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terça-feira, 31 de agosto de 2021

 

EM DIA COM O MACHADO 486:

Jesus e o Evangelho (Jó)

 


                No primeiro capítulo d'O Evangelho Segundo o Espiritismo, Allan Kardec cita esta frase de Jesus: "Não vim destruir a Lei ou os profetas; não os vim destruir, mas cumpri-los: porque, em verdade vos digo que o Céu e a Terra não passarão, sem que tudo o que se acha na Lei esteja perfeitamente cumprido." (Mateus, 5:17 e 18).

        Destaquei Lei e Céu com iniciais maiúsculas, embora a tradução da Federação Espírita Brasileira não os tenha destacado. O motivo é que a "Lei" a que Jesus se refere é a lei de Deus; e o Céu, em oposição a Terra, é todo o Universo, no entendimento que desejo dar a esta crônica.

        A lei que o Cristo não veio destruir é, portanto, aquela emanada de sua vontade e poder: a Lei de justiça, amor e caridade. É a lei expressa nos Dez Mandamentos, que Jesus sintetizou em uma: Amor, haja vista que amar a Deus e ao próximo é cumprir sua Lei.

        Essa é a Lei que Jesus veio cumprir, quando nos recomenda amar os inimigos e fazer o bem aos que nos perseguem e caluniam. Estaria ele pregando a impunidade? Certamente que não, pois esse é um preceito individual, sintetizado no amor que devemos ter ao próximo, ainda que ele nos cause muito mal, uma vez que a bondade de Deus se expressa nesta outra norma: "A cada um será dado segundo suas obras."

        Se retribuímos o mal com bem, estamos exercitando o amor em sua plenitude, o que não isenta aquele que nos maltratou das consequências de seu ato, pois se temos livre-arbítrio é para que exercitemos a vontade. Tanto para o bem, quanto para o mal. Isso, portanto, vincula nossos atos à lei geral que existe no Universo, que é a Lei divina ou natural (cap. 1 do livro terceiro d'O Livro dos Espíritos).

        Os profetas vieram anunciar, entre entendimentos seus adaptados ao estágio geral da humanidade de seu tempo, essa Lei divina ou natural, como também a vinda ao mundo do modelo dado por Deus a nós para nos servir de guia: Jesus.

        Estudemos O Evangelho Segundo o Espiritismo. Nele, a essência dos ensinamentos de Jesus Cristo, ou seja, sua moral, está claramente desenvolvida pelos novos profetas: os Espíritos superiores que, sob a direção do Espírito de Verdade, porta-voz de Jesus, nos preparam para o conhecimento pleno de suas palavras, ele que é o Caminho, a Verdade e a Vida. Dessa forma, estaremos inabaláveis em nossa fé e confiança de que nossa transformação moral muito contribuirá com a melhoria do mundo.

quinta-feira, 26 de agosto de 2021

 

Filosofia, Sociedade e Democracia

Filosofia, Sociedade e Democracia

            O homem é um ser que vive e se realiza através da sociedade, mas sofre com as inúmeras consequências decorrentes da mudança do/no tempo. E uma das formas de conhecimento mais antiga através da qual o homem busca explicações para a realidade social em que vive é através do conhecimento filosófico.

            A despeito disto, muitos não conseguem ver a importância da Φιλοσοφία (filosofia). Acham que ela é inútil e não serve para nada. Não conseguem enxergar como a Φιλοσοφία procura contribuir não só com o conhecimento da ciência, mas sobretudo o ensino moral, ético e social. Neste sentido podemos dizer que a Φιλοσοφία é a arte do bem viver, que estuda as paixões e os vícios humanos, na qual analisa a capacidade de nossa razão, onde impõe limite e nos ensina a viver de modo honesto e justo na companhia dos outros seres humanos.

            Não existe uma única Φιλοσοφία e não existe um único pensamento filosófico e talvez por isso muitas pessoas achem a Φιλοσοφία algo complexo. Na Φιλοσοφία não existe uma única definição, um único pensamento, mas pensamentos muitas vezes divergentes que discutem entre si, pensamentos críticos e contestatórios fazendo com que os filósofos cheguem a conclusões muitas vezes opostas uns dos outros.

            Mas como sempre precisamos de uma definição, vamos utilizar algumas ideias para melhor entender a Φιλοσοφία. De acordo com Chauí (2012, p. 29):

a filosofia surgiu quando alguns pensadores gregos se deram conta de que a verdade do mundo e dos humanos não era algo secreto e misterioso, que precisasse ser revelado por divindades a alguns escolhidos, mas que, ao contrário, podia ser conhecida por todos através das operações mentais de raciocínio.

            E Jaspers (1992, p.138) diz que: “A filosofia entrevê os critérios últimos, a abóbada celeste das possibilidades e procura, à luz do aparentemente impossível, a vida pela qual o homem poderá enobrecer-se em sua existência empírica”. Além disso, a Φιλοσοφία é compreendida como uma das mais importantes contribuições da civilização grega. Uma forma racional de compreensão do real a partir da qual decorre uma forma de agir, como defende uma boa parte dos filósofos, entre eles Platão e Karl Marx por exemplo. O primeiro quando afirma que

(...) Deve-se considerar que nenhum de nós nasceu para si mesmo; a pátria reclama uma boa porção de nossa vida; outra os parentes; outra ainda, os amigos (...) Quando a pátria manda que nos ocupemos com seus assuntos, não ficaria fazer-nos de desentendidos? Desse modo só facilitaríamos o acesso de gente desqualificada, que não se aproxima dos negócios públicos com boas intenções (CARTA IX – 358 a).

            E Karl Marx, quando critica os próprios filósofos, por achar que estes apenas interpretavam o mundo e o que importava era transformá-lo.

            Partindo destes princípios podemos dizer então que ao compreender esse mundo real sentimos a necessidade de promover mudanças, a não ser que estejamos satisfeitos com as formas de relações sociais existentes. Mas se nos sentimos insatisfeitos devemos mudar. Por isso que a compreensão filosófica do real necessariamente implica numa forma de agir e não apenas de pensar ou teorizar essa realidade social. Ao refletir sobre os diferentes aspectos da realidade social, a Φιλοσοφία nos convida a sermos protagonistas desta mesma realidade.

            A sociedade impõe a existência de relações de poder, formas de organização política, abusos de autoridade, opressão das massas em torno das quais não podemos permanecer passivos e acomodados. É fácil perceber a importância da Φιλοσοφία ao analisar questões sociais se tomarmos, por exemplo, o conceito de cidadania do filósofo grego Aristóteles e que pode trazer contribuições importantes para a nossa época atual, segundo o qual um cidadão, para ser considerado como tal, deveria participar diretamente da coisa pública. Não bastava morar na cidade, ou ser descendente de cidadãos. Para ser cidadão impõe-se “tomar parte na administração da justiça e fazer parte na assembleia que legisla e governa a cidade” (REALE, 2007, p. 130).

            Em uma sociedade globalizada como a nossa que se caracteriza pelos conflitos e contradições, é importante pensar num indivíduo envolvido nas mais diferentes questões sociais e políticas e para tal os filósofos em suas mais diferentes épocas tem importantes ideias para contribuir com o nosso engajamento político, como MaquiavelHobbesRousseauHabermas e muitos outros.

            Maquiavel foi o primeiro defensor da autonomia da esfera política, sobretudo em relação a moral e a religião. O realismo político de Maquiavel (que procurava a verdade efetiva das coisas ao contrário das utopias sociais) está ligado a um pessimismo antropológico sobre a visão de uma natureza humana corrupta. Por isso, Maquiavel entende que o bom governante, forçado pela necessidade, deve saber usar a violência visando o bem coletivo. Para Maquiavel os homens sempre agiram pelas formas de violência e da corrupção, concluindo que o homem é capaz de tudo. Thomas Hobbes, que também tem uma visão pessimista da natureza humana, analisa o surgimento do Estado e da Socidade como uma forma necessária de controlar a violência dos homens entre si e garantir a preservação da vida humana. Como Maquiavel, também não confia nos homens, considerando-o antissocial por natureza, nos quais predominam interesses egoístas, onde o homem se torna um lobo para o próprio homem. Ele afirmava que o estado natural do homem é de agressividade, ou seja de “guerra de todos contra todos”. Sendo assim, o homem age movido por paixões e desejos e não hesitará em tirar do outro algum objeto de desejo que esteja em suas mãos, inclusive a própria vida.

            Entre os mais diferentes temas que envolvem as relações de poder e organização política, globalização, opressão, e muitos outros, a ideia de Democracia é algo que deve ser levado em consideração, já que vivemos em um Estado Democrático de Direito e os filósofos também procuraram das suas contribuições ao analisar a ideia de que como a soberania de um Estado deve estar nas mãos do povo. Nesse aspecto ganham importância os filósofos Jean-Jacques Rousseau e Habermas. O primeiro como um teórico do iluminismo francês e defensor da soberania popular e o segundo idealizador da Teoria do Agir Comunicativo, cuja teoria pretende aplicar nas sociedades democráticas, caracterizadas por uma esfera pública denominada pelo discurso e pela argumentação de interesse coletivo, propondo uma participação igualitária de todos os cidadãos nas discussões em torno da coisa pública. Desta análise decorre a ideia de uma Democracia Deliberativa que tem como objetivo promover a legitimidade das decisões coletivas, encorajando a população a participar dos assuntos públicos. Habermas e Jean-Jacques Rousseau através de suas teorias defendiam que a democracia ideal é aquela em que os cidadãos têm livre arbítrio para escolherem o que será melhor para a sociedade, tendo uma postura ativa em todas as decisões.

            Rousseau fala sobre uma Democracia onde a soberania deve ser do povo, o povo deve exercer diretamente essa soberania na esfera Legislativa, onde ela não pode ser Representativa, no entanto essa soberania seria limitada a uma esfera, sendo o Poder Executivo sujeito a Representatividade. Segundo ele cabia ao povo criar as leis que os próprios deveriam obedecer.

            Em contrapartida Habermas foi mais além e defendia um modelo de Democracia Deliberativa, onde povo deveria participar na esfera Legislativa e Executiva; na criação de leis e na formulação e implementação de Políticas Públicas.

            Ao destacar as ideias de filósofos, de épocas distintas e realidades bem díspares, fica evidente o que dissemos mais acima, que não existe uma única Φιλοσοφία e nem mesmo um único pensamento filosófico. Na Φιλοσοφία não existe uma única definição, um único pensamento, mas diferentes formas de pensamentos e de interpretar o mundo e a realidade social. Mas a despeito de tantos pensamentos divergentes, será que a Φιλοσοφία tem algo a contribuir para pensar a nossa realidade local?

            No Brasil o caminho foi conturbado para que se chegasse a uma Democracia, principalmente durante o golpe militar e os anos que sucederam a ditadura, que privava os cidadãos de qualquer direito como a liberdade e o direto de voto livre. Muitas vidas foram ceifadas para que se atingisse um Estado Democrático. Mesmo passado 30 anos de tal conquista, a insatisfação está presente nos olhares dos cidadãos com atual modelo de democracia onde os políticos eleitos pelo povo não estão correspondendo à altura e confiança que lhe foram depositadas, isso vem causando atritos constantes gerando insatisfações, e tal insatisfação decorre devido a perda de noção do compromisso social da classe política com a sociedade. Além disso fatores históricos fazem com que os brasileiros não se vejam como cidadãos responsáveis pelo governo do país, colocando-se em uma posição passiva na maior parte do tempo.

            É lamentável ver uma grande maioria da população se alienar, aceitar e até se enganar com propostas, programas e projetos elaborados em períodos eleitorais, elas que muitas vezes por falta de conhecimento e se sentirem dependentes destes, acabam colocando toda uma nação em mãos de pessoas totalmente sem conhecimento, que se sustentam no poder na base da mentira enganação ao passar palavras de igualdade, mudanças positivas, justiça.

            Dizer que vivemos em um país que exerce o poder Democrático, que há liberdade de expressão, que é livre de distinções ou privilégio de classes, não passa de hipocrisia, ilusão por ainda acreditar nesse modelo de governo mesmo diante dos fatos explícitos e absurdos. Uma democracia deve visar o bem em comum, mas estamos muito longe de ver na realidade prática esse ideal teórico.

            A sociedade em geral, homens, mulheres, crianças, têm que estar ligado a política de uma forma Participativa, entrando sempre em consenso ou não diante das questões sociais, saber decidir quem melhor irá administrar o exercício público, deixar de só balançar a cabeça mencionando o positivo, deve-se principalmente colocar em práxis a comunicação, debater, questionar, reivindicar, protestar, aliás, não estamos condenados a continuar presenciando absurdos, criança matando, roubando, usando drogas, vendo a violação de leis e direitos, altos impostos, corrupção sem punição, a humanidade se destruindo e ficarmos de braços cruzados.

            Enfim, há uma multiplicidade de fatos e atos desconexos, que se entrelaçam no interior da sociedade, constituindo o elemento mais complexo que se pode imaginar: o homem contemporâneo, por excelência, um ser social, que diante da sua realidade vê nascer seus problemas. A Φιλοσοφία desempenha um papel relevante na vida do homem, buscando soluções para seus principais problemas, que versam sobre a moral, e a reorganização da sociedade e dentre outros. Sendo assim, continua disponível para dar a sua contribuição. Mostrar ao homem que ele não é meramente um produto do meio, que sofre com as interferências das pessoas e reage como tal. O homem, por sua vez, transforma a sociedade. Então o discurso filosófico aparece para desenvolver o pensamento crítico, buscando refletir sobre as inúmeras práticas sociais, dentro da realidade na qual nos encontramos. Portanto, a Φιλοσοφία tem um papel relevante em uma sociedade democrática, estimulando o debate, a análise crítica das estruturas sociais, o diálogo como forma de interação social e, sobretudo, estimulando homens e mulheres a transformar a realidade na qual estamos inseridos.

 

Referências Bibliográficas

CHAUI, Marilena. Iniciação a Filosofia. São Paulo: Ática, 2012.

JASPERS, Karl. Introdução ao pensamento Filosófico. São Paulo: Cultrix, 1992.

REALE, Giovanni. Aristóteles. História da filosofia grega e romana. Tradução de Henrique C.L. Vaz e Marcelo Perine. São Paulo: Loyola, 2007. Vol. IV.

 

Filosofia Política → Filosofia, Sociedade e Democracia



Leia mais: https://www.sabedoriapolitica.com.br/products/filosofia-sociedade-e-democracia/

terça-feira, 24 de agosto de 2021

 

EM DIA COM O MACHADO 485:

QUEM ENSINA APRENDE, E QUEM APRENDE ENSINA (Jó)

           


            Bom dia, amigos leitores!

            Li uma frase de Paulo Freire com a qual me identifiquei de tal modo que resolvi comprar seu livro intitulado Pedagogia da autonomia.

            Eis a frase desse homem que, por sua vida e obra, foi nomeado patrono da educação brasileira: "Ensinar exige a corporificação das palavras pelo exemplo" (it. 1.6 da pág. 35). Lindo pensamento, não é mesmo? Principalmente quando sabemos que toda a sua vida foi baseada na coerência entre o que ele ensinava e o que fazia.

            Outro ser iluminado, que esteve mais uma vez hospitalizado e que agora já está em casa, sob os cuidados carinhosos de médicos e enfermeiros amigos, é Divaldo Franco. Nunca deixa de responder às mensagens que lhe envio, ainda que esteja sobrecarregado com múltiplas atividades ou mesmo em convalescência, como agora.

            Senti saudades desse ser de luz e enviei-lhe algumas palavras de bom ânimo e satisfação por vê-lo superar mais este momento de hospitalização, em face da idade avançada. Aproveitei para lhe dizer de meu prazer em ler, desde a juventude, todas as obras psicografadas por ele que lhe são transmitidas por Manoel Philomeno de Miranda.

            Gentilmente, mesmo bastante incapacitado, não deixou de me responder, informando que está muito feliz, aos cuidados médicos de pessoas amigas e podendo contemplar a maravilhosa luz de um novo dia. Verdadeiro exemplo de reconhecimento ao próximo e de amor à vida, este dom sublime que Deus nos concede a  cada nova existência no corpo físico.

            Comecei falando sobre a frase de Paulo Freire, agora transcrevo o que se lhe segue, para nosso deleite e reflexão:

 

O professor que realmente ensina, quer dizer, que trabalha os conteúdos no quadro da rigorosidade do pensar certo, nega, como falsa, a fórmula farisaica do "faça o que mando e não o que eu faço". Quem pensa certo está cansado de saber que as palavras a que falta a corporeidade do exemplo pouco ou quase nada valem. Pensar certo é fazer certo" (op. cit., loc. cit.).

 

                Não basta, portanto, escrever ou falar bonito. Temos que nos esforçar para, dia após dia, colocar em prática tudo o que aprendemos ou que ensinamos a outrem. Educar é agir assim mesmo, como diz Paulo Freire, com justiça intitulado o "Patrono da Educação Brasileira". Ainda outra frase sua basilar para quem deseja ensinar e aprender é a seguinte: "Quem ensina aprende ao ensinar. E quem aprende ensina ao aprender".

            Abraço fraternal a todos!

quinta-feira, 19 de agosto de 2021

 

O Conceito de Filosofia

O Conceito de Filosofia

por Alexsandro M. Medeiros

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            Para o historiador da filosofia Jean-Pierre Vernant, a Φιλοσοφία (filosofia) nasce na Grécia (por volta do séc. VI a.C.), quando os gregos começaram a olhar o mundo sob a ótica da razão. O objeto ao qual se liga o filósofo é a própria racionalidade – o λοɣος (logos). Aqui começa o intelectualismo, a doutrina segundo a qual a faculdade mais importante do homem é o seu intelecto e é pelo intelecto que se apreende a verdade. O filósofo alemão Jürgen Habermas enfatiza o aspecto racional da Φιλοσοφία em suas origens:

Pode-se dizer, até mesmo, que o pensamento filosófico tem sua origem no fato de a razão corporificada no conhecer, no falar e no agir tornar-se reflexiva. O tema fundamental da filosofia é a razão. A filosofia empenha-se desde o começo por explicar o mundo como um todo, mediante princípios encontráveis na razão, bem como a unidade na diversidade dos fenômenos (HABERMAS, 2012, p. 19).

            Da mesma forma o filósofo francês François Châtelet fala da Φιλοσοφία como uma “invenção da razão”, no sentido de que a Φιλοσοφία é definida pelo pensamento racional e a história da filosofia seria uma espécie de progressão em direção à racionalidade (cf. CHÂTELET, 1994, p. 15-33). Para o filósofo alemão Johannes Hessen, os dois pontos essenciais de toda Φιλοσοφία são: uma orientação para a totalidade dos objetos e um caráter racional e cognitivo desta orientação (cf. HESSEN, 1987, p. 10).

            Mas em suas origens a Φιλοσοφία não era só racionalidade, era também uma busca amorosa pela verdade e pelo sentido da vida. Com o filósofo grego Pitágoras se origina a noção de Φιλοσοφία como um modo de vida e descrevia o caminho traçado pelo mestre quando este chamou a si mesmo de Φιλοσοφος (filósofo), aquele que é amigo, ou que ama a sabedoria, aquele que empreende seus melhores e maiores esforços nesta busca amorosa da verdade.

           

Adaptado de: portal São Francisco

Acessado em 27/01/2016

            Quando a Φιλοσοφία surge na Grécia Antiga ela adquire, para aqueles que a vivenciam, um significado bem específico, confundindo-se com o seu próprio sentido etimológico, de “amor à sabedoria”. A Φιλοσοφία surge como uma busca amorosa e desinteressada pela verdade. Essa era a ideia de Pitágoras que, segundo a tradição, foi o primeiro a utilizar o termo Φιλοσοφία neste sentido. Assim, o fim e o objetivo da Φιλοσοφία, para Pitágoras, está no puro desejo de conhecer e contemplar a verdade. Devido as suas grandes descobertas (como o que hoje denominamos teorema de Pitágoras, além da elaboração de uma das primeiras escalas musicais), ele foi chamado na época de sábio (em grego, sophos). Entretanto, por sua modéstia, recusou a designação e preferiu que o considerassem “amigo da sabedoria” – Φιλοσοφος (filósofo). Assim, a Filosofia surge sob a significação de amizade ou amor (philos) à sabedoria (sophia).

Os filósofos chamavam-se antigamente sábios. Pitágoras, observando que a sabedoria convém propriamente só a Deus, e desejando que não o chamassem de sábio, mas tão somente amigo ou desejoso da sabedoria, foi o primeiro que propôs o nome de filosofia [...] É esta a noção que tanto a etimologia como a linguagem comum nos dão de Filosofia. Um filósofo é um homem humanamente sábio. E aquele que se tem na conta de filósofo obriga-se a fornecer aos homens as luzes humanas mais profundas sobre os grandes problemas que o preocupam (MARITAIN, 1972, p. 19 e 20 – grifos do autor)

            Para os gregos, em sua grande maioria, o filósofo é um amante da sabedoria ou aquele que busca a sabedoria. Aristóteles vê num filósofo um conhecedor de todas as coisas e não aquele que possui apenas uma ciência específica. O seu olhar derrama-se pelo mundo, sua curiosidade insaciável o faz investigar tanto os mistérios do kosmos (universo) como o da physis (natureza), como as que dizem respeito ao antropos (homem) e à polis (cidade). No fundo, o filósofo é um desvelador, alguém que afasta o véu daquilo que está a encobrir os nossos olhos e procura mostrar os objetos na sua forma e posição original, agindo como alguém que encontra uma estátua jogada no fundo do mar coberta de musgo e algas, e gradativamente, afastando-as uma a uma, vem a revelar-nos a sua real forma.

Mafalda é uma personagem dos quadrinhos do cartunista Argentino Quino (1932-), contestadora, que faz perguntas bastante reflexivas sobre os mais variados temas para seus pais (In: FEITOSA, 2004, p. 12).

            Em obras como a Metafísica (ARISTÓTELES, 2002, Metafísica Α 2, 982b12-16; ver também Α 2, 983a12-16) ou Retórica (ARISTÓTELES, 2006), Aristóteles relaciona o maravilhoso e o admirável com o desejo de aprender e afirma que a filosofia surge a partir da admiração, seja a partir da admiração dos fenômenos da natureza ou da origem do universo. A admiração com o maravilhoso leva o homem à filosofar, provocando o entendimento e é nesta admiração que está contido o desejo de aprender: “De igual modo o aprender e o admirar são geralmente agradáveis; pois no admirar está contido o desejo de aprender, de sorte que o admirável é desejável, e no aprender se alcança o que é segundo a natureza” (Retórica I 1371a31-34).

            Além de Pitágoras, vejamos como diferentes filósofos abordaram, algumas vezes, sob diferentes aspectos, a ideia de Φιλοσοφία.

            Para Platão, a Φιλοσοφία significa posse ou aquisição de um conceito que seja ao mesmo tempo o mais válido e o mais amplo possível. “O objetivo da filosofia é o de elevar a alma à contemplação do mais perfeito do seres”, diz o filósofo. Além disso, o uso desse conhecimento deve ser realizado em benefício do homem. Platão usou também um outro termo, para designar os “amantes da opinião” (philodoxia), em oposição aos “amantes da sabedoria”, os filósofos. Os amantes da opinião são aqueles que se detêm no mundo das aparências, das ilusões, das opiniões, mas não consideram o bem em si, o ser em si, a verdade em si. Este termo também foi utilizado pelo filósofo alemão Kant, para designar aqueles que se comprazem em levantar problemas filosóficos, sem desejar atingir soluções universalmente aceitas.

            Aristóteles, discípulo de Platão, define a Φιλοσοφία como a “ciência da verdade”, no sentido de que ela compreende todas as ciências teóricas: a filosofia primeira, a matemática e a física; e as ciências práticas devem recorrer à filosofia para esclarecer sua natureza e seus fundamentos. A filosofia era assim considerada entre os gregos, e depois também pelos medievais, como um saber mais profundo, mais radical, mais completo, que devia dar as respostas mais importantes sobre o sentido da vida humana e da realidade em geral. Entre os gregos e os medievais a filosofia era a ciência primeira, a ciência por excelência e todas as outras ciências, de certa maneira, dependiam dela. A filosofia era definida como a ciência de todas as coisas (da totalidade) pelas suas causas primeiras, que só a razão pode atingir. Por isso, era a filosofia considerada a ciência por excelência. No caso dos filósofos medievais, porém, é preciso acrescentar o elemento cristão e, qualquer que seja a forma de entender a filosofia, a teologia estava sempre um passo acima do saber filosófico.

            René Descartes, na modernidade, retoma o sentido de Φιλοσοφία como sabedoria e, por sabedoria, não se entende somente prudência nas coisas, mas um perfeito conhecimento de todas as coisas que o homem pode alcançar. Já para o filósofo alemão Hegel a filosofia pode ser entendida como uma “ciência da razão, pelo seu modo universal de seu ser e segundo a sua natureza, é ciência para todos” (LOSURDO, 2014, p. 83).

            Para Deleuze (filósofo contemporâneo), a Φιλοσοφία é a arte de formar, inventar, fabricar conceitos. O filósofo inventa e pensa o conceito. O filósofo é amigo do conceito. Platão dizia que é necessário contemplar as Ideias, perfeitas e imutáveis, para se atingir o conhecimento verdadeiro, mas foi necessário criar o conceito de Ideia. Pitágoras criou um conceito: o de amigo da sabedoria. Descartes criou um conceito: o do cogito; Leibniz o de mônada; Bergson o de duração. Deleuze criou um conceito: o de que a filosofia é criação contínua de conceitos. Desta forma, diz Deleuze, que valeria um filósofo do qual se pudesse dizer: ele não criou nenhum conceito?

            Se a Φιλοσοφία é essa criação contínua de conceitos, perguntar-se-á, evidentemente, o que é um conceito como ideia filosófica. Evidentemente, todo conceito tem uma história e não há conceito simples. Todo conceito, no dizer de Deleuze, tem componentes e se define por eles. Mesmo o primeiro conceito, aquele pelo qual a filosofia começa, possui mais de um componente. Num conceito há, no mais das vezes, pedaços ou componentes vindos de outros conceitos que respondiam a outros problemas e supunham outros planos. Não poderia ser diferente com o conceito de filosofia. É interessante notar aqui como, em certo sentido, Deleuze retoma o método socrático de investigação e análise conceitual.

            A relação entre Φιλοσοφία e conceito pode ser pensada desde a antiguidade, com Sócrates, no século V a.C. O método socrático de fazer filosofia partia de perguntas simples, mas sobretudo da análise de um conceito: o de justiça, de coragem, amor etc. E para responder a uma pergunta é preciso construir o seu conceito. “A filosofia, devo insistir, parte de perguntas simples [...] A partir daí, ela tenta construir uma argumentação que permita responder, não no plano da simples opinião, mas no plano do conceito” (CHÂTELET, 1994, 23).

Disponível em: Pré Vestibular Online

Acessado em 27/01/2016

            Podemos perceber a grande variedade que o termo filosofia pode designar para tal ou tal filósofo. Sem pretender esgotar os significados que a filosofia pode assumir vamos nos limitar a fazer uma análise do seu conceito do ponto de vista do conhecimento e do saber investigativo. Nesse sentido, a filosofia pode ser entendia: 1) como sabedoria (Pitágoras, Platão) ou como saber racional e científico, no sentido mais geral da palavra (como em Aristóteles); 2) a filosofia como serva da teologia (cristianismo); 3) um conhecimento crítico (kantismo); 4) um conjunto de estudos que tem a função de reunir os dados da ciência numa visão de mundo (positivismo).

            A primeira concepção tende a identificar a filosofia com sabedoria, como já foi amplamente mencionado, e com a metafísica (a filosofia primeira, dominante na Antiguidade). Nesse segundo aspecto sua característica principal é a negação de qualquer possibilidade de investigação autônoma fora da filosofia. Admite-se muitas vezes que fora da filosofia existe um saber imperfeito, mas nega-se que tal saber possua validade cognitiva própria. Essa é a visão, por exemplo, de Platão e Aristóteles.

            A segunda concepção refere-se ao período medieval que se desenvolve quase por inteiro em época cristã, representado por um primeiro encontro entre Revelação bíblica e a cultura helênica grega, sobretudo a partir de teólogos cristão que tentaram conciliar Fé e Razão, como Santo Agostinho e São Tomás de Aquino, ambos tentando conciliar a filosofia grega com os dogmas da teologia cristã utilizando-se, respectivamente, de filósofos como Platão e Aristóteles.

            A terceira concepção consiste em reduzir a filosofia a doutrina do conhecimento ou a metodologia. Se lançarmos um olhar sobre a História da Filosofia, podemos constatar que os primeiros filósofos não tinham uma preocupação com o conhecimento enquanto conhecimento, quer dizer, não indagavam sobre a possibilidade de conhecer ou não o Ser, a Verdade, a essência das coisas. Os filósofos cristãos afirmavam poder conhecer a verdade à partir da revelação Divina; por isso, a razão não poderia contradizer a fé e deveria se submeter a ela em relação as verdades últimas e essenciais. Com a filosofia moderna a questão do conhecimento tornou-se pré-requisito. Antes de conhecer se pôs a questão: como é possível conhecer? Como podemos conhecer a verdade? Essa questão não era assim tão sem sentido, pois o entendimento humano pode facilmente mergulhar na ilusão e no erro.

            Com o problema do conhecimento a filosofia tem de começar pelo exame da capacidade humana de conhecer, pelo entendimento ou sujeito do conhecimento. A teoria do conhecimento volta-se para a relação entre o sujeito do conhecimento e a realidade a ser conhecida. Na modernidade, a teoria do conhecimento torna-se uma disciplina central da filosofia. Sua tarefa é verificar a validade do saber, determinar seus limites, condições e possibilidades efetivas. Essa concepção tem raízes em John Locke, com o seu “Ensaio acerca do entendimento humano” e ganhará força com Kant. Para Kant, tanto as condições a priori (intuições, categoria) e a posteriori do conhecimento limitam nossa possibilidade cognitiva e, por conseguinte, fundamentam a própria possibilidade do conhecimento. Kant expressava o campo da filosofia com as seguintes perguntas: o que posso saber? O que devo fazer? O que posso esperar? O que é o homem? A metafísica responde a primeira questão; a moral a segunda; a religião a terceira e a antropologia a quarta e última. Desta forma, antes de abordar o conhecimento verdadeiro, os filósofos modernos começaram pelo exame das opiniões contrárias e das ilusões; examinaram as suas causas e formas do erro.

            A quarta concepção tem raízes no pensamento de Francis Bacon, segundo o qual a tarefa da filosofia seria a de dividir e classificar as ciências particulares, conferindo-lhes seu método, material e técnica. Mas sem dúvida, foi o positivismo que deu destaque a essa função da filosofia, de reunir e coordenar os resultados das ciências específicas com vistas a criar um conhecimento unificado e geral. Para Auguste Comte, como em Bacon, a filosofia deve descobrir relações e concatenar as ciências, resumindo todos os princípios dessas ciências no menor número possível de princípios comuns, sempre em conformidade com o método positivo.

            Diante de toda essa complexidade e diversidade de ideias haveria alguma forma de tentar definir a filosofia, de modo a englobar senão todos, pelo menos boa parte das questões discutidas até aqui? Sem pretender esgotar o tema, propomos então a seguinte definição:

Podemos entender a filosofia, em um sentido restrito, como uma tentativa de compreender de forma racional, a totalidade do real, da qual decorre uma forma de agir.

            A filosofia é uma tentativa, porque não é uma certeza. Se fosse uma certeza, não teria mais porque sair em busca do conhecimento. Uma tentativa de compreender o real de forma racional, porque a filosofia não se vale da experiência, como o fazem as ciências, e nem tampouco se vale da fé, como o fazem as religiões, para tentar entender e explicar a realidade em que vivemos.

            Além disso, diferentemente das ciências, que fragmentam o real, sendo que cada ciência particular se detém sob um aspecto diferente deste mesmo real, a filosofia tenta entendê-lo em seu conjunto, como um todo, quer dizer, enquanto o conhecimento filosófico é orientado para a totalidade das coisas, o conhecimento científico é orientado para parcelas da realidade. E por totalidade do real deve-se entender tanto o mundo exterior como o mundo interior, ou seja, a filosofia no sentido de uma concepção do universo e a filosofia no sentido de uma concepção do eu; sendo que estes dois elementos essenciais da filosofia se intercalam e se completam.

            De todo esse esforço da razão para tentar compreender a realidade a nossa volta decorre uma forma de agir porque é preciso, de alguma forma, intervir na sociedade em que vivemos, para melhorá-la e modificá-la, diante de todas as injustiças e perversidades que existem no mundo.

 

 

Referências Bibliográficas

ARISTÓTELES. Metafísica. Ensaio Introdutório, texto grego com tradução e comentário de Giovanni Reale. Trad. para o português de Marcelo Perine. Ed. Loyola. São Paulo, Brasil, 2002.

ARISTÓTELES. Retórica. Prefácio, introdução, tradução e notas de Manuel Alexandre Júnior, Paulo Farmhouse Alberto e Abel do Nascimento Cunha. Imprensa Nacional – Casa da Moeda. Lisboa, Portugal, 2006.

CHÂTELET, François. Uma história da razão. Entrevistas com Émile Noël. Tradução de Lucy Magalhães. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1994.

FEITOSA, Charles. Explicando a Filosofia com Arte. Rio de Janeiro: Ediouro, 2004.

HABERMAS, J. Teoria do Agir Comunicativo: Racionalidade da ação e racionalidade social. Tradução de Paulo Astor Soethe. São Paulo. WMF Martins Fontes, 2012. Vol. I.

HESSEN, J. Teoria do Conhecimento. 8. ed. Coimbra: Armênio Amado, 1987.

LOSURDO, Domenico. A Hipocondria da Antipolítica: História e atualidade na análise de Hegel. Rio de Janeiro: Revan, 2014.

MARITAIN, Jacques. Introdução geral à filosofia: elementos de filosofia 1. Tradução de Ilza das Neves e Heloísa O. Penteado. 10. ed. Rio de Janeiro: Agir Editora, 1972.

VERNANT, Jean-Pierre. As origens do pensamento grego. Tradução de Ísis Borges B. da Fonseca. 16. ed. Rio de Janeiro: DIFEL, 2006.

 

Filosofia Política → O Conceito de Filosofia



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terça-feira, 17 de agosto de 2021

 

Em dia com o Machado 484:
Os passos e espaços da felicidade (Jó)

 


        Salve, amigos!

        Li na internet que é preciso não temer o futuro e "esquecer" o passado para ser feliz. Então, refleti em que esses são apenas dois passos de outros dois relativos à felicidade: um deles é trabalhar e o outro é servir, como eu disse na última crônica. Quem deseje ser feliz deve preparar-se, dia a dia, para servir ao próximo, desde o próprio lar, além de reconhecer e corrigir seus erros enquanto for possível.

        Nossos maiores inimigos são o egoísmo e o orgulho. Nossos maiores amigos são o altruísmo e a humildade. O egoísta esforça-se para ser melhor do que seu semelhante. O altruísta empenha-se em ser melhor do que já é e em amar e socorrer seu próximo. O orgulhoso trata com arrogância os que julga seus inferiores, seja socioeconomicamente, no aspecto étnico ou em conhecimentos. O humilde aprende e trabalha infatigavelmente para servir aos que Deus lhes encaminha, direta ou indiretamente, sem qualquer distinção.

        O lar é o laboratório espacial onde podemos exercitar as virtudes citadas. Se tratarmos bem a companheira ou o companheiro, certamente seremos bem tratados por estes. Se educarmos nossos filhos, com base no exemplo edificante, eles aprenderão a ser educados conosco e com outrem em sociedade. Se perdoamos a um dos familiares algo ruim que tenhamos sofrido de sua parte, ele ser-nos-á reconhecido e esforçar-se-á em nos compensar, de algum modo, o mal que nos fez. Principalmente se o perdão for sincero e se expressar pelo esquecimento da ofensa, que se patenteia em jamais acusar ou lembrar ao ofensor o que ele nos fez sofrer. Se a ofensa perdoada martelar nosso pensamento, é hora de orar e vigiar...

        É deste modo que as coisas ruins do passado nos libertam de pesos conscienciais: retribuamos com o bem o mal que sofrermos; esforcemo-nos em ser melhores sem reincidência em faltas. Com renovação íntima, disciplina, estudo, trabalho, indulgência e caridade para com o próximo estaremos em condições de vencer o egoísmo e o orgulho, os dois maiores inimigos da felicidade autêntica.

        Agindo no bem, viveremos de tal modo ocupados no presente que, sem o percebermos, o futuro manifestar-se-á em bênçãos de paz e de alegria, resultando em nossa fé e esperança. Por isso mesmo, dizia Paulo: "Por ora subsistem a fé, a esperança e a caridade - as três. Porém, a maior delas é a caridade" (I Coríntios, 13:13).

quinta-feira, 12 de agosto de 2021

 

O Nascimento da Filosofia

O Nascimento da Filosofia

por Alexsandro M. Medeiros

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            Os historiadores da Φιλοσοφία (filosofia) situam o seu nascimento no final do século VII e início do século VI antes de Cristo, nas colônias gregas da Ásia Menor, na cidade de Mileto. E aquele a quem primeiro atribuiu-se esse título foi Tales de Mileto. Em seu nascimento a Φιλοσοφία caracteriza-se como uma cosmologia. A palavra cosmologia é composta de duas outras: cosmos, que significa mundo ordenado e organizado, e logia, que vem da palavra λοɣος (logos), que significa pensamento racional, discurso racional, conhecimento. Assim, a Φιλοσοφία nasce como conhecimento racional da ordem do mundo ou da Natureza, de onde: cosmologia. Ainda dentro deste contexto podemos dizer que a Φιλοσοφία nasceu realizando uma transformação gradual sobre os mitos gregos, embora alguns autores defendam uma ruptura radical com os mitos.

[...] o advento da filosofia, na Grécia, marca o declínio do pensamento mítico e o começo de um saber de tipo racional [...] homens como Tales, Anaximandro, Anaxímenes inauguram um novo modelo de reflexão concernente à natureza [...] da origem do mundo, de sua composição, de sua ordem, dos fenômenos metereológicos, propõem explicações livres de toda a imaginária dramática das teogonias e cosmogonias antigas (VERNANT, 2006, p. 109)

            O que é um mito? Um mito é uma narrativa sobre a origem de algo, como a origem dos deuses, dos astros, da Terra, dos homens, da água, do bem e do mal etc. e se opõe ao λοɣος (logos) que é um tipo de raciocínio que “[...] procura convencer, acarretando no ouvinte a necessidade de julgar” (BRANDÃO, 1986, p. 13). A palavra mito vem do grego, mythos, e deriva de dois verbos: do verbo mytheyo (contar, narrar, falar alguma coisa para outros) e do verbo mytheo (conversar, contar, anunciar, nomear, designar). Para os gregos, mito é um discurso diferente do λοɣος pois é pronunciado ou proferido para ouvintes que recebem como verdadeira a narrativa, porque confiam naquele que narra: “Acredita-se nele ou não, à vontade, por um ato de fé, se o mesmo parece "belo" ou verossímil, ou simplesmente porque se deseja dar-lhe crédito” (BRANDÃO, 1986, p. 14). As narrativas míticas gregas nos foram relatadas sobretudo por Homero e Hesíodo, o primeiro, segundo a tradição, é autor de a Ilíada e a Odisséia, enquanto que o segundo é autor de Teogonia e Os trabalhos e os dias.

            Os mitos movimentam forças ou seres considerados superiores aos humanos, se apresentam como um sistema de explicação do mundo e implica consequências sobre todo o Universo. Para Grimal (1987, p. 7): “Temos neles [nos mitos gregos] um imenso material, muito dificilmente definível, de origem e características bastante diferenciadas, que desempenhou e ainda desempenha – na história espiritual do mundo – um papel considerável”.

O mito se opõe ao logos como a fantasia à razão, como a palavra que narra à palavra que demonstra [...] O logos, sendo uma argumentação, pretende convencer; implica, no auditor, a necessidade de formular um juízo [...] o “mito” tem por finalidade apenas a si mesmo. Acredita-se ou não nele, conforme a própria vontade, mediante um ato de fé, caso pareça “belo” ou verossímil, ou simplesmente porque se quer acreditar (GRIMAL, 1987, p. 8-9)

            Quem narra o mito? O poeta-rapsodo. Quem é ele? Por que tem autoridade? Acredita-se que o poeta é um escolhido dos deuses, que lhes mostram os acontecimentos passados e permitem que ele veja a origem de todos os seres e de todas as coisas para que possa transmiti-la aos ouvintes. Sua palavra - o mito - é sagrada porque vem de uma revelação divina. O mito é, pois, incontestável e inquestionável. Como exemplo dessas narrativas temos o titã Prometeu, que roubou uma centelha de fogo e a trouxe de presente para os humanos. Prometeu foi castigado (amarrado num rochedo para que as aves de rapina, eternamente, devorassem seu fígado) e os homens também. Qual foi o castigo dos homens? Os deuses fizeram uma mulher encantadora, Pandora, a quem foi entregue uma caixa que conteria coisas maravilhosas, mas nunca deveria ser aberta. Pandora foi enviada aos humanos e, cheia de curiosidade e querendo dar a eles as maravilhas, abriu a caixa. Dela saíram todas as desgraças, doenças, pestes, guerras e, sobretudo, a morte. Explica-se, assim, a origem dos males no mundo.

Disponível em: Blog Filosofando e Historiando (Acessado em 27/01/2016)

Ver também: CHAUÍ, 2000.

            Já foi há muito tempo observado que o antecedente da cosmologia filosófica é constituído pelas teogonias e cosmogonias mítico-poéticas, das quais é muito rica a literatura grega, e cujo protótipo paradigmático é a Teogonia de Hesíodo, a qual, explorando o patrimônio da precedente tradição mitológica, traça uma imponente síntese de todo o material, reelaborando-o e sistematizando-o organicamente. A Teogonia de Hesíodo narra o nascimento de todos os deuses; e, dado que alguns deuses coincidem com partes do universo e com fenômenos do cosmo, além de teogonia ela se torna também cosmogonia, ou seja, explicação da gênese do universo e dos fenômenos cósmicos.

Hesíodo imagina ter tido, aos pés do Hélicon, na Beócia, uma visão das Musas, e ter recebido delas a revelação da verdade. Em primeiro lugar, diz ele, gerou-se o Caos, em seguida gerou-se Gaia (a Terra), em cujo seio amplo estão todas as coisas, e das profundidades da Terra gerou-se o Tártaro escuro, e, por fim, Eros (o Amor) que, depois, deu origem a todas as outras coisas. Do Caos nasceram Erebo e Noite, dos quais se geraram o Eter (o Céu superior) e Emera (o Dia). E da Terra sozinha se geraram Urano (o Céu estrelado), assim como o mar e os montes; depois, juntando-se com o Céu, a Terra gerou Oceano e os rios (cf. REALE, G. História da Filosofia, vol. I.)

 

            O mito narra, assim, a origem das coisas por meio de lutas, alianças e relações entre forças sobrenaturais que governam o mundo e o destino dos homens. Como os mitos sobre a origem do mundo são genealogias, diz-se que são cosmogonias e teogonias (veja mais em: Mitologia Grega).

            Considera-se, portanto, que a Φιλοσοφία, percebendo as contradições e limitações dos mitos, foi reformulando e racionalizando as narrativas míticas, transformando-as numa outra coisa, numa explicação inteiramente nova e diferente. O pensamento filosófico em seu nascimento tinha como traços principais:

  • tendência à racionalidade: a razão é o critério de explicação da realidade;
  • a Natureza opera obedecendo leis e princípios racionais e, portanto, pode ser conhecida pelo nosso pensamento e pela nossa razão;
  • o Cosmo, entendido como ordem, é uma ordem racional; é a racionalidade deste mundo que o torna compreensível ao entendimento humano; daí, Cosmologia.

            A Φιλοσοφία, entendida como aspiração ao conhecimento racional, lógico e sistemático da realidade natural e humana, da origem e causas do mundo e de suas transformações, da origem e causas das ações humanas e do próprio pensamento, é um fato tipicamente grego. Evidentemente, isso não quer dizer, de modo algum, que outros povos, tão antigos quanto os gregos, como os chineses, os hindus, os japoneses, os árabes, os persas, os hebreus, os africanos ou os índios da América não possuam sabedoria, pois possuíam e possuem. Também não quer dizer que todos esses povos não tivessem desenvolvido o pensamento e formas de conhecimento da Natureza e dos seres humanos, pois desenvolveram e desenvolvem.

Filósofo Pitagórico (1762), do pintor veneziana Pietro Longhi (1702-1785). A luz parece emanar do próprio livro, como se de suas páginas brotasse a sabedoria que vai iluminar aqueles que o lerem (In: FEITOSA, 2004, p. 13).

 

            Quando se diz que a Φιλοσοφία é um fato grego, o que se quer dizer é que ela possui certas características, apresenta certas formas de pensar e de exprimir o pensamento, estabelece certas concepções sobre o que sejam a realidade, o pensamento, a ação, as técnicas, que são completamente diferentes das características desenvolvidas por outros povos e outras culturas.

            Em outras palavras, Φιλοσοφία é um modo de pensar e exprimir o pensamento que surgiu especificamente com os gregos e que, por razões históricas e políticas, tornou-se, depois, o modo de pensar e de se exprimir predominante da chamada cultura europeia ocidental da qual, em decorrência da colonização portuguesa do Brasil, nós também participamos. Através da Φιλοσοφία, os gregos instituíram para o Ocidente europeu as bases e os princípios fundamentais do que chamamos razão, racionalidade, ciência, ética, política, técnica, arte.

            Portanto, a Φιλοσοφία surge quando alguns pensadores gregos, admirados e espantados com a realidade, insatisfeitos com as explicações que a tradição lhes dera, começaram a fazer perguntas e buscar respostas para elas, demonstrando que o mundo e os seres humanos, os acontecimentos e as coisas da Natureza, os acontecimentos e as ações humanas podem ser conhecidos pela razão humana, e que a própria razão é capaz de conhecer-se a si mesma.

            Em obras como a Metafísica (ARISTÓTELES, 2002) ou Retórica (ARISTÓTELES, 2006, Retórica I 1371a31-34), Aristóteles relaciona o maravilhoso e o admirável com o desejo de aprender e afirma que a filosofia surge a partir da admiração. A admiração com o maravilhoso leva o homem à filosofar, provocando o entendimento e é nesta admiração que está contido o desejo de aprender:

De fato, os homens começaram a filosofar, agora como na origem, por causa da admiração, na medida em que, inicialmente, ficavam perplexos diante das dificuldades mais simples; em seguida, progredindo pouco a pouco, chegaram a enfrentar problemas sempre maiores, por exemplo, os problemas relativos aos fenômenos da lua e aos do sol e dos astros, ou os problemas relativos à geração de todo o universo (ARISTÓTELES. Metafísica Α 2, 982b12-16; ver também Α 2, 983a12-16).  

            A Φιλοσοφία, enfim

[...] vai encontrar-se, pois, ao nascer, numa posição ambígua: em seus métodos, em sua inspiração, aparentar-se-á ao mesmo tempo às iniciações dos mistérios e às controvérsias da ágora; flutuará entre o espírito de segredo próprio das seitas e a publicidade do debate contraditório que caracterizava a atividade política [...] O filósofo não deixará de oscilar entre duas atitudes, de hesitar entre duas tentações contrárias. Ora afirmará ser o único qualificado para dirigir o Estado, e, tomando orgulhosamente a posição do rei-divino, pretenderá, em nome desse ‘saber’ que o eleva acima dos homens, reformar toda a vida social e ordenar soberanamente a cidade. Ora ele se retirará do mundo para recolher-se numa sabedoria puramente privada; agrupando em torno de si alguns discípulos, desejará com eles instaurar, na cidade, uma cidade diferente, à margem da primeira e, renunciando à vida pública, buscará sua salvação no conhecimento e na contemplação” (VERNANT, 2006, p. 64)

            Mas a cosmologia não é a única característica principal da Φιλοσοφία grega. Se num primeiro momento a Φιλοσοφία surge como compreensão racional do cosmos, não é menos exato dizer que com a emergência da polis grega (as cidades-Estado), a Φιλοσοφία irá mudar a sua ênfase de pesquisa, no sentido de que a problemática agora será o próprio homem, enquanto ser individual, ético e cidadão da polis.

            Nesse momento, diz Jean Pierre Vernant, a Grécia está centralizada na ágora, espaço comum, espaço público, onde são debatidos os problemas de interesse geral. “Esse quadro urbano define efetivamente um espaço mental; descobre um novo horizonte espiritual. Desde que se centraliza na praça pública, a cidade já é, no sentido pleno do termo, uma polis” (2006, p. 51) E mais adiante:

O aparecimento da polis constitui, na história do pensamento grego, um acontecimento decisivo. Certamente, no plano intelectual como no domínio das instituições, só no fim alcançará todas as suas conseqüências; a polis conhecerá etapas múltiplas e formas variadas. Entretanto, desde seu advento, que se pode situar entre os séculos VIII e VII, marca um começo, uma verdadeira invenção; por ela, a vida social e as relações entre os homens tomam uma forma nova, cuja originalidade será plenamente sentida pelos gregos (id., ibidem, p. 53).

            Nesse novo contexto, Sócrates e os Sofistas inauguram um novo momento na Φιλοσοφία grega. O pensamento de Sócrates é um marco na constituição da tradição filosófica ocidental. E pode-se dizer que inaugura a Φιλοσοφία clássica dando maior ênfase a problemática ético-política e existencial, ao invés de uma maior preocupação centrada sobre a realidade natural, tal como encontramos nos filósofos pré-socráticos do período cosmológico. Essa mesma denominação, “pré-socráticos”, já reflete a importância da Φιλοσοφία de Sócrates como um divisor de águas. Neste período da Φιλοσοφία grega (séc. V e IV a.C.), o interesse dos filósofos gira não tanto em torno da natureza, como nos pré-socráticos, mas em torno do homem e do espírito; da cosmologia passa-se para a antropologia, a política e a moral. Daí ser dado a esse segundo período do pensamento grego também o nome de antropológico, pela importância e o lugar central destinado ao homem e ao espírito no sistema do mundo, até então limitado à natureza exterior. Por outro lado, os Sofistas, contemporâneos de Sócrates, embora com visões diferentes, compartilham o interesse pela problemática ético-política, pela questão do homem enquanto cidadão da polis, que passa a se organizar politicamente no sistema que conhecemos como democracia.

            Os Sofistas surgem no contexto da democracia grega e do apogeu das cidades-estados, onde as deliberações serão tomadas em reunião de cidadãos: as assembléias. Tais decisões devem ser tomadas por consenso, o que significa explicar, justificar, discutir, convencer, persuadir, além disso, o uso da linguagem, o modo de falar, do discurso, deve ser racional. Na medida em que a palavra passa a ser livre, ela se torna instrumento através do qual os indivíduos podem defender seus interesses, seus direitos e suas propostas. “O filósofo é alguém que usa a palavra. Então, o indivíduo que não se interessa pela palavra, que a utiliza de um modo apenas pragmático, do tipo ‘me passe o sal’, que se pode fazer com ele?” (CHÂTELET, 1994, p. 29). Surge a arte do discurso, a retórica e a oratória, e os Sofistas são, precisamente, os mestres de retórica e oratória. “O que implica o sistema da polis é primeiramente uma extraordinária preeminência da palavra sobre todos os outros instrumentos de poder. Torna-se o instrumento político por excelência, a chave de toda autoridade no Estado, o meio de comento e de domínio sobre outrem” (VERNANT, 2006, p. 53). E mais adiante: “Doravante, a discussão, a argumentação, a polêmica tornam-se as regras do jogo intelectual, assim como do jogo político” (id., ibidem, p. 56). Na democracia ateniense, a função pública dos oradores torna-se fundamental e a palavra um instrumento utilizado não mais apenas por pensadores, mas também por políticos. É necessário preparar os indivíduos para a vida pública, torná-los capacitados para a virtude (aretê) política e para tal, é preciso adestrá-los na arte da persuasão através da palavra. “Na democracia, a palavra vai impor-se, e quem dominar a palavra dominará a cidade” (CHÂTELET, 1994, p. 16).

            Nesse período o pensamento filosófico terá como traços principais:

  • as práticas humanas, a moral, a política, dependem da vontade livre e da escolha racional segundo valores estabelecidos pelos próprios seres humanos e não por imposição divina ou sobrenatural;
  • a idéia de lei como expressão da vontade humana ordenada pela razão; “A lei da polis [...] já não se impõe pela força de um prestígio pessoal ou religioso; devem mostrar sua retidão por processos de ordem dialética [do diálogo, em sentido amplo]” (VERNANT, 2006, p. 56), e, mesmo que ainda concebida como sagrada, a lei se torna uma ordem racional, sujeita à discussão e modificável por decreto
  • O discurso político – a vida política grega –, ao valorizar o pensamento racional, cria condições para valorizar o discurso filosófico, enquanto arte retórica, oratória e objeto de debate público – um combate de argumentos cuja arena é a ágora, praça pública, lugar de reunião entre os cidadãos.

 

Referências Bibliográficas

ARISTÓTELES. Metafísica. Ensaio Introdutório, texto grego com tradução e comentário de Giovanni Reale. Trad. para o português de Marcelo Perine. Ed. Loyola. São Paulo, Brasil, 2002.

ARISTÓTELES. Retórica. Prefácio, introdução, tradução e notas de Manuel Alexandre Júnior, Paulo Farmhouse Alberto e Abel do Nascimento Cunha. Imprensa Nacional – Casa da Moeda. Lisboa, Portugal, 2006.

BRANDÃO, Junito de Souza. Mitologia Grega. Petrópolis: Vozes, 1986. vol. I

CHÂTELET, François. Uma história da razão. Entrevistas com Émile Noël. Tradução de Lucy Magalhães. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1994.

CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2000.

FEITOSA, Charles. Explicando a Filosofia com Arte. Rio de Janeiro: Ediouro, 2004.

GRIMAL, Pierre. A Mitologia Grega. Tradução de Carlos Nelson Coutinho. 4. ed. São Paulo: Brasiliense, 1987.

VERNANT, Jean-Pierre. As origens do pensamento grego. Tradução de Ísis Borges B. da Fonseca. 16. ed. Rio de Janeiro: DIFEL, 2006.

 

Filosofia Política → O Nascimento da Filosofia



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terça-feira, 10 de agosto de 2021

 

EM DIA COM O MACHADO 483:
DONDE VEM A FELICIDADE? (Jó)

            Salve, leitores amigos!
     Neste tempo de pandemia, é recomendável que cuidemos tanto do corpo quanto da alma.
    Nesse sentido, são de grande valor as palavras que ouvi no programa do canal 2, criado há 23 anos, na TV Supren, de excelente programação: "A felicidade vem do amor que sentimos por outras pessoas". Internalizar o amor é cuidar da alma. Exercitar o amor é cuidar do corpo.
   Outro cuidado que devemos ter é não confundir amor por outrem com apego ou paixão, desejo de posse, exclusividade, embora devamos respeitar os compromissos assumidos ante a constituição do lar e da família, além de quem se una a nós nesse consórcio sublime... Nosso destino não é rebaixar o espírito com base nos instintos inferiores, mas domar esses instintos com a força de vontade, até que o verdadeiro amor, que ama com desapego, nos eleve às esferas superiores do espírito.
   O diretor do programa citado lembrou-nos sobre o grande avanço do pensamento religioso da igreja católica, expresso no Concílio sobre a Fraternidade Universal anunciada pelo papa Francisco. Um dos princípios reforçados pelo papa é o de que somos todos irmãos e, como tais, devemos nos tratar, respeitando a diversidade de ideias, mesmo que não concordemos com elas, pois não somos os donos da verdade. Salvo se tais ideias forem patentemente nocivas e contrárias ao que pregou o Cristo, modelo concedido à humanidade por Deus.
     Outras ideias elevadas ouvidas no programa, com as quais concordo, são as seguintes:
a) as grandes transformações sociais, embora todos os progressos científicos e tecnológicos atuais, são as transformações da mente superior;
b) devemos respeito a todas as religiões, tanto quanto aos ateus ou agnósticos. Pois todos possuem seus motivos pessoais de crer ou não nisso ou naquilo, mas nem por isso deixam, como nós, de ser filhos de Deus e nossos irmãos, segundo nos afirmou o Cristo;
c) a caridade é a manifestação do amor no socorro não somente na área individual como também no campo coletivo. Disso decorre que nossa preocupação em ajudar deve estar comprometida tanto individual como  coletivamente;
d) precisamos de políticas públicas com ênfase na educação, saúde e meio ambiente. A Terra é um "ser vivo" que reage com pandemias e catástrofes sísmicas e marinhas às agressões humanas.

    Em decorrência do que expôs, concordo com o presidente da União Planetária de que "o partidarismo político" não é saudável. E vou além: nenhuma imposição de um grupo qualquer, seja ele político, acadêmico, científico, filosófico ou religioso, é saudável. Útil somente é o que beneficia a toda a população sem privilégios a qualquer dos seus membros.

   Por isso mesmo, ao observar que os grupos acima defendem, principalmente, seus pontos de vista e sua ideologia, com exclusão e, por vezes, perseguição a quem não compartilha de sua visão, ainda anotei para minha reflexão estas sábias palavras: "Não devemos criticar, falar mal, confrontar seja quem for e, sim, trabalhar com a luz". Confrontos, luta, desentendimento não trazem solução. Isso vem sendo divulgado por Jesus há mais de 2.000 anos, e, pelo Espiritismo Cristão, o Consolador que aquele nos anunciara, desde o século XIX.

    Precisamos vivenciar plenamente o amor. Foi isso mesmo que Jesus nos recomendou, quando disse: Brilhe a vossa luz.

    Quer ser feliz, leitor? Viva com alegria, respeite as ideias e atitudes alheias, ainda que não concorde com elas, e viva para servir, pois, como já escrevi há algum tempo: servir é a forma ideal de vir a ser cada vez melhor e mais feliz.

    É disso que vem a felicidade: servir para vir a ser...

 

  

            





  Propriedade Intelectual (Irmão Jó) Houve época em que produzir Obra de arte legal Era incerto garantir Direito intelectual.   Mas com tant...