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quinta-feira, 29 de abril de 2021

O Tolstoismo: uma teoria social fundamentada no amor cristão e na não violência

O Tolstoismo: uma teoria social fundamentada no amor cristão e na não violência

por Alexsandro M. Medeiros

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postado em mar. 2019

            O Tolstoismo é um movimento social baseado nas ideias filosóficas e religiosas (sobretudo o cristianismo) do romancista russo Liev Tolstói (1828-1910). Como corrente de pensamento o tolstoismo nasceu no final do século XIX como uma ideologia eminentemente cristã.

            Embora tenha sido um profundo adepto do cristianismo, Tolstói foi um severo crítico da Igreja Ortodoxa Russa e, por isso, foi excomungado em 1901. Tolstói era crítico de “algumas práticas exercidas pela Igreja tais quais perseguições políticas, intolerância, punições capitais e consentimento de guerras” (AZEVEDO NETO; QUEIROZ, 2016, p. 3), que ele acreditava repulsivas e incompatíveis com o cristianismo.

            Dentre as ideias do tolstoismo estão o pacifismo, tolerância religiosa, a não violência e a não resistência em todas as circunstâncias. Também desempenha um papel fundamental nesta doutrina o célebre Sermão da Montanha e ideias cristãs como: o amor ao próximo, amar os inimigos, combater o mal com o bem.

            O tolstoismo não tem uma obra específica que trata do seu corpo doutrinário. Mas se existe uma obra que nos permite compreender as ideias e influências que estão na base do chamado tolstismo, esta obra é O reino de Deus está em vós, de 1893. É uma obra que reúne as ideias religiosas de Tolstói onde o autor “expõe a ideia de não resistência ao mal, uma maneira de se opor à violência dos governos rompendo um ciclo destrutivo. A sua posição em defesa do pacifismo [...]” (PEREZ; OLIVEIRA; FRUNGILLO, 2014, p. 240), que o fez trocar correspondências com Gandhi e aproximar ambos os pensadores.

 

Breve biografia

            Liev Nicoláievitch Tolstói nasceu em 9 de setembro de 1828. Seu pai era o conde Nikolai Ilitch Tolstói, dono de uma rica propriedade em Iásnaia Poliana e sua mãe era a condessa Maria Tolstáia e princesa Volkônskaia, título herdado desde o seu nascimento. Ao herdar a fortuna de seus pais Tolstói recebeu também o título de Conde.

            A juventude de Tolstói foi marcada por extravagâncias típicas de homens pertencentes a nobreza russa. Foi militar (comandou uma unidade militar durante a Guerra da Crimeia), latifundiário, apostador compulsivo e um grande sedutor de camponesas.

O escritor recebeu uma formação conforme se esperava de uma família aristocrata russa e a sua juventude também foi similar à de jovens de sua classe, com vícios relacionados ao álcool e ao jogo, além de visitas frequentes a prostíbulos. O arrependimento desses atos juvenis o perseguirão a vida inteira, como ele mesmo deixa transparecer em anotações em seu diário e em cartas, e que refletirão, de um lado, em seu moralismo e conservadorismo e, de outro, em seu desconforto por pertencer à classe social que tanto problematiza (PEREZ; OLIVEIRA; FRUNGILLO, 2014, p. 240).

            A vida de Tolstói foi marcada por intensas crises e conflitos existenciais e, por isso, o aperfeiçoamento moral do indivíduo é um dado muito presente no seu pensamento. O seu maior objetivo nesse aspecto consiste em “viver em paz com Deus e consigo mesmo” (ZWEIG, 1961, p. 21 apud GOMES; FONTENELE, 2018, p. 234). Nogueira Júnior (1996 apud GOMES; FONTENELE, 2018, p. 237) situa esse momento de crise do Conde Tolstói por volta das décadas de 1870 e 1880 que se refletem na sua produção literária, através das obras

Uma confissão (1882), onde descreve seu crescente esforço de organização espiritual; o eloquente ensaio Amo e criado (1894) e, de toda a sua fatura criativa, o maior de seus catalisadores de polêmicas: a diatribe O que é arte? (1898), na qual, em nome de uma estética inspirada na moral, na consciência religiosa e na defesa do nivelamento social, condena quase todas as formas de arte, incluindo as próprias obras.

 

            Sua vida passou por uma reviravolta radical após a maturidade e sobretudo a partir dos 50 anos de idade, quando tenta se redimir do seu passado de extravagâncias e, por isso, alguns estudiosos costumam dividir a vida de Tolstói em um antes e um depois da chamada crise tolstoiana, o que faz sua personalidade “multifacetada: profeta, mujique [denominação dada ao camponês russo], aristocrata, soldado, peregrino, santo” (ROSENFIELD, 2014, p. 2).

            Diante de tais mudanças o estilo de vida do escritor russo muda completamente, defendendo o vegetarianismo, o pacifismo, a fraternidade e solidariedade em relação aos trabalhadores mais pobres. “Inspirado pelos Evangelhos, que exaltavam a pobreza e abnegação, o literato russo chegou a reunir um certo contingente de jovens oriundos da intelligentsia eslava, em sua propriedade rural, dispostos a adotarem os princípios do chamado Tolstoísmo” (AZEVEDO NETO; QUEIROZ, 2016, p. 3).

 

Uma teoria social fundamentada no amor cristão

            Ao se tornar um crítico do modo como a Igreja Ortodoxa conduzia certa questões sociais, como o apoio a guerra, ao mesmo tempo em que prega um evangelho de amor, Tolstói evidencia a forma como enxerga a realidade social e tem consciência dos problemas coletivos. Uma visão carregada de moralismo religioso, que faz dos indivíduos responsavelmente morais pelo modo como suas ações interferem na vida como um todo, baseado em uma convicção de que apenas o aperfeiçoamento moral dos indivíduos é capaz de resolver os grandes e graves problemas da sociedade. “‘Para mudar a ordem do mundo, torna-se necessário que os homens se modifiquem a si mesmos’ (Zweig, 1961, p. 33). Dessa forma, observamos que o que Tolstói propõe inicia-se por uma revolução interior, uma revolução de almas e não de punhos” (GOMES; FONTENELE, 2018, p. 235).

            Na sua visão de mundo cristã, Tolstói considera que não é necessário fazer uso de intermediários entre Deus e os homens (o que explica a perseguição sofrida por parte da Igreja). Deus está no interior de cada homem, portanto, para encontrá-lo, ninguém pode servir de intermediário. O mesmo pode ser dito em relação ao reino de Deus: O reino de Deus está em vós.

Essa nova forma de pensamento leva Tolstói a procurar a elevação espiritual, entre outros caminhos, através da simplicidade e do contato com os camponeses. Contando com o respaldo de aristocrata e do reconhecimento de seu nome como grande romancista russo – autor de Guerra e Paz e Ana Karenina entre outras obras –, sua doutrina almeja a transformação do homem por meio das elevações moral e espiritual e alcança repercussão mundial (ORNELLAS, 2010a, p. 108 – Ornellas (2010b) também é autora de um artigo sobre a presença do tolstoísmo na literatura brasileira que apresenta algumas ideias do romancista russo sobre a arte).

            No tolstoismo temos uma visão carregada de amor e mansidão, que rejeita qualquer tipo de violência. Os revolucionários que lançam mão da violência “seriam facilmente combatidos pelo Estado, pois ambos operam pelo mesmo meio. Já aqueles que abdicam da violência, apenas se negando a contribuir com a máquina do poder, são muito mais perigosos a qualquer soberano” (RAMUS, 2014, p. 172). Na dissertação de mestrado de Rabello (2009) encontramos algumas correspondência que Tolstói trocou com ninguém menos  que Mahatma Gandhi. Nestas correspondências os dois grandes defensores da não violência falam de suas convicções e de que como compreendem a ideia de não violência. Em uma destas correspondências de 07 de setembro de 1910, Tolstói afirma como a doutrina da não violência é, no fundo, uma doutrina de amor, do amor como aspiração das almas humanas que foi pregado por todos os sábios de todos os cantos da terra: hindus, chineses, hebreus, gregos, romanos. Por isso, “o emprego da violência é incompatível com a lei de amor, lei básica da vida. Enquanto a violência é praticada, sejam quais forem as circunstâncias, admite-se a insuficiência da lei de amor e, por conseguinte, essa mesma lei é negada” (apud RABELLO, 2009, p. 237). A lei de amor está expressa de forma inequívoca na doutrina cristã mas, paradoxalmente, o mundo cristão aceitou a lei de amor e fez uso da violência,

por isso, toda a vida dos povos cristãos está em contradição entre aquilo que eles pregam e entre a base de suas vidas: contradição entre o amor, considerado a lei da vida, e entre a violência, considerada, até mesmo, como imprescindível em todas as suas diferentes formas, tais como o poder dos governantes, os tribunais, os exércitos, reconhecidos e louvados (id., ibidem, p. 237-238).

            No final da carta, Tolstói reconhece a importância do ativismo pacífico de Gandhi, como “o mais importante dentre todos os já realizados ultimamente no mundo, em que participarão, certamente não apenas os povos cristãos, mas povos do mundo todo” (id. ibidem, p. 238). Vale mencionar a este respeito, sobre a aproximação de Tolstói com o hinduísmo, aquela que ficou conhecida como Carta a um hindu. Não foi uma carta dirigida para Gandhi, mas para um outro hindu, Tarak Nath Das, contrário as ideias de não violência e que acreditava que a única forma de libertar a Índia seria através da luta (mais tarde Tarak Nath Das irá se tornar amigo íntimo e colaborador de Ghandi). Esta carta, onde Tolstói inicia citando o livro sagrado dos Vedas e termina citando Krishna, é importante pois nela podemos ver um “verdadeiro tratado de não-violência. Nela, [Tolstói] expõe suas teorias sobre a não-violência e sobre o amor, e tenta, igualmente, alertar os hindus sobre a falta que cometiam  ao renegar sua antiga sabedoria para abraçar o erro do Ocidente” (RABELLO, 2009, p. 241). Foi a partir desta carta que Gandhi passou a conhecer as ideias de Tolstói e começou a se corresponder com o romancista russo.

 

Importância do tolstoismo na política e na educação

            A importância política do tolstoismo e a perseguição sofrida pelo mesmo durante o regime czarista é ressalta por Rosenfield (2014, p. 2):

O tolstoísmo foi perseguido com rigor durante o regime czarista, levando muitos seguidores da doutrina a serem presos e mortos nas prisões do vasto Império Russo. Deve-se destacar que suas atitudes – tanto em sua militância política, quanto em seus escritos filosóficos e literários – foram responsáveis por influenciar decisivamente na tomada de consciência do povo russo de seus profundos problemas sociais e, ao final, pela ruptura com a dinastia da Casa dos Romanov. Por essa razão, no primeiro momento, Tolstói foi considerado o patriarca dos bolcheviques. Tanto ele, quanto seus discípulos tolstoístas, contudo, repudiaram a violência levada a cabo antes, durante e depois da Revolução Russa (ROSENFIELD, 2014, p. 2).

 

Imagem disponível em: ROSENFIELD, 2014, p. 2.

 

            Como pensamento político o tolstoísmo oferece “parâmetros humanísticos essenciais para uma sociedade global que começa a ruir a essencialidade humana em nome do capitalismo” (ORNELLAS, 2010a, p. 108). A exploração das classes subalternas, a escravidão, o advento da industrialização e o consumismo dele subsequente, a exploração humana como um todo, são outros tantos fatores que influenciaram na visão crítica de Tolstói sobre a realidade que, de forma corajosa, passou a denunciar as atrocidades do Estado czarista, originando “inúmeras polêmicas de cunho social, político e humano, tornando seu nome reconhecido e relevado em várias partes do mundo” (ORNELLAS, 2010a, p. 109). Sensível à miséria de boa parte da população russa, Tolstói se dá conta de que o combate à pobreza e à miséria “está para além de uma ação individual, sendo-lhe necessária, portanto, uma mudança que, acentuando-se de modo a ultrapassar as dimensões da filantropia e da caridade, contemplasse toda a ordem social estabelecida” (GOMES; FONTENELE, 2018, p. 235).

            O tolstoismo como doutrina política foi assimilado pelo que se conhece como o anarquismo, mais precisamente um anarquismo de tipo cristão, que não significa anarquia no sentido literal do termo, mas passa a ideia de que os seguidores do anarquismo cristão, influenciados pelo tolstoismo, “defendem o cristianismo primitivo e as primeiras comunidades cristãs, que viviam de forma alheia ao Estado romano, realizando o princípio da ajuda mútua. Avessos à constituição de propriedade, praticavam a divisão de bens e o alimento compartilhado” (RAMUS, 2008, p. 169). Tolstói é considerado, assim, o precursor do anarco-cristianismo, de uma sociedade voltada para o comunismo agrário, baseada no cooperativismo.

            Por fim vale ressaltar algumas palavras sobre o interesse de Tolstói pela educação, uma vez que este interesse está, em parte, ligado diretamente a questão social de eliminar o analfabetismo entre os camponeses russos e, para isso, Tolstói fundou uma escola em sua própria casa, em Iásnaia Poliana e fundou uma revista com o mesmo nome: Revista da Escola Iásnaia Poliana. Nesta revista temos registrados, além de artigos pedagógicos, as experiências de Tolstói como professor e também “textos importantes e críticos sobre a instrução pública na Rússia da época, além de um projeto longo e minucioso para a organização de escolas populares e um exposição detalhada sobre o que foi a escola Iásnaia Poliana entre novembro e dezembro de 1862” (RABELLO, 2009, p. 13).

O romancista russo dedicou-se também a escrever um trabalho sobre alfabetização de crianças, intitulado Cartilha: uma extensa obra de 758 páginas. Tal obra tinha como objetivo fazer com que todas as crianças de qualquer condição social pudessem aprender a ler, escrever e permitir “aos professores guiar os alunos desde o abecedário até a leitura de textos – posteriormente reunidos nos Quatro Livros Russos de Leitura –, cujo grau de dificuldade, assim como a extensão aumentam progressivamente” (RABELLO, 2009, p. 14).

 

 

Referências Bibliográficas

AZEVEDO NETO, Joachin de Melo; QUEIROZ, Mylena de Lima. Ressonâncias do pensamento de Tolstói no jornalismo literário brasileiro (1903-1922)Anais do VI ENLIJE: Literatura e outras artes: reflexões, interfaces e diálogos com o ensino. 2016.

GOMES, Rebeca C. C.; FONTENELE, Laéria. Liev Tolstói: o romancista e o dogmático. Do conflito perene à produção literáriaTrivium: Estudos Interdisciplinaresv. 10, n. 2., p. 232-244, jul./dez., 2018. Acesso em 20 fev. 2019.

ORNELLAS, Clara Ávila. Aspectos do tolstoísmo na Literatura Brasileira: Lima Barreto e João AntônioFragmentos, n. 38, p. 107-120, jan./jun., 2010a. Acesso em 20 fev. 2019.

ORNELLAS, Clara Ávila. Presença do tolstoísmo na Literatura BrasileiraREVISTA USP, n.85, p. 130-139, mar./mai. 2010b. Acesso em 20 fev. 2019.

PEREZ, Daniela Polizel; OLIVEIRA; Natália Franzoni de; FRUNGILLO, Mário Luiz. A educação na obra de Tolstói: uma questão fundamentalLíngua, Literatura e Ensino, v. 9, p. 239-248, dez., 2014. Acesso em 19 fev. 2019.

RABELLO, Belkiss. As Cartilhas e os Livros de leitura de Lev N. Tolstói. Dissertação (Mestrado em Línguas Orientais). Programa de Pós-Graduação em Literatura e Cultura Russas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2009.

RAMUS, Gustavo. Anarquismo cristão e sua influência no BrasilVerve, n. 13, p. 169-183, 2008. Acesso em 19 fev. 2019.

ROSENFIELD, Luis. Tolstói e o Direito: fragmentos de uma relação conflituosaBoletim da RDL – Rede Brasileira Direito e Literatura, n. 2, p. 1-4, set./out., 2014. Acesso em 19 fev. 2019.

ZWEIG, S. O pensamento vivo de Tolstói. São Paulo: Livraria Martins Editora, 1961.

Espiritualidade e Política → O Tolstoismo: uma teoria social fundamentada no amor cristão e na não violência



Leia mais: https://www.sabedoriapolitica.com.br/products/o-tolstoismo-uma-visao-social-fundamentada-no-amor-cristao-e-na-nao-violencia1/#.YIooNUEQspI.blogger

terça-feira, 27 de abril de 2021

 

EM DIA COM O MACHADO 468
a infâmia das acusações a Divaldo (Jó)
jojorgeleite@gmail.com

 
        Chegou às minhas mãos a obra intitulada A anti-história das mensagens co-piadas. Foi escrita, ainda em vida física, pelo jornalista espírita Luciano dos Anjos, pessoa íntegra e de vasta cultura, falecida há poucos anos. O livro foi publicado pela Editora Leymarie. Na folha de rosto, lemos esta frase de Mizner: "Se você rouba as ideias de um autor, é plágio. Se você rouba de muitos autores, é pesquisa".

        É claro, que a coisa não é bem assim. Machado de Assis, mentor espiritual deste blog, dizia que o importante não é o que dizer e, sim, como dizer. Ou seja, a criatividade sobrepõe-se ao conhecimento. Então, não basta conhecer, é preciso saber o que fazer com o saber (repetição proposital). Ou seja, quem direciona o que aprende é nossa inteligência, que  não é puramente memória. Há pessoas de excelente memória, mas preguiçosas, que se preocupam em investigar a vida de muitas outras e nada produzem de utilidade, salvo criarem confusão e tentarem destruir o que alguém construiu ao longo da vida. Em tudo vêm defeito, apenas suas ideias são boas, e ai de quem discordar disso.

        É bem verdade que se alguém copia frases inteiras de outrem, sem fazer qualquer referência ao verdadeiro autor, isso não é honesto. Quem assim age pode ter que responder na justiça por violação à Lei 9.610/98, que protege os direitos autorais. Mas posso encaixar, em texto de ideação e produção pessoal, informações colhidas de diversos autores, sem que os esteja plagiando, se faço as referências das fontes de consultas e não me limito a reproduções completas de suas obras.

        O que cada um faz com o que lê e reproduz é que faz a diferença entre o bom e o mau autor. É o que alguém escreve, seus fins claros, que levam ao interesse do leitor. E isso não é fruto de cópia ilegal, mas de criatividade, simplicidade, clareza e objetividade.

        Voltemos à questão das mensagens "co-piadas". Na orelha do livro, a nora de Luciano diz, e muito bem, que, esquecendo o ser humano Divaldo, procuram-no para fazer consultas aos Espíritos, ou tecem críticas mordazes ao médium e tribuno, prestes a fazer 94 anos, cuja vida tem sido dedicada à difusão espírita nos âmbitos nacional e internacional, além de obra caritativa, na qual já contribuiu, ao longo de mais de 70 anos, com lar, sustento e educação a milhares de jovens.

        O livro do Luciano ajuda-nos a desmascarar tais acusadores. O médium e tribuno mundial Divaldo Franco seria incapaz de plagiar alguém. Sua obra, atualmente, ultrapassou duzentos títulos, e as mensagens, narrações e poemas mediúnicos que ela contém simplesmente confirmam o critério de fidelidade à universalidade exigida para se crer na veracidade das informações dos Espíritos, como propôs Allan Kardec.

        Um exemplo disso é a obra transmitida ao Divaldo pelo Espírito Manoel Philomeno de Miranda, que podemos intitular Série Manoel Philomeno de Miranda, com 18 títulos, cujo último volume, publicado neste ano, intitula-se no Rumo do mundo de regeneração. Seus relatos  ratificam e, em certos casos, como os citados nesse último livro, atualizam o contido na obra de 17 volumes ditada pelo Espírito André Luiz a Chico Xavier, hoje denominada A Vida no Mundo Espiritual.

        Ambos são acompanhados por médiuns extraordinários do passado e atuais, como Zilda Gama, Yvonne do Amaral Pereira e Raul Teixeira, entre outros, que também relatam, em suas obras, a existência do mundo espiritual, para onde vamos, sua inter-relação com o mundo físico, e o que nos aguarda após este breve estágio na Terra. Estágio renovável, até que atinjamos a perfeição, como nos afirmam os Espíritos nas obras de Allan Kardec.

        Acusar Divaldo de plagiador é infâmia que repudio indignado!

        Sobre a obra psicográfica de Divaldo Franco, leia também em:

Reedita-se uma infeliz campanha contra Divaldo Franco (por Astolfo O. de Oliveira Filho) - http://www.oconsolador.com.br/11/especial2.html

A psicografia do médium Divaldo Franco (por Washington L. N. Fernandes)  - http://www.oconsolador.com.br/ano2/94/especial.html

 

sábado, 24 de abril de 2021

 


14.4 Instruções dos Espíritos

A ingratidão dos filhos e os laços de família

14.4.1 Santo Agostinho - Paris, 1862

 

         A ingratidão é um dos frutos mais imediatos do egoísmo. Revolta sempre os corações honestos, mas a ingratidão dos filhos para com os pais é ainda mais odiosa. É desse ponto de vista, mais especialmente, que a vamos considerar, para analisar-lhe as causas e os efeitos. Aqui, como por toda a parte, o Espiritismo vem projetar luz sobre um dos problemas do coração humano.

         Quando o Espírito deixa a Terra, leva consigo as paixões ou as virtudes inerentes à sua natureza e se aperfeiçoa, no espaço, ou estaciona, até que deseje ver a luz. Alguns, portanto, partem cheios de ódios violentos e desejos de vingança insaciados. Mas para alguns deles, mais adiantados que os outros, é permitido entrever algo da verdade; reconhecem os funestos efeitos de suas paixões, e então tomam boas resoluções; compreendem que, para se dirigirem a Deus, só existe uma senha: a caridade. Ora, não há caridade sem esquecimento das ofensas e das injúrias; não há caridade com ódio no coração e sem perdão.

         Então, por um esforço inaudito, veem aqueles que detestaram na Terra. Mas à vista deles, sua animosidade desperta. Revoltam-se à ideia de perdoar, e ainda mais à de renunciarem a si mesmos, sobretudo a de amar aqueles que lhes destruíram, talvez, a fortuna, a honra, a família. Contudo, o coração desses infortunados está abalado. Eles hesitam, vacilam, agitados por sentimentos contrários. Se a boa resolução triunfa, eles oram a Deus, imploram aos bons Espíritos que lhes deem forças no momento mais decisivo da prova.

         Enfim, após alguns anos de meditações e de preces, o Espírito se aproveita de um corpo que será preparado, na família daquele que ele detestou, e pede, aos Espíritos encarregados de transmitir as ordens supremas, permissão para ir cumprir sobre a Terra os destinos desse corpo que virá se formar. Qual será, então, a sua conduta nessa família? Ela dependerá mais ou menos da persistência de suas boas resoluções (Destaquei).

         O contato incessante dos seres que ele odiou é uma prova terrível, da qual às vezes sucumbe, se sua vontade não for bastante forte. Assim, segundo a boa ou má resolução que prevalecer, ele será amigo ou inimigo daqueles em cujo meio foi chamado a viver. Isso explica esses ódios, essas repulsas instintivas que se notam em certas crianças, e que nenhum fato exterior parece justificar. Nada, com efeito, nessa existência, poderia provocar essa antipatia. Para encontrar-lhe a causa, é necessário voltar os olhos sobre o passado.

         Oh, espíritas! Compreendam agora o grande papel da Humanidade! Compreendam que, quando vocês geram um corpo, a alma que nele se encarna vem do espaço para progredir. Conheçam seus deveres, e ponham todo seu amor em aproximar essa alma de Deus: é essa a missão que lhes está confiada, e da qual receberão a recompensa, se a cumprirem fielmente.

      Seus cuidados, a educação que lhe derem, auxiliarão  seu aperfeiçoamento e seu bem-estar futuro. Lembrem-se de que, a cada pai e a cada mãe, Deus perguntará: "Que fizeram da criança confiada a sua guarda?" Se permaneceu atrasada por sua culpa, seu castigo será o de vê-la entre os Espíritos sofredores, quando dependia de vocês que fosse feliz. Então, vocês mesmos, arrependidos, pedirão para reparar sua falta. Solicitarão nova encarnação, para vocês e para ela, na qual a cercareis de mais atentos cuidados, e ela, cheia de reconhecimento, vos envolverá no seu amor.

         Não desprezem, portanto, a criança que no berço repele a mãe, nem aquela que lhes paga com a ingratidão: não foi o acaso que o fez assim e que lha deu. Uma intuição imperfeita do passado se revela, e dela vocês podem deduzir que um ou outro já odiou muito ou foi muito ofendido; que um ou outro veio para perdoar ou expiar.

     Mães! Abracem, pois, a criança que lhes causa aborrecimentos, e digam consigo: "Uma de nós duas foi culpada". Mereçam as divinas alegrias que Deus concedeu à maternidade, ensinando a essa criança que ela está na Terra para se aperfeiçoar, amar e abençoar.

       Mas, ah! muitas dentre vocês, em vez de eliminar, pela educação, os maus princípios inatos, de existências anteriores, entretêm, desenvolvem esses mesmos princípios, por uma culposa fraqueza, ou por descuido. Então, mais tarde, seu coração ulcerado pela ingratidão dos filhos, será para vocês, desde esta vida, o começo da sua expiação.

         A tarefa não é tão difícil como vocês poderão pensar. Não exige o saber do mundo: o ignorante e o sábio podem cumpri-la, e o Espiritismo vem facilitá-la, ao dar a conhecer a causa das imperfeições do coração humano.


    Tradução livre do prof. dr. Jorge Leite de Oliveira

terça-feira, 20 de abril de 2021

 

EM DIA COM O MACHADO 467:
figueira seca (Jó)
jojorgeleite@gmail.com

 


Narra-nos Marcos que Jesus e seus apóstolos saíam de Betânia, pequena vila nas cercanias de Jerusalém, quando o Senhor teve fome. Ao avistar a distância uma figueira coberta de folhas, dirigiu-se para ela, desejoso de colher figos para seu alimento. Ao se aproximar e ver que a figueira só tinha folhas, amaldiçoou-a com as seguintes palavras:

"— Ninguém jamais coma do teu fruto"(Marcos, 11:14).

Chegando a Jerusalém, Jesus entrou no templo e viu que diversos comerciantes de pombos e cambistas ali estavam exercendo seus negócios. Imediatamente, o Senhor derrubou mesas e cadeiras dos comerciantes, expulsou-os do templo e disse-lhes:

"— Não está escrito: 'Minha casa será chamada casa de oração para todos os povos?' Vós, porém, fizestes dela um covil de ladrões!" (op. cit., 11:17).

Na tarde desse dia, afastaram-se de Jerusalém e voltaram a passar pela figueira, que agora estava completamente seca. Observado por Pedro que a árvore amaldiçoada estava morta, Jesus disse aos discípulos que o acompanhavam o que parafraseio abaixo:

Se tiverdes fé em Deus, tudo o que pedirdes vos será concedido (id., 11:22, 24).

Nas coisas mais simples, se temos fé em Deus, Ele nos atende. Dois exemplos: Há algumas semanas, amigo meu, que gosta de correr, saiu de casa, acompanhado da esposa, para realizar sua corrida semanal. Ainda no carro, viram que começara a chover, quando ele brincou com a esposa, que já tentava dissuadi-lo do exercício:

— Fique tranquila, o sol brilhará novamente. E, intimamente, rogou a Deus uma pausa da chuva, para que seu exercício pudesse ocorrer sem prejuízo de sua saúde.

Quando chegaram ao local, já não chovia. A luz solar voltara suave, e meu amigo fez sua corrida tranquilo e feliz.

Por favor, não riam, leitores amigos. Antes, leiam até o fim...

Na semana seguinte, o tempo estava bom...

Duas semanas após a primeira, voltaram a sair de casa, com destino àquele lugar, no final da tarde. O dia estava frio, e já chovera bastante. Após algum tempo, o sol voltara, e a esposa do amigo já combinara com este a ida ao local, às 16h. Mas ambos se envolveram em sua atividades diárias e só puderam sair de casa às 17h, então, com o céu nublado.

O local é espaçoso, com cerca de 12.000 m² murados. Ali existe um centro espírita, aos fundos, e diversas edificações socioassistenciais à frente. No caminho para lá, começou a cair uma chuva fina. Preocupada, Maria, sua esposa, disse a meu amigo:

— Veja, já está chovendo. Não vai dar para você correr.

Ele nada lhe respondeu.

Chegando ao local, desceram do carro, mas a chuva fina ia e voltava. Preocupada com a saúde do esposo, Maria pediu-lhe que não corresse. Ele olhou para cima e viu algumas nuvens negras exatamente onde estavam, embora voltasse o chuvisco. Maria entrara para o primeiro bloco, onde coordena trabalhos de assistência social, e agora, durante a pandemia do coronavírus, só vai lá, principalmente, nos fins de semana, quando não há ninguém ali.

Antes de entrar, a mulher reforçou o apelo ao marido para não correr no pátio, pois não demoraria a chover fortemente. Ele olhou para o céu de nuvens escuras, mas lembrou-se das palavras de Jesus:

"— Se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a esta montanha: transporta-te daqui para lá, e ela se transportará. E nada vos será impossível" (Mateus, 17:20).

Após essa recordação, o amigo olhou para as nuvens negras, que já derramavam seu choro sobre a terra, e propôs aos Espíritos encarregados dos fenômenos da Natureza:

— Eu preciso dar dez voltas aqui, que é o mínimo que corro para atingir pouco mais de 6 km. Até lá, por favor, em nome de Deus, suspendam a chuva forte. Depois disso, podem mandar chuva à vontade. E começou sua corrida abaixo da garoa que caía suavemente, refrescando seu corpo. Alguns espaços locais permaneciam secos.

Terminado o exercício, 40 minutos após, sem que o chuvisco aumentasse, chamou Maria, que já concluíra seu trabalho. Ao entrarem no carro, ele mentalizou:

— Agora, sim, pode chover fortemente. Então, atendendo ao seu pedido, a chuva veio com força.

O leitor e a leitora que têm fé, ao lerem isto, dirão:

— Foi Deus que atendeu ao pedido de Jó...

O leitor que diz ter fé, mas também tem muita dúvida, dirá que este sonhador é um pretensioso. O ateu rirá e dirá que tudo isso não passa de coincidência.

Por minha vez, eu fico com Deus e seu Filho unigênito, Jesus Cristo, que coloca a fé como conditio sine qua non para alcançar uma graça, por menor que esta seja.

Apenas uma condição precisa ser atendida: não ser figueira seca.

segunda-feira, 19 de abril de 2021

 


14.3 Parentesco corporal e espiritual

 

         Os laços de sangue não estabelecem necessariamente vínculos entre os Espíritos. O corpo procede do corpo, mas o Espírito não procede do Espírito, porque este existia antes da formação do corpo. Não é o pai quem cria o Espírito do seu filho. Ele nada mais lhe fornece que o envoltório corporal; mas deve ajudar seu desenvolvimento intelectual e moral, para o fazer progredir.

            Os Espíritos que  encarnam numa mesma família, sobretudo como parentes próximos, são o mais frequentemente Espíritos simpáticos, ligados por relações anteriores, que se traduzem pela afeição durante a vida terrena. Mas pode  acontecer também que esses Espíritos sejam completamente estranhos uns aos outros, separados por antipatias igualmente anteriores, que se traduzem também por seu antagonismo na Terra, a fim de lhes servir de prova.

         Os verdadeiros laços de família não são, portanto, os da consanguinidade, mas os da simpatia e da comunhão de pensamentos, que unem os Espíritos, antes, durante e após sua encarnação. Donde se segue que dois seres nascidos de pais diferentes podem ser mais irmãos pelo Espírito do que se o fossem pelo sangue. Eles podem atrair-se, buscar-se, sentir prazer quando juntos, enquanto dois irmãos consanguíneos podem repelir-se, como se vê todos os dias. Problema moral que só o Espiritismo podia resolver pela reencarnação (cap. 4, it. 13).

         Há, portanto, duas espécies de famílias: as famílias por laços espirituais e as famílias por laços corporais. As primeiras são duráveis, fortalecem-se pela purificação e se perpetuam no mundo dos Espíritos, através das diversas migrações da alma. As segundas são frágeis como a própria matéria, extinguem-se com o tempo e frequentemente se dissolvem moralmente já na existência atual. Foi o que Jesus quis tornar compreensível, dizendo de seus discípulos: "Eis minha mãe e meus irmãos", isto é, minha família pelos laços do Espírito, pois quem fizer a vontade de meu Pai, que está nos céus, é meu irmão, minha irmã e minha mãe."

            A hostilidade de seus irmãos está claramente expressa no relato de Marcos, desde que eles se propunham a apoderar-se dele, sob o pretexto de que perdera o juízo. Avisado de que haviam chegado, e conhecendo o sentimento deles a seu respeito, era natural que Jesus dissesse, referindo-se aos discípulos, em sentido espiritual: "Eis aqui meus verdadeiros irmãos". Sua mãe os acompanhava, e Jesus generalizou o ensino, o que absolutamente não implica que ele pretendesse que sua mãe, segundo o corpo, nada lhe significasse, segundo o Espírito, nem que só lhe merecia indiferença. Sua conduta, noutras circunstâncias, provou suficientemente o contrário.

sexta-feira, 16 de abril de 2021

 


10 AO VIAJANTE DA FÉ (mediunidade psicofônica)

(Espírito Cruz e Sousa/médium Chico Xavier)     

           

       Para finalizar esta coletânea de poemas de Cruz e Sousa através de médiuns diversos, contemplo a obra prima transmitida por esse Espírito ao médium Chico Xavier não mais pela psicografia, que é a escrita direta, mas pela psicofonia.

         Antes, porém, gostaria de esclarecer aos leitores deste trabalho que descobri outro médium psicógrafo da poesia do Cisne Negro desencarnado. Pessoa de grande cultura, com título de doutorado, professor universitário aposentado e alto cargo público, a quem manifestamos o mais profundo respeito, mas data vênia, não identificamos o autor espiritual nos dois sonetos que ele diz ter recebido pela mediunidade psicográfica intuitiva e inspirada.

        Ambos os sonetos: o primeiro com versos alexandrinos; o segundo em decassílabos, não primam pelo estilo de Cruz e Sousa. Os dois poemas têm o cunho narrativo, o que não é muito próprio do poeta em vida física. Também, com todo o respeito aos equívocos de ritmo e metrificação do médium, contrastante com o perfeito domínio do poeta, em vida física,  não nos é admissível aceitar sem ressalvas a autoria post-mortem deste último. 

       A métrica de Cruz e Sousa, mesmo a dos poemas psicografados já citados, é perfeita e predominantemente decassílaba. O ritmo é impecável, como veremos, futuramente, quando estudarmos seu estilo e figuras de linguagem. A dos poemas supostamente ditados por seu Espírito ao médium Jorge de Souza, a quem me refiro, não passa pelo crivo de um mediano conhecedor de estrutura poética.

      Dou o direito ao leitor, entretanto, de ratificar ou retificar minhas palavras na leitura da obra do prof. dr. Jorge de Souza, abaixo referenciada. Esta obra, entretanto, por justiça ao autor, aborda a poesia, segundo este, intuitiva e por inspiração de diversos outros poetas "mortos": Antero de Quental, Hélder Câmara, Augusto dos Anjos, Olavo Bilac, Carlos Pena Filho, Emílio de Menezes, Vinícius de Moraes, Auta de Souza, Huberto Rohden, Machado de Assis (um soneto semelhante ao escrito em vida intitulado À Carolina, também com erros rítmicos de versos, que não cabem citar aqui) etc. 

         No total, podemos ler na obra poemas, supostamente, de 18 poetas desencarnados, incluindo-se aí o chamado Poeta dos Escravos, Castro Alves. Vale, portanto, a pena, conferir a obra, principalmente pelos estudantes e professores de literatura. Só não vale usá-la como pretexto para criticar o Espiritismo, cuja produção mediúnica de alta qualidade extrapola em muito uma ou outra obra equivocada. Como também não podemos criticar a ciência por haver em seu seio médicos equivocados e charlatães, o que não é o caso do professor Souza.

        Chico Xavier, somente considerando-se os poemas editados na obra Parnaso de além-túmulo, psicografou 30 sonetos do Espírito Cruz e Sousa. A nosso ver, irrepreensíveis, como os recebidos pelos médiuns citados anteriormente. No caso do Chico, um dos sonetos, ao menos, foi recebido pela mediunidade psicofônica do médium mineiro. É este:

 

AO VIAJANTE DA FÉ
 
Vara o trilho espinhoso, estreito e duro,
E embora te magoe o peito aflito,
Torturado na sede do Infinito,
Guarda contigo o amor sublime e puro.
 
Martirizado, exânime e inseguro,
Ninguém perceba a angústia de teu grito.
Sangrem-te os pés nos serros de granito,
Segue, antevendo a glória do futuro.
 
Lembra o Cristo da Luz, grande e sozinho,
E entre as sarças e as pedras do caminho,
Sobe, olvidando o báratro medonho...
 
Somente sobe ao Céu Ilimitado
Quem traz consigo, exangue e torturado,
O próprio coração na cruz do sonho.
 
(SOUSA, 1974, p. 210- 211)

          É Cruz e Sousa puro. Impressionantemente vivo! Com todo o respeito aos outros médiuns e poemas, aqui o poeta só faltou se materializar. Com este soneto, faço mais uma pausa para depois proceder a um estudo das figuras de linguagem presentes no corpus em estudo.

       Observação: Embora, por tradição, a Federação Espírita Brasileira (FEB) mantenha a grafia do sobrenome como Souza, atualizamos seu sobrenome para Sousa de acordo com o contido no Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa entre os países lusófonos; entretanto, respeitamos a grafia daqueles que seguem a tradição e não a norma atual.

Referências

1 SOUZA, Jorge de. Quem é o autor? um ensaio sobre as mediunidades intuitivas e de inspiração. Bragança Paulista, SP: Lachêtre, 2004.

2 SOUSA, Cruz e (Espírito). In: XAVIER, Francisco Cândido. Instruções psicofônicas. Recebidas de vários Espíritos no Grupo Meimei e organizadas por Arnaldo Rocha. 3. ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 1974.      


   

quarta-feira, 14 de abril de 2021

 


9 ESPERANTO

 (Espírito Cruz e Sousa/médium Chico Xavier)    

            Conforme eu disse ao comentar o poema Zamenhof, psicografado por Lorenz, na condição de Espírito liberto da carne, Cruz e Sousa foi grande divulgador do idioma Esperanto, com extensa produção literária dessa língua e nesse mesmo idioma. Informa-nos o Espírito Francisco Valdomiro Lorenz, na obra O esperanto como revelação, psicografada por Chico Xavier o seguinte: "Ainda aqui, aos milhões, não obstante se nos descerrem horizontes renovadores, achamo-nos separados pela barreira linguística" (Item II - PROBLEMA DA LINGUAGEM NA ESPIRITUALIDADE). Pouco mais adiante, Lorenz diz que "Se o animal, diante do homem, está limitado no cubículo da interjeição, o homem, perante o anjo, ainda está preso ao cárcere verbalístico" (It. III - DISPARIDADE DE LINGUAGENS E SEPARAÇÃO DOS ESPIRITOS) .

         Na sua mensagem número 9, Lorenz termina com esta obra prima do incentivo à aprendizagem linguística, no caso, do esperato:

Não importa estejamos, na condição de coidealistas do Esperanto, em sintonia com os nossos irmãos católicos, reformistas, ortodoxos, bramanistas, budistas, israelitas, sintoístas, maometanos, zoroastristas, ateus e de quaisquer outras confissões e convicções, porquanto, as correntes de ideias, como as fontes de níveis diversos que deságuam invariavelmente no mar, alcançam sempre o oceano da realidade imutável, em cujas águas as advertências da evolução nos impõem o reconhecimento da própria humildade ante a grandeza da vida, com a impersonalização de nossa fé. Desfraldemos, assim, o estandarte verde por símbolo de união! Em qualquer idade, aprendamos! Incompreendidos, prossigamos! Alegres, perseveremos! Esperanto quer dizer "o que espera". Marchando e servindo, crendo e amando, imperturbáveis, esperaremos.1

9.1 Sobre Chico Xavier

         Em sucinta biografia, Palhano Jr.; Souza2 esclarecem-nos que Chico Xavier nasceu em Pedro Leopoldo, MG, no dia 2 de abril de 1910, concluiu apenas o primário (Teve que abandonar os estudos no 5º ano em virtude de trabalhos para ajudar na família de seus oito irmãos.).

         Ao que disseram os autores, em 1994, acrescento que a produção psicográfica de Chico alcançou mais de 400 obras. Os gêneros literários são de uma variedade que somente Machado de Assis alcançou em suas obras: poemas, contos, crônicas, cartas, teatro, romances, novelas etc. Em 1959, transferiu-se para Uberaba, MG, onde residiu até sua morte, em 2002, aos 92 anos de idade.


ESPERANTO

Mensageiro Divino da Verdade,
O Esperanto abre as portas do futuro,
Apagando o passado horrendo e obscuro
Da treva e dissensões da Humanidade.

É a linguagem do bem que ama e persuade
– Vasto porto de paz, calmo e seguro,
Onde se acolhe a nau sem palinuro
Do velho sonho da Fraternidade.

Esperanto! — Mensagem soberana
Para a Babel da iniquidade humana,
Que recorda os horrores da caverna!

Dá novo brilho à luz do pensamento,
A caminho do grande entendimento
No campo augusto da Unidade Eterna!

Referências

1 LOREN
Z, Francisco Valdomiro (Espírito). O esperanto como revelação. (psicografado por: Chico Xavier). 4. ed. São Paulo: IDE, 1994.

2 PALHANO JÚNIOR, Lamartine; SOUZA, Dalva Silva. A imortalidade dos poetas "mortos". Vitória, ES: FESPE, 1994. p. 31.

3 SOUZA[1], Cruz e. Esperanto. In: Reformador, maio de 2010, p. 209/ 35. Apud SOARES, Affonso. Cruz e Souza— copiosa produção em e sobre o esperanto. Brasília: FEB.


[1] Embora, por tradição, a Federação Espírita Brasileira (FEB) mantenha a grafia do sobrenome como Souza, atualizamos seu sobrenome para Sousa de acordo com o contido no Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa entre os países lusófonos; entretanto, respeitamos a grafia daqueles que seguem a tradição e não a norma atual.

  Quando o texto é escorreito (Irmão Jó)   Atento à escrita correta É o olho do revisor, Mas pôr tudo em linha certa É com o diagramador.   ...