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sábado, 29 de junho de 2019


O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO - cap. 4 - continuação da trad. livre de J.L.O


4.2 Laços de família fortalecidos pela reencarnação e destruídos pela existência única

Os laços de família não são destruídos pela reencarnação, como pensam certas pessoas. Pelo contrário, são fortalecidos e apertados. O princípio oposto é que os destrói. Os Espíritos formam, no espaço, grupos ou famílias, unidos pela afeição, pela simpatia e pela semelhança de inclinações. Esses Espíritos, felizes de estarem juntos, buscam-se. A encarnação apenas os separa momentaneamente, porque, após seu retorno à erraticidade, se reúnem, como amigos que voltam duma viagem. Muitas vezes, até, eles seguem juntos na mesma encarnação, reunindo-se numa mesma família ou num mesmo círculo e trabalham juntos para o seu mútuo adiantamento. Se uns estão encarnados e outros não, nem por isso deixam de estar unidos pelo pensamento. Os que estão livres velam pelos que estão cativos; os mais adiantados esforçam-se para fazer progredir os retardatários.
Após cada existência, terão dado mais um passo no rumo da perfeição. Cada vez menos apegados à matéria, seu afeto é mais vivo, por ser mais depurado e não ser perturbado pelo egoísmo nem pelas sombras das paixões. Podem, assim, percorrer um número ilimitado de existências corporais, sem que nenhum golpe perturbe sua mútua afeição.
Fique bem entendido que aqui se trata da afeição real, de alma para alma, única que sobrevive à destruição do corpo; pois os seres que se unem na Terra apenas pelos sentidos não têm nenhum motivo para se procurarem no mundo dos Espíritos. Só são duráveis as afeições espirituais. As afeições carnais extinguem-se com a causa que as fez nascer. Ora, essa causa não existe mais no mundo dos Espíritos, enquanto a alma existe sempre. Quanto às pessoas unidas somente por interesse, nada são realmente umas para a outras; a morte as separa na Terra e no Céu.

terça-feira, 25 de junho de 2019




EM DIA COM O MACHADO 373:
teoria da significância (Jó)

No direito, existe uma norma baseada na “teoria da insignificância”. Pois falar-vos-ei hoje, caros leitores, do novo princípio criado por mim: a “teoria da significância”.
Há pessoas que se arrogam o direito de ser “palmatória do mundo”; suas palavras, e não sei se ações, são pautadas pelo “politicamente correto”. São tão “corretas” quanto pretensiosas. Não enxergam o próprio umbigo, mas, como os fariseus da época de Jesus, colocam fardos pesados nos ombros alheios, aos quais nem ao menos com um dedo ousam tocar, como Ele disse.
Tais pessoas, autointituladas éticas, como demonstração de seu espírito humanitário, disparam frases de efeito em relação ao que entendem por correto. Uma delas, que admiro muito, após sua palestra, assistida ao vivo por  centenas de pessoas, filmada e disponibilizada ao público na internet, afirmou isto: “Uma senhora perguntou-me se eu não levara meus livros para vendê-los após minha palestra. Disse-lhe que não era comerciante. Ela respondeu-me que não exigia nota fiscal. Então indaguei-lhe se ouvira meu discurso”.
Esse douto cidadão falara antes sobre nossas pequenas faltas, que nos levam à prática dos grandes crimes, quando somos movidos pela ambição e encontramos oportunidade de praticá-los. Isso realmente é contagiante, quando ouvimos de alguém que, em público, cativa pelos altos conhecimentos e elevados conceitos morais. No entanto, restam algumas dúvidas. Sua palestra foi gratuita? Se foi cobrada, a instituição que promoveu a cobrança pagou os tributos ao governo? Naturalmente, ele terá assinado recibo sobre seus justos proventos, caso fora remunerado. Guardou-os cuidadosamente para declaração anual de rendimentos à Receita Federal?
Ah, sim, os livros. É fato que não os levou consigo, porém ele os anunciou. Pode isso? Esses anúncios estão isentos de taxas? E seu lançamento? Estava conforme as normas legais? O evento cultural foi financiado pela Lei Rouanet, criada para incentivar os pequenos agentes culturais? Se sim, a aplicação da lei ao caso específico foi justa? E, assim por diante, chegaremos à conclusão de que honestidade não é coisa tão fácil, na prática, como o é no discurso.
Quando fui consultor do quadro efetivo da Câmara Legislativa do Distrito Federal, trabalhei com profundo conhecedor de economia. Ele era o principal administrador da Casa. Vez por outra, ouvia-o dizer que, na política, impera a demagogia. Em toda a parte...
Quando ouço os discursos peripatéticos de alguns políticos, em prol da melhoria da educação, da saúde e da segurança pública, imagino que, se todos os políticos brasileiros abrissem mão da metade de seus proventos (e, ainda assim, viveriam nababescamente), já daria para resolver os problemas citados acima em nossa nação continental. Seria o “sacrifício” de alguns milhares de privilegiados em prol de milhões de vilipendiados em seus direitos.
Atualmente, no Brasil, calcula-se em mais de treze milhões o número de pessoas desempregadas. Então, pergunto: o que é feito dos tributos altíssimos cobrados do nosso povo? E dos bilhões desviados pela corrupção endêmica iniciada nos pequenos municípios, por falta de fiscalização eficiente?
            Então, amigo leitor, por uma questão de humanidade real, não se pode considerar crime a atividade de pessoas simples, que nada mais possuem do que sua criatividade e esforço próprio para adquirir seus meios de sobrevivência. É o caso desses vendedores ambulantes que vendem nos bares, nos semáforos, nos parques e noutros locais públicos doces, frutas e objetos de utilidade doméstica sem prejuízo considerável para o comércio local.
            Isso não é desonestidade, tampouco roubo. É questão de sobrevivência.
É nisso que está minha teoria: a da significância. Ela considera justo obter meios básicos de subsistência, por milhares de cidadãos, ignorados por nossos governantes, na defesa da própria vida, direito fundamental exarado na Lex Magna brasileira.
Quando os governos combaterem a corrupção que se inicia nos pequenos municípios, exigindo prestação de conta de cada centavo do erário destinado a um serviço ou bem público; quando cada gestor for responsabilizado por obra inacabada em sua administração, como, aliás, observamos na cidade goiana esburacada, que visitamos semanalmente, certamente não haverá mais necessidade de tanta gente humilde trabalhar nessas condições.  
            Nesse dia, nossas crianças e jovens terão excelentes escolas públicas e particulares. Nossos professores terão formação e salários condizentes com sua profissão. Os hospitais públicos estarão à altura dos particulares. Os cidadãos poderão sair de seus lares com a certeza de voltarem vivos. Nossas pequenas cidades serão asfaltadas, saneadas e não “sacaneadas”. Nossos eletricistas, pedreiros, marceneiros, pintores de paredes, auxiliares dos lares serão tratados e remunerados dignamente; e não mais estaremos reféns de ninguém, pois não mais haverá miséria em nosso país.
            Isso, por enquanto, ainda é uma utopia. Mas se cada cidadão e cidadã  influenciador das massas optar por deixar de lado sua ambição pelo poder, sua demagogia e se unir em prol de um Brasil ético, com certeza, em breve a famosa “Lei de Gérson” deixará de existir em nosso país.
Com o grande avanço dos meios de comunicação, chegou a hora do povo cobrar de seus prefeitos e vereadores, deputados e senadores o cumprimento das suas promessas de campanha.
Significante é, pois, exigir-se de nossos políticos ações efetivas para o atendimento aos direitos e garantias fundamentais do cidadão, previstos no artigo 5º da Constituição brasileira, tais como “a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade”.
Significante é o direito popular de lutar dignamente pelo cumprimento do que, até então, tem sido letra morta em nossa Carta Magna: direito à habitação, ao trabalho, à saúde, ao estudo, à cultura, ao lazer...
Significante é preservar os costumes da família brasileira, pautados pelas normas cristãs e éticas.
Significante é aplicar e prestar conta, honestamente, de cada centavo do erário na realização de políticas públicas, saneamento básico, segurança, educação de qualidade etc.
Significante é combater diuturnamente a corrupção endêmica e epidêmica em nosso país, tanto quanto as doenças mortais.
E... fora com os demagogos!
            Isso também é significante.  



quinta-feira, 20 de junho de 2019

Cont. trad. livre d'O Evangelho Segundo o Espiritismo (por Jorge Leite de Oliveira)  

Cap. 4 Ninguém poderá ver o Reino de Deus se não nascer de novo



Aqueles do seu povo que foram mortos viverão novamente. Aqueles que estavam mortos em meio a mim ressuscitarão. Despertem do seu sono e louvem a Deus, vocês que habitam no pó, porque o orvalho que cai sobre vocês é um orvalho de luz, e porque vocês arruinarão a Terra e o reino dos gigantes (Isaías, 26: 19).  

Esta passagem de Isaías é também bastante explícita: “Aqueles do seu povo que foram mortos viverão novamente”. Se o profeta tivesse querido falar da vida espiritual, se houvesse pretendido dizer que aqueles que tinham sido executados não estavam mortos em espírito, teria dito: "ainda vivem", e não: "viverão novamente". No sentido espiritual, essas palavras seriam um absurdo, porque implicariam uma interrupção na vida da alma. No sentido de regeneração moral, seriam a negação das penas eternas, porque estabelecem o princípio de que todos os mortos reviverão.

Quando o homem morre uma vez, e seu corpo, separado do espírito, é consumido, em que se torna ele? Tendo o homem morrido uma vez, poderia ele reviver? Nesta guerra em que me encontro, todos os dias de minha vida, estou esperando que chegue minha mutação (Jó, 14: 10-14, tradução de Sacy).

"Quando o homem morre, perde toda a sua força e expira; depois, onde está ele? Se o homem morre, tornará a viver? Esperarei todos os dias de meu combate, até que chegue minha transformação." (Id. tradução protestante de Osterwald).
"Quando o homem está morto, vive sempre; findando-se os dias da minha existência terrestre, esperarei, porque a ela voltarei novamente." (Id. versão da Igreja grega).
O princípio da pluralidade das existências está claramente expresso nessas três versões. Não se pode supor que Jó quisesse falar da regeneração pela água do batismo, que ele certamente não conhecia. "Tendo o homem morrido uma vez, poderia ele reviver?"
A ideia de morrer uma vez e reviver implica a de morrer e reviver muitas vezes. A versão da Igreja grega é ainda mais explícita, se possível: "Findando-se os dias da minha existência terrestre, esperarei, porque a ela voltarei novamente". Quer dizer: eu voltarei à existência terrena. Isto é tão claro como se alguém dissesse: "Saio de casa, mas a ela retornarei".
"Nesta guerra em que me encontro, todos os dias de minha vida, estou esperando que chegue a minha mutação". Jó quer falar evidentemente, da luta que sustenta contra as misérias da vida. Ele espera a sua mutação, ou seja, ele se resigna. Na versão grega, expressão "esperarei", parece antes aplicar-se à nova existência: "Findando-se os dias da minha existência terrestre, esperarei, porque a ela voltarei novamente". Jó parece colocar-se, após a morte, num intervalo que separa uma existência de outra e dizer que ali aguardará o seu retorno.
Não é, pois, duvidoso que, sob o nome de ressurreição, o princípio da reencarnação fosse uma das crenças fundamentais do judeus que é confirmado por Jesus e pelos profetas, de maneira formal. Donde se segue que negar a reencarnação é renegar as palavras de Cristo. Suas palavras, um dia, constituirão autoridade sobre este ponto, como sobre muitos outros, quando forem meditadas sem partidarismo.
Mas a essa autoridade, do ponto de vista religioso, virá juntar-se, do ponto de vista filosófico, a das provas que resultam da observação dos fatos. Quando dos efeitos remontamos às causas, a reencarnação aparece como uma necessidade absoluta, uma condição inerente à humanidade, em uma palavra, como uma lei da natureza. Ela se revela, pelos seus resultados, de maneira por assim dizer material, como o motor oculto se revela pelo movimento. Somente ela pode dizer ao homem de onde ele vem, para onde vai, por que está na Terra, e justificar todas as anomalias e todas as injustiças que a vida apresenta.[1]
Sem o princípio da preexistência da alma e da pluralidade das existências, a maior parte das máximas do Evangelho são ininteligíveis. Por isso deram origem a tantas interpretações contraditórias. Esse princípio é a chave que lhes deve restituir o verdadeiro sentido.



[1] Nota de Kardec: Veja-se, para os desenvolvimentos do dogma da reencarnação, O livro dos espíritos, cap. 4 e 5, O que é o espiritismo, cap. 2, por Allan Kardec. A pluralidade das existências, por Pezzani.

terça-feira, 18 de junho de 2019




EM DIA COM O MACHADO 372:
liberdade não é libertinagem: para uma educação integral (Jó)


            Na definição dos Espíritos, o ser humano é composto de alma (Espírito encarnado), perispírito e corpo físico. Possui, portanto, a natureza animal, pelo corpo; e a natureza espiritual, pela alma. O primeiro é mortal; a segunda é imortal.
            Criado simples e ignorante, o ser humano necessita de muitas encarnações para alcançar a perfeição relativa. A perfeição absoluta é atributo exclusivo de Deus, que Jesus Cristo nos ensinou a adorar como Pai de infinitas perfeições. Algumas delas são a eternidade, a imutabilidade, a onisciência, a onipotência, a bondade e a justiça soberanas.
            Precisamos passar um tempo pela matéria, um dos dois elementos do universo, além do elemento supremo, que é Deus. Esse estágio, entretanto, nos é concedido por nosso Pai com o objetivo de superarmos os instintos animalizados, haja vista que a evolução se processa desde o átomo ao anjo.
            Por ser amor, quando, num dos seus mandamentos, o Senhor nos recomenda amar o próximo, está referindo-se ao amor transcendente e não à paixão degradante. Essa fase está restrita aos animais mais primitivos. Infelizmente, porém, muita gente ainda confunde paixão da carne com amor espiritual.
            Até mesmo a alimentação do ser espiritualizado é frugal. Quem deseje libertar-se da influência material deve começar pela abstenção da carne animal. Atualmente, já existem várias alternativas para nossa nutrição, como a carne de soja e outros alimentos proteicos em substituição à carne.
            Como Pai amoroso, Deus concede a todos nós, seus filhos, o livre-arbítrio. Ou seja, a liberdade para escolhermos o que consideramos melhor para nós e agir, reagir ou não, conforme nossa vontade.
A liberdade é, portanto, a faculdade que nos permite decidir ou agir de acordo com o que determinamos. Não se confunde, porém, com a libertinagem, que é o desregramento, a devassidão, próprios de quem perdeu o controle sobre a sua vontade de ser bom, como nos diz o Aurélio.
Outra palavra também muito parecida com liberdade e libertinagem é licenciosidade, de licencioso, ou seja, “que usa de excessiva licença, indisciplinado, desregrado” ou “sensual, libidinoso, libertino”, de acordo com o Dicionário Aurélio. A educação, que tem por base o lar, deve voltar-se para a disciplina do ser desde tenra idade. Isso porque, sendo eterno e já tendo vivido muitas experiências na carne, o Espírito traz consigo diversas tendências negativas ao lado das boas.
Em sua sabedoria, Deus quis que, na Terra, a reencarnação humana só se complete aos sete anos. Nessa idade, a autoridade dos pais ou responsáveis deve ser exercida com amor, mas também com energia, quando necessário. O que não pode haver são maus-tratos à criança. Nem físicos, nem psicológicos.
Infelizmente, porém, por não entender muito bem a imensa responsabilidade que lhes cabe em desenvolver, principalmente, nos primeiros anos da infância, hábitos saudáveis, respeito e obediência, a sociedade hodierna passa por grandes conflitos de gerações. Se antes as crianças tinham respeito até certo ponto exagerado pelos adultos, atualmente, com base em falsas teorias, o jovem é entregue a si mesmo, ao próprio senso ainda não desenvolvido do seu livre-arbítrio...
Vemos, assim, até mesmo crianças que chegam à escola sem ter o mínimo respeito aos seus colegas e aos próprios professores, que ameaçam e agridem. Tudo isso é consequência de ideologias materialistas.
Grave erro de pais e responsáveis é trocar seus cuidados afetivos por brinquedos e satisfação de todos os caprichos de suas crianças. Quando saem às ruas, compram quase tudo que seus filhos desejam. E ai desses pais e responsáveis se não atenderem às exigências infantis. Desse modo, os jovens crescem exigentes, egocêntricos e, por vezes, chegam a matar os próprios pais, como casos já divulgados na mídia, para se apoderarem, mais cedo, de seus bens materiais.

Quando uma criança mal-educada faz birra por não lhe atenderem à vontade é preciso que se converse com ela com carinho, mas sem transigir com seus caprichos. A educação começa dentro do lar de cada um de nós. Por isso, é muito importante que não confundamos liberdade com libertinagem ou licenciosidade.
Sem que nos mortifiquemos voluntariamente, precisamos, desde jovens, domar nossas más inclinações espirituais e físicas. Podemos estar no mundo sem ser do mundo. Isso significa que necessitamos ser responsáveis no uso de nossa liberdade, para que não nos percamos  por ignorar a linha tênue, por vezes, entre esta, a libertinagem e a licenciosidade.
A verdadeira finalidade da vida é esta: dominar a matéria com todo o seu séquito de imperfeições: orgulho, inveja, avareza, maledicência, crueldade e egoísmo. As virtudes que se opõem a isso foram ensinadas pelo Espírito da Verdade n’O Evangelho Segundo o Espiritismo: a abnegação, o devotamento.
Na prática dessas virtudes, estaremos a caminho do Reino dos Céus, que o Cristo prometeu aos que fazem a Vontade do Pai. Somente com o seu exercício diário, aliado à oração e à humildade, faremos a revolução da educação: a dos bons exemplos, que nos proporcionam a verdadeira liberdade, pois só é verdadeiramente livre quem vive bem. E só vive bem quem vive para o bem.


segunda-feira, 17 de junho de 2019



Ninguém poderá ver o Reino de Deus se não nascer de novo. Cont. cap. 4 ed. livre (JLO):


Desde o tempo de João Batista até o presente, o Reino dos Céus é tomado pela violência, e são os violentos que o arrebatam. Pois até João, todos os profetas, assim como a lei, profetizaram. E se vocês quiserem compreender o que lhes digo, ele mesmo é o Elias que há de vir. Ouça aquele que tiver ouvidos para ouvir (Mateus, XI: 12-15).

Se o princípio da reencarnação, expresso em João podia, a rigor, ser interpretado num sentido puramente místico, o mesmo já não acontece nesta passagem de Mateus, que é sem equívoco possível: "[...] ele mesmo é o Elias que há de vir". Não há aí nem figura, nem alegoria: é uma afirmação positiva. "Desde o tempo de João Batista até o presente, o Reino dos Céus é tomada pela violência". Que significam essas palavras, uma vez que João Batista ainda vivia naquele momento? Jesus as explica, ao dizer: "E se vocês quiserem compreender o que lhes digo, ele mesmo é o Elias que há de vir". Ora, sendo João o próprio Elias, Jesus refere-se ao tempo em que João vivia com o nome de Elias. “Até o presente, o Reino dos Céus é tomado pela violência” é outra alusão à violência da lei mosaica, que ordenava o extermínio dos infiéis, para se ganhar a Terra Prometida, paraíso dos hebreus, ao passo que, conforme a nova lei, o Céu é ganho pela caridade pela brandura.
A seguir, acrescenta: "Ouça aquele que tiver ouvidos para ouvir". Essas palavras, tão frequentemente repetidas por Jesus, dizem claramente que nem todos estavam em condições de compreender certas verdades.

terça-feira, 11 de junho de 2019




EM DIA COM O MACHADO 371: 
humildade, uma virtude difícil (Jó)

         O Espírito Manoel Philomeno de Miranda, na obra intitulada Painéis da Obsessão, psicografada por Divaldo Franco, diz que a humildade é virtude escassa na humanidade. Nesse livro, entre outros casos, lemos a história de Argos, que tivera moratória de cinco anos de vida, após ser submetido a uma cirurgia de ablação dum pulmão, gravemente afetado pela tuberculose.
         Casado há pouco tempo com Áurea, ambos frequentavam um grupo espírita, e ele fizera comovente prece solicitando amparo espiritual, sob a promessa de dedicar-se permanentemente “com todos os recursos” ao exercício do amor, para superar o orgulho e conquistar a “comunhão fraternal” com seus inimigos de vida pregressa. Em especial, sua dívida de existência passada era com o Espírito Felipe, a quem assassinara com florete enfiado no pulmão...
         Argos, porém, tão logo teve alta, afastara-se da convivência fraterna. Diz Philomeno de Miranda que “Argos foi-se afastando do convívio físico e psíquico dos companheiros operosos e aliando-se aos mais irresponsáveis [...]” (op. cit. Ed. LEAL, 2015, p. 233).
         Em consequência, ele enfraqueceu-se organicamente e voltou a ter problemas respiratórios, com gripes e dispneias frequentes. Sua própria esposa, embora mais dedicada que o marido às atividades mediúnicas do centro que frequentava, não ficara livre das influências espirituais negativas. Não somente as do Espírito Felipe, inimigo de ambos, como as do próprio marido, que lhe requeria cada vez mais cuidados.
         Após considerações sobre o orgulho, disfarçado em humildade por conveniência, Miranda esclarece-nos que a prepotência é uma das causas do fracasso humano. Com isso, os inimigos do Além conquistam seu domínio no cotidiano dessas pessoas. Não foi à toa que Jesus Cristo nos recomendou vigiar e orar, para não sermos tentados e derrubados de nosso falso pedestal.
         Argos presumia-se mais importante do que o era, de fato, nos trabalhos do centro que frequentava. Possuía boa vontade, mas desejava impor uma liderança insustentável, por falta de mérito próprio. Tendo em vista os pensamentos negativos que emitia, por não ver seus caprichos atendidos, afastou-se da convivência do grupo que o acolhera fraternalmente. Embora tendo escapado da desencarnação imediata, quando orou com sincero desejo de renovação espiritual, deixou-se dominar pelo orgulho e tornou-se presa fácil do Espírito Felipe.
         A falta de humildade fora o ponto frágil de sua alma, que o deixaria em situação de grande sofrimento depurador, pois Deus jamais desampara seus filhos. Diz Miranda que

Não são poucos os candidatos à evolução que tombam no caminho, apesar de possuidores de boa vontade, que é uma excelente qualidade para o cometimento. Entretanto, distraídos da vivência da humildade, abandonam o compromisso na primeira oportunidade, vitimados pelo desalento, pela amargura, ou vencidos por intempestivo cansaço de que se fazem fáceis presas (op. cit., p. 237).

sexta-feira, 7 de junho de 2019


O Evangelho Segundo o Espiritismo. Trad. livre: continuação do cap. 4 - Ninguém poderá ver o reino de Deus se não nascer de novo (JLO)


Estas palavras: Se um homem não renascer da água e do Espírito, foram interpretadas no sentido da regeneração pela água do batismo. Mas o texto primitivo dizia simplesmente: Não renascer da água e do Espírito, enquanto, em algumas traduções, a expressão do Espírito foi substituída por do Santo Espírito, o que não corresponde mais ao mesmo pensamento. Esse ponto capital ressalta dos primeiros comentários feitos sobre o Evangelho, assim como um dia será constatado sem equívoco possível.[1]
Para compreender o sentido verdadeiro dessas palavras, é necessário igualmente atentar na significação do termo água, que ali não foi empregada em seu significado próprio.
Os conhecimentos dos antigos sobre as ciências físicas eram muito imperfeitos, eles acreditavam que a Terra havia saído das águas e, por isso, consideravam a água como elemento gerador absoluto. É assim que na Gênese está dito: "O Espírito de Deus era levado sobre as águas; flutuava sobre as águas. Que o firmamento seja feito no meio das águas. Que as águas que estão sob o céu se reúnam num só lugar e que apareça o elemento árido. Que as águas produzam animais viventes que nadem na água e pássaros que voem sobre a terra e sob o firmamento".
De acordo com essa crença, a água se tornou símbolo da natureza material, como o Espírito era o símbolo da natureza inteligente. Estas palavras: “Se o homem não renasce da água e do Espírito” ou "em água e em Espírito", significam, pois: "Se o homem não renasce com seu corpo e sua alma”. É nesse sentido que foram compreendidas desde o princípio.
Essa interpretação se justifica, ademais, por estas outras palavras: "O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é Espírito". Jesus faz aí uma distinção positiva entre o Espírito e o corpo. "O que é nascido da carne é carne" indica claramente que o corpo procede apenas do corpo, e que o Espírito é independente do corpo.
O Espírito sopra onde quer, e você ouve a sua voz, mas não sabe nem de onde ele vem nem para aonde ele vai, pode entender-se pelo Espírito de Deus, que dá a vida a quem Ele quer, ou da alma do homem. Nesta última acepção: "mas não sabe nem de onde ele vem nem para aonde ele vai", significa que não se sabe o que foi nem o que será o Espírito. Se o Espírito, ou alma, fosse criado ao mesmo tempo que o corpo, saberíamos de onde ele vem, pois conheceríamos o seu começo. Em todo caso, essa passagem é a consagração do princípio da preexistência da alma, e por conseguinte da pluralidade das existências.


[1] Nota de Allan Kardec: A tradução de Osterwald está conforme o texto primitivo. Ela contém: “não renasce da água e do Espírito”. A de Sacy diz: “do Santo Espírito”. A de Lamennais: “do Espírito Santo”.

terça-feira, 4 de junho de 2019




EM DIA COM O MACHADO 370: 
crime e expiação (Jó)

Boa noite, amigos.
Algumas pessoas são tão cruéis, embora pareçam ser normais, que basta um pisão nos seus calos para mostrarem sua verdadeira face. Muitas delas são almas provindas de mundos ainda inferiores à Terra. Vêm para o nosso convívio objetivando libertar-se, gradativamente, do instinto animal que ainda dormita dentro delas. Infelizmente, porém, muitas ainda não aprenderam a domar seus maus instintos. Então, causam perturbações espantosas em nossa sociedade. Nada disso, entretanto, fica impune pelas leis de Deus.
O leitor atento poderá argumentar que tais criaturas sejam doentes mentais, psicopatas sem noção clara do que fazem. Certo, também os psicopatas fazem coisas absurdas. Nesse caso, um cuidadoso exame psiquiátrico identificará seu mal físico. Mas e quando o agente do mal não possui qualquer patogênese cerebral?
Há poucos dias, em Brasília, foi notícia nacional o caso da mãe que matou e esquartejou o próprio filho, de nove anos, para se vingar... do companheiro que a abandonou.
Para o prisioneiro do mal que dormita nos refolhos de sua alma, a maldade não é fruto de um ato tresloucado, inconsciente, inconsequente, próprio dos loucos. Ela é regurgitada após a ruminação silenciosa de algo que a pessoa considera imperdoável e merece um revide desproporcional à ofensa recebida.
Não é o que ocorre com o psicopata, que age impensadamente. O perverso age por cálculo, com frieza premeditada e sempre movido por uma paixão incontrolável, que pode ser motivada por ciúmes, ambição ou vingança.
Conta-nos o Espírito Manoel Philomeno de Miranda, na obra Painéis da Obsessão, a história de um casal que vivia muito bem, embora a dona da casa já demonstrasse não ser de boa índole. Possuíam latifúndio onde moravam sem maiores problemas. Certo dia, uma de suas servidoras, alforriada pela Lei do Ventre-Livre, teve sua beleza elogiada pelo patrão à esposa que, aparentando não se afetar, perguntou a este o que considerava mais belo na jovem.
Ele, então, realçou as curvas do corpo e a beleza dos seios da servidora. A mulher nada disse. Continuou suas atividades diárias sem demonstrar nenhuma insatisfação com o marido e carinhosa como sempre.
Dias depois, o esposo precisou viajar a negócios e passou alguns dias fora do lar. Quando retornou, mandou avisar à mulher e demais pessoas de sua fazenda, que muito se alegraram de sua volta.
A esposa recebeu-o com carinho e, no jantar, o marido percebeu que um dos pratos, de carnes macias e excelente tempero estava delicioso. Agradeceu àquela pela vianda e ouviu-lhe, com frieza impressionante, que o prato apreciado fora preparado com os seios da servidora, que ela mandara cortar, para agradá-lo, uma vez que ele tanto os elogiara antes de viajar.
O marido, nauseado e perplexo pelo que ouvira, apressou-se a procurar a jovem mutilada. Encontrou-a contorcendo-se de dor e agonizante. Naquela noite, a moça não resistiu aos sofrimentos e morreu. Desse dia em diante, a vida do casal nunca mais seria a mesma, mas o crime ficara impune.
Um século depois, o senhor Egberto, de quase cinquenta anos de idade, viúvo há quatro anos de Ernestina, com quem vivera por dez anos, foi receber seu irmão Jaime, que ficara internado durante um ano, por tuberculose, e tivera alta hospitalar. Com ele, seguia sua atual esposa, Amenaide, que se encontrava grávida.
No retorno ao lar, Egberto teve uma visão assustadora da ex-esposa falecida, que se perturbara no mundo espiritual, movida por ciúme de Amenaide, em quem ela reconhecera sua assassina do passado e, por isso, buscara vingar-se.
Apavorado com a visão, o motorista tombou com o carro em despenhadeiro, causando a morte de Amenaide, de seu bebê em gestação e de Jaime. Egberto ficou muito ferido, mas sobreviveu. Jaime fora o capataz que arrancara os seios da ex-serva liberta, a mando da antiga senhora, a atual Amenaide, sua cunhada.
Quanto à criança, no plano espiritual, como seu perispírito já se fixara ao feto, que também possuía débitos passados com a Justiça Divina, ela foi submetida a uma cirurgia espiritual, semelhante à da cesariana. Em seguida, seria transferida para enfermaria especial, previamente preparada para recebê-la. Sua morte fora indolor e, durante algum tempo, o bebê seria amparado por espírito feminino, encarregado de assistir mãe e filho desencarnados.
Conforme disse Allan Kardec, se o criminoso soubesse que ninguém morre e que seu crime não ficaria impune, ele jamais pensaria em exterminar a vida física de alguém. Pois, cedo ou tarde, torna-se o assassino implacavelmente perseguido por sua vítima, invisível para ele, mas carregada de ódio e desejo de vingança...
Por isso, disse Jesus: “Reconcilia-te com teu adversário, enquanto estás a caminho junto dele” (Mateus, 5:25); e: “Portanto, tudo o que queres que os homens te façam, faze também a eles, porque essa é a lei e os profetas” (Mateus, 7:12).


sábado, 1 de junho de 2019




4.1 Ressurreição e reencarnação

A reencarnação fazia parte dos dogmas judeus, sob o nome de ressurreição. Somente os saduceus, que pensavam que tudo acabava com a morte, não acreditavam nela. As ideias dos judeus sobre essa questão, como sobre muitas outras, não estavam claramente definidas, porque só tinham noções vagas e incompletas sobre a alma e sua ligação com o corpo. Acreditavam que um homem podia reviver, sem terem uma ideia precisa da maneira porque isso se daria, e designavam pela palavra ressurreição o que o Espiritismo chama, mais justamente, de reencarnação. Com efeito, a ressurreição supõe o retorno à vida do próprio cadáver, o que a Ciência demonstra ser materialmente impossível, sobretudo quando os elementos desse corpo já estão há muito dispersos e consumidos. A reencarnação é a volta da alma ou Espírito à vida corpórea, mas num outro corpo, novamente formado para ele e que nada tem a ver com o antigo. A palavra ressurreição podia, assim, aplicar-se a Lázaro, mas não a Elias, nem aos outros profetas. Se, portanto, segundo sua crença, João Batista era Elias, o corpo de João não podia ser o de Elias, pois que João tinha sido visto criança e seus pais eram conhecidos. João podia ser, pois, Elias reencarnado, mas não ressuscitado.

Ora, havia um homem dentre os fariseus, chamado Nicodemos, senador dos judeus, que veio à noite encontrar Jesus, e lhe disse-lhe: Mestre, sabemos que você veio da parte de Deus, para nos instruir como um doutor, porque ninguém pode fazer estes milagres, que você faz, se Deus não estiver com ele. Jesus respondeu-lhe: Na verdade, na verdade lhe digo que ninguém pode ver o Reino de Deus, senão nascer de novo. Nicodemos lhe disse: — Como pode um homem nascer, sendo velho? Pode reentrar no ventre de sua mãe e nascer segunda vez? Jesus respondeu-lhe: — Em verdade, em verdade lhe digo: se um homem não renasce da água e do Espírito, não pode entrar no Reino de Deus. O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é Espírito. Não se espante de eu dizer-lhe que lhe importa nascer de novo. O Espírito sopra onde quer, e você ouve sua voz, mas não sabe de onde ele vem, nem para onde vai. O mesmo acontece com todo homem que é nascido do Espírito. Respondeu-lhe Nicodemos: — Como é possível isso acontecer? Respondeu Jesus: — O quê? você é mestre em Israel, e não sabe estas coisas? Em verdade, em verdade lhe digo, que nós não dizemos senão o que sabemos e só damos testemunho do que temos visto.  Entretanto, vocês não aceitam nosso testemunho. Mas se não me creem quando eu lhes falo das coisas da Terra, como me crerão, se eu lhes falar das coisas do Céu?" (João, III: 1-12)

A ideia de que João Batista era Elias, e de que os profetas podiam reviver na Terra, encontra-se em muitas passagens dos Evangelhos, notadamente nas acima reproduzidas (itens 1 a 3). Se essa crença fosse um erro, Jesus não deixaria de combatê-la, como combateu tantas outras. Longe disso, ele a sancionou com toda sua autoridade e a põe como princípio e como condição necessária, quando diz: Ninguém pode ver o Reino dos Céus, se não nascer de novo. E insiste, acrescentando: Não se maravilhe de que eu lhe haja dito ser preciso que nasça de novo.

  Quando o texto é escorreito (Irmão Jó)   Atento à escrita correta É o olho do revisor, Mas pôr tudo em linha certa É com o diagramador.   ...