebraico.
Impressionou-se muito com a obra do sueco místico Emmanuel Swedenborg, um dos precursores do Espiritismo, cujos conhecimentos abrangiam quase toda a cultura de sua época (ciência, filosofia, teologia etc.), que nasceu em 29 jan. 1688 e desencarnou em 29 mar. 1772. Com a expansão dos fenômenos mediúnicos em 1848, que se estendeu dos Estados Unidos para o mundo, Aksakof passou a estudar o Espiritismo com o mais vivo interesse, em especial, a partir de 1854.

Nesse período, recebeu uma obra de Beecher - Revista de Manifestações Espíritas - a primeira que sobre esse assunto chegou às suas mãos e, a partir daí, procurou colocar-se em dia com as publicações sobre tal assunto e seguir, passo a passo, o movimento espiritista na América e na Europa. Em 1854 chega às mãos de Aksakof a obra Revelações da Natureza Divina, de Andrew Jackson DAVIS, que o despertou para o mundo espiritual, de cuja realidade já tinha bastante conhecimento (MACHADO, 2019b).

Com o tempo, tornou-se doutor e lente da Academia de Leipzig, na Alemanha. Foi diretor do jornal alemão Psichische Studien e editou, em Moscou, em 1891, Rebus, a primeira revista russa de estudos psíquicos.
Seu nome de família era Aksakov. Quando esteve na Alemanha, alterou seu nome familiar para Aksakof a fim de acomodá-lo melhor à pronúncia alemã. Desde então, assim ficou conhecido.
Segundo, ainda, Machado (2019b) o início do trabalho espírita de Aksakof ocorreu em 1855. A partir desse ano, ele traduziu para a língua russa todas as obras espíritas de Allan Kardec, de Jackson Davis, do reverendo Robert Dale Owen, de Robert Hare, de John Wort Edmonds, do boletim da London Dialectical Society, dos trabalhos de William Crookes etc. Ainda na Alemanha, publicou, em Leipzig, O evangelho segundo Swedenborg, O racionalismo de Swedenborg e O livro de gênesis de acordo com Swedenborg.
Também em 1854, Allan Kardec tomou conhecimento das “mesas girantes e falantes”, mas somente iniciou suas observações sobre os fenômenos mediúnicos, em casa da Sra. Plainemaison, no ano seguinte. Aksakof estudaria, principalmente, os fenômenos físicos, como os de materializações e os de transporte, diferenciando, entretanto, o animismo do mediunismo, que, de modo mais abrangente, qualifica de Espiritismo (1978, v. I, p. 24). Kardec também observaria esses fatos, mas funda a Doutrina Espírita com base nas manifestações intelectuais deles decorrentes.
De início, os médiuns observados por Allan Kardec eram duas jovens da família Baudin (2016, p. 239); e os assuntos eram, em geral, frívolos: coisas relacionadas à vida material, ao futuro, enfim, nada sério. Mas Kardec, com base no método experimental, sem ideias preconcebidas, percebeu naqueles fenômenos e noutros, que viria a observar mais tarde, com a contribuição de muitos outros médiuns, “a chave do problema tão obscuro e tão controvertido do passado e do futuro da humanidade, a solução” que procurara em toda a sua vida, pois, desde a época em que estudara no instituto de Pestalozzi, na Suíça, notara que as verdades espirituais estavam muito acima das querelas religiosas e das teorias materialistas de seu tempo.
Com décadas de estudos dos fenômenos magnéticos, o futuro Codificador do Espiritismo já estava sendo preparado pelo Cristo e seus emissários para o desempenho de uma obra que lhe exigiria todo um hercúleo esforço, todas as energias, extrema humildade e abnegação exemplar. Entretanto, os limites físicos desse gigante da Terceira Revelação Cristã, desencarnado em 1869, não impediriam que outros missionários encarnados, em sintonia perfeita com os Espíritos superiores, continuassem a obra que, como o próprio Kardec reconhecia, era antes dos Espíritos de elevada condição moral e intelectual, como Sócrates, Platão, João Evangelista, São Paulo, Santo Agostinho, São Luís,  Swedenborg, Fénelon, Cárita etc. sob a direção do Cristo.
Grandes nomes da Filosofia, da Ciência e das Artes continuariam a obra de Kardec em países como Estados Unidos, França, Grã-Bretanha, Alemanha, Espanha, Itália, Rússia etc. Destacou-se nesse país Alexandre Aksakof, que em 1890 publicou a obra, em dois volumes: Animismo e Espiritismo, na qual refuta a teoria de animismo proposta pelo Filósofo Eduard Von Hartmann para explicar os fenômenos espíritas. Essa obra é considerada um clássico da literatura espírita científica, traduzido pelo Dr. C. S. e editada pela Federação Espírita Brasileira (FEB Editora).
Aksakof viajou para diversos países e realizou pesquisas científicas como observador e experimentador, com a participação dos mais renomados médiuns do século XIX. As inglesas Elisabeth d´Esperance e Florence Cook, a italiana Eusápia Paladino, o britânico (escocês) Daniel Dunglas Home etc. Com base em tais trabalhos é que publicou, em Leipzig, Alemanha, sua obra clássica espírita: Animismo e espiritismo.
O mesmo fez Kardec na divulgação da Doutrina Espírita decorrente do trabalho dos Espíritos, aos quais ele, humildemente, atribuía a autoria da obra, colocando-se apenas como sistematizador de seus ensinos.
Em 1892, Aksakof participou, em Milão, na Itália, da Comissão de Professores que deu seu parecer favorável à veracidade das manifestações mediúnicas, da qual participou o célebre professor criminalista italiano César Lombroso que, em carta enviada ao professor Ernesto Giolfi, se disse envergonhado por ter ridicularizado o fenômeno mediúnico antes de assistir a manifestação do Espírito de sua própria mãe. Fizeram parte dessa comissão de professores dez renomados doutores. Além de Aksakof e Lombroso, estiveram presentes e assinaram o documento Giovanni Schiaparélli, diretor do Observatório de Milão; Carl Du Prel, doutor em Filosofia de Munique; Charles Richet, professor da Faculdade de Medicina de Paris e diretor da Revista Científica, prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina em 1913 etc.
No prefácio de Animismo e espiritismo, Aksakof cita dois erros dos pesquisadores dos fenômenos mediúnicos: o primeiro é o de atribuir todo o conjunto das manifestações aos Espíritos; o segundo é o dos adversários do Espiritismo que negam tudo, por não quererem saber de “espíritos”. A verdade está entre esses dois extremos.
Mais adiante, esclarece-nos que os “elementos múltiplos e dissociáveis que constituem a personalidade”, quando dissecados pela “experimentação psicológica” descobrirá a individualidade, núcleo transcendente das forças indissociáveis. Conclui Aksakof que apenas o Espiritismo é capaz de “provar a existência e a persistência metafísica do indivíduo”.
Para Aksakof, não pode existir mais alto objetivo em uma existência na Terra do que o de “provar a natureza transcendente do ser humano, chamado a um destino muito mais sublime do que a existência fenomenal!” Podemos reforçar as palavras desse sábio com a convicção de grande número de pesquisadores do passado e do presente que dirão, após suas observações e experimentações, humilde e sem ideias preconcebidas, frases semelhantes a esta: “Não somente creio na imortalidade do Espírito, como sei que essa é a grande verdade que libertará o ser humano da ignorância e do mal”.
No prefácio do primeiro volume de sua obra, Animismo e Espiritismo, explica Aksakof que, no final de sua existência terrestre, ao se perguntar se teria valido a pena sacrificar “[...] uma existência inteira” em “tempo, trabalho e recursos ao estudo e propagação de todos esses fenômenos” (1978, p. 30), sempre é reconfortado com “a mesma resposta”:

[...] para o emprego de uma existência terrestre, não pode haver objetivo mais elevado do que procurar provar a natureza transcendente do ser humano, chamado a um destino muito mais sublime do que a existência fenomenal! [...] E, se consegui, de minha parte, trazer ainda que uma só pedra à ereção do templo do Espírito — que a Humanidade, fiel à voz interior, edifica através dos séculos com tanto labor —, será para mim a única e mais alta recompensa a que posso aspirar (AKSAKOF, 1978, v. I, p. 31).

         E, no antepenúltimo parágrafo do segundo volume de sua importante obra para o estudioso espírita, esse grande filósofo, em 1890, diz o seguinte:
Quando os fatos espiríticos forem aceitos e estabelecidos em sua totalidade, a Filosofia deverá concluir deles, não pela existência de um mundo sobrenatural de indivíduos sobrenaturais, mas pela existência de um mundo de percepções transcendentes, pertencentes a uma forma de consciência transcendente, e as manifestações espíritas nada mais serão daí em diante que uma manifestação dessa forma de consciência nas condições de tempo e de espaço do mundo fenomenal (AKSAKOF, 1978, v. II, p. 403).

         Kardec assinaria embaixo, se já não estivesse no Mundo Espiritual desde 31 de março de 1869. Em Obras póstumas, 1ª parte, último parágrafo, foi citada a conclusão desse Filósofo estruturador da Doutrina Espírita que
A sobrevivência da alma após a morte do corpo está provada de maneira incontestável e até certo ponto palpável pelas comunicações espíritas. Sua individualidade é demonstrada pelo caráter e pelas qualidades peculiares a cada um. Essas qualidades, que distinguem as almas umas das outras, constituem a sua personalidade. Se as almas se confundissem num todo comum, suas qualidades seriam uniformes. (KARDEC, 2016, p. 40). [JLdO1] Obs.: corrigida a última frase após publicação.

Referências

AKSAKOF, Alexandre. Animismo e espiritismo. 3. ed. Trad. do Dr. C. S. Rio de Janeiro: FEB, 1978, v. I e II.

GODOY, Paulo Alves de; LUCENA, Antônio de S. Personagens do Espiritismo. Biografia de Alexandre Aksakof. Disponível em:  http://www. autoresespiritasclassicos.com. Acesso em 18.01.2019a.

MACHADO, Dirceu. Alexander Nicolaievitch Aksakov. Disponível em: http://www.correioespirita.org.br. Acesso em 18 jan. 2019b.

 

KARDEC, Allan. Obras póstumas. 2. ed. Trad. Evandro Noleto Bezerra da 1ª ed. francesa. Brasília: FEB, 2016.

 

(Publicado em Reformador, Fed. Espírita Brasileira – FEB, abr. 2019.)

 

 






 [JLdO1]Corrigido após publicado em abr. 2019.

  Propriedade Intelectual (Irmão Jó) Houve época em que produzir Obra de arte legal Era incerto garantir Direito intelectual.   Mas com tant...